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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

TEMPO NUBLADO, COM CUMULOS E NIMBUS SOBRE AS CABEÇAS

Nunca antes na história desse país se viu um presidente descer da dignidade de seu cargo para se travestir de cabo eleitoral, da forma mais descarada possível.
Nunca antes na história desse país as pesquisas de opinião foram tão imoralmente manipuladas, e, o que é mais imoral ainda, abertamente utilizadas como elemento de propaganda e indução, diante das doutas e solenes barbas da alta, média e baixa magistratura.
Apesar de toda essa instrumentalização espúria, a candidata fabricada nos porões do Palácio do Planalto chega à Presidência da República no cangote de uma minoria acabrunhadora de 37% do eleitorado brasileiro, se considerarmos a votação de seu concorrente e os percentuais de abstenções, votos nulos e votos em branco.
São percentuais que não entram, evidentemente, na contabilidade das urnas, mas representam uma fatia bastante significativa do universo eleitoral.
Desses 37%, que parcela se poderá atribuir ao currículo pessoal ou ao programa de governo de Dilma Roussef?
Ou, reformulando a pergunta, quanto desses 37% se deve creditar ao populismo do presidente Lula, populismo reduzido nos últimos oito anos à sua expressão mais rasteira?
Distribuindo esmolas em vez de empregos, numa ação intencionalmente imediatista que nos leva a perspectivas sombrias para um futuro bem próximo (Après moi le déluge), o presidente Lula armou-se das condições que lhe permitiriam, e permitiram, eleger o Incitatus que bem entendesse para sucede-lo no poder.
Elegeria um poste, como se diz no jargão eleitoral.
Sua estratégia, aparentemente bem sucedida, não significa nenhum ganho concreto nem para o Brasil, nem para o povo brasileiro.
Basta passar os olhos pelo mapa eleitoral, estampado nos jornais de hoje, para perceber que a vitória de Dilma Roussef foi assegurada pela vantagem esmagadora em regiões onde ainda vigora o regime das capitanias hereditárias, como o Maranhão.
Não quer isso dizer, evidentemente, que um eventual governo do José Serra, ou da Marina Silva, ou do Plínio de Arruda Sampaio fosse melhor para o país.
Isto seria conjecturar sobre hipóteses, e o que temos é um fato concreto: um terço do eleitorado brasileiro optou pela escolha de um factóide, desprezando as regras de uma disputa limpa, honesta e ética, que só poderia ocorrer sem interferência da pesada e onerosa máquina governamental.
A era Lula passa à história marcada pelos monumentais escândalos do mensalão, dos Correios, da Anac, e por fim da própria Casa Civil, reduzindo a brincadeirinha de crianças o mar de lama tão cantado em prosa e verso pelas oposições, no desfecho da era Vargas.
A era Dilma será das nuvens sombrias pairando sobre as tão frágeis instituições democráticas, se ela optar, como parece, pelo mesmo modelo de seu inventor.
O povo que trate de poupar, e poupar bastante, porque as aventuras mudam de feição, mas é sempre ele que paga as contas.

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