sexta-feira, 5 de novembro de 2010

DIFICULDADE DE REFLEXÃO

Este é o terceiro artigo da série “Dificuldade de Reflexão”, na qual apontamos a quase incapacidade que a maioria dos brasileiros tem de tirar as conclusões obvias das informações que lhe chegam. Nele, abordaremos as eleições de 2010, particularmente, o segundo do turno. Todo o processo eleitoral foi muito fértil em irreflexões.
Se a sociedade brasileira tivesse refletido um pouco que fosse, não permitiria que uma terrorista tivesse sido eleita “presidenta” do Brasil.
E não nos digam que ela não o é ou que é ex-terrorista. As evidências são de que participou ativamente das ações dos grupos a que pertencia. Dizem que não existe ex-terrorista, contudo, mesmo que existissem, somente o seriam os que se tivessemarrependido. Não é o caso dela, que afirma orgulhar-se de seu passado de guerrilheira.
A anistia generosa e, talvez, irresponsável que lhe deram é esquecimento, é perdão, significa que não mais pode ser punida, mas não desfaz as ações praticadas, cujas conseqüências continuam a existir para as suas vítimas e para a Nação. Perdão pressupõe que houve os atos pelos quais se perdoa e deveria presumir o arrependimento.
Uma pessoa se torna ladra, assaltante, seqüestradora e assassina, quando comete os atos criminosos. Uma eventual anistia, como dissemos, extingue a punibilidade, mas não anula o mal praticado.
Aliás, verdadeiramente eleita, ela não foi. O processo que a elegeu foi viciado do princípio ao fim. O militante extremista que tomou a presidência vem afrontando, há mais de um ano, toda a legislação eleitoral, ao tornar-se cabo eleitoral de sua candidata fantoche muito antes dos prazos previstos em lei.
Somente o fato de ter abandonado a presidência da República, em pleno exercício do cargo, já teria sido suficiente para acusação por falta de decoro.
Em qualquer país democrático, isso teria acontecido, mas não na ditadura petista, uma farsa de democracia para inglês ver. As instituições que deveriam coibi-lo foram corrompidas para que nada fizessem ou coagidas a aceitarem o inadmissível.
O lamentável resultado disso é que a justiça eleitoral conivente prefere impedir, por abuso dos poderes político e econômico, a posse de candidato da oposição a senador, quando quem abusou despudoradamente desses poderes foi o presidente da República, sem que nada tenha sido dito ou feito para impedi-lo ou puni-lo.
Esta é uma característica das ditaduras. As leis só se aplicam para proteger os apadrinhados e constranger os adversários. São incontáveis os casos semelhantes.
O candidato da oposição era muitas vezes melhor do que a candidata presidencial o que se tornou mais evidente ainda, nos debates televisionados. No último, na Rede Globo, enquanto Serra falava, ela ficava andando de um lado para o outro do palco, com uma postura semelhante à de uma leoa neurótica enjaulada, condição em que o predador se torna mais perigoso, ainda.
Há que se considerar que, não somente a sua campanha institucional, mas a própria candidata, de viva voz, mentia sistematicamente para desqualificar o adversário e para negar aquilo que afirmara antes e, depois, lhe causava desconforto. Parece que, para ela e para a maioria dos eleitores, é indiferente que tenha sido filmada, quando “disse o que disse que não disse”.
Precisamos aprender as novas acepções de algumas palavras. Agora, reproduzir o que alguma pessoa afirmou é difamá-la. Também pode ser caluniá-la, mesmo que haja provas materiais do que foi dito. É o não dito pelo dito.
Dissemos que o processo eleitoral foi viciado. Além dos argumentos já usados, há, ainda, a manipulação das pesquisas pelos institutos que as fizeram – o que acreditamos já ter esgotado em artigos anteriores – e a fraude que, estamos convencido, deve ter havido
Não bastam as declarações de ministros do TSE e de pessoas ligadas ao processo para afastar a possível violação do sistema eletrônico de votação. A experiência sugere o contrário e não vemos nenhuma razão para confiar nos envolvidos.
Mas não podemos atribuir a vitória da candidata exclusivamente às manobras ilegais e desonestas de Lula e dos militantes petistas. Dela, boa parte cabe à própria oposição que custou muito a definir o seu candidato. A escolha recaiu, ainda, sobre quem tinha mais intenções de voto nas primeiras pesquisas da fase de pré-candidaturas, porém era também quem tinha maior rejeição entre os candidatos, o que dificultaria o crescimento muito além dos trinta e poucos por cento iniciais. Motivação semelhante já levara ao esvaziamento da candidatura de Geraldo Alkimin nas eleições de 2006, e, agora pode ter sido um dos fatores desfavoráveis, em que pese, como já dissemos, ser flagrante a superioridade de Serra sob todos os pontos de vista.
As evidências estão aí, explícitas, gritantes, onde sempre estiveram, mas boa parte dos brasileiros tem-se revelado incapaz de interpretá-las para concluir o que salta aos olhos, preferindo acreditar em todas as lorotas ideológicas que nos são impostas.
É assim que crêem em pesquisas eleitorais; na inviolabilidade das urnas eletrônicas; na popularidade do Lula e em que “nada cola nele”; em que vivemos em uma democracia, porque temos eleições livres, mesmo que viciadas; em que o Brasil vai muito bem, embora vivamos acuados pelos bandidos das quadrilhas que agem sob a proteção das leis feitas pelos bandidos do governo; em que a economia está “bombando”, quando há um desastre econômico engatilhado, mas muito bem camuflado; em que todo governo de direita ou de centro é uma ditadura e toda ditadura de esquerda é uma democracia; em que condenar à perda do cargo um presidente que descumpre sistematicamente a Constituição é dar um golpe de Estado.
Também crêem em que somos quase um país desenvolvido, enquanto os nossos impostos estão entre os maiores do mundo; o nosso serviço de saúde é uma calamidade pública; os nossos portos e aeroportos são deficientes e há pouca estrada nos nossos buracos. As nossas Forças Armadas têm feito milagres para sobreviver à inanição que lhes tentam impor. As promessas são muitas, mas, por enquanto, somente migalhas.
Mas, paradoxalmente, saímos melhor dessas eleições do que entramos, pelo menos em teoria.
Se a Dilma tivesse vencido no primeiro turno, por uma maioria consagradora de 80%, por exemplo, ela assumiria o governo montada em uma falsa legitimidade irresistível e trataria de implantar o III Plano Nacional de Direitos Humanos, logo no início do mandato, com a introdução da censura aos meios de comunicação; a legalização do aborto; a proibição dos símbolos religiosos em locais públicos; a oficialização do racismo; o desmonte final das Forças Armadas; e a implantação de uma ditadura de esquerda, além de todas as outras previsões deletérias nele contidas.
No atual quadro, porém, ela tomará posse enfraquecida e terá de administrar três forças contraditórias que lhe tentarão impor a agenda:
O PT, cuja ala radical nunca a aceitou e tentará forçar as reformas socializantes, além do possível na situação reinante;
O PMDB, que manterá, constantemente, uma espada sobre o seu pescoço, pois terá a maior bancada do Senado e, dependendo dos acordos que fizer, também, a da Câmara dos Deputados e, somado à oposição, poderá forçar o governo a fazer o que quiser, sem nos esquecermos, também, de que Michel Temer é o beneficiário imediato de um possível impedimento da presidente. Não seria difícil deixar prosperar um processo por crime de responsabilidade e ver a presidência cair-lhe no colo, sem qualquer esforço – o que não faltará é motivo para tanto;
Finalmente, o próprio Lula, do qual não poderá livrar-se prontamente, como é provável que pretendesse, uma vez que dependerá inteiramente dele para sobreviver nesse meio hostil. O preço pago será conviver com outro presidente, este de fato, oculto, talvez não tanto, uma espécie de Marco Aurélio Garcia ou de Nestor Kirchner, que fará mais mal à Argentina depois de morto, do que o muito que já fez enquanto vivo.
Outro aspecto bom é que aprendemos, pelo menos alguns de nós, que o Lula não é imortal, que podemos bater nele e feri-lo virtualmente, que é possível reagir.
Não obstante, a única coisa certa é que não deveremos ficar tranqüilos. Este é o cenário otimista, em que ganhamos tempo para nos organizar. É preciso que o façamos o mais rapidamente que for possível.
A capacidade de recuperação deles é incrível e jamais desistem do sonho de implantar a ditadura no Brasil, delírio que os acomete e impulsiona desde 1935.
Outros fatores importantes são a caneta e a chave do cofre, que têm um poder corruptor irresistível, como já dissemos em outros artigos.
Sempre fracassaram graças à ação firme dos que nos antecederam.
Seria lamentavelmente vergonhoso se, depois que as gerações futuras os varrerem definitivamente do mapa, entrássemos para a História – por covardia, interesses mesquinhos ou conveniência pessoal – como os únicos a falhar em proteger a Pátria que, um dia, juramos defender com o sacrifício da própria vida, se preciso fosse.
Não cremos nessa possibilidade.

Observação:
1)     O autor é Coronel-Aviador reformado e, atualmente, Vice-Presidente da Academia Brasileira de Defesa;

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