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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Fora de páreo

Esquivando-se ao debate com representantes nacionais da tal direita, dos quais parecia estar falando, Bucci ataca à distância a sra. Marine Le Pen por defender a opinião hediondamente direitista de que o escândalo Strauss-Kahn revela algo da podridão moral da classe política francesa - como se não fosse prática geral, centenária e obrigatória, entre esquerdistas, apontar cada sem-vergonhice pessoal de líderes, governantes ou empresários como prova da ruindade intrínseca do capitalismo. Chega a ser admirável o despudor com que o articulista do Estadão ostenta em público sua incapacidade (ou recusa) de raciocinar com algum senso de equidade, de justiça, de equilíbrio. O fato de ser acusado de um crime sexual não transforma Strauss-Kahn no representante de uma "elite estupradora" protesta ele (fingindo ignorar que a noção mesma de "elite estupradora" é uma invenção da esquerda feminista), e já dois parágrafos adiante joga sobre nós, os porta-vozes daquilo que ele chama "direita histriônica" a responsabilidade por "assassinatos de líderes ambientalistas", como se o fato de escrevermos contra a União Européia ou a PL-122 nos transformasse em mandantes de crimes no interior do Brasil.
O desejo irrefreável de imputar culpas mediante associações fantasiosas já é imoral o bastante, mas Bucci soma à calúnia o insulto quando reconhece que os autores daqueles crimes jamais foram descobertos, donde se conclui que, na cabeça dele, a total incerteza quanto aos agentes materiais do delito é fonte de certeza quanto aos seus culpados intelectuais remotos. Será exagero meu dizer que esse professor de moralidade tem um senso moral pervertido, baseado em ódio insano e sem o mínimo controle racional?
Mas, hiperbólico e desgovernado o quanto seja nos seus julgamentos morais, Bucci não é destituído daquele senso de autopreservação que é, na esfera da mesquinharia humana, a versão caricatural da prudência evangélica.
Ao fulminar a direita no tom de um Júpiter tonitroante, ele não ousa citar por nome um só teórico ou polemista da execrada corrente. Limita-se a aludir de passagem ao deputado Jair Bolsonaro, que não é nem uma coisa nem a outra e que, sendo pessoa alheia aos debates intelectuais, não lhe oferece o menor perigo de um revide.
Escrevendo com os típicos esgares patéticos de quem se esmera na ginástica impossível de alegar indiferença superior enquanto gesticula e berra para infundir na plateia o temor de um perigo iminente, ele torna ainda mais problemática essa operação, já de si complexa, ao fundi-la com o esforço teatral de fingir coragem ante adversários que ao mesmo tempo insiste em conservar ausentes, anônimos e abstratos. Quando ele os chama "histriônicos", é impossível não ver nisso o mecanismo grosseiro e típico da acusação projetiva.
Se o estilo é o homem, Eugênio Bucci está definitivamente fora de páreo em qualquer debate sério. Falta-lhe franqueza, consistência e aquele mínimo de controle autocrítico sem o qual o melhor mesmo é só puxar discussão com entidades genéricas, fugindo ao confronto com interlocutores de carne e osso.

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