quarta-feira, 13 de abril de 2011

GOVERNO EM FESTA

A economia brasileira tem apresentado taxas de crescimento razoáveis nos últimos anos, o que permitiu uma acelerada expansão dos gastos públicos. Foram vários os fatores que possibilitaram este avanço em nossa economia, tais como a melhoria nos termos de troca após a elevação do preço das commodities, o espantoso crescimento chinês, as reduzidas taxas de juros dos países desenvolvidos, e uma maior estabilidade política no país.

Tudo isso fez com que o ambiente macroeconômico fosse mais propício às nações emergentes, o Brasil incluído. Com a maior estabilidade política e fatores exógenos benignos, que culminaram em mais empregos e maior massa salarial, os consumidores brasileiros partiram às compras, muitas vezes via financiamento. O crédito cresceu de forma impressionante nos últimos anos.

Os ativos totais dos três maiores bancos privados nacionais triplicaram de 2006 a 2010. O crescimento do crédito público foi chocante também. O BNDES, que desembolsava algo como R$ 50 bilhões por ano, passou a emprestar quase o triplo deste montante. O governo começou a realizar operações de capitalização no banco, usando até ações que a União possui da Petrobras ou Eletrobrás, para garantir mais fôlego ao banco estatal. O crédito imobiliário experimentou um crescimento tão forte que alguns analistas começaram a falar em bolha.

Se a economia brasileira está ou não em uma bolha de crédito, parece cedo dizer. Há, pelo menos, alguns indícios claros de espuma. Muitos excessos foram cometidos, especialmente pelo governo. Os gastos públicos dispararam, assim como o crédito. Os índices de inflação passaram a fugir da meta do Banco Central e incomodar os agentes de mercado. O governo Dilma se viu na necessidade de anunciar corte de gastos, e o Banco Central iniciou uma fase de aumento dos juros. Até agora, entretanto, as medidas parecem tímidas demais.

Os cortes foram anunciados em cima de um orçamento inflado e não representam redução efetiva de despesa. O Banco Central adotou medidas “macroprudenciais” na esperança de ter que subir menos a taxa de juros. Mas a verdade é que os sinais de superaquecimento estão em todo lugar. Os antigos gargalos impedem um voo sustentável de águia. Corremos o risco de ver o conhecido voo de galinha. Começa a faltar mão de obra em vários setores, a infraestrutura deficiente impede avanços maiores e nenhuma reforma estrutural foi realizada.

A produtividade segue baixa, a poupança é reduzida, e os investimentos dependem tanto de financiamento externo como do crédito inflacionário. Trata-se de um cenário insustentável. Para o país entrar na rota de desenvolvimento de fato, seria preciso cortar mais gastos públicos, reduzir a burocracia e a carga tributária, e, com isso, permitir uma maior poupança doméstica financiando projetos de investimentos produtivos. Não é esse o quadro atual. Continuamos muito dependentes da poupança externa e do crescimento chinês para sustentar o preço das commodities.

Se esse cenário mudar, os pilares frágeis de nosso crescimento virão à tona. A pauta de exportação brasileira é dominada por produtos básicos, que são quase metade do total e têm sido a locomotiva do crescimento. A China já é o principal destino dos produtos exportados, representando mais de 15% do total. Minério de ferro sozinho responde por 15% do total exportado. Em contrapartida, os bens de consumo são os que mais crescem na pauta de importação. Será que exportar minério e comprar carro financiado são um modelo sustentável de crescimento?

Muitos economistas concordam que, para o país crescer de forma mais sólida, o investimento teria que chegar a aproximadamente 25% do PIB. Atualmente, não estamos nem nos 20%, sem falar de sua qualidade questionável, uma vez que há forte intervenção estatal na escolha de alocação dos recursos. Quando o BNDES decide quem receberá bilhões subsidiados, critérios políticos claramente falam mais alto. Será que isso interessa aos brasileiros no longo prazo? Conhecemos os resultados da fase de “milagre econômico” do regime militar: elefantes brancos e estatais paquidérmicas que serviram como palco de corrupção, e uma grave crise econômica na hora de pagar as contas. Não é possível driblar as inexoráveis leis econômicas.

Em seu livro Oito séculos de delírios financeiros (Elsevier Editora, 2010, 457 páginas), com vastas pesquisas empíricas, os economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart mostraram como os surtos de prosperidade criam as sementes das crises financeiras. A crença de que “desta vez é diferente” gera complacência e produz crescimento excessivo do crédito. O Brasil não parece viver uma bolha creditícia ainda. Mas pode estar brincando com fogo.

Os agentes econômicos deveriam, portanto, ficar muito atentos ao alerta dos autores: “Como se demonstrou reiteradamente ao longo do tempo, os governos dos países emergentes tendem a considerar os surtos favoráveis como tendências duradouras, o que, por seu turno, atiça uma farra de gastos e de empréstimos públicos, que termina em lágrimas”.

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