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quinta-feira, 18 de julho de 2019

O DUELO ENTRE BENTO GONÇALVES E ONOFRE PIRES

À frente dos inimigos de Bento Gonçalves sobressaía o valente coronel Onofre Pires, famoso pela bravura, pelo gênio tempestuoso e pelo seu grande papel na porfiada luta. Interpelado por carta contesta numa resposta “superlativamente violenta”, transbordante de ódio e de provocação chama Bento Gonçalves de:

“Ladrão da fortuna, ladrão da vida, ladrão da honra e ladrão da liberdade é o brado ingente que contra vós levanta a nação rio-grandense, ao qual já sabeis que junto à minha convicção.”

De posse dessa resposta, Bento Gonçalves montou a cavalo e, proibindo que alguém o acompanhasse, a não ser seu ordenança, dirigiu-se à barraca de Onofre, a quem falou, sem apear:

“Coronel Onofre Pires, as vossas imunidades parlamentares me deixam um único meio de desagravar minha honra ofendida. Queira acompanhar-me”.

Onofre segue-o, sem relutância e, sobranceiramente, marcharam ao passo dos cavalos, lado a lado, em silêncio.

Dali a pouco, nas margens do arroio Sarandi, no local denominado “Topador”, no atual município de Sant’Ana do Livramento, sem testemunhas, os dois bravos farroupilhas, que eram parentes e que foram, outrora, amigos íntimos, desembainharam as espadas gloriosas para o supremo ajuste de contas.

Ao começar duelo, Onofre atacou violentamente a golpes de força. Bento esquiva-se, enfiando sua espada por entre o vão dos copos da mão de Onofre, “rasgando-lhe a chave da mão”, ou seja, cortando o nervo/cartilagem que une o dedo polegar ao indicador. Com esse golpe, inevitavelmente, a espada de Onofre cai bruscamente ao solo.

Bento Gonçalves, que teria premeditado esse golpe, para evitar um desenlace fatal para Onofre, como sucedeu, vendo-o desarmado, baixa normalmente a sua espada e pergunta:
“Estás satisfeito Onofre?”.
Simultaneamente, este pega da espada com a mão esquerda e responde ao generoso contendor:
“Não bandido, aqui um de nós tem que ficar no campo da luta”.

À violência e impropérios com que arremete seu adversário, nesta segunda fase da luta, obriga este a dizer-lhe:
“Então, prepara-te, que vou te dar um golpe mortal”!
E lhe desferiu um golpe secreto, inteiramente seu, decisivo, denominado “mangueta”, (de manga, braço).
Corta-lhe a artéria do braço esquerdo, à altura do peito, e Onofre, enxague, cai ao chão. Nesse momento, Bento Gonçalves tira o lenço de seda do pescoço e dirigindo-se para Onofre, e este lhe diz: “Não me mate enforcado, bandido”. Ao que lhe respondeu:
“Ao contrário, Onofre, vou ligar teu braço para ver se te salvo a vida”.

Logo após essa operação, chega ao campo de luta Leão Gonçalves, filho de Bento, que conseguira sair ocultamente do acampamento. Vendo seu pai todo borrifado de sangue, pergunta-lhe
“Meu pai está ferido?”.
Ao que responde em seguida a um pequeno muxoxo:
“Ora, o Onofre”...

Bento Gonçalves então regressa serenamente ao acampamento e diz aos seus: “Vão buscar o Onofre que está morto no campo de luta”.

Sobre os momentos finais de Onofre, algumas fontes registram que ele, depois de ferido, teria recebido assistência de um médico militar, que se desvelou em cuidados e morrido quatros dias após. 1 Outras, porém, afirmam que o mesmo fora conduzido para uma casinha abandonada, próxima ao acampamento e ali ficara a noite sem assistência e que pela madrugada, escaldado em febre, teria sofrido visões dos combates que empenhara em defesa da causa que tanto amara e que rompera as ligaduras de seu ferimento, deixando-se morrer esvaído em sangue.

Falecia então o homem de grande estatura e valentia que, a 20 de setembro de 1835, havia entrado em Porto Alegre, comandando a vanguarda dos farrapos.

FONTES:

Filho, Arthur Ferreira. “Rio Grande Heroico e Pitoresco”, Porto Alegre, Martins Livreiro, 1985. 68 p.
Caggiani, Ivo. “Sant´Ana do Livramento - 150 Anos de História (1º Volume)”, Sant´Ana do Livramento, Associação Santaense Pró-Ensino Superior, 1983. 192 p.
Azambuja, Bento Martins de. “Recordações Gaúchas”, Curitiba, Imprimax Ltda., 1969. 102 p

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