sábado, 9 de abril de 2011

DELIRIOS BRASILEIROS

Vimos o acontecimento brutal numa escola do Rio, com a morte de 12 crianças. Não faz tempo, centenas delas foram soterradas em Petrópolis, no que foi chamado o “maior desastre natural do país”. Natural??? Algumas ficarão sepultadas para sempre no ambiente daquela tragédia. Sobre seus corpos, vão se erguer edificações. Não terão direito nem mesmo à “Santa Cruz”,  pequeninas capelas que ainda hoje se erguem nas áreas rurais do Brasil em que pessoas tombam mortas, pouco importa o motivo. Na fazenda em que passei parte considerável da infância, há uma. Ali foi assassinado Vitorino, que humilhara um camarada mais fraco do que ele num jogo de futebol. Crime de faca. Era um domingo. O campo, que não existe mais, ficava nas terras de um tio meu. Tínhamos com ela, eu menino,  um misto de reverência e terror. Íamos rezar na Santa Cruz e a mantínhamos limpa, com toalha de crochê e imagens de santos. No lusco-fusco, enxergavam o vulto de Vitorino nos assombrando — eu nunca; no breu da noite, muitos viam a luz de uma vela iluminando a capelinha. É um jeito de não morrer. Como se nota, Vitorino vive de algum modo. Em Petrópolis, muitos simplesmente desapareceram. Morte absoluta.
Mesmo assim, a tragédia da cidade está ente os eventos que podemos compreender. O misto de moradias em áreas irregulares, de incúria do poder público e de uma chuva realmente devastadora produziu aquelas mortes. Há uma espécie de resignação. Já o assassinato das crianças deixa-nos perplexos. O que fazer? Não há o que fazer. As razões que habitavam a terrível solidão daquele rapaz se foram com ele. Cria-se uma espécie de frenesi em busca de uma resposta, e os políticos, obviamente, não resistem à tentação de apontar uma “saída”. E se tirou do baú, então, a velha e estúpida idéia de “desarmar a sociedade”. Como? Proibindo a venda legal de armas!
Borda-se, assim, o evento trágico com uma estupenda bobagem. No Japão, um assassino precisou de uma faca para matar oito crianças. Dilma Rousseff afirmou que o crime foge às “nossas características”, numa declaração infeliz. De fato: as “nossas características” compreendem mais de 50 mil assassinatos por ano — 26 homicídios por 100 mil habitantes, contra apenas 6 nos EUA. A maior parte é vitimada por armas de fogo ilegais, como eram, diga-se, as do rapaz da escola. Nesse caso, no entanto, ainda que se abolissem todas as armas desse gênero, ele encontraria uma maneira.
Em seu nono ano de governo, o PT pouco fez — na verdade, nada fez —  contra o espantoso número de assassinatos no Brasil. Boa parte do tempo, o Ministério da Justiça ficou sob o comando de Tarso Genro, aquele que ouviu dizer que “maconha é muito saborosa”. O índice nacional só não explodiu porque São Paulo segue sendo um exemplo de combate aos homicídios: queda de 62,4% entre 1998 e 2008 (10,4 mortos por 100 mil habitantes em 2010). No período, no Norte e no Nordeste, os dados são alarmantes: crescimento de 297% no Maranhão, de 237,6% na Bahia, de 177,2% em Alagoas, de 174,8% em Sergipe, de 193,8% no Pará… Assistimos, isto sim, ao contingenciamento da verba destinada à Segurança Pública. Pois bem, dada essa realidade, o governo federal houve por bem, à esteira da tragédia no Rio, lançar uma campanha em favor do… desarmamento. Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo e José Sarney acreditam que, tirando as armas legais das mãos das pessoas decentes, vão coibir o crime dos bandidos e dos malucos.
E, mais uma vez, os militantes, os particularistas, os “salvadores de homens” estão presentes para advogar que os “direitos coletivos” devem se sobrepor aos individuais. Mandam-me aqui um troço de uma jornalista — sim, jornalista! — que defendeu na TV que o governo monitore com mais severidade a Internet para impedir que um assassino como esse tenha acesso a mensagens perigosas! O que ela quer?
EncerrandoEstamos passando por um acelerado processo de emburrecimento do debate público. Nunca tantos falaram tanta bobagem e com tanta convicção contra os fundamentos que regem a democracia e o estado de direito. Mas por que chegamos a isso?

Nenhum comentário:

Postar um comentário