Bunker da Cultura Web Radio

Free Shoutcast HostingRadio Stream Hosting

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

TRADUZINDO PROPAGANDA PT 2016

COMO A SUÉCIA AINDA SE BENEFICIA DO SEU PASSADO DE LIVRE MERCADO

Apesar da (ou por causa da) quase inexistência de um estado assistencialista, ou de qualquer grande controle estatal sobre os setores da economia, em 1950 a Suécia já era a quarta nação mais rica do mundo.
O extraordinário crescimento da Suécia durante o período 1850-1950 rivalizou até mesmo com o dos EUA -- e o fato de a Suécia não ter participado de nenhuma das duas grandes guerras, o que deixou sua infraestrutura intacta e não destruiu sua economia, sem dúvida ajudou bastante.
Com efeito, a formação de capital e a criação de riqueza se mostraram tão abundantes na Suécia durante a depressão global de 1930, que até mesmo os social-democratas do governo da época praticaram uma forma de “negligência salutar” para garantir que a prosperidade continuaria.
Como em qualquer outro país, o impressionante estoque de capital da Suécia foi construído por empreendedores operando em um sistema de livre mercado.
Nas décadas seguintes a este impressionante crescimento econômico, aconteceu aquilo que parece inevitável: grandes empresários em busca de proteção do governo contra a concorrência se aliaram a políticos ambiciosos e a líderes sindicais para forçar o governo a adotar políticas socialistas.
As décadas de 1970 e 1980 viram um estado assistencialista crescendo descontroladamente, ampliando enormemente suas áreas de intervenção.
Vários novos benefícios governamentais foram criados; leis trabalhistas extremamente rígidas foram introduzidas; setores estagnados da economia passaram a receber amplos subsídios do governo; as alíquotas de impostos sofreram aumentos drásticos, sendo que algumas alíquotas marginais chegaram a ultrapassar os 100%.
Com o tempo, os gastos do governo mais do que duplicaram, e os impostos sobre determinados setores da economia foram dobrados e até mesmo triplicados.
Como consequência, não houve absolutamente nenhum emprego criado no setor privado de 1950 a 2005.
Sim, você leu corretamente: não houve nenhum aumento líquido no número de empregos no setor privado na Suécia durante um período de 55 anos. Em outras palavras, em um período que começou cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a economia sueca ficou completamente estagnada.
O socialismo nórdico congelou no tempo um povo que outrora era empreendedor e próspero. Com algumas poucas exceções, as grandes empresas suecas têm muito poucos incentivos para inovar (e elas não inovaram), e várias empresas sobrevivem hoje exclusivamente graças a contratos de fornecimento para o governo.
A Suécia conseguiu viver confortavelmente por décadas apesar de suas políticas “socialistas” somente porque um grande estoque de capital e riqueza já havia sido criado nas décadas anteriores por seus laboriosos empreendedores.
Primeiro a Suécia enriqueceu e acumulou muito capital (e tal tarefa foi auxiliada por uma continuamente austera política monetária, que fez com que a Suécia jamais conhecesse um período prolongado de alta inflação de preços). Depois, só depois de ter enriquecido, é que o país começou a implantar seu sistema de bem-estar social no final da década de 1960.
Para que uma economia que faz uso maciço de políticas assistencialistas continue crescendo, sua produtividade tem de ser muito alta. E para a produtividade ser alta, seu capital acumulado já tem de ser muito alto. Apenas um alto grau de capital acumulado pode permitir uma alta produtividade. Ou seja, o país tem de já ser muito rico.
Apenas um país que já enriqueceu e já acumulou o capital necessário (e já alcançou a produtividade suficiente) pode se dar ao luxo de adotar abrangentes políticas assistencialistas por um longo período de tempo. Assistencialismo é algo que só pode funcionar -- e, ainda assim, por tempo determinado -- em sociedades que já enriqueceram e já alcançaram altos níveis de produtividade. Não dá para redistribuir aquilo que não foi criado.
(É por isso que adotar um modelo sueco no Sudão não daria muito certo.)

“O Regresso”, a natureza selvagem, e o valor da vida humana



leonardo-dicaprio-o-regresso-cinema.jpgNão é desarrazoado imaginar que o sucesso do filme O Regresso faça com que os casacos de pele voltem a ser um item da moda — e, naturalmente, reacenda a controvérsia sobre isso.
Por todo o filme, a maioria dos homens veste casacos de pele.  É claro que não são itens adquiridos em lojas chiques, mas sim os despojos de animais mortos no Oeste genuinamente selvagem e desabitado dos EUA.  O ano é 1823, e os cenários são os estados de Wyoming e Dakota do Sul — gelados, inabitados, e insanamente perigosos tanto para o homem quanto para a natureza.
As condições físicas apresentadas no filme são inacreditáveis.  Embora filmes ainda não sejam capazes de fazer você sentir na pele a sensação do congelamento — felizmente, assisti ao filme dentro de uma sala de cinema aquecida, sentado em uma cadeira reclinante e de couro, bebendo vinho e comendo uma Caesar Salad —, a fotografia é impactante e chega muito perto de fazer você realmente se sentir congelando.
Quando o protagonista, que está literalmente morrendo de frio, consegue vestir a pele arrancada de um urso, abrindo nela um buraco para sua cabeça, o espectador consegue sentir o seu alívio.  Em outra cena, também prestes a morrer por causa do frio, ele arranca a cabeça do seu cavalo, retira todas as entranhas do animal, e passa a noite dentro da carcaça.  Várias noites.
A cena mais memorável do filme envolve uma luta de vida ou morte contra um urso.  Esse é um material digno de Oscar.  Os produtores do filme disseram que não queriam que o urso parecesse bravo ou malvado.  Eles apenas queriam que ele se comportasse como um urso se comportaria quando estivesse protegendo suas crias, um recurso que acaba por intensificar a dramaticidade da cena.
E como eles sabiam como é um ataque de urso?  Eles analisaram um apavorante vídeo em que um urso de verdade ataca um homem em um zoológico da Alemanha.  Todos os movimentos e ritmos do urso foram minuciosamente examinados.  A equipe do filme utilizou métodos de alta tecnologia para fazer com que a cena fosse a mais real possível.  E o resultado é de cair o queixo.  Os detalhes são cativantes — como o ar da respiração do urso congelando assim que ele sai de suas narinas.
O valor da pele
Na época em que filme é ambientado, vestir pele não é uma questão de luxo, mas sim de pura necessidade — pelo menos para os caçadores e comerciantes naquela terra perigosa.  É o que eles têm de vestir para permanecer vivos.  É também o seu meio de vida.  Com efeito, a pele (bem como o couro que vem junto com ela) tem mais valor do que a própria vida humana.  Ao longo da história, ela foi universalmente utilizada para fazer vestimentas e, à medida que o tempo foi passando, para satisfazer a crescente demanda por chapéus nas cidades e em grandes centros populacionais.  (Um motivo por que os chapéus caíram em desuso, mesmo nos países de clima frio: as pessoas passam a maior parte do tempo dentro de edifícios com aquecimento central).
Todo o propósito das perigosas expedições àquelas terras selvagens era o de conseguir o maior volume possível de pele de animais, levar de volta às bases, transportar para as cidades e vender.  Em um determinado momento do filme, um dos caçadores menciona que eles estão carregando uma fortuna em peles.  Com efeito, um estudo da história econômica do comércio de pele naqueles anos parece confirmar a autenticidade da afirmação.
O valor da vida
Ao longo do filme, várias pessoas morrem.  A morte é encarada com uma alarmante indiferença.  Os nativos que matam os caçadores de pele não têm nenhuma consideração pela vida deles.  E os próprios caçadores, ao perderem mais da metade dos homens em sua expedição, demonstram uma assustadora ausência de sentimentos.  Sua principal preocupação é apenas coletar as peles e ir embora o mais rapidamente possível do perigo.
Com efeito, o principal enfoque da trama — não é um spoiler; está tudo no trailer — envolve um homem (Leonardo DiCaprio) ferido mortalmente que é abandonado à própria sorte pelos colegas porque se tornou um fardo pesado demais para ser carregado em uma maca durante a expedição.  Incrivelmente, ele sobrevive e volta para se vingar.  Durante sua batalha pela sobrevivência, ele tem de se sustentar utilizando apenas os elementos da natureza selvagem, comendo búfalo cru, pegando peixes com as mãos, curando suas feridas com pólvora, e por aí vai.  (Veja aqui algumas destas cenas).
O que tudo isso significa?
Por causa de toda a fartura e abundância com a qual nos acostumamos, possibilitadas pelo capitalismo, histórias sobre privações em terras inóspitas e confrontos com a natureza selvagem são realmente intrigantes.  Filmes que nos levam a pensar sobre questões como sobrevivência, moralidade, economia e política tornam o entretenimento ainda mais completo.  Neste quesito, o filme é perfeito.
A primeira coisa que vem à mente é o movimento pelos direitos dos animais — mais particularmente, omovimento contra o uso de casacos de pele.  Em algumas cidades, as pessoas que ainda se arriscam a utilizar casacos de pele já se acostumaram a ser repreendidas verbalmente e até mesmo a serem atacadas com sangue falso jogado por ativistas ambientalistas.  Seja você contra ou a favor do uso de peles hoje, o fato é que houve uma época em que se opor a matar animais e utilizar sua pele era algo totalmente impensável.  Estando sujeito ao estado bruto da natureza, temos de fazer a única escolha possível: vida para os seres humanos e morte aos animais.
Filmes ambientados em terras inóspitas, porém em épocas mais recentes, como é o caso de O Regresso, são particularmente intrigantes porque não retratam exatamente uma selva em épocas primitivas e hobbesianas.  Os comerciantes e caçadores já tinham armas, facas e alimentos, todos os quais existiam porque já havia uma divisão do trabalho mais ampliada.  Tais pessoas eram completamente civilizadas em todos os sentidos que conhecemos.  A vida nas cidades já era uma realidade.  A humanidade já havia há muito superado seu estado primitivo.
No entanto, os homens que faziam aquelas expedições imediatamente se descobriam remetidos de volta às condições mais brutais da natureza.  Eles enfrentavam o risco da extinção.  As opções eram matar ou morrer.
As cenas na natureza crua e bruta são incrivelmente belas, mas também profundamente perigosas.  Uma tempestade mais forte podia aniquilar todos.  Um ataque de urso era o fim da expedição.  Até mesmo pequenos ferimentos podiam se tornar letais.  A fome e o risco de morte por inanição eram uma constante. 
O mais interessante é que, se você realmente parar para ouvir a conversa dos ambientalistas modernos, terá a impressão de que a natureza, se deixada em paz, não apenas é algo extremamente belo como também incrivelmente caridoso, nos provendo automaticamente com todas as nossas necessidades.  A realidade, no entanto, é totalmente oposta.  A natureza tem de ser constantemente domada e repreendida para que possamos sobreviver.  Poucos de nós poderíamos sobreviver na vasta imensidão selvagem e desconhecida de uma floresta por muito tempo.  A natureza não é amigável ao homem.  Nunca foi.  Por isso, ela deve continuamente domada.  A própria existência da humanidade depende da subjugação da natureza, a qual deve ser constantemente domesticada e adaptada aos nossos conformes.  Se algum dia isso não mais for feito, as selvas irão retomar as cidades.
Mesmo com Leonardo DiCaprio sendo um famoso ativista ambientalista, eu diria que este filme não é exatamente o melhor veículo de propaganda para o ativismo verde.
A questão mais complicada, no entanto, envolve o valor da vida dos outros seres humanos.  Como já mencionado, parecia ser muito baixo.  Por isso, não deixa de ser curioso que os ambientalistas se compadeçam pela pele arrancada dos animais, mas ignorem o fato de que mais da metade das forças expedicionárias era recorrentemente aniquilada em ataques perpetrados pelos nativos da região.  O que houve com os direitos humanos?  Onde está a consideração pela dignidade humana?  Parece que a pele dos animais tem mais direitos do que os humanos.
Quando os tempos são difíceis, a moralidade cede
Tudo isso nos faz pensar: como as condições econômicas afetam nosso sentido prático de moralidade?  Baseando-se no que testemunhamos em épocas de guerra e de pobreza extrema — o Grande Salto Para a Frentechinês é o exemplo mais premente —, conceitos como direitos humanos são os primeiros a ser abolidos tão logo as provisões materiais acabam.  Isso talvez signifique que a noção de direitos humanos foi uma das últimas a ser adotada na história da evolução social.
Afinal, antes de necessidades básicas como comida, vestuário e abrigo serem atendidas, seres humanos agindo de acordo com a mais alta moral da dignidade universal o fazem sob o risco da própria sobrevivência.  E se você não tem a segurança para agir moralmente, então é impossível que uma norma ética surja e se torne uma característica persistente e confiável.
Qual fenômeno ocorreu ao longo da evolução social que fez com que o valor da vida humana fosse mais apreciado?  Você pode dizer que foi a religião ou a filosofia.  Mas ainda assim, se a condições materiais não forem propícias para fazer com que as pessoas tenham bons motivos para valorizar seus semelhantes, como poderemos supor que as normais mentais farão o serviço?
Digamos que tenhamos um sistema em que cada um de nós precisa de terceiros para melhorar nossas próprias vidas.  Sem a sua produção agrícola, eu não consigo me alimentar.  E sem a minha criação de ovelhas, você não consegue se vestir.  Repentinamente, temos um interesse um no outro.  Eu passo a ver você como um investimento, e você passa a me ver da mesma maneira.  Sua vida se torna valiosa para mim; e a minha, para você.
Quanto mais as pessoas passam a integrar este sistema de especialização e divisão do trabalho, mais o valor da vida humana se torna uma característica inerente à própria sociedade.  O mesmo vale para a propriedade privada: quanto mais necessitamos que os direitos de propriedade de terceiros sejam respeitados para que possamos prosperar, mais estes terceiros estarão dispostos a respeitar a nossa propriedade.
Em O Regresso, os personagens não estão fazendo transações comerciais entre si. Eles fazem parte de um grupo expedicionário que irá interagir apenas temporariamente.  Fora isso, são apenas bocas a serem alimentadas.  À medida que a comida começa a escassear, essas bocas se tornam custos em vez de ativos.  A ética é um luxo que se torna um passivo.  Repentinamente, o líder da expedição é abandonado à própria sorte.  Seus companheiros simplesmente seguem em frente.
Jamais retornemos
Uma das piores características de uma economia rica e desenvolvida é o quão pouco valor as pessoas dão à incrível bonança que as cerca, a qual nos foi legada à custa de muito trabalho, genialidade e riscos incorridos pelas várias gerações que nos precederam.
E não se trata apenas de bens físicos.  Pense na questão moral: a maneira como veneramos os direitos humanos, a maneira como brincamos com a ideia de que a natureza é caridosa e benevolente, a maneira como desdenhamos os casacos de pele.  Tais preocupações são belíssimas e é realmente uma dádiva que possamos nos dar ao luxo de tê-las.  E só podemos nos dar a esse luxo por causa do complexo e intrincado sistema de divisão do trabalho, propriedade privada e transações comerciais que a humanidade conseguiu estabelecer ao longo dos séculos.
Qual frágil é esse arranjo?  Muito.  Ele pode desmoronar a qualquer momento.  Guerras, inanições, pandemias, pestilências — condições extremas que interferem em nossa capacidade de sermos valiosos para os outros e eles, para nós.
O Regresso é um lembrete assustador — e como precisamos deles! — de como nossa vida é boa.  Que vestir casacos de pele seja um ato hoje controverso e desdenhado por várias pessoas mostra o tanto que evoluímos materialmente.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Resenha do Bunker 28/02/16

67% da população é, agora, a favor de medidas MENOS liberais


“A Holanda, um dos países mais liberais do mundo, está em crise com seus próprios conceitos. O país que legalizou a eutanásia, o aborto, as drogas, o “casamento” entre homossexuais e a prostituição reconhece que essa posição não melhorou o país. Ao contrário: aumentou seus problemas”
Em matéria publicada na revista Veja de 5 de março, sob o título Mudanças na vitrine, o jornalista Thomaz Favaro ressalta que, desde que a prostituição e as drogas foram legalizadas, tudo mudou em De Wallen, famoso bairro de Amsterdã, capital holandesa, onde a tolerância era aceita. “A região do De Wallen afundou num tal processo de degradação e criminalidade que o governo municipal tomou a decisão de colocar um basta.
Desde o início deste ano, as licenças de alguns dos bordéis mais famosos da cidade foram revogadas. Os cafés já não podem vender bebidas alcoólicas nem cogumelos alucinógenos, e uma lei que tramita no Parlamento pretende proibi-los de funcionar a menos de 200 metros das escolas.
Ao custo de 25 milhões de euros, o governo municipal comprou os imóveis que abrigavam dezoito prostíbulos. Os prédios foram reformados e as vitrines agora acolhem galerias de arte, ateliês de design e lojas de artigos de luxo”. A matéria destaca ainda que a legalização da prostituição na Holanda resultou “na explosão do número de bordéis e no aumento da demanda por prostitutas”. Nos primeiros três anos de legalização da prostituição, aumentou em 260% o tráfico de mulheres no país.
E a legalização da maconha? Fez bem? Também não. “O objetivo da descriminalização da maconha era diminuir o consumo de drogas pesadas. Supunham os holandeses que a compra aberta tornaria desnecessário recorrer ao traficante, que em geral acaba por oferecer outras drogas. (…) O problema é que Amsterdã, com seus cafés, atrai ‘turistas da droga’ dispostos a consumir de tudo, não apenas maconha. Isso fez proliferar o narcotráfico nas ruas do bairro boêmio. O preço da cocaína, da heroína e do ecstasy na capital holandesa está entre os mais baixos da Europa”, afirma a matéria de Veja.
O criminologista holandês Dirk Korf, da Universidade de Amsterdã, afirma: “Hoje, a população está descontente com essas medidas liberais, pois elas criaram uma expectativa ingênua de que a legalização manteria os grupos criminosos longe dessas atividades”. Pesquisas revelam que 67% da população holandesa é, agora, a favor de medidas mais rígidas. E ainda tem gente que defende que o Brasil deve legalizar a maconha, o aborto, a prostituição etc, citando a Holanda e outros países como exemplo de “modernidade”.
Veja o caso da Suíça. Conta Favaro: “A experiência holandesa não é a única na Europa. Zurique, na Suíça, também precisou dar marcha a ré na tolerância com as drogas e a prostituição. O bairro de Langstrasse, onde as autoridades toleravam bordéis e o uso aberto de drogas, tornara-se território sob controle do crime organizado. A prefeitura coibiu o uso público de drogas, impôs regras mais rígidas à prostituição e comprou os prédios dos prostíbulos, transformando-os em imóveis residenciais para estudantes. A reforma atraiu cinemas e bares da moda para o bairro”.
E a Dinamarca? “Em Copenhague, as autoridades fecharam o cerco ao Christiania, o bairro ocupado por uma comunidade alternativa desde 1971. A venda de maconha era feita em feiras ao ar livre e tolerada pelos moradores e autoridades, até que, em 2003, a polícia passou a reprimir o tráfico de drogas no bairro. Em todas essas cidades, a tolerância em relação às drogas e ao crime organizado perdeu a aura de modernidade”.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

HORST WESSEL

Horst Wessel foi um líder das SA, divisão constituída por Hitler para defesa do movimento nacional-socialista durante seus eventos públicos, e também antigo membro da resistência nacionalista durante a República de Weimar. No seio da Berlim vermelha do final da década de 20, ele erigiu uma forte militância em defesa das ideias do movimento.
Um diálogo histórico
A 14 de janeiro de 1930, membros da organização paramilitar comunista Rotfrontkämpferbund foram até o apartamento de Horst Wessel, onde o comunista Albrecht Höhler (também conhecido como Ali) atirou contra seu rosto quando ele abriu a porta.
Horst Wessel faleceu a 23 de fevereiro no hospital municipal Friedrichshain devido a uma infecção generalizada oriunda do ferimento.
Antes de sua morte, Wessel fez uma entrevista com o germanista e perito em arte medieval, Dr. filósofo Hans Gerkenrath, sobre o sentido da resistência nacionalista, a qual continua ainda atual – após mais de 80 anos – e por isso mesmo deve ser lembrada como registro histórico.
Hans Gerkenrath: “Você tem uma habilidade extraordinária para arruinar seu futuro. Eu apenas acreditei que você teria mais fantasia neste aspecto. Mas deixemos a piada de lado, qual é o sentido em frequentar um bar qualquer e sair no braço com os marxistas e levar assim uma vida medíocre? Poxa, pense um pouco, é este seu objetivo de vida? Afinal de contas você é um estudante de uma corporação e além disso um brilhante jurista e pode, se quiser, fazer uma fantástica carreira. E o que você faz? Você vai até Wedding e deixa que o sangue escorra em sua face e de seus oponentes. Puxa vida, Wessel, se você quer ver sangue, promova um duelo; o que é mais condizente para pessoas de seu nível acadêmico. Quando te vejo assim, uma raiva gélida toma conta de mim. Você pode muito bem escrever sobre isso, você é uma pessoa talentosa. Como uma pessoa da área de humanas…”
Horst Wessel: “Espere um pouco, um segundo. Agora você me forneceu finalmente uma palavra-chave. Eu sei muito bem que você não entenderá nada daquilo que vou lhe explicar a seguir, seria o mesmo que falar em chinês. Mas eu quero conversar com você pelo menos uma vez em chinês. A coisa está desta forma:
Situação: eu venho de uma família de pastor, boa educação, concluí o ensino médio, faço parte da Kösener SC – Normannia e Alemannia, duas excelentes associações. Eu estudei Direito com muito afinco e dedicação. De vez em quando eu escrevo poesia e novelas. Eu adoro literatura e também música, resumindo, como você disse, eu sou uma pessoa de humanas. Eu também tenho muito bons modos, não é verdade? Eu nunca comi peixe com a faca e eu também posso beijar a mão de uma dama, sem que ela fique úmida pelo meu nariz. Me desculpe Hans, eu já estava começando a falar da forma firma como falo na SA. Em consideração a você, eu vou tentar falar de forma erudita. Ou seja, eu sou uma pessoa de humanas, isso nós concordamos. Eu devorei as obras de Goethe e adoro a Romantik, Schlegel, Tieck, Novallis – Eu idolatro Hörderlin e eu conheço meu Nietzsche e meu Kant – portanto, eu sou uma pessoa de humanas. E eu posso lhe contar e explicar o que venha a ser o dolus eventualis e como era o Direito da Roma Antiga na época de César.
Eu não vou cansar de repetir que eu sou uma pessoa de humanas. E agora ouça bem. Eu deixei de lado todo este conhecimento humanístico. Eu moro em um apartamento horripilante, que exala sopa de repolho e café de cevada, pois sempre como agora sopa de repolho e bebo café de cevada. Eu eu saio no braço, tão frequente seja necessário – e deve ser frequente – nas ruas contra trabalhadores alemães incitados e contra criminosos e cafetões. Eu tenho uma camisa marrom e marcho com meus camaradas e estes meus camaradas são “simples trabalhadores”, como você denominaria estes alemães, que talvez sejam nossos melhores exemplares. Eu permaneço em meu local de hábito. Eu sirvo às SA 24 horas por dia e eu não recebo um centavo por isso.”
Hans Gerkenrath: “E então…”
Horst Wessel: “Eu estou longe de terminar. Então, eu coloquei de lado tudo aquilo que possuía como conhecimento. E agora preste atenção. Por enquanto nada significa para mim: segurança da existência, perspectiva de carreira, o valor da cultura, a espiritualidade, a formação, até mesmo o arcabouço jurídico nada significa no momento para mim e eu quero lhe dizer que até mesmo minha vida nada significa no momento – enquanto este povo permanecer em tal horrível situação interna e externa. Enquanto este povo não tiver alguma cultura e espiritualidade e existência segura, eu também não quero ter. Espero que você me entenda, o que eu quero dizer, Gerkenrath?”
Hans Gerkenrath: “Naturalmente eu entendo isso! Eu apenas acho, Wessel, que você irá reconhecer que não se pode levar cultura a este povo ou a qualquer outro, à medida que se promova pancadaria de vida ou morte e …”
Horst Wessel: “Sim! Sim! Justamente assim! Poxa, agora chegamos ao centro do negócio. Você acredita realmente que eu saiba exatamente quantas pessoas se sentem incomodados com nossas maneiras brutais e com nosso rude linguajar e todo nossa rude apresentação? Hans, tem que ser assim, tem que ser simples! Primeiramente a casa deve ser construída, antes que a decoremos. Primeiro as estradas devem ser construídas, antes que os carros rodem sobre elas. Primeiro a existência desta pátria deve ser garantida, antes que nós possamos pensar em Goethe, Hörderlin, Johann Sebastian Bach e todas as coisas que alegrem a alma. Gerkenrath! Não existe uma cultura alemã sem um Estado alemão e não existe um Estado alemão sem um povo alemão.
Você bem sabe que eu não sou adepto de frases de efeito. E mesmo assim eu disse a você uma frase fundamental de minha cosmovisão. E agora lhe direi uma aplicação desta cosmovisão. Pode parecer um pouco grosseiro, mas nos tornamos rudes na luta. A aplicação prática desta cosmovisão é o seguinte: quem for uma pessoa com cultura, uma pessoa alemã, e quem conhece os bens culturais desta nação alemã e os ama durante toda sua vida, quem quer proteger e conservar, quem quer contribuir com uma pequena ou grande ação para que esta joia cultural possa continuar a florescer e crescer, que a considera seu bem mais precioso – justamente ele, Hans, tem que deixá-la temporariamente de lado neste momento. Pois primeiro a casa tem que ser limpa para esta cultura, você entende? Talvez a casa tenha que ser construída desde o começo. E quando a casa estiver pronta, limpa e digna, desinfetada e brilhante, então teremos chegado ao ponto. Quem estiver convicto disto, que esta atual casa alemã não é digna para abrigar o verdadeiro espírito cultural alemão, este tem que abandonar primeiramente o atual teatro de faz de contas, deixar os salões, sair das repúblicas de estudante, sair dos centros de convenções – e sabe para onde ele deve ir? Ele tem que ir para as ruas, ele deve estar lá no meio do povo e ele deve falar e discursar e, se for preciso, sair no braço para que a velha e empoeirada casa alemã seja demolida e uma nova possa ser construída.
Você percebe, é assim que as coisas estão. E por mais paradoxal que pareça, Hans: neste bairro operário, onde eu me encontro, nesta aflição burguesa, da necessidade, do crime, da miséria e da incitação, nestes bairros onde você certamente nunca esteve, mas que se tornou meu lar e por mais que você torça o nariz – aqui a cultura alemã é defendida por nós, pela SA, aquela cultura, meu caro, que você quer possuir, mas pela qual você nada faz para preservá-la.
Eu lhe digo: cada briga com um comunista em um canto qualquer, cada pequena passeata da SA em uma vizinhança hostil, cada briga em locais de reuniões é um passo avante na rua da cultura alemã, e cada cabeça de um membro da SA, que é atingida pelos comunas, foi mantida ereta em prol do povo, pelo Reich, pela casa da cultura alemã.
Você vê, eu posso lhe explicar exatamente sobre o que se trata, justamente porque eu sou uma pessoa erudita. E eu absolvo meus serviços da SA dia a dia e noite após noite, eu não quero ser nada mais, enquanto for necessário, do que um soldado de Adolf Hitler. Enquanto puder, eu quero brigar com os comunistas. Frente a frente, eu digo a você, eu quero enfrentá-los por toda parte!
Eu sei que existem professores universitários e escritores e pintores e músicos, sobre os quais se diz, eles são os portadores da cultura deste país. Por ora isso não é verdade. Por ora são dignos desta honra apenas os inúmeros anônimos que colam cartazes e distribuem panfletos, que protegem nossos eventos, que se tornam desempregados, que passam fome e frio, e que pedem esmolas e arriscam sua saúde e sua vida a todo o momento.
Caro Hans, em épocas onde o destino deve ser decidido, deve-se lançar mãos às vezes de métodos primitivos. Assim como as pessoas têm que comer para poder trabalhar, nós devemos lutar de forma primitiva e antiquada para que a nação esteja segura.
A SA marcha por Goethe, Schiller, por Kant e Bach, pelo domo de Colônia e pelos cavaleiros de Bamberg, por Novalis e Hans Thoma, pela cultura alemã, queira você acreditar ou não.
Vocês querem que a Alemanha volte a ser novamente totalmente alemã, quer dizer, que a Alemanha se torne nacional-socialista. Talvez isso aconteça ou não. Mas tem que acontecer. E vai acontecer com esta SA, a qual você caçoa por entrar nas brigas de rua. Você conhece Hyperion, não é verdade! Eles não o conhecem. E por conhecê-lo, eu quero garantir que Hölderlin perambule por muito mais tempo por terras alemãs, mas ele deve encontrar primeiro um solo alemão. E nisso eu contribuo no momento e eu vou caminhar com centenas de jovens selvagens e robustos pela Friedrichshain e socar o nariz de cada comunista, ponto. Acabou. Finito.”
Hans Gerkenrath: Estimado Wessel, pode ser que seja assim. Mas eu não posso imaginar, que ainda por atalhos, estes rapazes selvagens de Wedding tenham algo a ver com a cultura alemã, que vocês honrem Goethe com suas pancadarias sanguinolentas, e que vocês sejam porta-vozes da cultura através de uma gritaria descomunal e maneiras grosseiras. E que você jogue tudo isso fora, que…”
Horst Wessel: “Ah, Gerkenrath! Existe uma frase citada frequentemente, que você mesmo faz uso: jogue fora, assim você não perde. Portanto, nós estamos jogando fora, nós, da SA, para que não percamos, mas sim ganhemos de volta e você está aí e acha tudo grosseiro, sem maneiras – sim, pelo amor de Deus, a luta não é um acontecimento nobre e através da caneta tinteiro e máquinas de escrever não se pode mais defender agora a cultura alemã e muito menos reconquistá-la. Nós devemos agora, meu caro camarada, trabalhar por Goethe com canecas de cerveja e cadeiras. E quando tivermos ganho, bem, então nós abriremos os braços e abraçaremos nossos portadores da cultura e celebraremos juntos.
Veja, Gerkenrath! Quando o Terceiro Reich for realidade, e você sempre disse isso que isso vai acontecer, que você vai andar com a suástica e gritar “Heil Hitler!” – mas você ainda não terá entendido o que lhe expliquei. Talvez eu não esteja mais em condição de lhe explicar mais uma vez a coisa toda. Pois você não deve esquecer que nós não apenas brigamos por esta cultura alemã, mas nós também estamos dispostos a morrer por ela caso seja necessário. E isso nós já temos incorporado antes de vocês!”
Fonte: “Die S.A. erobert Berlin: Ein Tatsachenbericht” de Wilfrid Bade, 1933

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

BRASIL, FORMANDO NADA!

A escola tem de formar cidadãos, certo?
Errado.
A escola tem de difundir o conhecimento.
Mas não é o que se espera, no Brasil.
Agora mesmo, alunas do Anchieta se rebelaram pelo direito de usar shortinhos três centímetros mais curtos do que o permitido pela escola. Não por pretenderem sensualizar, ressaltaram, mas porque sentem muito calor.
As novas gerações são calorentas, compreende-se. O que não se compreende é a comoção que o tamanho do shortinho causou no Estado. Importa-me muito mais o que é mais importante: quando as protestantes abordaram o currículo escolar. Elas defendem mais "educação social e política".
Educação social e política? Já tivemos isso nas escolas. A disciplina se chamava, exatamente, Organização Social e Política do Brasil, o velho OSPB. Tínhamos, também, Moral e Cívica e Religião.
Era o ensino de "valores". Não é o mesmo que a sociedade pede da escola hoje? "Valores".
Naquele tempo, um dos valores que tentavam nos passar era o patriotismo. Num dia tão quente que faria as anchietanas irem para o colégio de fio dental, a professora nos obrigou a cantar o Hino Nacional tantas vezes, em posição de sentido, debaixo do sol, que passei mal e desmaiei.
E agora, no século 21? Que valores serão transmitidos a nossos efebos e cachopas? "Não nos falaram sobre as operações anticorrupção no Brasil", questionaram as meninas do Anchieta. Sob que ponto de vista os professores abordarão a corrupção? O professor petista dirá que sempre se roubou no Brasil, que o brasileiro fura fila e altera nota fiscal, que é do brasileiro roubar. O professor antipetista dirá que uma quadrilha governa o país e que o PT tornou o roubo sistemático. Quem está certo? Quem tem os valores "certos"?
Essa história de valores não é só brasileira. É ocidental. Einstein, o gênio redescoberto, odiava a escola alemã exatamente porque era pouco "humana" e por demais centrada no conhecimento. Mas da escola alemã saíram, além do próprio Einstein, seus colegas Heisenberg, Niels Bohr, Von Braun e Max Planck, só para ficar em alguns da sua área e do seu tempo. Não fosse a exigente escola alemã, Einstein talvez tivesse se tornado sociólogo.
Enquanto o Ocidente se "humaniza", o Oriente Longínquo se "desumaniza". Até demais, reconheço: no Japão, o governo pediu que as universidades fechem as faculdades de ciências sociais e humanas. De 60 faculdades desta área, 30 deverão ser eliminadas nos próximos meses.
Já no Ensino Médio a concorrência é tão feroz, que o número de suicídios entre adolescentes explode nos três primeiros dias de setembro, no Arquipélago — são os dias da volta às aulas.
Estive na Coreia do Sul, visitei famílias "comuns" para ver como eles vivem. As crianças praticamente não têm infância. Depois da escola, passam as horas restantes do dia em cursos de inglês, matemática, línguas, ciências.
Sim, eles exageram. Mas no que resulta?
Bem, eu aqui vivo na cidade-sede da educação na América. São 55 universidades poderosas, entre elas Harvard, com seus 47 Prêmios Nobel, os gênios do MIT e a Boston University de Luther King. E o que se vê nos campi? Japoneses, coreanos e chineses. Estão tomando as universidades americanas, a ponto de o governo planejar o estabelecimento de cotas para LIMITAR o número de orientais nas faculdades.
Esses alunos de olhos amendoados buscam o conhecimento. Como os japoneses aprendem "valores" na escola? Ajudando a limpar os banheiros e a varrer as salas de aula. Que tal?
Valores são subprodutos do conhecimento. Se o estudante aprender sobre a democracia, por exemplo, saberá que esse não é um sistema em que todos podem tudo. Ao contrário: esse sistema só funciona a partir da lei.
Mas quem se interessa pela lei, no Brasil? O Brasil quer formar gerações de libertários. Está formando gerações de mimados.
David Coimbra

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Quem defende tarifas de importação e desvalorização cambial está defendendo reserva de mercado para empresários ineficientes e privilégios para empresários incompetentes.
Pior ainda: está defendendo uma forçada redução no padrão de vida das pessoas, principalmente dos mais pobres, que, ao serem proibidos de comprar produtos bons e baratos do exterior, se tornam reféns do cartel dos grandes empresários nacionais.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Como o governo imprime dinheiro para pagar os gastos públicos


Dizem que dinheiro não nasce em árvores, mas a verdade é que o sistema bancário cria dinheiro (imprime) muito mais rápido do que as árvores crescem. A maioria das pessoas não faz a menor ideia de como se dá a criação da moeda. Economistas e banqueiros fazem soar tão complexo que as pessoas pensam que não podem entender. Mas eu vou destrinchar nosso sistema monetário na sua essência, assim você vai ver o esquema por trás da cortina e entender como lhe afeta.
Todas as sociedades modernas criam suas moedas praticamente do mesmo jeito. É assim no Brasil, na Argentina, na Venezuela, nos EUA, enfim, em todos os países que controlam as moedas com Banco Central. E todas essas manobras começa durante as eleições, quando um político diz: “Votem em mim, eu vou investir mais em educação, em saúde, em segurança… Vou oferecer coisas ‘grátis’ para você”.  Mas não existe essa história de “coisas de graça”, então para conseguirem oferecer isso, os políticos votam leis e projetos para gastar mais do que recebe. Isso é chamado de déficit público.
Para bancar esse déficit público, o Tesouro Nacional empresta moeda emitindo um título. E o que é um título? Se você parar para pensar, um título não é nada mais do que uma nota promissória “gloriosa”. É um pedaço de papel bonito, com números impressos nele e que dizem: “Me emprestem alguns bilhões de reais hoje e eu prometo que ao longo de 10 anos vou pagar de volta esses bilhões de reais, com juros”. Mas o que você precisa entender é que títulos do tesouro são a nossa dívida nacional. Essas notas “gloriosas” vão ser pagas por você, eu e nossos descendentes por tributação no futuro. Sendo assim, quando o governo emite um título ele rouba prosperidade do futuro para poder gastá-la hoje.
Para emitir os títulos, o Tesouro faz um leilão e os maiores bancos, investidores e fundos de pensões aparecem e competem para comprar parte da nossa dívida nacional, e lucram com isso, ganhando os juros. É por meio de um joguinho chamado “operações de mercado aberto” (Open Market) que os bancos podem vender alguns desses títulos para o Banco Central, com lucro.  Para pagar pelos títulos, o Banco Central abre seu bom e velho talão de cheque e escreve “cheque falso, sem fundo e que deveria voltar porque é de uma conta que sempre está sem saldo, não há um centavo lá”.  O Banco Central entrega, então, esses cheques “falsos” para os bancos privados, e é nesse momento em que a moeda é criada (impressão de dinheiro). Em um próximo leilão, os bancos pegam esse dinheiro e compram mais títulos do governo. Resumindo: o Banco Central paga os bancos privados pelas dívidas anteriores, e eles usam o dinheiro criado “do nada” para comprar mais títulos públicos. O Tesouro Nacional resgata esse dinheiro e cobre o déficit público.
Esse processo acontece todos os dias e o Banco Central utiliza essas manobras para manipular a taxa de juros. Quando a economia tem baixo crescimento, o banco central compra os títulos dos bancos privados para “injetar” crédito no mercado, forçando uma queda na taxa de juros. Quando a expansão monetária resulta em inflação, o Banco Central vende os títulos do governo, forçando o aumento nas taxas de juros. E a explicação para a baixa e alta na taxa dos juros é muito simples, basta a gente lembrar do conceito da oferta e demanda. Se o Banco Central compra títulos, a oferta de credores aumenta, isto é, o Banco Central concorre com outras instituições, fazendo os juros caírem. Quando o BACEN vende os títulos, o Tesouro Nacional encontra um grande concorrente para emitir novos títulos, e para conseguir liquidar a venda, os juros sobem.
Em um momento de crise ou recessão econômica, exatamente como passa o Brasil, se o Banco Central vender títulos para controlar a inflação (subir juros), ele vai retirar liquidez nos bancos privados, que irão emprestar menos aos empresários e empreendedores, resultando em queda nos investimentos. Então, o Banco Central evitará subir os juros (vender títulos). E como o Tesouro Nacional precisa emitir novos títulos para cobrir o rombo nas contas públicas, o Banco Central opera na ponta compradora, isto é, vai comprar títulos dos bancos privados e criar liquidez para eles emprestarem dinheiro ao governo sem afetar os empréstimos aos empresários (sem os investimentos dos empresários, a recessão continua). Quando isso acontece, temos na prática a impressão de moeda para pagar as contas do governo.
Por lei,  o governo brasileiro não pode usar o Banco Central para financiar o próprio gasto, mas eles usam indiretamente os bancos privados, que recebem dinheiro criado do Banco Central e lucram muito com isso. É no meio de tantos nomes difíceis e várias manobras indiretas e complexas que o governo e bancos escondem a máquina de criar dinheiro do estado. E quando ela é acionada, o governo aplica a pior e mais severa forma de imposto: a inflação.

http://www.ilisp.org/artigos/como-o-governo-imprime-dinheiro-para-pagar-os-gastos-publicos/

Os economistas austríacos que refutaram Marx e sua tese de que o trabalho assalariado é exploração

workers.jpg
Políticos adoram declarar publicamente que sabem qual é o valor do salário mínimo que qualquer trabalhador no país deveria receber.  Só não explicam como chegaram a esse valor e nem muito menos por que o valor escolhido não pode ser $1 maior ou menor.
Adicionalmente, todos eles têm uma certeza: empresários, empreendedores e capitalistas são exploradores sem coração que se aproveitam da mão-de-obra de alguns de seus trabalhadores não lhes pagando a "quantia justa" que seu trabalho genuinamente merece.
O que está por trás deste pensamento sobre o valor "razoável" ou "justo" do salário mínimo é o fantasma de um pensador que há muito tempo pensava-se que teria sido relegado à lata de lixo da história: Karl Marx (1818-1883).
A teoria do valor-trabalho de Marx para o valor de um trabalhador
A concepção de Marx a respeito da "escravidão salarial" injusta que os capitalistas e empreendedores impunham a seus trabalhadores tornou-se a premissa e o grito de guerra que resultaram nas revoluções comunistas do século XX, com toda a sua destruição e terror.
Marx insistia em que o "valor real" de qualquer bem produzido era determinado pela quantidade de trabalho empregado na sua fabricação. Se a produção de um par de sapatos consome quatro horas de trabalho, e se são necessárias duas horas de trabalho para preparar e assar um bolo, então a "taxa de câmbio" justa entre essas duas mercadorias deveria ser a de um par de sapatos por dois bolos. Dessa maneira, esses dois bens seriam trocados a uma taxa que representa quantidades comparáveis do tempo de trabalho gasto para produzi-los.
Se o trabalho de um operário produziu, digamos, três pares de sapatos durante uma jornada de trabalho de doze horas, então o trabalhador tem o justo direito à propriedade dos três pares de sapatos produzidos pelo seu trabalho, de modo que ele poderia trocá-los pelos produtos que quisesse adquirir dos outros trabalhadores.
Contudo, insistia Marx, o capitalista que contratou o trabalhador não lhe paga um salário igual ao valor dos três pares de sapatos que este produziu. Isso ocorre, segundo Marx, simplesmente porque o capitalista é o proprietário da fábrica e das máquinas (a fábrica e as máquinas são a propriedade privada que o trabalhador utilizou para produzir esses sapatos).  Logo, estando estes bens de produção em propriedade do capitalista e não do trabalhador, o trabalhador tem de se sujeitar às demandas do capitalista, aceitando assim entregar ao capitalista uma fatia daquilo que sua mão-de-obra produz — caso contrário, morrerá de fome no frio.
O empregador paga ao trabalhador um salário somente igual a, digamos, dois pares de sapatos, desta forma "roubando" uma parte do seu trabalho.
Assim, na concepção de Marx, o valor de mercado do terceiro par de sapatos do qual o capitalista se apropriou partir do trabalho do trabalhador seria a fonte de seu lucro, ou o ganho líquido sobre os custos de contratar o trabalhador.
Eis aí a origem da noção marxista de "renda imerecida", que seria a renda que não decorre de ter de trabalhar e produzir, mas simplesmente de se ser o proprietário de um negócio privado que emprega trabalhadores que realmente fazem todo o trabalho.
O capitalista, como você vê, não faz nada. Vive do trabalho dos outros, enquanto fica sentado em seu escritório, com seus pés sobre a escrivaninha, fumando um charuto (quando ainda era "politicamente correto" fazer isso). Não é de se surpreender, diante deste raciocínio sobre o trabalho, os salários e o lucro, que políticos e intelectuais não tenham apreço por capitalistas e empreendedores.
Carl Menger e o valor subjetivo das coisas
Karl Marx morreu em 1883, aos 64 anos de idade. Uma década antes de sua morte, no início dos anos 1870, sua teoria do valor-trabalho foi derrubada por diversos economistas. O mais importante deles foi o economista austríaco Carl Menger (1840-1921) em seu livro de 1871, Princípios de Economia Política.
Menger explicou que o valor de um bem não deriva da quantidade de trabalho despendida em sua fabricação. Um homem pode gastar centenas de horas fazendo sorvetes de lama, mas se ninguém atribuir qualquer serventia a estes sorvetes de lama — e, portanto, não os valorizar o suficiente para pagar alguma coisa por eles —, então tais produtos não têm nenhum valor, não obstante as centenas de horas gastas em sua fabricação.
Assim como a beleza, o valor — como diz o velho provérbio — está nos olhos de quem vê. O valor de um bem é subjetivo: depende do uso e do grau de importância pessoal (subjetiva) que alguém confere a esse bem (seja ele uma mercadoria ou um serviço).  Se o bem servir para algum fim ou propósito, então terá valor para ao menos uma pessoa.
Bens, ao contrário do que diz a teoria marxista, não têm valor por causa da quantidade de trabalho consumida em sua produção. Por outro lado, uma determinada habilidade de trabalho pode ter grande valor caso seja considerada útil (como um meio produtivo) para se alcançar um objetivo que alguém tem em mente.
Adicionalmente, o valor de bens idênticos decresce à medida que a quantidade delas aumenta.  E isso ocorre porque atribuímos a cada quantidade adicional de um mesmo bem à nossa disposição um propósito menos importante do que o propósito já atribuído para as unidades previamente adquiridas desse bem.
Por exemplo, à medida que acrescento camisas idênticas ao meu guarda-roupa, cada camisa extra em geral terá menos importância para mim do que as mesmas camisas que comprei anteriormente. Os economistas chamam isto de "utilidade marginal decrescente dos bens".
Ninguém paga por um bem mais do que aquilo que considera que ele vale
Assim, não há um valor mínimo "objetivo" que seja inerente ao ato de trabalhar. Um empregador contrata trabalhadores porque estes irão ajudá-lo a produzir um produto que acredita que poderá vender a potenciais consumidores. Na medida em que o empregador contrata trabalhadores com as mesmas habilidades específicas, cada um desses trabalhadores é alocado para uma tarefa menos importante do que aquela para a qual o trabalhador anterior, de mesma habilidade, foi contratado.
Como consequência, nenhum empregador pode pagar ou irá pagar mais por algum trabalhador do que aquilo que acredita que seus serviços valem (em termos de agregar valor às suas atividades de produção).  
Sendo assim, o valor de um trabalhador depende do tanto que o empregador acredita que o bem produzido vale para o público consumidor, que é quem decide comprar — ou se abster de comprar — o bem que o trabalhador ajuda a produzir.
Suponha que um empregador acredite que algumas das pessoas de sua força de trabalho contribuem com não mais do que $ 6 por hora para fabricar um produto que ele espera vender aos consumidores. Se o governo lhe disser que ele tem a obrigação legal de pagar a cada um de seus trabalhadores um salário mínimo que não pode ficar abaixo de $ 7,40 ou $ 10,10 por hora, não será nada surpreendente se ele optar por dispensar aqueles trabalhadores que considera custarem mais do que produzem.
Adicionalmente, outros empregos que poderiam estar disponíveis por $ 6 por hora nunca chegarão a existir.
Tudo o que um salário mínimo decretado pelo governo consegue fazer é expulsar do mercado de trabalho aqueles trabalhadores cuja contribuição para a fabricação de um produto é menor do que o valor que o governo determinou que deve ser pago a eles.
Mas o que o empregador faz exatamente? No que ele contribui para o processo de produção, para além do trabalho feito pelos empregados contratados? Marx, conforme vimos, argumentou que o "lucro" do capitalista seria o valor daquela fatia da produção do trabalhador que foi apropriada pelo empregador simplesmente pelo fato de ele ser proprietário do empreendimento no qual o trabalhador está empregado.
Böhm-Bawerk e a importância da poupança para a geração de empregos
Outro economista austríaco, Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914), que desenvolveu muitas das ideias que se originaram com Carl Menger, respondeu a Marx.
Em uma importante obra em três volumes intitulada Capital and Interest (1914), e em diversos ensaios, dos quais os mais importantes foram "Unresolved Contradiction in the Marxian Economic System" (1896) e "Control or Economic Law" (1914), Böhm-Bawerk perguntou: de onde vêm os empreendimentos nos quais os trabalhadores são empregados? E de onde vêm os recursos que garantem o pagamento dos salários dos trabalhadores?
Como a fábrica foi construída? De onde vem o capital — as máquinas, ferramentas e equipamentos — das fábricas, com o qual os trabalhadores contratados realizam seu trabalho para produzir os bens que eventualmente estarão disponíveis para os consumidores comprarem?
A resposta de Böhm-Bawerk foi que alguém necessariamente teve de poupar uma parte dos rendimentos obtidos no passado para, então, utilizar esses recursos poupados na construção da empresa e no seu aparelhamento com todos os bens de capital necessários, sem os quais o trabalho de qualquer trabalhador seria consideravelmente muito menos produtivo, com muito menos quantidades produzidas, e muito mais imperfeito em sua qualidade.
O empreendedor que inicia um empreendimento tem necessariamente de ou ter economizado os fundos necessários para cobrir suas próprias despesas de investimento ou ter tomado emprestado de outros que pouparam o necessário. Alguém teve necessariamente de se sacrificar, de abrir mão do consumo no presente para que essas economias estejam disponíveis no futuro para financiar o empreendimento.  Quando o empreendimento for feito, ele poderá então gerar um retorno financeiro no futuro, quando o produto houver sido fabricado e for vendido.
Um indivíduo só irá abrir mão do seu consumo no presente se ele for suficientemente compensado com um ganho futuro que faça valer a pena abrir mão desse consumo e prazer no presente.  Poupança é sacrifício e esse sacrifício tem de ser compensado.
É por isso que são pagos juros.  Juros são o preço pago a alguém que optou por abrir mão do consumo presente para, com isso, obter um valor maior no futuro.  Juros são o preço que arbitram se os recursos serão consumidos no presente ou investidos para o futuro.  Juros são o preço que os poupadores recebem no futuro por sacrificarem satisfações mais imediatas do presente, até que as quantias emprestadas sejam pagas de volta.
E o tomador de empréstimo paga esses juros porque ele valoriza mais o uso que fará do dinheiro e dos recursos que toma emprestado hoje do que todo o juro que pagará pelo empréstimo no futuro.
Empreendedores e capitalistas poupam os trabalhadores de terem de esperar pelos seus salários
O fato de empreendedores terem esses recursos à disposição — sejam eles oriundos de sua própria poupança passada ou de terem pegado emprestado a poupança de terceiros — significa que aqueles que ele emprega nãoterão de esperar até que os bens sejam produzidos e realmente vendidos para receberem seus salários pelo trabalho que realizaram durante o período de produção.
O empregador, em outras palavras, "adianta" aos trabalhadores o valor de seus serviços enquanto o processo de produção está em andamento, precisamente para aliviar seus empregados de terem de esperar até que as receitas da venda dos produtos aos consumidores sejam recebidas no futuro.
O fato de o trabalhador não receber o "valor total" da produção futura simplesmente reflete o fato de que é impossível o homem trocar bens futuros por bens presentes sem que haja um desconto no valor. O pagamento salarial representa bens presentes, ao passo que os serviços de sua mão-de-obra representam apenas bens futuros.
Com efeito, é por isso que é correto dizer que é o empreendedor quem de fato "faz tudo", pois sem sua disposição e capacidade para organizar, financiar e dirigir o empreendimento, seus empregados não teriam trabalho e nem receberiam salários antes que um único produto fosse fabricado e vendido.
A apreciação deste último ponto é de importância crucial. O empreendedor não é somente o organizador da empresa e o investidor que faz tudo acontecer; ele também é quem irá arcar com as consequências caso não obtenha um lucro pelos seus esforços empresariais.
Empreendedores arcam com a incerteza de planejar para o futuro
Os trabalhadores e todos os demais que fornecem ao empreendedor os bens, serviços e recursos necessários para que todo o processo de produção ocorra recebem seu pagamento enquanto o trabalho está sendo feito.  Já o empreendedor arca com toda a incerteza sobre se irá ganhar ou não o suficiente com a venda de seus produtos para cobrir todas as despesas nas quais incorreu.  Ele, aliás, nem sequer sabe se conseguirá vender seu produto.
Ao pagar aos seus empregados os salários que foram acordados por contrato, o empreendedor os alivia da incerteza a respeito de se, no final do processo, haverá lucro, prejuízo, ou se a empresa ficará no zero a zero.
É o empreendedor quem tem de fazer os julgamentos especulativos e criativos sobre o que produzir e a que preços seus produtos poderão ser vendidos. A precisão deste juízo empreendedorial em conseguir antecipar melhor do que seus concorrentes aquilo que seus consumidores podem querer comprar no futuro, bem como os preços que poderão pagar por esses bens, é o que determinará o sucesso ou fracasso de seu empreendimento.
Assim, Karl Marx errou completamente ao não entender o que determina o valor dos bens, o valor dos trabalhadores no processo de produção, e o papel vital e essencial do empreendedor, que é realmente quem faz com que as coisas aconteçam.
O mal decorrente das políticas baseadas em Marx
É de pouca importância se políticos e intelectuais que vêem trabalho, salários e empreendedores sob uma ótica de conflito de classes estão cientes do quanto suas concepções a respeito do capitalismo e do mercado de trabalho são implicitamente derivadas e influenciadas pelas ruminações obsoletas de um socialista revolucionário de meados do século XIX.
O que realmente importa é que políticas econômicas baseadas nesses equívocos marxistas a respeito da natureza e do funcionamento da economia de livre mercado irão gerar malefícios para aquelas mesmas pessoas a quem, supostamente, tais políticas deveriam ajudar.
E tais políticas equivocadas destruirão ainda mais os fundamentos essenciais do sistema de livre mercado, o qual, no decorrer dos últimos duzentos anos, deu aos homens uma liberdade pessoal e prosperidade material jamais ocorrida em toda a história humana. São políticas que destroem a liberdade que as pessoas possuem para trabalhar e se associarem livremente das maneiras que considerarem mais vantajosas, e que têm o potencial de levar a sociedade a um caminho ruinoso e conflituoso.

Leciona economia na Northwood University de Midland, Michigan, é um scholar adjunto do Mises Institute e trabalha no departamento de pesquisa do American Institute for Economic Research.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ser adulto significa resistir ao impulso estatizante

Recentemente, ao entrar em um restaurante, pedi para que o garçom me arrumasse uma mesa na seção de não-fumantes.  O garçom respondeu: "Sem problemas.  Por lei, todos os restaurantes agora proíbem o fumo.  Pode me acompanhar, por favor".
Meu primeiro pensamento, enquanto me encaminhava para a mesa, foi o de alívio.  "Ótimo! Sem chance de sequer sentir o cheiro de cigarro.  Gosto assim!"
Mas aí, logo em seguida, fui tomado por um sentimento de vergonha.  Percebi que havia me quedado vítima exatamente no mesmo impulso estatizante que acomete os progressistas de hoje.  Por mais de 40 anos, sempre me vi como um apaixonado e inflexível defensor da sociedade livre.  E, no entanto, por alguns breves segundos, cá estava eu sentindo prazer em ver o governo solapando não apenas uma liberdade empreendedorial (o dono do estabelecimento estava proibido de sequer ter um ambiente separado para fumantes), como também a liberdade de adultos consensuais em um arranjo privado.
Esse incidente me afetou.  Por que escorreguei dessa maneira?  Por que meu primeiro instinto foi o de abandonar princípios sólidos, pelos quais lutei durante boa parte de minha vida, em troca de alguns minutos de conveniência? 
Pior ainda: se um indivíduo comprometido com a liberdade como eu foi tão facilmente seduzido para o mau caminho, como querer que os não-comprometidos não caiam em tentações similares ou ainda mais pavorosas?
De início, procurei uma forma de suavizar minha falha.  Pensei em todos os malefícios, tão propagados por médicos, do fumo passivo.  Talvez, quem sabe, não seja errado o governo proteger os não-fumantes caso haja alguém impondo uma danosa externalidade.  Porém, rapidamente percebi duas contradições: ninguém me obrigou a entrar naquele restaurante, e o restaurante não pertencia nem ao governo e nem a mim.
O fato inegável é que, em uma sociedade genuinamente livre, o proprietário de um estabelecimento privado que queira permitir que algumas pessoas fumem em seu estabelecimento tem tanto direito de permitir isso quanto eu tenho de não entrar no recinto dele e ir para outro lugar. 
Ninguém é obrigado a entrar em um restaurante cujo proprietário permita o fumo.  Ponto.  E nenhum indivíduo tem o direito de obrigar outro indivíduo a lhe fornecer um restaurante livre de fumaça de cigarro.  Isso não é um direito natural.
No que mais, conheço vários outros comportamentos arriscados que adultos praticam de maneira livre e voluntária, os quais eu jamais pediria que o governo banisse: paraquedismo e bungee jumping são apenas dois deles.  Aliás, estatísticas mostram que frequentar escolas públicas em periferias violentas também é uma prática extremamente arriscada — talvez mais arriscada do que ocasionalmente inalar a fumaça de cigarro de outra pessoa.
Veja como esse caminho é traiçoeiro.  Tão logo você aceita que seja correto o governo ditar quais atividades uma pessoa pode fazer, qual o limite?  Muitas pessoas lêem livros realmente nefastos.  Deveríamos então proibi-las disso?  Um progressista irá apoiar que o governo proíba livros de ideologia socialista com o intuito de proteger a mente das pessoas?
Aplicar e zelar por direitos de propriedade (tanto sobre seu corpo quanto sobre os bens físicos que você possui) produz regras comportamentais muito mais precisas e previsíveis para uma sociedade civilizada.  Em vez de decretar leis que coercivamente ajustem nosso comportamento à maneira que um burocrata do governo julgue ser a mais apropriada, não faria mais sentido definir direitos de propriedade e então impingi-los? 
Que se permita as interações pacíficas e voluntárias, e que se puna somente aquelas ações que agridam os direitos e a propriedade de terceiros.  Frequentar um restaurante sem cheiro de cigarro não é um direito.  Por outro lado, se o proprietário do estabelecimento determinou que ali não é permitido fumar, o fumante não pode fazê-lo.  Qual a dificuldade?
O problema é que, quanto mais as coisas se tornam "socializadas", mais invasivo e intrusivo o estado irá necessariamente se tornar.  Por exemplo, se há um sistema de saúde estatal, no qual todo mundo paga pela saúde de todo mundo, então passa a existir um nefasto incentivo para que todo mundo regule e denuncie o comportamento de todo mundo.  Se estou pagando por sua saúde, não quero que você fume e nem que coma bobagens.  Agora, se é você quem está pagando com seu próprio dinheiro, então isso não é problema meu. 
Quanto mais as relações humanas se tornam pautadas por políticas estatais, mais as pessoas se tornam intrusivas, raivosas e ditatoriais.
O impulso estatizante é uma preferência pelo uso da força do estado para a consecução de um benefício — real ou imaginário, para si próprio ou para os outros — em detrimento de alternativas voluntárias e mais intelectualmente desafiadoras, como persuasão, educação ou liberdade de escolha.  Se as pessoas vissem as coisas nesses termos tão contrastantes, ou se elas percebessem que o apoio a intervenções governamentais é uma opção que aniquila as liberdades, o apoio a medidas coercivas para se solucionar questões comportamentais diminuiria bastante. 
O problema é que as pessoas frequentemente são incapazes de equiparar intervenção a força e coerção.  E é exatamente isso o que ocorre.  Veja, o governo não pediu que os restaurantes proibissem o fumo; ele simplesmente deu essa ordem e ameaçou com multas e até mesmo encarceramento quem descumprir seu mandado.
Já tentei essa argumentação com alguns amigos.  Exceto aqueles que já tinham propensões libertárias, eis algumas típicas reações e como elas foram expressas:
Ilusão: "Não é bem uma 'coerção' se a maioria das pessoas aprova a medida."
Paternalismo: "Nesse caso, a coerção foi algo positivo, pois foi para o seu próprio bem."
Dependência: "Se o governo não fizer isso, quem fará?"
Miopia: "Você está fazendo tempestade em copo d'água.  Como é que banir o cigarro em restaurantes pode representar uma ameaça às liberdades?  Mesmo que representasse, seria algo tão ínfimo que não incomoda."
Impaciência: "Não quero ter de esperar até que meu restaurante favorito decida voluntariamente banir o cigarro."
Ânsia de poder: "Restaurantes que não querem proibir fumantes devem ser obrigados a fazê-lo."
Alienação: "Não estou nem aí. Odeio cigarro e não quero nem pensar na hipótese de sentir seu cheiro, mesmo que o dono do restaurante crie uma seção isolada para fumantes."
Se você pensar bem, cada um desses argumentos pode ser utilizado — e, de fato, eles sempre são utilizados — para justificar a imposição de intoleráveis limitações às liberdades do indivíduo.  Se há algo que já deveríamos ter aprendido com a história dos governos é que, sempre que você dá a mão, eles arrancam o braço; e fazem isso apelando aos instintos mais fracos da população.
O desafio é fazer as pessoas entenderem que a liberdade sempre é tolhida gradualmente, um pouco de cada vez; ela não é destruída repentinamente, de uma só vez.  E que lutar e resistir à destruição da liberdade em coisas pequenas é uma postura muito mais racional e sensata do que ceder e apenas desejar que batalhas maiores não serão travadas mais tarde.
Ilusão, paternalismo, dependência, miopia, impaciência, ânsia de poder e alienação: todas elas são razões por que as pessoas sucumbem a impulsos estatizantes.  Elas também são vestígios de um pensamento infantil.  Quando crianças ou adolescentes, nossa compreensão de como o mundo funciona é, na melhor das hipóteses, simplória.  Esperamos que adultos nos provenham e nos sustentem, e não ligamos muito para como eles irão fazer isso.  E queremos tudo para agora.
Somente nos tornarmos "adultos" quando aprendemos que há limites que restringem nosso comportamento; quando começamos a pensar no longo prazo e em todas as outras pessoas, e não apenas em nós mesmos e no aqui e agora; quando fazemos o máximo de esforço para nos tornarmos independentes na medida em que nossas capacidades mentais e físicas nos permitam; quando deixamos os outros em paz, a menos que eles nos ameacem; e quando pacientemente satisfazemos nossos desejos por meios pacíficos, e não recorrendo a porretes.
Nós nos tornamos "adultos" quando aceitamos a responsabilidade pessoal e respondemos por nossos próprios atos.  E voltamos a ser crianças quando transferimos nossas responsabilidades e nosso controle para terceiros, especialmente para o governo.
No entanto, apenas olhe ao seu redor e veja o nível do debate público e de todas as políticas recomendadas.  Não há limites para as demandas pela coerção do estado.  Todos exigem que o estado "faça algo".  Tribute mais aquele sujeito porque ele é mais rico do que eu.  Subsidie a cultura. Imponha uma tarifa para que eu não sofra a concorrência de importados.  Dê mais dinheiro para essa indústria.  Pague por minha faculdade.  Pague por minha saúde.  Proíba a posse de armas.  Desaproprie aquele lugar e construa um hospital ali.  Facilite minha vida obrigando os outros a me sustentar.  Corrija esse problema para mim, e faça isso já.  Diga àquele cara que é dono do restaurante que ele está proibido de atender quem quer fumar.
A impressão é que nossa sociedade se tornou um imenso berçário repleto de bebês chorões que veem o estado como uma babá amorosa.  A vontade que tenho é a de gritar "cresçam!"
Sociedades prosperam e entram em decadência de acordo com a civilidade de seus cidadãos.  Quanto mais eles se respeitam e se associam voluntariamente, mais prósperos e seguros eles se tornam.  Quanto mais eles demandam força e coerção — legitimadas ou não —, mais dóceis e maleáveis eles se tornam nas mãos de demagogos e tiranos.
Portanto, resistir ao impulso estatizante não é algo trivial.  Resistir a esse impulso nada mais é do que a postura genuinamente adulta a ser tomada.