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quinta-feira, 20 de junho de 2019

Na Europa, investidores estão pagando para emprestar dinheiro ao governo

Hoje, um título público alemão, com vencimento daqui a 10 anos, está pagando juros de -0,29% ao ano. Isso mesmo, juro negativo.
Já um título público suíço, também de 10 anos, está ainda mais negativo: paga -0,50% ao ano.
Ou seja, hoje, um investidor tem de *pagar para emprestar* dinheiro por dez anos para estes governos.
A título de ilustração, quem emprestar hoje 1.000 francos suíços para o governo da Suíça receberá de volta, daqui a 10 anos, 951 francos suíços.
Já os juros dos títulos públicos de 10 anos da Áustria, da Finlândia, da Suécia, da França e da Bélgica estão em literalmente zero. Ou seja, quem emprestar para estes governos, e mantiver os títulos por 10 anos, não pagará nada, mas também não receberá nada a mais após 10 anos.
Já quem emprestar para os governos de Espanha e Portugal receberá juros de 0,41% e 0,57% ao ano, respectivamente. Ou seja, se você emprestar 1.000 euros para o governo espanhol, receberá de volta, daqui a 10 anos, a impressionante soma de 1.041,76 euros. E isso desconsiderando o imposto de renda.
Para prazos menores que 10 anos, o número de países com juros negativos em seus títulos públicos aumenta consideravelmente: Áustria, Finlândia, Suécia, França e até mesmo Itália entram no grupo. A França paga juros negativos até os títulos de 7 anos de prazo. Portugal e Espanha, até os de 5 anos (!). A Itália, até o de 1 ano.
Já o governo da Alemanha, por outro lado, paga juros negativos até os títulos de 15 anos de prazo.
Mas ninguém supera o governo da Dinamarca, que está prestes a bater um recorde bizarro: falta 0,01 ponto percentual para ele se tornar o primeiro governo do mundo a usufruir juros negativos em todos os seus títulos públicos.
Sobre isso, eis uma estatística espantosa: o volume de dinheiro aplicado em títulos públicos com juros negativos atingiu um recorde histórico: há simplesmente 12 trilhões de dólares aplicados nestes títulos, segundo o jornal “Financial Times”.
Tal idéia seria completamente inconcebível no mundo anterior à crise financeira de 2008. Mas aquele era outro mundo. Hoje, como consequência de todos os programas de “afrouxamento quantitativo” realizado pelo Banco Central Europeu, a prática de pagar para emprestar dinheiro ao governo já se tornou norma na Europa.
O que leva à pergunta é inevitável: por que, afinal, alguém aceitaria *pagar* para que o governo pegasse seu dinheiro emprestado? Tal prática não vai contra toda a lógica financeira e, até mesmo, da preferência temporal?
A realidade espantosa, no entanto, é que tal prática faz total sentido no mundo atual.
As taxas de juros que os grandes investidores europeus estão pagando aos governos europeus em troca de seus títulos nada mais são do que um seguro contra uma recessão e contra uma eventual insolvência bancária durante esta recessão. Tal atitude faz sentido.
O fato de que milionários e bilionários estão pagando para emprestar dinheiro aos governos europeus indica que há um crescente temor de que haverá uma contração na economia européia. E eles imaginam que esta contração tende a ser aguda.
Títulos públicos de vários países (inclusive Portugal, Espanha e Itália) com juros negativos podem ser um indicativo de um amplo temor entre os grandes investidores de que está se avizinhando algo semelhante à crise de 2008-2009. 
"Melhor uma perda pequena e segura do que uma perda enorme e altamente provável" tornou-se o mantra entre os grandes investidores europeus.
Trata-se de uma reação perfeitamente sensata a um cenário pós-2008.
Anthony P. Geller


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