Bunker da Cultura Web Radio

Free Shoutcast HostingRadio Stream Hosting

segunda-feira, 29 de abril de 2024

A cor vermelha do N.S

 Ainda abordando a tentativa atual da “direita burra” em classificar o Nacional-Socialismo como um movimento marxista, deixemos que alguém mais experiente e envolvido com o tema possa explicar esse detalhe aos incautos e mal-intencionados!

No princípio era o verbo

O dia 24 de fevereiro de 1920 foi a data fixada para o primeiro grande comício do movimento, até então desconhecido. Eu, pessoalmente, encarreguei-me de arranjar as coisas. Os preparativos eram os mais simples. O anúncio deveria ser feito por cartazes e boletins orientados no sentido de produzir a mais forte impressão sobre as massas. A cor que escolhemos foi a vermelha, não só porque chama mais atenção como porque, provavelmente, irritaria os nossos adversários e faria com que eles se impressionassem conosco.


Só a cor vermelha dos nossos cartazes fazia com que eles afluíssem às nossas salas de reunião. A burguesia mostrava-se horrorizada por nós termos também recorrido à cor vermelha dos bolchevistas, suspeitando, atrás disso, alguma atitude ambígua. Os espíritos nacionalistas da Alemanha cochichavam uns aos outros a mesma suspeita, de que, no fundo, não éramos senão uma espécie de marxistas, talvez simplesmente mascarados marxistas ou, melhor, socialistas. A diferença entre marxismo e socialismo até hoje ainda não entrou nessas cabeças. Especialmente, quando se descobriu, que, nas nossas assembleias, tínhamos por princípio não usar os termos “Senhores e Senhoras” mas “Companheiros e Companheiras”, só considerando entre nós o coleguismo de partido, o fantasma marxista surgiu claramente diante de muitos adversários nossos. Quantas boas gargalhadas demos à custa desses idiotas e poltrões burgueses, nas suas tentativas de decifrarem o enigma da nossa origem, nossas intenções e nossa finalidade! A cor vermelha de nossos cartazes foi por nós escolhida, após reflexão exata e profunda, com o fito de excitar a Esquerda, de revoltá-la e induzi-la a frequentar nossas assembleias; isso tudo nem que fosse só para nos permitir entrar em contato e falar com essa gente. Era delicioso seguir naqueles anos a falta de iniciativa e de recursos dos nossos adversários, pela sua tática eternamente vacilante. Primeiro, incitavam os seus adeptos a não nos darem a menor atenção, evitando as nossas reuniões, conselhos aliás geralmente seguidas.


Extraído do livro Minha Luta, de Adolf Hitler.

terça-feira, 16 de abril de 2024

A pílula da ilusão

 Muitos brasileiros conseguem intuir, pela vasta experiência, que é sempre bom desconfiar de políticos e de seus atos, porém, incoerentemente, parecem viver na ilusão de que “os políticos não prestam, mas o governo pode me dar tudo”. Essa visão é inaceitável, por ser logicamente equivocada. Se os políticos nos inspiram desconfiança, como podemos confiar no governo, ou, mais amplamente, no Estado, sabendo que ambos são controlados direta ou indiretamente pelos políticos? É um contrassenso. A verdade é que precisamos de todos — dos políticos, do governo e do Estado —, mas precisamos tê-los sempre sob o nosso controle, para não corrermos o risco de nos devorarem.

Para explicar essa afirmativa, que tal voltarmos ao início de tudo? Desde que passou a viver em sociedade, o homem percebeu que se via obrigatoriamente diante de um dilema. Na metáfora de Homero, ele deveria navegar entre dois monstros, alojados um de cada lado do Estreito de Messina, que liga os Mares Tirreno e Jônico e separa a Calábria da Sicília: Scylla, que usava suas seis cabeças para atacar quem estivesse no convés, e Charybdis, uma criatura protetora do mar que provocava turbilhões para afundar qualquer embarcação. Ou seja, nossos ancestrais mais remotos se defrontaram com uma escolha bastante difícil: viver em isolamento, o que lhes garantia liberdade total, mas lhes vedava desfrutar as vantagens da divisão do trabalho e, por isso, limitava o progresso; ou viver em grupos, em pequenas sociedades primitivas, o que lhes restringia a liberdade, mas gerava incontestáveis benefícios, entre os quais a segurança.

A fórmula encontrada para conciliar o impasse foi criar uma espécie de acordo ou consenso comunitário, que implicava cessão de parte da sua liberdade em troca de garantias aos direitos individuais básicos, para que os mais fortes, inteligentes, capazes e perspicazes não dominassem os mais fracos, néscios, incapazes e broncos, o que resultaria na concentração do poder em mãos de poucos. Essa é, em síntese, a origem do Estado e de seu braço executivo, o governo: para evitar que alguém ou algum grupo se transformasse em opressor dos demais, nossos antepassados optaram por viver em sociedades, e isso os levou a aceitar a existência de um ente teoricamente neutro, equidistante e preocupado em zelar pelos interesses de todos, pelo dito bem comum dos cidadãos. Belas palavras, sem dúvida, e muitas pessoas acham bonito descrever esse acordo tácito como contrato social. (Porém, se você se der ao trabalho de pesquisar na internet e em todos os cartórios, duvido que encontre esse documento escrito, com assinaturas e firmas reconhecidas.)

Conquanto a maneira de conciliar o referido dilema seja bastante antiga, a hipertrofia que o Estado experimentou, especialmente a partir do século 20, fez com que aquele ente que nascera para prevenir um mal — o abuso de poder pela força física por parte de poucos indivíduos — acabasse produzindo outro, maior: a concentração de poder político, econômico e cultural em suas mãos. Liberais clássicos e minarquistas (nome que se dá aos defensores do Estado mínimo) não advogam que o Estado não deve ser “forte” e muito menos desejam extingui-lo, mas entendem que a extensão de seus poderes deve ser severamente limitada, uma vez que seu ethos não pode ser separado do respeito à liberdade individual responsável como um bem natural e ligado ao supremo direito à vida, o que nos conduz à defesa do papel que a lei deve desempenhar para garantir a liberdade e os direitos de todos. Para os liberais clássicos, o Estado deve ser contido tanto quanto possível, limitando-se à manutenção de instituições indispensáveis e, além disso, as regras que o regem devem ser estabelecidas como normas gerais de justa conduta. Quando os comandos ou ordens prevalecem sobre a lei negativa — a common law —, os cidadãos tornam-se servos do Estado e caem no que Hayek chamou de caminho da servidão.

Tendo essa necessidade fundamental de comedimento do poder em mente, é importante refletirmos sobre cinco pontos a respeito da natureza do Estado: 1) a tese de que “o governo somos nós”, em decorrência do poder do nosso voto, na prática, é questionável e na verdade contém um forte componente retórico; 2) o Estado não é uma associação voluntária, como um clube ou um sindicato, mas uma organização que procura manter o monopólio do uso da força e da coerção em uma determinada área territorial; 3) tampouco é verdadeira a noção, algo mística, de que o Estado é uma grande “família humana”, que se reúne aos domingos em torno da mesa de almoço para solucionar os problemas de todos: na verdade, nada nos impede de enxergá-lo também como um canal legalizado para a apropriação, mesmo que parcial, da propriedade privada, uma instituição natural fundamental e anterior à sua própria criação; 4) é falaciosa a ideia, ingenuamente difundida entre economistas, políticos e intelectuais ditos progressistas, de que o Estado, sempre que intervém na economia e na nossa vida, o faz movido por boas intenções e “motivos superiores”, corrigindo falhas do mercado desalmado e preocupado permanentemente com o bem de todos; e 5) o Estado é composto de seres humanos e, portanto, reflete suas fraquezas, entre as quais a de se interessar mais por assuntos de alcance particular e pela preservação do poder do que pela busca do bem comum.

Por esses motivos, que parecem ser incontestáveis — noves fora a credulidade ingênua e a necessidade de negá-los para preservar ou ganhar poder —, as instituições devem ser modeladas com o objetivo de garantir a contenção do poder do Estado sobre os indivíduos. Convido o leitor a refletir sobre o que escrevi acima e acredito que chegará à conclusão de que o Estado não é nosso dono, nem tampouco nosso pai ou tutor; é nosso empregado e, além disso, vive às nossas custas. No dia em que os cidadãos chegarem à constatação tão simples de que o mecanismo de poder cerceia as suas liberdades, teremos o mundo que as pessoas de bem e que prezam a vida, a liberdade e a propriedade almejam.

A democracia não pode ser encarada como um fim, e sim como um meio — imperfeito, mas sem dúvida o melhor até hoje encontrado — para garantir os direitos dos cidadãos e protegê-los dos predadores habituais, os dragões do poder.

Os liberais têm razão quando colocam em primeiro plano que em regimes efetivamente democráticos as instituições devem contemplar mecanismos fortes de contenção do poder. Hayek analisou esse problema talvez melhor do que qualquer outro e não estava se referindo apenas a ditaduras, uma vez que existem democracias em que há uma concentração exagerada de poder. Quando isso acontece, as instituições e o próprio contrato social precisam ser revistos. E esse é nitidamente o caso do Brasil destes dias estranhíssimos que estamos vivendo. É impossível negar que os Três Poderes estão falhando em assegurar o que minimamente deles se espera e se deve exigir e que, portanto, o sistema como um todo está carecendo de ajustes, uma vez que o desejável balanceamento dos famosos freios e contrapesos não está prevalecendo e que estamos assistindo a uma concentração de poder em pouquíssimas mãos como jamais aconteceu em toda a nossa história. Não estou me referindo apenas ao Judiciário, mas também ao Legislativo e ao Executivo. Estamos diante de um problema sério.

A democracia não pode ser encarada como um fim, e sim como um meio — imperfeito, mas sem dúvida o melhor até hoje encontrado — para garantir os direitos dos cidadãos e protegê-los dos predadores habituais, os dragões do poder. No entanto, para que desempenhe satisfatoriamente as suas finalidades, precisa de arranjos institucionais adequados, para que não seja um simples rótulo, tal como, por exemplo, na antiga República Democrática Alemã, ou na República Popular Democrática da Coreia, nomes bonitos para ditaduras comunistas.

No filme Matrix há uma famosa cena em que o personagem Neo é levado a escolher entre tomar uma pílula azul e manter-se vivendo na ilusão ou tomar uma pílula vermelha (red pill) e defrontar-se com a realidade. Dada a baderna institucional que estamos presenciando no Brasil, quem acredita que estamos vivendo em uma democracia plena está sinalizando claramente — por ingenuidade, problemas sérios com neurônios ou por simples acomodação — que escolheu a pílula azul. Basta acompanhar o dia a dia para detectar a presença de uma grande crise nas instituições e concluir que o melhor que se pode dizer de nossa democracia é que é “relativa”.

É preciso frisar o papel vergonhoso da velha imprensa, ao incentivar incansavelmente o consumo da pílula azul da fantasia, quando afirma que está tudo normal; que a Constituição está sendo respeitada; que a nossa democracia é “pujante”; que o povo está bem representado; que se algo está errado é por culpa exclusiva da “extrema direita” (expressão que esfrega despudoradamente na cara de quem quer que não se alinhe ao que classifica como “progressismo”); que a economia está em ordem; que não existe doutrinação política nas escolas e universidades; que não existe perseguição a opositores nem a jornalistas; e que não há pessoas mantidas em custódia por razões políticas. Existe um esforço enorme de desinformação, que equivale a intoxicar a população com a pílula azul, levando-a a crer que a concentração desproporcional de poder em pouquíssimas mãos que se pode constatar diariamente é a coisa mais natural do mundo.

Para um viciado, ou melhor — para sermos politicamente corretos —, para um “usuário” de pílulas azuis, não há nada de errado com a ingerência permanente do Judiciário em assuntos que nem remotamente lhe dizem respeito; com inquéritos que muitos juristas vêm classificando há bastante tempo como ilegais; com cassações de mandatos populares; com filigranas que desviam sutilmente o texto constitucional; com apreensões sumárias de passaportes e bloqueios de contas de jornalistas; com prisões em massa; com julgamentos coletivos sumários; e com várias decisões monocráticas estapafúrdias.

Tampouco, para quem escolheu a pílula azul, não há qualquer problema na concentração descomunal de poder nas mãos dos presidentes das duas Casas do Legislativo, que têm a permissão de decidir a seu bel-prazer o que vai ser ou não votado e quando e como vai ser votado; que engavetam todas as demandas que podem ameaçar os seus projetos políticos, mesmo as de interesse da população; e que aceitam submissa e passivamente intromissões dos outros dois Poderes na seara que a Constituição lhes atribui exclusivamente. Também não há nada de equivocado com a extravagância de três dezenas de partidos políticos sugadores de fundos pagos com o nosso dinheiro e sem qualquer compromisso doutrinário; e, ainda, com o inacreditável mecanismo do voto proporcional.

Não há também motivos para preocupação quando o Executivo trata as instituições do Estado como se lhe pertencessem; quando por pura ideologia se posiciona favoravelmente a grupos terroristas como o Hamas; ou declara amor eterno a ditadores carniceiros; ou se gaba da escolha de comunistas para ocuparem altos cargos; ou protagoniza, à revelia dos eleitores, espetáculos deprimentes como o da semana passada na Amazônia, com aquele passeio ridículo no mato de dois chefes de Estado, em comemoração à rendição do governo à agenda globalista representada pelo presidente francês.

A aceitação passiva de tantas anomalias é uma manifestação indiscutível dos efeitos da pílula azul, que dá magicamente o caráter de bênção à blasfêmia, de sapiência à ignorância, de verdade à mentira, de normalidade à loucura, de legal ao inconstitucional, sempre em nome da democracia da jabuticaba.

Ubiratan Jorge Iorio - Economista

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Politicamente, só existe aquilo que o público sabe que existe

 Nos últimos dias, o mundo tem sido informado dos mais recentes acontecimentos da guerra declarada entre o dono do X (antigo Twitter), e as instituições brasileiras, nomeadamente o governo e o mais influente magistrado brasileiro, sobre as ordens expressas que foram dadas à rede social para retirar conteúdos e remover contas. As ordens exigiam que se alegasse que tais conteúdos e contas teriam violado as políticas da empresa, o que é falso e acabou por levar Elon Musk a retaliar.



A situação não surpreende os europeus, especialmente os portugueses, que foram tendo contato com esta realidade por via de amigos e redes sociais. Aliás, é aqui mesmo que reside o cerne da questão: controle das redes sociais. O controle das redes sociais, vulgarmente mencionado com o eufemismo “regulamentação”, é essencial para a existência do apagamento de opinião no século XXI.

Atualmente, a tarefa de controlar a informação que chega ao público tornou-se muito mais difícil devido às redes sociais. Os órgãos de comunicação social tradicionais são hoje extremamente subordinados às agendas políticas e muitos canais de televisão e rádio pertencem mesmo ao Estado. As redes sociais são “terra de ninguém”, e é por essa razão que estão debaixo de fogo, não só nas Américas como também na Europa.

Parece uma realidade distópica, mas a União Europeia normalizou a censura nas redes sociais, promovendo-a, embelezando-a e suavizando-a, sempre com propósitos nobres, como o combate ao “discurso de ódio” ou à “desinformação”. Pobres cidadãos europeus, que devem resistir a todas as tiranias, especialmente àquelas relacionadas ao código de conduta contra a desinformação que foi assinado por Adobe, Google, Meta, Microsoft, TikTok e Vimeo, sendo abandonado pelo Twitter, quando este foi comprado por Elon Musk.

Imediatamente, os burocratas de Bruxelas anteciparam-se a ameaçar o Twitter. Thierry Breton, comissário europeu, afirmou que Elon podia “fugir, mas não se podia esconder” e acenou com as sanções – 6% da receita e, se continuarem, ficam proibidos de operar na Europa. Por exemplo, é obrigatório que as redes sociais a operar na Europa tenham “fact checkers”, coisa que o X não apresentou.

Os conteúdos são retirados das redes sociais arbitrariamente se mencionarem as coisas erradas. Ainda há poucos meses, um artigo que escrevi para o Mises Brasil foi removido dos meus stories do Instagram, do grupo Meta, por “ir contra as normas europeias”.

O X continua a ser “terra de ninguém”, como deve ser, e isso está enfurecendo os “donos do mundo”. A pergunta que fica é: o que é que assusta tanto os globalistas e que deve ser calado?

Cláudia Nunes - Portugal

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Superação do passado

 

    À esquerda no passado e à direita o futuro            (hoje)

Através de seu fundamento marxista e da estreita ligação de todos seus integrantes com o comunismo – isso fica explícito na pessoa do mais importante espião de Stálin, Richard Sorge – a Escola de Frankfurt estava obrigada com uma concepção histórica comunista. Suas experiências com o Nacional-Socialismo reforçaram esta posição e, após 1945, eles vestiram por completo a camisa do programa de reeducação dos alemães e participaram como parte do movimento antifascista da demonização da história alemã. Sua luta contra todas as tradições alemãs para destruição da identidade e desenraização dos alemães tiveram efeito na mesma direção.

Portanto isso não é mera coincidência, mas sim pura consequência que seus pupilos do Movimento de 68 fizeram da alegada e até então insuficiente superação do passado um de seus principais pontos programáticos. O “Tacape do Fascismo” e o “Porrete de Auschwitz” encontraram portas abertas para adentrar na “cultura política”. As acusações contra a geração dos pais que participaram da guerra deveriam acirrar o conflito de gerações, assim como ampliar as diferenças entre eles. Com isso os pais são culpados, colocados sob acusação e cria-se um clima de insegurança para implodir a família – e como descrito mais adiante – ela deveria ser eliminada como suposto bastião do autoritarismo.

Já no início da década de (19)60 aconteciam literais caçadas de personalidades pelos esquerdistas, as quais tinham se voltado contra essa forma unilateral de superação do passado. Por exemplo, podemos citar o caso do psicólogo Peter R. Hofstätter. Este renomado professor da Universidade de Hamburg, em um extenso artigo no jornal semanal Die Zeit de 14 de junho de 1963, sob o título “Passado superado?”, demonstrou dúvidas sobre a natureza das ações e a forma como se lidava com o passado nacional-socialista. No artigo ele abordou os intermináveis processos sobre as ações conduzidas durante a guerra, criticou o currículo exagerado sobre esse tema adotado nas escolas desde 1959, avaliou a morte dos judeus como ações de guerra e assim deveria ser tratado, resumindo assim: “Não existe na face da Terra um povo que tenha superado seu passado… Me parece não ser tão inteligente, que nós nos ocupemos com uma tarefa em princípio insolucionável”.

Como consequência a mídia caiu sobre ele, e iniciou-se uma campanha de difamação contra o cientista e seu “perigoso ensinamento para a coletividade”. Ele foi denunciado criminalmente e abriu-se um processo disciplinar contra um professor internacionalmente conceituado. Apesar do arquivamento da denúncia e de o professor ter escapado por pouco de uma condenação, e até mesmo de uma demissão, o Senado da Universidade de Hamburg viu-se obrigado a desaprovar publicamente a forma como Hofstätter “tratou questões sensíveis de nossa vida pública política” (FAZ, 20/10/1983).

Este caso serviu como exemplo e assim teve seu efeito: foi “um sinal assimilado pelo professorado da Alemanha Ocidental. Desde então, até hoje, nenhum professor tratou de forma crítica e publicamente a Superação do Passado”. (Mohler 1987, pág. 40)

Dois anos depois, o cientista político Udo Walendy foi demitido de seu posto como docente de uma escola profissionalizante, por ele ter publicado um pouco antes (1963) a obra Verdade para a Alemanha, com muitos documentos sobre a questão da culpa pela Segunda Guerra Mundial e ter chegado ali a conclusões diferentes da dominante opinião reeducada. A autoridade competente de Deltmond escreveu ao docente expulso a 10/05/1965: “É claro que … deve ser visto por parte da diretoria da escola, … apenas contratar docentes que estejam completamente no mesmo plano de nosso atual Estado e principalmente que reproduzam sem muito desvio das visões e concepções defendidas pelos governos federal e estadual… (É sabido), que você escreveu um livro onde toma uma posição sobre nossa recente história alemã, mas de uma forma que não corresponde ao atual conhecimento histórico em todos seus detalhes e principalmente em suas consequências, e que em todo caso, não pode ser admitido.” (Freies Forum nr. 5, 1966, pág. 7 et seq)

Os acadêmicos da ciência histórica “devem estar alinhados – sem muito desvio – às visões e concepções defendidas pelo governo” – INACREDITÁVEL ! – NR.

Nos anos seguintes, outros docentes foram demitidos por terem se pronunciado na forma de artigos, livros ou declarações sobre a história contemporânea, contra a opinião reinante sobre a Superação do Passado do Terceiro Reich, e porque teriam aliviado os atos e até mesmo porque exaltavam o regime Nacional-Socialista. Vale destacar que nenhum caso é conhecido onde um docente ou professor tenha sido punido por ter comprovadamente exagerado a culpa alemã ou falsificado a história em detrimento dos alemães.

Com o Movimento de 68, a superação do passado – mas deformadora da história, atua de forma mais forte na Alemanha, e adota a visão histórica dos Antifas comunistas originários de Moscou, e suas versões distorcidas são divulgadas cada vez mais ao público pelas grandes mídias. Ao se ajoelhar na Polônia, o gesto do chanceler Brandt foi uma das consequências, outra a renúncia e traição política em relação às províncias alemãs do leste. Um rígido controle foi anunciado e qualquer desvio punido severamente assim que se manifestassem. Segue o exemplo do caso do historiador Hellmut Diwald, em 1978.

O professor de história em Erlanger, que já havia escrito uma série de livros históricos muito bem avaliados, publica neste ano na respeitada editora Propyläen sua obra mais extensa, Geschichte der Deutschen. Este professor para História Contemporânea da Universidade de Erlangen, que era avaliado até então como “peso para a esquerda” e “neutro”, e autor preferido em grandes jornais assim como acadêmico nos programas de TV, tratou de forma diferente nessa obra a história do século XX, bem distante da concepção de seus demais colegas. Ele expos e corrigiu algumas das mentiras históricas bastantes populares da reeducação e exageros das cifras em relação aos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, e  escreveu sobre a Solução Final: “O que aconteceu de fato naqueles anos, apesar de total literatura atual, ainda não está claro.” (Diwald 1978, pág. 165) Com isso ele lança dúvidas na opinião formada até então pelas investigações e pesquisas, principalmente através do extenso Processo de Auschwitz dos anos (19)60, que teria esclarecido tudo sobre este assunto.

Com isso, após amistosas conversas e retrospectivas de sua obra – na forma característica anti-cronológica – iniciou-se uma campanha de difamação contra o historiador alavancada principalmente pela revista Der Spiegel. Ele foi pressionado pela sua editora a modificar o parágrafo atacado. Embora ele tenha explicado em dezembro de 1978, em uma entrevista na TV da Bavária, que não aceitaria nenhuma mudança do conteúdo de sua obra e finalmente tenha cortado o vínculo com sua editora, esta deixou em seu estoque a primeira edição e permitiu que terceiros modificassem as passagens incômodas em uma nova edição. Diwald deve agradecer à sua reputação acadêmica, que ele tenha saído desse episódio apenas com uma repreensão por parte da direção da universidade e que estes tenham se contentado com um certo afastamento. Digno de nota neste episódio contra o professor de Erlanger, foi o fato de alguns protagonistas que o atacaram terem pertencido ao quadro de oficiais da SS e também atuaram no Reichssicherheitshauptamt.

Para outros semelhantes casos, indicamos as obras de Mohler, Armin – Der Nasenring, 1996 e Kosiek, Rolf  – Historikerstreit und Geschichtsrevision, Tübingen,1987.

Extrato do livro de Kosiek, Rolf – Die Machtübernahme der 68er, 2009, pág. 92 a 96.

domingo, 7 de abril de 2024

A DESTRUIÇÃO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

A cadeira de Fernanda Montenegro já pertenceu a Antonio Houaiss. A de Merval Pereira, a Moacyr Scliar. A de Gilberto Gil, a Emílio de Meneses. A de Paulo Coelho, a Dias Gomes. É como se, a cada sucessão, a Academia Brasileira de Letras deixasse a qualidade literária para trás.


Vale notar que, no artigo 1º de seu estatuto, a Academia declara seu princípio: “A Academia Brasileira de Letras, com sede no Rio de Janeiro, tem por fim a cultura da língua e da literatura nacional”. O documento foi assinado em 28 de janeiro de 1897 por, dentre outros, Machado de Assis, o presidente, e Joaquim Nabuco, o secretário-geral.

Mais de 120 anos depois, a ABL é alvo de questionamentos de vários setores. Parte deles, ligados aos movimentos identitários, reivindica uma participação ainda maior de autores diversos daqueles do perfil do cânone literário - o homem branco, heterossexual e do sudeste. Mesmo com diversas mulheres autoras, assim como nordestinos, já ocupando as ilustres cadeiras.

De outro lado, temos as críticas dos setores que, no debate público, estão ligados aos grupos ditos “conservadores”. Estes dizem que a academia tem desprestigiado a literatura em prol de outras manifestações culturais. Gilberto Gil, músico, ocupa a cadeira nº 20 e Fernanda Montenegro, atriz, ocupa a cadeira nº 17. A adesão total ao Acordo Ortográfico e a submissão às pautas identitárias também desagradou muita gente. Na seção “Novas Palavras” do site, só aparecem aquelas bem ao gosto de quem vê nas palavras uma forma de luta social: “antirrascista”, “capacitismo”, idadismo” e “letramento racial”.

As críticas de ambos os lados revelam, na verdade, uma questão de fundo: a decadência da instituição. A ABL deixou de ser, há muito tempo, uma instituição relevante e está longe de cumprir o que prometeu no artigo 1º: “tem por fim a cultura da língua e da literatura nacional”. Se é que um dia cumpriu.

Por que temos uma ABL?

Em um Brasil de forte influência francesa, um grupo de escritores decidiu criar uma Academia de Letras, nos moldes da Academia Francesa, fundada em 1635, no reinado de Luis XIII. A longeva instituição francesa, como aqui, é também hoje alvo de controvérsias, como a posse de Mario Vargas LLosa, que sequer escreve em francês.

Mesmo no seu início, é difícil afirmar que a ABL era influente. Diogo Fontana, fundador e editor-chefe da Editora Danúbio, escritor, afirma que “a ABL nunca serviu para muita coisa. Foi sempre um espaço de homenagem e de reconhecimento pela obra. Como instrumento de fomento, nunca teve tanta força”.

Já Alexandre Sugamosto, Doutorando em Ciências da Religião pela PUC/MG, Especialista em Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa e escritor, aponta diferenças entre o período inicial e o atual: “No final do século XIX, havia um um movimento literário mais robusto, visando colocar o Brasil no mapa da literatura mundial, mesmo que com uma roupagem regional”.

Decadência inevitável

Samo Burja, cientista político esloveno, é um estudioso das instituições e cuida de analisar como elas florescem, perduram e eventualmente morrem. A primeira frase de seu site pessoal, colocada aqui, soa até provocativa: “Nunca existiu uma sociedade imortal”.

Segundo o autor, as instituições, sejam elas a ABL ou o Supremo Tribunal Federal, são um tipo de tecnologia social. Ou seja, elas são meios que os homens dispõem para alcançar certo objetivo. E seu processo de decadência se dá sobretudo a partir de três motivos: sucessão, transmissão do conhecimento e corrupção das burocracias.

Alexandre Sugamosto reconhece a qualidade de alguns autores que hoje compõem a ABL, como Marco Lucchesi, Zuenir Ventura, Antonio Cícero e Ruy Castro, mas identifica o problema sucessório. “Este é o maior problema, na verdade. Essa geração é interessante. Mas quem poderia ser o sucessor de Ruy Castro?”, pergunta ele.

A ABL também não conversa com qualquer público leitor. Os vídeos do seu canal no Youtube não passam, em geral, de 500 visualizações, mesmo com conteúdos interessantes como “Luís de Camões - 500 anos”. “A atual composição da ABL reflete a decomposição da leitura. Nossa produção acadêmica não fala com o mundo. A crise da ABL é um sintoma disso”, diz Diogo Fontana.

A ausência de critérios mais claros para ocupar uma de suas cadeiras é temerário. “Quando há personalidades culturais, abre-se espaço para a politicagem”, diz Diogo Fontana. Estas “personalidades” são aquelas com evidente prestígio na sociedade, que transitam bem em seus corredores, não incomodando ninguém.

Ladeira abaixo

A última personalidade eleita para a Academia Brasileira de Letras foi Lilia Schwarcz. A antropóloga e historiadora é alinhada às pautas tradicionalmente defendidas pela esquerda. Schwarcz hoje ocupa a cadeira nº 9, anteriormente ocupada por Alberto da Costa e Silva, diplomata, poeta e historiador, vencedor do Prêmio Camões de 2014.

A respeito de perspectivas de mudança, Diogo Fontana lamenta: “A ABL só vai melhorar se a literatura renascer, com grandes escritores, candidatos a membros. Não há um gênio literário vivo, nem dentro nem fora”. Já Alexandre Sugamosto diz que o panorama vai piorar: “Não estamos vendo a decadência mesmo, vamos ver de fato em uns 10 anos. É só o começo dessa degradação”.

O site oficial apresenta um design obsoleto e a navegação é difícil. Parece propositalmente feito para afastar qualquer “mortal” dali de perto. Mas se um mortal mais persistente insistir, pode encontrar uma seção de artigos e ler um do ocupante da cadeira nº 31, Merval Pereira. O tema dificilmente dialoga com o princípio do artigo 1º: o caso Robinho. Custa acreditar que, com tanto interesse pelo transitório, a imortalidade da Academia dure tanto tempo.

André Luiz Côrrea

Copyright © 2024, Gazeta do Povo

sábado, 6 de abril de 2024

Justiça Social

 Vivemos numa era messiânica, onde a sociedade aleijada pela doutrinação e praticas dos burocratas do Estado, aguardam um ser superior que os salvem das amarras coletivistas e utópicas, porem são esses paladinos coletivistas que estão no controle de todas as instituições.

Neste ambiente odioso, nada que não seja aderente e que vá de encontro às crenças ditas “progressistas” pode ser pensado, dito e, muito menos, executado. Os “progressistas”, ou melhor, os coletivistas estão no poder. A hipocrisia impera. Falácias e rotundas e comprovadas asneiras são entoadas como “verdades”, e seus artífices já não têm mais a necessidade de provar nada a ninguém.

Eles detêm o monopólio pela “preocupação com o povo”, tendo em vista que conseguiram infiltrar em todas as instituições a pregação de que o objetivo fulcral do indivíduo é o de se tornar um guerreiro pela justiça social.

O factual conhecimento, a especialização, a ciência, a razão e o verdadeiro humanismo não valem mais um vintém. Só possui valor aquilo que é verbalizado por sectários ideológicos, suas utopias, vontades e fartas asneiras.

Do outro lado da narrativa vermelha do besteirol, sempre estão, evidente, inimigos. Fundamentalmente, os capitalistas “exploradores”.

As pautas prioritárias desses coletivistas para tirar as pessoas da pobreza são tributar e saquear os criadores de riqueza, as empresas e os indivíduos, inclusive os mais pobres, como também o ambientalismo, a ideologia de gênero e a diversidade e inclusão.

O que realmente é prioritário – o estímulo à responsabilidade individual e ao empreendedorismo, as verdadeiras liberdades individual e econômica, o ensino formador (não a ideologização), os investimentos em inovações, o aumento da produtividade no setor produtivo, entre outros aspectos – nunca é avistado nos planos coletivistas. O engodo da “justiça social” não tem a capacidade de agregar valor às empresas e às próprias pessoas.

Objetivamente, o desejo de “progressistas”, nova denominação de socialistas, é puramente o alcance de mais poder. Para isso, mais Estado, menos indivíduo. Preocupação com o “povo”, bela e mera narrativa. Pelo conhecimento e pela razão, sabe-se que as oportunidades para os mais pobres não serão criadas pela grande mãe Estado. Elas são potencializadas pelas relações colaborativas e voluntárias que se estabelecem nos mercados. Quanto mais livres, maiores serão as oportunidades econômicas e sociais.

Para tanto, a alavanca compulsória é a existência de liberdade factual para que as pessoas possam empreender, gerar empregos, criar novas soluções para os indivíduos, aquilo que produz mais renda e riqueza para todos. Porém, nessa republiqueta chamada Brasil, “progressistas” não perdem a oportunidade de perderem a oportunidade de desenvolver um mercado mais livre das amarras das regulamentações, das normas absurdas e do consequente aumento da burocracia e dos custos, em especial, para os micro e pequenos empresários.

Cito como exemplo a fixação de salário mínimo, que acaba por proteger trabalhadores já empregados, impedindo o ingresso dos mais jovens aos mercados de trabalho, ou a aberração dos sindicatos, que enriquece uma casta de líderes que nunca trabalhou, e impõe barreiras à geração de mais empregos e, especialmente, às tão necessárias inovações em direção a um aumento da produtividade.

O câncer do intervencionismo estatal, em vez de ser reduzido, persiste se alastrando por todo o tecido econômico e social verde-amarelo. O discurso é o de beneficiamento dos mais pobres. Puro ilusionismo.
A verdade que não pode ser dita pelos “guerreiros sociais” é cristalina: o maior e melhor programa social é, sem dúvidas, o crescimento econômico. Nesta direção, o ex-presidente americano Ronald Reagan afirmava que “o melhor programa social é um emprego”.

Triste. Crescimento econômico e geração de emprego têm receituário básico e certeiro: legítima liberdade econômica. O mundo não será salvo pelos “bondosos guerreiros sociais”, verdadeiros crentes de utopias e de fracassos econômicos e sociais.

Esperar que o Estado e seus políticos salvem ou melhorem o cenário é uma ilusão, esperar ou crer com fé que a democracia será o remédio para os males que acometem o Estado e a sociedade é a comprovação do domínio e doutrinação bem efetuada pelos progressistas.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Como Joseph Stalin ajudou a criar o Estado de Israel

 Em resposta ao ataque assassino de Israel a Gaza, aconteceram manifestações massivas ao redor do mundo e uma greve geral em toda a Palestina. O movimento de solidariedade inclui até socialistas que veem Joseph Stalin como uma inspiração. Os stalinistas modernos se descrevem como anti-imperialistas e contrários ao sionismo. Eles podem citar uma nota de rodapé num panfleto de Stalin de 1913 sobre a questão nacional, escrito sob as influências de Nikolai Bukharin e Lenin, em que o futuro ditador descreve o sionismo como "uma tendência nacionalista e reacionária da burguesia judaica, que tinha seguidores entre os intelectuais e as seções mais atrasadas dos trabalhadores judeus. Os sionistas se esforçaram para isolar as massas da classe trabalhadora judaica da luta geral do proletariado."



Mas como a União Soviética sob Stalin reagiu à fundação do Estado de Israel em 1948? E que efeito isso teve sobre os Partidos Comunistas leais a Moscou?

A União Soviética reconheceu diplomaticamente Israel em 17 de maio de 1948, apenas três dias após sua declaração de independência. Foi o primeiro estado do mundo a fazer isso - muito antes dos Estados Unidos.

Em um artigo recente na Jewish Currents, Dorothy M. Zellner relata detalhadamente os efeitos disso sobre o Partido Comunista, já sob os efeitos do Stalinismo, nos Estados Unidos. O CPUSA (Partido Comunista dos EUA) em publicações direcionadas aos judeus, sempre rejeitou o Sionismo e a ideia de um Estado judaico. Quando o "sindicato" sionista da Palestina, o Histadrut, tentou boicotar os trabalhadores palestinos, os comunistas americanos se referiram a ele - corretamente - como uma instituição "Jim Crow" (em alusão as leis segragacionistas dos Estados Unidos). O CPUSA, apesar de sua política stalinista, tinha tradição de luta contra o racismo - e por isso denunciou o racismo do projeto de colonização sionista.

Em 1947, entretanto, a União Soviética surpreendeu o mundo ao anunciar que apoiaria o plano da ONU de partilhar a Palestina e criar um Estado judaico.

O apoio de Stalin ao sionismo foi vital - é justo dizer que Israel poderia não existir em sua forma atual se a União Soviética não tivesse oferecido seu apoio. Os historiadores suspeitam que Stalin tinha a expectativa de enfraquecer a posição do imperialismo britânico na região - talvez ele visse os colonos judeus como uma espécie de movimento de libertação nacional. Mas, na realidade, a previsão de todos os marxistas sérios se tornou realidade: o novo Estado judeu se tornou um vigia do imperialismo.
O apoio soviético a Israel também não se limitou a meios diplomáticos. Via Tchecoslováquia, o bloco soviético enviou armas à milícia sionista Haganah, que as usou para iniciar a limpeza étnica da Palestina. Em outras palavras, Stalin deu apoio material à Nakba. O Partido Comunista alinhado a União Soviética, o MAKI, tornou-se um importante apoio para o estabelecimento do estado sionista.

Como resultado dessa política criminosa, as idéias do socialismo e do comunismo, que antes tinham grande apelo das massas árabes, foram desacreditadas em toda a região. Nos Estados Unidos, os comunistas do PC já estavam acostumados a aceitar giros em 180 graus em sua linha política, e em poucos meses, o CPUSA estava oferecendo apoio irrestrito à limpeza étnica dos sionistas e espalhando relatórios falsos sobre supostas atrocidades árabes como justificativa.

Trotskismo

Comunistas de verdade - aqueles opostos ao Stalinismo - sempre rejeitaram o Sionismo. Enquanto a burocracia de Stalin estava ocupada fazendo acordos com as potências imperialistas - primeiro com os nazistas, depois com os imperialistas "democráticos" - foi a Oposição de Esquerda liderada por Leon Trotsky que lutou pela independência política da classe trabalhadora. Isso significava se opor a qualquer forma de imperialismo e colonialismo, incluindo o sionismo.

Leon Trotsky disse pouco antes de ser assassinado por um agente stalinista: "A tentativa de resolver a questão judaica por meio da migração de judeus para a Palestina pode agora ser vista pelo que é, uma trágica zombaria do povo judeu". Ele acrescentou prevendo: "O desenvolvimento futuro de conflitos militares pode muito bem transformar a Palestina em uma armadilha sangrenta para centenas de milhares de judeus. Nunca foi tão claro como hoje que a salvação do povo judeu está inseparavelmente ligada à derrubada do sistema capitalista. "

O ex-sionista que se tornou trotskista Abraham Leon escreveu um estudo monumental sobre A Questão Judaica, no qual ele demonstrou de forma semelhante que a opressão dos judeus não poderia ser superada pela criação de um novo Estado-nação sob a tutela de potências imperialistas. Ele apresentou um programa para os revolucionários judeus lutarem como parte da classe trabalhadora internacional para derrubar o capitalismo.

Hoje, é cada vez mais comum reconhecer que Israel é um projeto colonial racista com muitas similaridades com o regime do Apartheid. É interessante notar que os trotskistas na África do Sul entenderam muito antes da fundação de Israel que a colonização sionista criaria um sistema muito semelhante. Em 1938, The Spark, um jornal trotskista na África do Sul, escreveu:

A continuação do curso sionista-imperialista aprofundará a barreira do ódio e do chauvinismo, aumentará o abismo entre árabes e judeus e promoverá conflitos perpétuos e guerra civil, pondo em risco a própria existência da comunidade judaica. E ao dizer isso, não são os sionistas que temos em mente. Queremos dizer a grande massa de trabalhadores judeus e pequenos camponeses. Eles podem resolver o problema dos judeus na Palestina com muita facilidade. O que é necessário é solidariedade e cooperação de trabalhadores e camponeses judeus e árabes, numa luta unida por uma Palestina livre e independente de trabalhadores e camponeses, libertada das algemas do capitalismo imperialista.

Quando os planos de partilha e criação de um estado exclusivamente judaico se tornaram mais concretos em 1947, os comunistas membros de Partidos Comunistas oficiais e também os chamados sionistas de "esquerda" ou "socialistas" moveram suas forças para esse “empreendimento” colonial. Foi apenas a organização trotskista na Palestina, a Liga Comunista Revolucionária, que saiu claramente em oposição. Falando aos trabalhadores judeus, disseram que um estado judeu na Palestina seria inevitavelmente uma ferramenta do imperialismo. Eles convidaram os trabalhadores judeus a lutarem contra o imperialismo ao lado de seus irmãos de classe árabes em toda a região.
A Liga Comunista Revolucionária continha numerosos revolucionários corajosos, como Yigael Glückstein, que já sob o nome de Tony Cliff se tornaria um líder do Socialist Workers Party (Partido Socialista dos Trabalhadores) na Grã-Bretanha, assim como Jakob Moneta e Rudolf Segall, que retornaram à sua terra natal Alemanha onde lideraram o movimento trotskista por décadas. Também incluiu Jakob Taut e Jabra Nicola, que permaneceram na Palestina e eram ativos na Nova Esquerda em Israel depois de 1968.
Abaixo, publicamos uma declaração da Liga Comunista Revolucionária, seção palestina da Quarta Internacional, de 1947. Agradecimentos à ex- Liga Socialista dos Trabalhadores da Palestina e a Einde O’Callaghan por traduzir e publicar a declaração.

Essa história oferece lições importantes para hoje. A política stalinista de buscar alianças com potências imperialistas "progressistas" só levou a derrotas. Para libertar a Palestina, a classe trabalhadora precisa se constituir como uma força política independente lutando pela revolução socialista.

Contra a partilha! (1947)- Liga Comunista Revolucionária

Os membros do comitê da ONU mostraram “compreensão” e “fizeram um trabalho maravilhoso em muito pouco tempo”. Com essas palavras, a representante da Agência Judaica, Golda Meier, endossou a proposta de partilha. A maioria dos partidos sionistas concordaram, com algumas reservas quanto à “forma” da solução.

O secretário de Relações Exteriores americano Marshall também compartilhou dessa opinião. É bem sabido, porém, que o destino dos povos perseguidos não costuma ser a principal preocupação do Ministro das Relações Exteriores dos Estados Unidos. Portanto, sua reação pode causar apreensão entre aqueles que acreditam nas boas intenções do comitê da ONU.

O que dá a proposta da ONU aos judeus? À primeira vista, tudo: uma cota de imigração de 150.000 pessoas e ainda mais; independência política; cerca de dois terços da Palestina; três grandes portos e quase todo o litoral. Isso é mais do que os mais otimistas entre os membros da Agência Judaica ousariam pedir.

Toda essa “compreensão” e “amizade” não parecem um pouco suspeitas? Por que votaram nessa proposta os representantes do Canadá, Holanda e Suécia, que têm laços estreitos com as potências anglo-saxônicas? E por que votaram nele os representantes da Guatemala, Peru e Uruguai, cujas políticas são ditadas por Washington? Todos os periódicos sionistas, bem como os semi-sionistas (os órgãos do Partido Comunista da Palestina) recusaram-se a fazer essa pergunta, e, é claro,a respondê-la.

Mas essa é precisamente a questão fundamental. Mais importante do que o conteúdo da proposta são os motivos de quem a enviou. Não nos enganemos! Por trás dos - nas palavras de Marshall - países “neutros”, estão as potências, que são as mais interessadas nesta questão. Os cálculos que produziram a proposta de partilha são exatamente os mesmos que ocasionaram a partição da Índia.

Que cálculos são esses? Em nosso período, o período das revoluções sociais e das revoltas dos povos escravizados, o imperialismo governa por meio de dois métodos principais: a repressão implacável e brutal (como na Indonésia, Indochina e Grécia), ou esvaziando a luta de classes por meio de conflitos nacionais. A segunda maneira é mais barata e mais segura e permite que o imperialismo se esconda atrás das cortinas.

O imperialismo até agora tem empregado com sucesso o método divide et impera (dividir para conquistar) neste país, usando a imigração sionista como fator de divisão. Criou-se assim a tensão nacional que, em grande medida, dirigiu contra os judeus a raiva que foi provocada pelo imperialismo nas massas árabes da Palestina e do Oriente Médio. Mas esse método deixou de produzir os resultados desejados. Apesar da tensão nacional, uma forte e combativa classe trabalhadora árabe se desenvolveu no país. Um novo capítulo na história da Palestina se abriu quando os trabalhadores árabes e judeus cooperaram em greves em grande escala, a fim de forçar os exploradores imperialistas a fazer concessões. E o fracasso da última tentativa de forçar os habitantes da Palestina a um novo derramamento de sangue mútuo por meio de provocações, ensinou aos imperialistas uma nova lição. Agora eles tiraram suas conclusões: se vocês se recusarem a lutar entre si, vamos colocá-los em uma posição econômica e política que os forçará a fazê-lo! Esse é o conteúdo real da proposta de partilha.

Talvez a proposta de partilha concretize o sonho do povo judeu de independência política? A “independência” do estado judeu se resume em escolher, de forma “livre” e “independente” entre duas opções: morrer de fome ou vender-se ao imperialismo. O comércio exterior - tanto de importação quanto de exportação - permanece como antes: sob o controle do imperialismo. Os principais setores da economia - petróleo, eletricidade e minerais - permanecem nas mãos de monopólios estrangeiros. E os lucros continuarão a fluir para os bolsos dos capitalistas estrangeiros.

Um estadista judeu no coração do Oriente Médio pode ser um excelente instrumento nas mãos dos estados imperialistas. Isolado das massas árabes, este Estado estará indefeso e totalmente à mercê dos imperialistas. E eles o usarão a fim de fortalecer suas posições, enquanto ao mesmo tempo estimulam nos estados árabes a ideia do “perigo judeu” - isto é, a ameaça representada pelas tendências expansionistas inevitáveis ​​do minúsculo estado judeu. E um dia, quando a tensão atingir seu ápice, os “amigos” imperialistas deixarão o Estado judaico entregue ao seu destino.

Os árabes também receberão “independência política”. A partilha trará a criação de um estado árabe feudal atrasado, uma espécie de Transjordânia a oeste do rio Jordão. Esperam assim isolar e paralisar o proletariado árabe da região de Haifa, importante centro estratégico de refinarias de petróleo, bem como dividir e paralisar a luta de classes de todos os trabalhadores da Palestina.

E a “salvação dos refugiados dos campos de concentração”? O imperialismo criou o problema dos refugiados dos campos de concentração ao fechar as portas de todos os países para eles. O destino dos refugiados é sua responsabilidade. O imperialismo não é filantrópico. Se enviar como um “presente” os refugiados à Palestina, o fará por um único motivo: para usá-los para seus próprios fins.

A proposta de partilha, aparentemente tão “favorável” aos judeus, contém vários aspectos que são altamente producentes ao imperialismo: 1) As concessões ao sionismo serão usadas como isca para obter a aprovação da maioria judaica ; 2) Inclui várias provocações, como a incorporação de Jaffa ao estado judeu e a negação de qualquer porto aos arabes, o que os enfurece; 3) Essas provocações permitem que a Grã-Bretanha apareça como “amiga dos árabes”, que “lutará” por uma segunda divisão mais justa. Isso, por sua vez, os ajudará a engolir sua raiva frente aos britânicos. Em outras palavras, temos aqui uma divisão do movimento operário pré-organizada.

Resumindo: a proposta do comitê da ONU não é uma solução nem para os judeus nem para os árabes; é uma solução pura e exclusiva para os países imperialistas. Os formuladores de políticas sionistas agarraram avidamente o osso que o imperialismo lhes jogou. E os críticos sionistas “de esquerda”, em nome de tirar a máscara do jogo dos imperialistas, atacam sem entusiasmo a proposta de partilha e apelam por ... um estado judeu em toda a Palestina! Um estado binacional de acordo com a proposta de Shomer HaTsa’ir (Jovem Guarda) que é apenas o direito dos judeus de impor aos árabes - sem seu consentimento e contra sua vontade - a imigração judaica e as políticas sionistas.

E quanto ao Partido Comunista da Palestina? Aparentemente, espera pela solução “justa” da ONU. Em todo caso, continua a semear ilusões em relação à ONU e, nesse sentido, ajuda a ocultar e implementar os programas imperialistas.

Contra tudo isso, dizemos: Não vamos cair na armadilha! A solução do problema judaico, como a solução dos problemas do país, não virá “de cima”, pela ONU ou por qualquer outra instituição imperialista. Nenhum “terror” ou “pressão” moral fará com que o imperialismo abandone seus interesses vitais na região (o estoque de petróleo deu 60% de dividendos este ano!).

Para resolver o problema judaico, para nos libertar do fardo do imperialismo, só há um caminho: a luta de classes em comum com nossos irmãos árabes; uma luta que é um elo inseparável da guerra anti-imperialista das massas oprimidas em todo o Oriente árabe e em todo o mundo.

Inveja social e histeria ambiental: motoristas de SUV estão na mira

 Em um referendo público, os parisienses votaram a favor de um aumento drástico nas taxas de estacionamento para veículos de grande porte para uso fora de estrada, mas apenas seis por cento dos eleitores elegíveis se deram ao trabalho de votar. Para SUVs e outros veículos pesados, uma hora de estacionamento no centro da capital francesa custará em breve 18 euros em vez dos habituais seis euros, e, nos distritos periféricos, custará doze em vez de quatro euros. Seis horas de estacionamento no centro da cidade não custarão mais 75 euros e sim 225 euros.



1,3 milhão de parisienses foram convocados a votar sob o slogan “Mais ou menos SUVs em Paris?”, mas apenas um pouco menos de seis por cento dos eleitores elegíveis participaram. Cerca de 54,5 por cento dos que votaram aprovaram o aumento da taxa de estacionamento, enquanto cerca de 45,5 por cento votaram contra. Isso significa que cerca de três por cento dos eleitores elegíveis decidem quanto os motoristas de SUV terão que pagar pelo estacionamento. Em referendos, geralmente há um quórum obrigatório, por exemplo, 25 por cento dos eleitores elegíveis, que devem participar para que qualquer resultado seja válido. Esse não foi o caso em Paris.

No entanto, a tarifa especial para veículos estilo SUV só se aplicará aos visitantes que estacionarem no centro de Paris. Os residentes estarão isentos, assim como os comerciantes e trabalhadores da saúde. A tarifa será aplicada a modelos a combustão e híbridos com peso superior a 1,6 toneladas métricas e modelos elétricos com peso superior a duas toneladas métricas. Talvez por isso não tenha havido tanto interesse dos residentes em participar do referendo, já que a votação implicava desvantagens para outros, ou seja, para os visitantes.

O referendo marca a última etapa da estratégia do governo vermelho-verde para proibir gradualmente carros do centro de Paris. O governo vermelho-verde na capital alemã, Berlim, também seguiu uma estratégia semelhante quando estava no poder.

Os críticos dos novos regulamentos na França apontaram que os carros elétricos ecologicamente corretos também serão penalizados, enquanto os veículos com motor de combustão mais antigos não serão.

Na Alemanha, a chamada Associação Alemã de Auxílio Ambiental (DUH) imediatamente convocou todas as cidades a introduzir taxas de estacionamento mais altas para veículos estilo SUV. “Esses monstros SUVs estão bloqueando cada vez mais calçadas e espaços verdes e colocando em perigo pedestres e ciclistas. A tirania dos SUVs deve ser interrompida”, disse o Diretor Executivo Federal da DUH, Jürgen Resch.

Eu acredito que os argumentos para aumentar as taxas de estacionamento são apenas um pretexto. Na verdade, grupos verdes de esquerda têm tentado mesclar questões climáticas e inveja social há algum tempo. Na Alemanha, a seita apocalíptica “Última Geração” já danificou campos de golfe e borrifou tinta em jatos privados e lojas de luxo. O lema deles é: “Não podemos mais arcar com os ricos.” Os ricos são difamados como destruidores do planeta.

Uma pesquisa internacional conduzida pelos institutos de pesquisa de opinião pública Allensbach e Ipsos MORI em 13 países mostrou que a inveja social é mais evidente na França do que em qualquer outro país – com a Alemanha em segundo lugar. O coeficiente de inveja social SEC, que mede a proporção de invejosos sociais para não invejosos em um determinado país, é de 1,26 na França e 0,97 na Alemanha. Em comparação, ele é de 0,42 nos Estados Unidos e apenas 0,21 na Polônia.

As populações da França e da Alemanha guardam rancor contra os ricos, um fato confirmado por outra descoberta da pesquisa. Os entrevistados foram apresentados a duas declarações alternativas: 1. Os impostos sobre os ricos devem ser altos, mas não excessivamente altos, porque, em geral, eles trabalharam muito para ganhar sua riqueza. 2. Os ricos não só devem pagar impostos altos, mas devem pagar impostos muito altos. Na França e na Alemanha, 53 e 51 por cento, respectivamente, expressaram apoio a impostos extremamente altos sobre os ricos, enquanto apenas 19 e 32 por cento achavam que os impostos não deveriam ser excessivos. Na Polônia e na Suécia, a situação era exatamente o oposto. Metade dos entrevistados era contra impostos excessivos sobre os ricos e apenas um quarto e um terço dos entrevistados, respectivamente, eram a favor de impostos muito altos sobre os ricos.

Como um dos ricos, eu realmente consigo enxergar algo positivo nas altas taxas de estacionamento que em breve serão cobradas em Paris: eu não me importo muito de pagar seis ou 18 euros por hora para estacionar, mas fico feliz se isso significa que haverá um pouco mais de vagas para estacionar. Em Singapura, o país mais capitalista do mundo de acordo com o Índice de Liberdade Econômica e também com a maior densidade de milionários do mundo, uma licença para dirigir um carro de médio porte custa o equivalente a 100.000 euros. Isso é para evitar estradas congestionadas. Os multimilionários não se importam. Eles ficam felizes por não terem que compartilhar a estrada e as vagas de estacionamento com tantos assalariados de baixa e média renda. Como frequentemente acontece, os invejosos sociais acabam prejudicando a si mesmos mais do que aos ricos.