segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A BESTA MENTE E ESCONDE SUA VERDADEIRA HISTORIA.

A Bulgária dos Rousseff


A família Rousseff
Do repórter Valguinaldo Marinheiro, de Sófia, na Bulgaria, para a ‘Folha’:
“Pode parecer irônico, mas enquanto Dilma Rousseff lutava contra uma ditadura de direita no Brasil, seu meio-irmão, Luben Russév, sofria com a ditadura de esquerda na Bulgária.
No Brasil, Dilma era considerada perigosa por ser comunista. Na Bulgária, Luben era visto como não confiável pelo governo comunista por ter um pai que havia fugido para um país capitalista.
Política à parte, poucos são os laços que ligam os irmãos, que jamais se viram. Luben é o filho que o pai de Dilma, Pétar Russév (que aportuguesou seu nome para Pedro Rousseff), teve na Bulgária com Evdokia Yankova, sua primeira mulher.
Pedro também não conheceu o filho. Ele fugiu da Bulgária em 1929, pouco antes de a criança nascer.
Segundo informações dadas por Luben a um jornalista em 2004 (três anos antes de morrer), o pai prometeu à mulher que iria voltar.
Pedro viveu na França e passou pela Argentina antes de se fixar no Brasil, onde conheceu a mãe da candidata do PT, também chamada Dilma. Eles se casaram e tiveram três filhos. Dilma é a filha do meio.
As promessas de voltar à Bulgária e reunir a família nunca foram cumpridas. Pedro Rousseff morreu em 1962, em Belo Horizonte.
Há pouquíssimos registros sobre ele na Bulgária. Há também versões desencontradas sobre sua vida.
Dizem que nasceu em 1900 em Gábrovo, cidade ao norte do país famosa por ter muitos mercadores de tecidos. A família dele também era de comerciantes.
Depois, mudou-se para Sófia, onde se alinhou aos comunistas. A Bulgária vivia tempos turbulentos nos anos 20. Era uma monarquia e tinha um governo fascista.
Os comunistas tentavam desestabilizar o governo com atos terroristas. Eram reprimidos e perseguidos.
Dilma já disse em entrevistas que o pai deixou a Bulgária por razões políticas. Luben, seu meio-irmão, afirmou que foram razões econômicas: o pai estava falido.
Estudiosos dizem que pode ser uma combinação das duas coisas. Além de politicamente conturbada, a Bulgária estava com sua economia em frangalhos.
O primeiro contato de Luben com o pai se deu em 1948, por carta. Ele tinha 18 anos e estudava engenharia.
Os comunistas haviam tomado o poder, com a ajuda da União Soviética, e reduziam os direitos individuais.
Tentaram expulsar o meio-irmão de Dilma da faculdade pelo fato de ele ter feito parte de um grupo juvenil que apoiava a social-democracia.
Luben era considerado um aluno brilhante, e a faculdade impediu sua expulsão.
Mas o governo o mantinha sob vigilância, como fazia com a maioria dos que tinham algum parente fora do “mundo socialista”.
O meio-irmão de Dilma disse que pediu várias vezes ao pai para ajudá-lo a sair da Bulgária e levá-lo ao Brasil.
Pedro enviou ao filho alguns pacotes com presentes. Às vezes, punha dólares escondidos entre cartões postais, para que passassem despercebidos pela polícia.
Com esse dinheiro, Luben conseguiu comprar um Volkswagen. Em 1962, o engenheiro soube da morte do pai e solicitou várias vezes ao governo permissão para viajar ao Brasil para tratar de sua herança.
Ele sabia, por meio de uma poeta búlgara, amiga de seu pai, que Pedro tinha se tornado um homem rico.
Mais uma vez, não obteve autorização para viajar.
Tempos depois, foi informado pelo Departamento de Relações Exteriores de que tinha recebido do Brasil a quantia de US$ 1.500 referentes a sua herança.
Luben acreditava que tinha direito a mais dinheiro, mas achou que era melhor pegar os US$ 1.500 do que ficar sem nada.
O engenheiro se casou e não teve filhos. Nos últimos anos de vida, morava com a mulher, Margarita, no centro de Sófia. Sofria de reumatismo e andava de muletas. Seus vizinhos dizem que ficava o tempo todo em casa. Só saía para ir ao hospital.
Bozhidar Baykushev, que é filho de uma irmã de Margarita, disse a um jornal local que o tio era fechado e que nunca falou do pai ou dos meio-irmãos brasileiros.
Segundo Momchil Indjov, jornalista que entrevistou Luben em 2004, ele falava do pai com carinho e desilusão, por não ter tido ajuda para fugir do comunismo.
Rumen Stoyanov, um professor de literatura brasileira que viveu por cerca de dez anos no Brasil, foi um dos últimos amigos de Luben.
Ele afirma que, em 2005, recebeu um pedido do Brasil, via embaixada, para que procurasse o meio-irmão da então ministra Dilma Rousseff.
Ele o encontrou e o ajudou a se corresponder com a irmã. Numa das cartas, Luben comentou com Dilma que estava com dificuldades financeiras. Segundo Rumen, Dilma, então, remeteu dinheiro.
Rumen conta que poucos dias antes de morrer, em fevereiro de 2007, Luben ligou para sua casa pedindo que traduzisse uma carta que iria escrever à irmã brasileira.
“Combinei de ir à casa dele dias depois. Não deu tempo. Ele morreu antes, e nunca vamos saber o que ele gostaria de falar para a irmã.”
APÓS ESTADA NA CASA DE DILMA, POETA ESCREVEU SOBRE O BRASIL

“Quando saiu da Bulgária, em 1929, Pedro Rousseff levou na bagagem um livro de poesias intitulado “A Eterna e a Sagrada”, de uma conterrânea sua chamada Elisaveta Bagriana. Ao menos é o que contou, anos depois, a própria Elisaveta a seu biógrafo, Iordan Vassilev.
Em entrevista à Folha, Vassilev diz que Pedro e Elisaveta se conheceram no início dos anos 60, quando a poeta, considerada um dos maiores nomes da literatura búlgara, foi ao Brasil para um encontro de escritores.
No país, foi procurada por Pedro Rousseff, que a convidou a passar um tempo com a família em Belo Horizonte.
Ela aceitou e da estada nasceram nove poemas que estão no chamado ciclo brasileiro da autora. Há títulos como “Os Olhos do Brasil”, em que ela fala das belezas naturais do país, e “Uísque com Gelo e Lágrimas”.
Vassilev diz que a poeta, vindo de um país comunista, ficou muito impressionada com a riqueza dos Rousseff, que mantinham vários empregados em casa. “Ela disse que demorou uns três dias até conhecer as propriedades da família”, afirma.
O biógrafo não se lembra de Elisaveta ter citado os nomes de Dilma ou de Igor, o outro filho de Pedro no Brasil. “Mas ela falou mais de uma vez de Zana, a filha mais nova de Rousseff, que tinha o mesmo nome da mãe dele.”
Zana morreu em 1977, 15 anos depois do pai.
Quando soube da morte de Rousseff, em 1962, Elisaveta escreveu o poema “Um Punhado de Neve”. “Fala que o amigo sentia saudades da Bulgária e que desejava pegar na mão um punhado de neve do país”, diz o biógrafo.
Elisaveta morreu em 1991, pouco antes de fazer 98 anos”. (Vaguinaldo Marinheiro).

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