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quinta-feira, 12 de março de 2020

Oswald Spengler: Pode-se prever a história?

Abaixo segue a introdução do próprio Oswald Spengler à sua célebre obra “Decadência do Ocidente”, publicada pela primeira vez em 1918 e corrigida em 1922:
Neste livro se acomete pela primeira vez o intento de predizer a história. Trata-se de vislumbrar o destino de uma cultura, a única da terra que se acha hoje a caminho da plenitude: a cultura da América e da Europa ocidental. Trata-se, digo, de persegui-la naqueles estágios de seu desenvolvimento que, todavia, não tem transcorrido.
Ninguém até agora tem parado enquanto à possibilidade de resolver um problema de tão enorme transcendência e, se alguma vez foi tentado, não se conheceram bem os meios próprios para tratá-lo ou se usou deles em forma deficiente.
Há uma lógica da história? Há mais além dos fatos singulares, que são contingentes e imprevisíveis, uma estrutura da humanidade histórica, por dizê-la assim metafisica, que seja no essencial independente das manifestações político-espirituais tão patentes e de todos conhecidas? Uma estrutura que é, em rigor, a geradora dessa outra menos profunda? Não ocorre que os grandes momentos da história universal se apresentam sempre ante a pupila inteligente com uma configuração que permite deduzir certas conclusões? E se isto é assim, quais são os limites de tais deduções? É possível descobrir na vida mesma – porque a história humana não é senão um conjunto de enormes ciclos vitais, cada qual com um eu e uma personalidade, que a mesma linguagem usual concebe indeliberadamente como indivíduos de ordem superior, ativos e pensantes e chama “a antiguidade”, “a cultura chinesa” ou “a civilização moderna” – é possível, digo, descobrir na vida mesma os estágios por que tem de passar e uma ordem neles que não admite exceção?
Destruição de Roma pelos Visigodos (1836), de Thomas Cole (1801-1848).
Os conceitos fundamentais de todo o orgânico: nascimento, morte, juventude, velhice, duração da vida, não teriam também nesta esfera um sentido rigoroso que ninguém ainda tem desentranhado? Não teria, em suma, à base de todo o histórico, certas protoformas biográficas universais?
A decadência do Ocidente, que por logo, não é senão um fenômeno imitado em lugar e tempo, como o é seu correspondente a decadência da “antiguidade”, resulta, pois um tema filosófico que, considerado em todo seu peso, implica todos os grandes problemas da realidade.
DETROIT, MI – 24 DE FEVEREIRO: O grafite cobre um edifício abandonado o 24 de fevereiro de 2013 em Detroit, Michigan. A cidade de Detroit enfrentou sérios desafios econômicos na última década, com uma população cada vez menor e uma base tributária ao tentar manter serviços essenciais. Uma equipe de revisão financeira divulgou uma descoberta em 19 de fevereiro, identificando a cidade como estando em uma ‘emergência financeira’. O governador do Michigan, Rick Snyder, tem 30 dias a partir da emissão do relatório para declarar oficialmente uma emergência financeira, o que pode resultar no governador nomear um gerente financeiro de emergência para supervisionar o governo municipal de Detroit. / Foto por J.D. Pooley / Getty Images.
Se queremos saber em que forma se está verificando a extinção da cultura ocidental, haverá de averiguar primeiro o que seja cultura; em que relação se acha a cultura com a história visível, com a vida, com a alma, com a natureza, com o espírito; em que formas se manifesta, e até que ponto sejam essas formas – povos, idiomas e épocas, batalhas e ideias, Estados e deuses, artes e obras, ciências, direitos, organizações econômicas e concepções do universo, grandes homens e grandes acontecimentos –, símbolos e, portanto, qual deva ser sua interpretação legítima.
Tradução por Mykel Alexander
Da versão em espanhol de Editorial Mundo Nuevo, Chile, 1938.

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