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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

UMA BREVE HISTÓRIA DO PETRÓLEO ÁRABE

Para tornar esse necessário tópico conciso, veremos isso na forma de uma cronologia.
- 1776: A Companhia Britânica das Índias Orientais estabelece uma base no que hoje é o Kuwait.
- 1905: Durante o "ensaio" da revolução anti-czarista de 1905, os poços de petróleo de Baku (Império Russo) queimaram. Isso causou um aumento no preço do petróleo bruto.
- 1908: A Anglo-Persian Oil Company descobre petróleo na Pérsia.
- 1916: Acordo de Sykes-Picot. Com a queda vicinal do Império Otomano, franceses e britânicos dividem áreas de influência no Oriente Médio.
- 1917: Ibn Saud torna-se um cliente dos britânicos e obedece a seus planos de levantar as tribos árabes contra o poder otomano na região do Golfo. Os Rothschild recebem a Declaração Balfour e o apoio do Império Britânico para estabelecer um Lar Nacional Judeu na Palestina.
- 1918: A Anglo-Persian Oil Company expropria 25% da Turkish Petroleum Company que pertencia ao Deutsche Bank. Chegando a controlar 75% da companhia, muda seu nome para Iraqi Petroleum Company. O governo britânico, sob a influência do poder financeiro dos Rothschild, é o principal acionista da Anglo-Persian Oil Company.
- 1920: Durante o ataque bolchevique contra o Azerbaijão, os poços de petróleo de Baku voltam a queimar, o que novamente provoca um aumento nos preços do petróleo. As empresas Vacuum Oil (agora parte da ExxonMobil), Standard Oil (idem) e Occidental Petroleum (atual Oxy) de Armand Hammer, passaram a ser as que gerenciam o petróleo do Cáspio.
No acordo petroleiro de San Remo, o Império Britânico concede ao Império Francês mais de 20% dos lucros do petróleo de Mossul (esfera curda) em troca da ajuda dos franceses em canalizá-lo para o Mediterrâneo por terra. A Turkish Petroleum Company se divide entre a Compagnie Française des Pétroles (hoje Total S.A, 25%), a Anglo-Persian Oil Company (hoje BP, 47,5%), a Anglo-Saxon Petroleum (hoje parte da Shell, 22,5%) e Calouste Gulbenkian (5%), um poderoso homem de negócios britânico de origem armênia.
- 1931: Standard Oil of California (SoCal) encontra petróleo no Bahrein. É o primeiro poço de petróleo no lado árabe do Golfo Pérsico. O Bahrein era um dos maiores centros de exportação de pérolas do mundo, numa época em que estas eram mais importantes que os diamantes. Seus mergulhadores, famosos por sua resistência no mergulho livre, logo vão para o setor do petróleo e o mercado mundial de pérolas despencará.
- 1933: SoCal e Arábia Saudita assinam uma concessão de petróleo.
- 1935: Primeiro poço aberto pela SoCal em Dhahran.
- 1940: A aviação italiana bombardeia Bahrein e Dhahran, vitais para o Império Britânico. As aeronaves italianas estabeleceram um recorde ao decolar de Rodes, atacar os britânicos com sucesso e aterrissar em Eritreia.
- 1941: Operação Countenance. O Império Britânico e a União Soviética invadem simultaneamente o Irã. O objetivo é defender a segurança do petróleo soviético, abastecer o Exército Vermelho e manter aberto o Corredor Persa através do qual a URSS recebe apoio logístico dos anglo-americanos (um total de cinco milhões de toneladas de material). Os invasores fazem o xá do Irã, considerado um germanófilo, abdicar.
- 1944: California Arabian Oil muda seu nome para Arabian American Oil Company (ARAMCO). Os sauditas autorizam os EUA a construir uma base aérea em Dhahran.
- 1945: Roosevelt e Ibn Saud se encontram em um navio estadunidense no Canal de Suez para estabelecer seu "casamento de conveniência". A data do encontro (14 de fevereiro) é irônica. Roosevelt retira fundos do enorme orçamento de Defesa dos EUA para pagar os oleodutos rockefellerianos.

Em 1945, Roosevelt e Ibn Saud se encontram para ditar o futuro do mundo petroleiro. As "relações especiais" entre os EUA e a Arábia Saudita estão realmente limitadas a uma aliança entre as famílias Rockefeller e Saud. Os petrodólares resultantes serão administrados pelo Chase Manhattan Bank, da família Rockefeller, que pagarão um generoso "suborno" à família Saud.
- 1948: Durante a guerra árabe-israelense, a Arábia Saudita envia tropas para lutar contra Israel. Os países árabes cortam laços com Tel Aviv para isolar o país. O governo iraquiano fecha o oleoduto Mossul-Haifa, que transportava petróleo curdo para o importante porto israelense. Os proprietários da ARAMCO são a Standard Oil of Califórnia (atual Chevron), a Texaco, a Standard Oil of New Jersey (atual Exxon) e a Standard Oil of New York (atual Mobil).
- 1949: As empresas petrolíferas rockefellerianas já controlam 42% do petróleo do Oriente Médio e as anglo-holandesas rothschildianas (Royal Dutch Shell e Anglo-Iranian Oil Company) controlam 50%. O restante é compartilhado entre a Compagnie Française des Pétroles (francesa, atual Total S.A), Elf Aquitaine (francesa, atualmente parte da Total) e a Petrofina (belga, atualmente parte da Total), que também podem ser consideradas rothschildianas, e uma série de pequenas empresas de petróleo que tendem a desaparecer ou ser compradas pelas grandes.
- 1950: O rei Abdulaziz ameaça nacionalizar o petróleo e essa é a desculpa para a ARAMCO começar a compartilhar 50% de seus lucros com o governo saudita ― ou seja, com a família real Saud. É uma forma de aumentar o peso árabe na companhia (os xeiques são considerados fáceis de controlar e subornar) e diminuir o peso do elemento branco ocidental (mais inteligente e perigoso). Há uma tendência a considerar que um branco, para não ser um "colono imperialista", deve governar a partir de Nova York, Washington, Moscou, Londres ou Paris, sem pisar na colônia. Obviamente, esta forma de neocolonização a distância só é acessível aos mais poderosos, e os proprietários brancos no recinto devem cair.
- 1952: A sede da companhia petroleira muda de Nova York para Dhahran.
- 1953: Golpe de Estado no Irã, promovido pelos serviços secretos anglo-americanos. A CIA o chamou de Operação Ajax. O populista carismático Mossadeq é derrubado e substituído novamente pelo xá.
- 1954: É formada em Londres uma empresa-mãe a partir de empresas que participavam da exploração do petróleo iraniano: a Iranian Oil Participants. Os lucros são distribuídos da seguinte forma: 40% para a British Petroleum, 14% para a Shell, os quatro membros da ARAMCO (Standard Oil of Califórnia, Standard Oil of New Jersey, Standard Oil of New York e Texaco) ficam com 8% cada, Gulf Oil 8% e Total 6%. Essas empresas serão conhecidas como as Sete Irmãs e, até o embargo petroleiro de 73, passam a controlar 85% do petróleo mundial.
- 1959: Dois sauditas entram para o conselho de administração da ARAMCO.
- 1960: Se forma a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em Bagdá. A organização internacional, que estabelecerá os preços como um cartel, ficará em Viena, a capital da Europa Ocidental mais conectada com o Oriente Médio.
- 1961: O Reino Unido começa a conceder independência a seus protetorados do Golfo, sendo o Kuwait o primeiro e os Emirados o último dez anos depois.
- 1962: A guerra civil no Iêmen confronta a Arábia Saudita com o Egito, na época um Estado "nacionalista panarabista laico" próximo ao socialismo.
- 1973: Em vista do apoio dos EUA a Israel na Guerra do Yom Kippur, a Arábia Saudita e outros países árabes declaram um embargo contra os EUA.
Obviamente é uma tática para aumentar os preços do petróleo e desencadear mudanças geopolíticas. A Arábia Saudita começa a nacionalizar seu petróleo (assume o controle de 25% da Aramco), mas a ideia é varrer os acionistas ocidentais e manter os Rockefellers, principais responsáveis ​​pelo Chase Manhattan Bank, como os principais beneficiários.
- 1974: Arábia Saudita assume o controle de 60% da Aramco.

- 1978: Execução da princesa Misha'al. A coroa saudita gastou 500 milhões para suprimir o docudrama "Morte de uma princesa".

- 1979: Conferência de Guadalupe. Os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a Alemanha Ocidental concordam que uma revolução islâmica no Irã convém aos seus interesses.
- A revolução islâmica ocorre no Irã, totalmente antecipada pelas elites ocidentais, enquanto o aiatolá Khomeini é levado tranquilamente de avião de Paris para Teerã.
- Tomada da Grande Mesquita: conflito armado extraordinário na Arábia Saudita. Um grupo islâmico armado, que se opõe à família Saud, toma a Grande Mesquita de Meca. Os confrontos armados duram duas semanas e envolvem não apenas as forças sauditas, mas também os GIGN (força especial francesa) e as forças especiais paquistanesas. Depois de reprimir a revolta e decapitar os sobreviventes, o rei Khalid reforçará a Xaria em seu país e concederá maiores poderes a extremistas religiosos e policiais religiosos.
- A URSS invade o Afeganistão: o Heartland está perigosamente perto do Golfo Pérsico e do Oceano Índico. A Arábia Saudita, o Paquistão, o Reino Unido e os Estados Unidos apoiam o movimento mujahidin e muitos sauditas (incluindo Osama bin Laden, empresário de construção e agente da Inteligência saudita) passam o tempo no Afeganistão.
- 1980: O governo saudita assume o controle da ARAMCO, agora Saudi Aramco. Outro pretexto. O mesmo acontece no Bahrein com a Bahrain Petroleum Company.
- 1981: Criação do GCC (Conselho de Cooperação do Golfo) supostamente como uma reação à revolução islâmica no Irã. Isso dividiu o mundo árabe sunita entre petróleo-tenentes e não petróleo-tenentes e tendeu a reduzir a influência dos centros de poder árabes mais nacionalistas, laicos e bem dispostos em direção ao Ocidente ― como Beirute e Damasco. O Bahrein se formará como um centro financeiro extraterritorial e Dubai como um porto aberto liberalizado para favorecer um enorme fluxo de exportação. Ao longo dos anos, uma enorme maré de imigrantes de países como Bangladesh, Filipinas, Paquistão ou Nepal chegará aos países árabes do Golfo. Empresas americanas como Vinnell, SAIC, Booz Allen e TRW treinarão a Guarda Nacional Saudita. Pilotos paquistaneses e egípcios (não se confia em pilotos sauditas) serão treinados para pilotar aeronaves F-15.
- 1988: O nome é alterado para Saudi Aramco.
1990: O rei permite que meio milhão de soldados estrangeiros se estabeleçam em seu país, temendo uma invasão iraquiana. Durante a Guerra do Golfo, centenas de poços de petróleo iraquianos queimam e, novamente, o petróleo se torna mais caro.
- 1993: Por decreto real, a Saudi Aramco absorve a Samarec, a empresa estatal de refino de petróleo.
- 1996: Atendado terrorista contra as torres de Khobar da Força Aérea dos Estados Unidos em Dhahran. O Irã e o Hezbollah são acusados.
1998: O Príncipe Abdullah se reúne nos EUA com os presidentes das principais companhias de petróleo dos EUA.
- 2001: Atentados de 11 de setembro. Obviamente, bandeira falsa para promover as mudanças geopolíticas que os neocons em Washington queriam. Quinze dos dezenove sequestradores são cidadãos sauditas.
- 2003: Invasão do Iraque por uma coalizão da OTAN. Desta vez, os poços de petróleo não queimam.
2003: Arábia Saudita se opõe à invasão americana do Iraque. Ataques em Riade, inclusive contra a Vinnell.
- 2005: Arábia Saudita se torna a principal fonte de petróleo da China, superando a Angola.
- 2006: Arábia Saudita e China concordam em construir instalações de armazenamento de petróleo na Ilha de Hainan. A Arábia Saudita, portanto, entra no Colar de Pérolas chinês (sobre isso, ler o artigo da Rota da Seda). A China começa a se envolver na construção de infra-estrutura na Arábia Saudita, e vice-versa.
- 2010: As exportações petroleiras da Arábia Saudita para a China excedem as dos EUA. Derramamento de petróleo da empresa BP no Golfo do México. Onze mortos e catástrofe e ecológica. O petróleo torna-se mais caro e aumenta a desconfiança em relação à autarquia petroleira norte-americana. Obama anuncia uma moratória de perfuração para plataformas petrolíferas marinhas. A exploração de petróleo no Golfo do México pára. Em resposta, vinte e quatro operadores de plataformas de petróleo no Golfo do México se reúnem para formar o consórcio HWCG LLC, que estabelece contra-medidas no caso de acidentes submarinos. [Incluindo a espanhola Repsol, a italiana Eni e a LLOG Exploration Company (envolvida no vazamento de 2017). Das vinte e quatro empresas envolvidas, apenas uma é de uma matriz rockefelleriana: a Marathon Oil].
- 2011: "Primavera Árabe", totalmente orquestrada pelas elites dos EUA, Reino Unido, França, Israel e outros. Mubarak (um aliado da Arábia Saudita) é deposto no Egito em favor de um candidato da Irmandade Muçulmana (Qatar), mas eventualmente a influência saudita será consolidada.
- 2012: Arábia Saudita e China assinam um acordo de cooperação nuclear para fins pacíficos. As más-línguas começam a rumorar de que a Arábia Saudita possui armas nucleares de origem paquistanesa.
- 2013: Os EUA passam a Arábia Saudita como o maior exportador mundial de petróleo.
- 2015: A Saudi Aramco cria um Conselho, chefiado por Mohammed bin Salman.
- 2016: Acontece a maior execução coletiva da Arábia Saudita desde a execução dos insurgentes da Grande Mesquita em 1980. Quase cinquenta pessoas condenadas por terrorismo são baleadas ou decapitadas, incluindo um importante xeique xiita. Pode ser interpretado como um ato de afirmação por parte do estabelecimento religioso.
- 2017: Em janeiro, Trump dá sinal verde a dois oleodutos que conectarão os EUA ao Canadá. Os principais interessados em que oleodutos como esses não se consolidem, são as petro-capitais árabes do Golfo.
Novamente, lendo nas entrelinhas:
- Os principais executivos da Saudi Aramco preferem arabizar a companhia, especialmente em cargos administrativos e políticos que se prestam ao tráfico de informação privilegiada. Os americanos e outros ocidentais são limitados, tanto quanto possível, a cargos técnicos. Sem contar a elite dominante.
- O governo saudita compra toda a Saudi Aramco (com a bênção do Chase Manhattan Bank rockefelleriano). Tradução: encheram os cofres com petróleo caro, depois a família Rockefeller usou a família Saud para se livrar dos acionistas ocidentais que poderiam ter respondido ao domínio rockefelleriano da companhia ou assumir o controle de seu leme e mudar seu curso. O padrão é o mesmo que a descolonização.
- A aliança Rockefeller-Saud foi feita para varrer:
a) Os acionistas ocidentais. No início, a presença desses acionistas era necessária, mas quando os lucros aumentaram e a tecnologia avançou, a presença dos acionistas ocidentais tornou-se desnecessária e pesada na hora de distribuir os dividendos do petróleo. Rockefeller queria menos acionistas, mas mais ricos e poderosos. Para esse fim, "liquidou" os parceiros ocidentais com a nacionalização da Saudi Aramco e preferiu dividir os dividendos com a família Saud porque era mais barato do que dividi-los com uma grande assembléia de acionistas.
b) O próprio povo árabe. Novamente, repartir os dividendos petroleiros com a família Saud e todos os xeiques do Golfo, apesar de caro, era mais barato que compartilhá-los com todos os habitantes de um país, elevando seu padrão de vida como aconteceu com a Líbia de Gaddafi, tal como vimos em outro artigo, no qual cada cidadão líbio era acionista da companhia estatal de petróleo NOC.

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