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segunda-feira, 8 de abril de 2019

Redistribuir renda é redistribuir miséria



É claro que, para algumas pessoas, o crescimento econômico global não é desejável ou mesmo não é possível. Segundo elas, não podemos e não devemos seguir explorando um planeta com recursos limitados (sobre essa "exploração", vale ressaltar que tais pessoas não aceitam nem mesmo que haja um aproveitamento mais eficiente dos recursos disponíveis por meio do aumento da produtividade).

Para tais pessoas, o objetivo é frear o crescimento econômico e redistribuir a riqueza que já existe: nós não precisamos de mais, precisamos apenas distribuir melhor.

O problema é que apenas redistribuir a renda não tem nenhum efeito duradouro sobre a pobreza mundial. Hoje, a renda per capita global é de 15.600 dólares. Isso significa que, caso houvesse uma imediata distribuição igualitária de renda, conseguiríamos apenas fazer com que cada cidadão passe a ter 15.600 dólares.

À primeira vista, tal valor não parece pequeno. Uma família composta por dois adultos e um menor desfrutaria de 46.800 dólares, aparentemente mais do que a imensa maioria das famílias da Espanha, por exemplo. Mas o erro deste cálculo é não entender os conceitos que realmente integram a definição de renda per capita.

Em primeiro lugar, 15.600 dólares representam aproximadamente a renda per capita atual de países como Argélia, Bielorrússia, Botsuana, Brasil, China, Costa Rica, República Dominicana, Iraque, Líbano, Montenegro, Sérvia e Tailândia. Ou seja, se redistribuíssemos perfeitamente a renda mundial, o padrão de vida de um europeu ou de um americano seria reduzido ao nível desses países [e nós brasileiros, como um todo, ficaríamos na mesma]. Trata-se de uma constatação nada esperançosa, ainda que, em uma análise superficial, os 15.600 dólares por cidadão pareçam bastante.

Em segundo lugar, nem toda a renda per capita disponível pode ser consumida: uma parte dela deve ser reinvestida de modo a garantir uma geração de renda no futuro — se consumirmos toda a renda gerada por uma colheita, não será possível investir para gerar uma nova colheita no futuro.

Consequentemente, se uma pessoa ganhar 15.600 dólares hoje e gastar em bens de consumo, visando a aumentar seu bem-estar, rapidamente voltará a ser pobre. Terá algum luxo momentâneo, mas não terá renda futura.

Nas sociedades capitalistas, parte da renda reinvestida faz os capitalistas garantirem suas rendas futuras. No entanto, se esta renda for redistribuída entre todos, todos nós teremos de investir uma parte da nossa renda para manter a mesma capacidade produtiva da sociedade. Quanto deveríamos investir? O consenso é algo ao redor de 20% do PIB. Assim, da renda per capita de 15.600 euros, somente 12.480 poderiam ser consumidos.

Em terceiro lugar, e este é o ponto crucial: após esta renda distribuída ter sido consumida, não haveria como ocorrer novas redistribuições. Afinal, de onde viria a nova renda a ser redistribuída? Vale lembrar que não há mais ricos e pobres. Todos estão em igual situação. Consequentemente, não haverá mais de quem tirar.

Logo, e por definição, uma redistribuição de renda é algo que só pode ser feito uma única vez. E, após a redistribuição, os contemplados estarão em melhor situação apenas enquanto durar sua nova renda. Tão logo ela seja consumida, tais pessoas voltarão ao estado de pobreza anterior. E pior: com os empreendedores mais pobres, será muito mais difícil para tais pessoas melhorarem de vida.

Em quarto lugar, e complementando o terceiro item, em uma economia de mercado, a riqueza dos ricos não está na forma de dinheiro guardado na gaveta. Também não está em amontoados de bens de consumo dentro de suas mansões. A riqueza dos ricos está majoritariamente na forma de meios de produção: instalações industriais, maquinários, ferramentas, edificações, estoques, ferramentas de produção, equipamentos de escritório de uma fábrica ou de uma empresa qualquer. 

Esses meios de produção, além de tornarem o trabalho humano mais eficiente e produtivo, produzem os bens e serviços que todas as pessoas consomem. Mais ainda: esses meios de produção demandam o emprego de mão-de-obra, e essa mão-de-obra é vendida pelas massas em troca de salários.

Quanto maior a riqueza de empreendedores e capitalistas, maior será a produção e a oferta de bens e serviços. Consequentemente, maior será a demanda por mão-de-obra.  Consequentemente, maior será o padrão de vida de todos.

Caso os ricos sejam espoliados destas posses, todo o nosso bem-estar e toda a nossa capacidade de auferir receitas via trabalho assalariado estarão seriamente comprometidos.

Em suma, dizer que a pobreza mundial se resolve com redistribuição de renda e sem crescimento econômico é mentira. A única coisa que teríamos seria a redistribuição da miséria.

O problema atual do mundo não é a desigualdade, mas a pobreza que ainda resta. Tanto nos países desenvolvidos, como nos países em desenvolvimento, existem muitas pessoas pobres (embora o número seja cada vez menor).

A nossa prioridade deve ser tirá-los da pobreza e não universalizar suas carências.

Mais uma vez, desigualdade não é pobreza: combater a desigualdade não acaba com a pobreza e diminuir a pobreza não implica acabar com a desigualdade. É imprescindível separar esses dois conceitos para não sermos enganados pelos defensores do igualitarismo, os quais querem apenas redistribuir a pobreza.
Juan Ramón Rallo


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