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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

PERIGO A VISTA COM O AVANÇO ISLAMICO ESQUERDISTA

Comentaristas hostis ao governo observaram que, ao voltar-se contra Mubarak, Obama copiava o exemplo de Jimmy Carter, que, também a pretexto de fomentar a democracia, ajudou a derrubar um governo aliado para fazer do Irã um dos mais temíveis inimigos dos EUA e uma ditadura mil vezes mais repressiva que a do velho Xá. A diferença, creio, é que Carter parece ter agido por estupidez genuína, ao passo que Obama, que teve sua carreira apadrinhada por um príncipe saudita pró-terrorista, e cujas ligações com a esquerda radical são as mais comprometedoras que se pode imaginar, segue com toda a evidência um plano racional concebido para debilitar a posição do seu país no quadro internacional, ao mesmo tempo que vai demolindo sistematicamente a economia no plano interno.
A política agrícola do governo Obama parece calculada para fomentar a rebelião. O Egito, país desértico, depende do trigo americano, cujo preço subiu 70% nos últimos meses, enquanto o dólar baixava de valor, criando uma situação insustentável para os egípcios. Com meses de antecedência, analistas econômicos avisavam que a coisa ia explodir.
Rebeliões similares vêm se esboçando em outros países islâmicos, como Tunísia, Jordânia e Iêmen, sempre dirigidas à mesma meta: eliminar os governos pró-ocidentais e ampliar a influência da Irmandade Muçulmana, aliada do Hamas e de outras organizações terroristas. O estado de pânico que se espalhou entre aqueles governos pode ser avaliado pelo fato de que nos últimos meses importaram mais trigo do que nunca, dificultando ainda mais a vida dos egípcios.
Mesmo unificado em torno do projeto do Califado Universal, o Islã não representaria grande perigo estratégico de curto prazo para o Ocidente, mas nada do que acontece no mundo islâmico está isolado da grande estratégia "eurasiana" que hoje orienta os governos da Rússia e da China.
A ideia originou-se no "nacional-bolchevismo", um sincretismo ideológico criado pelo escritor Edward Limonov e pelo filósofo Alexandre Duguin nos anos 80. Partindo de um esquema estereotipado da civilização do Ocidente, extraído do livro de Sir Karl Popper, A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, Limonov sonhava com uma aliança mundial entre todos os virtuais inimigos da mentalidade científico-relativista ocidental, isto é, os amantes de "verdades absolutas".
Como se tratava apenas de destruir o relativismo - e, por tabela, a civilização baseada nele -, pouco importava, para Limonov, que os vários absolutos convocados à luta se contradissessem uns aos outros: a fraternidade negativa podia incluir em si comunistas e tradicionalistas católicos, nazistas, fascistas, islamitas, hinduístas, admiradores de René Guénon e Julius Evola etc. A santa unidade recebia ainda de braços abertos toda sorte de odiadores da América: punks, "rebeldes sem causa", militantes black power e assim por diante.
Na onda de anti-americanismo que se espalhou pelo mundo após a dissolução da URSS, a oferta de apaziguar velhos antagonismos na base do ódio a um inimigo comum pareceu um alívio para muita gente, especialmente guénonianos e evolianos, que, hostis ao "mundo moderno" em geral, viram aí o remédio do seu angustiante senso de isolamento.
O "nacional-bolchevismo" era só uma ideologia, mas Alexander Duguin acabou por superá-lo e absorvê-lo numa formidável síntese estratégica, o "eurasismo", que hoje orienta a política internacional de Vladimir Putin e cuja primeira vitória substantiva foi a constituição do Pacto de Solidariedade de Shangai (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/060130dc.htm), destinado a ampliar-se até abranger, se possível, todas as forças anti-americanas do universo (especialmente a Irmandade Muçulmana), não apenas em torno de uma vaga proposta ideológica, mas de planos de ação político-militares bem definidos. Tanto Limonov quanto Duguin são filhos de oficiais da KGB, e o segundo é o maître à penser do homem que mais encarna a KGB no poder.
Seduzidos pela promessa de destruir o "mundo moderno", muitos tradicionalistas de periferia - católicos, ortodoxos ou muçulmanos -, acabarão se tornando os melhores idiotas úteis que a KGB já teve à disposição. A nenhuma dessas inteligências ocorreu notar que o liberalismo de Karl Popper é uma coisa e a nação americana é outra muito diversa; que a destruição ou marginalização desta última não trará a extinção da execrável "modernidade" e o advento do Reino de Deus na Terra, mas sim o triunfo dos globalistas ocidentais, para os quais a neutralização do poder americano é a urgência das urgências, e cujas relações com o esquema russo-chinês são bem mais amigáveis do que toda a retórica "eurasiana" dá a entender (o próprio apoio do governo Obama à rebelião egípcia é prova disso). A crise no Egito não é só uma vitória do radicalismo islâmico, mas, por trás dele, do projeto eurasiano.

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