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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

O Mecanismo e a Ideologia

 Em fevereiro de 2017, o cineasta José Padilha escreveu um artigo para O Globo explicando como funciona aquilo que ele rotulou de "Mecanismo".

Alguns pontos valem ser destacados:

* Na base do sistema político brasileiro opera um mecanismo de exploração da sociedade por quadrilhas formadas por fornecedores do estado e grandes partidos políticos.

* O mecanismo opera em todas as esferas do setor público: no legislativo, no executivo, no governo federal, nos estados e nos municípios.

* No executivo, ele opera via o superfaturamento de obras e de serviços prestados ao estado e a empresas estatais. 

* No legislativo, ele opera via formulação de legislações que dão vantagens indevidas a grupos empresariais dispostos a pagar por elas.

* A administração pública brasileira se constitui a partir de acordos relativos à repartição dos recursos desviados pelo mecanismo. Um político que chega ao poder pode fazer mudanças administrativas no país, mas somente quando estas mudanças não colocam em cheque o funcionamento do mecanismo. 

* A eficiência e a transparência estão em contradição com o mecanismo.

* Resulta daí que, na vigência do mecanismo, o estado brasileiro jamais poderá ser eficiente no controle dos gastos públicos. 

* As políticas econômicas e as práticas administrativas que levam ao crescimento econômico sustentável são incompatíveis com o mecanismo, o qual tende a gerar um estado cronicamente deficitário. 

* Embora o mecanismo não possa conviver com um estado eficiente, ele também não pode deixar o estado falir. Se o estado falir o mecanismo morre. 

* A combinação destes dois fatores faz com que a economia brasileira tenha períodos de crescimento baixo, seguidos de crise fiscal, seguidos de ajustes que visam a conter os gastos públicos, seguidos de novos períodos de crescimento baixo, seguidos de nova crise fiscal.

Tudo isso está correto e o autor merece aplausos por saber identificar o problema.

No entanto, Padilha, talvez por querer posar de isento, comete um erro básico e crucial. Segundo ele:

* O mecanismo existe à revelia da ideologia. 

* O mecanismo viabilizou a eleição de todos os governos brasileiros desde a retomada das eleições diretas, sejam eles de esquerda ou de direita (PMDB, DEM, PSDB e PT).

* No sistema político brasileiro, a ideologia está limitada pelo mecanismo: ela pode balizar políticas públicas, mas somente quando estas políticas não interferem com o funcionamento do mecanismo. 

Eis o erro de Padilha: o Mecanismo não existe à revelia da ideologia. Muito pelo contrário: o que possibilita a existência e a robustez do Mecanismo é exatamente a ideologia.

E que ideologia é esta?

Agendas ligadas aos partidos de Esquerda e Social Democrata que se fazem presente e atuante no Brasil nos 36 partidos ativos.

Perfeita a constatação.

O Mecanismo só existe porque há uma ideologia explícita que o sustenta: a defesa de um estado grande, onipresente, intervencionista, ultra-regulador, que em tudo intervém e de todos cuida.

Estado corporativista, protecionista, que tudo abrange e a tudo controla é exatamente a ideologia por trás do Mecanismo.

A lógica é direta: enquanto houver, de um lado, um governo grande, com um farto orçamento público repleto de emendas e brechas, sempre haverá, do outro lado, grupos de interesse poderosos e bem organizados, que irão se beneficiar deste orçamento público.

Mais: esses grupos terão todo o interesse em fazer com que este orçamento cresça cada vez mais, pois são os beneficiários diretos deste aumento dos gastos.

E quem realmente bancará todos esses gastos do governo que irão privilegiar os grupos de interesse são os pagadores de impostos.

Os incentivos do Mecanismo

O óbvio sempre deve ser repetido: o principal motivo para se fazer lobby junto a um estado inchado é a elevada recompensa que isto traz. Quanto maior for o governo, quanto maiores forem seus gastos, maior será o bolo a ser repartido. (No Brasil, como mostra este gráfico, o gasto público nas três esferas de governo chegou a estar em 10% do PIB na década de 1920, e fechou em 43% do PIB em 2016.)

Esta é a prática conhecida como rent seeking (ou "busca pela renda"): é a atividade de conquistar privilégios e benefícios não pelo mercado, mas pela influência política. Na prática, é a captura das instituições regulatórias, de políticos e de burocratas com o objetivo de obter privilégios em prol de grupos interesses.

Os privilégios variam. As mais prosaicas e corriqueiras são crédito subsidiado, patrocínios estatais, tarifas de importação que as protegem contra concorrentes estrangeiros, agências reguladoras que cartelizam o mercado e dificultam a entrada de novos concorrentes, e regulamentações profissionais que aumentam a barreira de entrada de novos concorrentes.

No entanto, a modalidade de rent-seeking que atingiu o estado da arte no Brasil é a dos contratos superfaturados.

Neste arranjo, empreiteiras pagam propina a políticos e burocratas que estão no comando de estatais e ministérios para que elas sejam as escolhidas em licitações de obras. Ato contínuo, esses políticos e burocratas subornados escolhem essa empreiteira. No final, em troca da propina, a empreiteira faz uma obra superfaturada, a qual será pago pelos impostos da população trabalhadora. Empresa, burocratas e políticos ganharam, e a população trabalhadora perdeu.

Em todos os casos de rent-seeking, ocorre o mesmo padrão: um estado grande sempre acaba se convertendo em um instrumento de redistribuição de riqueza. A riqueza é confiscada dos grupos sociais desorganizados (os pagadores de impostos) e direcionada para os grupos sociais organizados (lobbies, grupos de interesse e grandes empresários com conexões políticas).

A crescente concentração de poder nas mãos do estado faz com que este se converta em um instrumento muito apetitoso para todos aqueles que saibam como manuseá-lo para seu benefício privado.

Lobistas e grupos de interesse são a consequência natural de um estado agigantado e com gastos crescentes. E são também a essência do Mecanismo.

Mas não só.

Os cinco elementos do Mecanismo

No Brasil, o Mecanismo é composto majoritariamente por cinco classes principais: os grandes empresários que querem reserva de mercado, subsídios e nenhuma concorrência; as empreiteiras que querem se fartar em dinheiro de impostos por meio de obras públicas; os sindicatos que se opõem à produtividade; os reguladores e burocratas que impingem as legislações; e os políticos que visam apenas ao curto prazo.

Estes são os cinco grupos de poder que formam o Mecanismo.

Sempre que se cria um ambiente de relações estreitas entre, de um lado, os membros do governo (políticos, burocratas e reguladores) e, de outro, grupos de interesse política e economicamente favorecidos pelo governo (empresários anti-concorrência, empreiteiras de olho em obras públicas, e sindicatos), ocorre um fenômeno inevitável: todas as relações políticas passam a ser pautadas pelo famoso lema do "quem quer rir tem de fazer rir".

Para que políticos, burocratas e reguladores favoreçam grupos de interesse, estes têm de dar agrados em troca. Ao exigir agrados, os agentes do governo estão apenas exigindo sua fatia do bolo: já que o governo está utilizando dinheiro de impostos para beneficiar grupos de interesse, então os agentes do governo que supervisionam esse processo também querem se dar bem nesse arranjo. E aí cobram seus "agrados".

Estes agrados normalmente se dão na forma de malas de dinheiro, dinheiro em offshores, doação de imóveis, reformas de apartamentos e sítios, doações de campanha etc.

E assim o Mecanismo se mantém.

A Lava-Jato nada mais foi do que a revelação dessa associação entre, de um lado, as grandes empreiteiras e os grandes grupos empresariais e, de outro, os integrantes de toda a esfera regulatória do estado: o que envolve desde burocratas de secretarias até membros do governo executivo (inclusive a presidência da república), passando pelos integrantes do parlamento, legisladores, integrantes da magistratura, partidos políticos, e órgãos de fiscalização e polícia.

Para acabar com o Mecanismo

O Mecanismo, no final, é simplesmente uma atitude lógica adotado por grupos de interesse bem organizados e com grande poder de lobby: tentar cooptar os governantes para que implantem políticas públicas em seu benefício.

Enquanto a mentalidade dominante no Brasil for a da defesa de um estado agigantado e onipresente, que em tudo intervém e de todos cuida, o Mecanismo permanecerá robusto.

Só há uma única maneira de abolir, em definitivo, o Mecanismo e toda a corrupção, os grupos de interesse e os lobbies empresariais que ele fomenta: reduzir ao máximo o tamanho do estado, limitando enormemente (ou até mesmo eliminando) a autoridade política que socialmente concedemos e reconhecemos ao estado. Se o estado perde seu poder de conceder privilégios àqueles grupos que o capturam, estes não irão adquirir autoridade política para obter privilégios à custa da sociedade. Nenhum empresário ou sindicato pode comprar favores de um burocrata que não tenha favores para vender.

A defesa de um estado grande, intervencionista e ultra-regulador é a ideologia que sustenta o Mecanismo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

A Suiça que não conhecemos

 No mundo atual, as pessoas estão cada vez mais preocupadas com o resultado de eleições para chefe de governo. A cada eleição que ocorre em um país economicamente importante, as respirações ficam suspensas (tanto entre a população deste país quanto no resto do mundo).

Foi assim nos EUA em 2016, e na França, na Alemanha e na Holanda em 2017. E está assim agora no Brasil, em 2018.

É como se o padrão de vida de todos dependesse diretamente do resultado da eleição — o que, aliás, é um fato.

Mas eis a realidade, que vale para todos: as pessoas só estão cada vez mais preocupadas com o resultado das eleições porque os estados estão cada vez maiores, mais intrusivos e mais poderosos. As pessoas sabem que o indivíduo que eventualmente estiver no controle destes aparatos estatais terá poderes insanos sobre suas vidas e sobre toda a economia (da qual depende nosso bem-estar). Ele terá o poder de regular cada aspecto econômico e social da vida dos indivíduos.

E as pessoas, mesmo as intervencionistas, sabem que tais poderes são extremamente perigosos caso fiquem sob o controle de “indivíduos perigosos” — isto é, indivíduos que não pensam o mesmo que elas.

Por outro lado, fosse o estado mínimo e sem poder, as pessoas seriam completamente indiferente a quem eventualmente estivesse no comando dele

Sendo assim, será que há alguma esperança, no mundo ocidental, de que as pessoas não mais tenham de se preocupar com a política, com os políticos e com a contínua expansão do tamanho e do poder do estado? Há alguma esperança de assumirmos algum controle e influência sobre nossos impostos, nosso sistema de saúde, nossa energia, nosso comércio com os estrangeiros e, acima de tudo, nossa relação com o governo e suas regulações?

Sim, desde que estejamos dispostos a copiar um modelo estrangeiro que deu certo. Esse modelo é a Suíça.

Naquele país sem saída para o mar, com um terreno incrivelmente acidentado e sem recursos naturais (exceto água), as pessoas foram capazes de criar um alto nível de prosperidade tendo por base a inovação e o capitalismo.

100% economia, 0% política

Os burocratas da União Européia os odeiam. Os suíços não só estão fora da União Européia, como também representam o oposto daquela agenda insanamente centralizadora. A Suíça só aderiu à ONU em 2002, e mesmo assim pela margem mínima de votos. Escolha qualquer área da sociedade e você verá que os suíços fazem tudo à sua distinta maneira — sempre com a liberdade como pré-requisito.

Os corpos de bombeiros são um exemplo: geridos por voluntários locais na maioria dos lugares fora das grandes cidades. Armas e as forças armadas são outro exemplo. As armas estão por todos os lados — e o crime não está em lugar algum. Com efeito, eles têm ao menos duas das mais pacíficas cidades do mundo - de acordo com várias autoridades online. Zurique inclusive tem um feriado de meio dia em outubro, para celebrar o torneio do “garoto atirador”, no qual há uma feira em estilo americano em que jovens garotos — e garotas também — competem em uma disputa de tiro ao alvo com fuzis de ataque.

A milícia defensiva dos suíços foi temida até mesmo por Hitler, e até hoje tem se mantido onde tem de ficar — em casa —, sem sair patrulhando estrepitosamente o mundo, assassinando pessoas inocentes que porventura se pusessem em seu caminho. Curiosamente, os suíços conseguiram se manter protegidos sem ter de recorrer a guerras preventivas e sem ter de dizimar famílias ao redor do mundo.

E há os bancos suíços, aquele bastião que guarda algo como um terço da riqueza privada transnacional. A posição suíça quanto ao sigilo bancário é mais bem descrita como sendo de neutralidade, nessa constante guerra dos estados contra seus cidadãos. Toda essa riqueza confiada aos bancos suíços certamente não se deve ao governo, e mesmo os banqueiros são meramente beneficiários de um ambiente inteiramente resultante de um distinto traço de liberdade que viceja dentro do povo suíço. Isso vem desde muito antes da lendária rebelião promovida por Guilherme Tell no século XIV. Se os detalhes dessa lenda são mitos ou não, sua popularidade reflete o tradicional espírito de luta do povo suíço quando se trata das imposições feitas pelo estado.

Antes de sua constituição de 1848, a Suíça era uma confederação de estados, cada qual soberano e independente. A unidade deles se dava por meio de um tratado de defesa mútua contra agressões externas.

Em novembro de 1847 eclodiu a Guerra de Sonderbund (“aliança separada”, em alemão), que foi uma batalha originada por sete cantões católicos conservadores que se opunham à centralização do poder e que, por isso, se rebelaram contra a Confederação que estava em vigor desde 1814. Esta foi provavelmente uma das menos espetaculares guerras da história do mundo: com duração de 26 dias, o exército federal perdeu 78 homens e teve outros 260 feridos. Mas saiu vencedor. A Conspiração Sonderbund se dissolveu e a Suíça se tornou, em 1848, o estado que é até hoje.

Apenas pense nisso: a guerra suíça (caracterizada por sua inacreditavelmente baixa violência quando comparada às outras guerras) foi motivada puramente pela rejeição à centralização do poder e pelo ceticismo quanto aos poderes usufruídos por uma entidade grande. E lembre-se de que estamos falando de um país territorialmente pequeno (apenas 41 mil quilômetros quadrados). O resultado foi, e é, um estado relativamente neutro que permite uma maior quantidade de liberdade e prosperidade que praticamente todas as outras nações européias.

Como país, a Suíça se tornou, já à época, o mais economicamente desenvolvido da Europa. Era religiosa e etnicamente diverso, altamente inovador e extremamente produtivo. Os huguenotes expulsos da França pelas guerras religiosas criaram a indústria suíça de relógios. Os alemães protestantes fugindo da opressão católica fundaram as principais indústrias do país. Sempre houve um foco no conhecimento e na educação como forma de compensar a escassez de recursos naturais. E a população sempre foi integrada ao comércio global, sendo comerciantes vigorosos.

“A economia estava por todos os lados; já a política nunca era perceptível”: essa era a frase utilizada para descrever esta produtiva, vigorosa, inovadora e descentralizada nação já em meados do século XIX. Trata-se de uma descrição que evoca uma fotografia maravilhosa de uma liberdade econômica que não é onerada pelo fardo da política.

A Suíça conseguir manter algumas destas características mesmo com todas as depredações estatais que se tornaram tendência ao redor do mundo no século XX. O país permaneceu sob um padrão-ouro até 1999, e resistiu à internacionalização até se juntar à ONU em 2002. Com efeito, a internacionalização foi o que erodiu a singularidade da Suíça como nação. O influxo de engravatados com MBA em conjunto com a máfia da McKinsey está arrastando a Suíça para o mais baixo denominador comum do estatismo e do intervencionismo. A União Europeia almeja fazer a Suíça assinar um acordo bilateral que inevitavelmente fará com que Bruxelas imponha gradualmente seu socialismo multicultural ao país, exatamente como fez no Reino Unido.

Não obstante, a Suíça ainda possui pelo menos seis vantagens estruturais que irá manter o país à frente de seus medíocres pares por algum tempo.

1) Descentralização

A Suíça permanece sendo uma confederação de 26 cantões. É mais centralizada hoje do que era até antes de 1848, mas as funções do governo central são limitadas. Há uma constituição nacional, um exército nacional e uma força de segurança, uma moeda única (o franco suíço, embora o euro também circule livremente) e um banco central, e uma política externa nacional. Mas a população conseguiu manter os poderes do governo central relativamente muito bem acorrentados.

O executivo do país é representado por um órgão chamado Conselho Federal, que é composto por 7 membros, sendo cada membro responsável por um dos sete ministérios da Suíça (que lá são chamados de Departamentos). Esses sete membros são nomeados pelas duas câmaras da Assembleia Federal.

A presidência e a vice-presidência do Conselho Federal sofrem um rodízio anual. Já o mandato dos 7 membros é de quatro anos. O atual Conselho é formado por 2 social-democratas, 2 conservadores de centro-direita, 2 conservadores nacionalistas, e um democrata-cristão.

Ou seja, o poder executivo não se concentra em apenas uma pessoa. A maioria das decisões do Conselho é feita por consenso. E é assim porque seu papel é muito mais decorativo do que funcional, dado que a maior parte do poder é prerrogativa dos cantões. Decisões relacionadas a educação, saúde, assistencialismo e até mesmo criação de impostos são feitas exclusivamente em nível regional. O governo federal não pode editar medidas provisórias e não tem poder de veto.

O presidente da Suíça — que você não sabe quem é — não tem praticamente nenhum espaço nas discussões políticas e econômicas que ocorrem no país. Portanto, se você não sabe quem é o presidente da Suíça, não se preocupe; vários suíços também não sabem e ele muda a cada ano.

2) Subsidiariedade

A subsidiariedade é o princípio de resolver todos os problemas e questões em nível mais local possível. Na Suíça, a maioria dos impostos é impingida em nível municipal e cantonal. A fatia federal se limita a 20% de todos os impostos pagos. Isso faz com que a besta do governo central viva continuamente esfaimada. Os cidadãos suíços são mais engajados em torno de seus governos locais, que é quem toma as decisões de como irá gastar o dinheiro de impostos.

Consequentemente, os cantões suíços são os responsáveis pelo equilíbrio da política: os cantões conservadores são todos aqueles que estão fora das grandes cidades, como Zurique, Genebra e Berna (a capital). A população das comunidades menores rejeita a ideia de ter um governo distante e centralizado em uma capital nacional.

Como resultado — discutido abaixo —, os suíços continuamente rejeitam propostas progressistas, como a de abolir a energia nuclear e a de usufruir uma renda garantida de 2,5 mil francos suíços mensais para cada cidadão. Mais de 75% dos suíços foram contra a medida.

Ademais, os suíços podem “votar com seus pés”, mudando-se para outra cidade ou cantão caso sintam que os impostos locais estão altos.

3) Democracia direta

Na Suíça, o povo é soberano. Uma maneira como essa soberania é mantida é por meio de referendos regulares, nas quais o povo vota questões de política nacional, leis e mudanças na constituição. Tipicamente, há um grande comparecimento às urnas nestes referendos, e as pessoas levam muito a sério o controle democrático sobre o governo.

Normalmente, eis as etapas de um referendo:

a. Um projeto de lei é preparado pelos especialistas na administração federal.

b. Esse projeto de lei é apresentado para um grande número de pessoas por meio de uma pesquisa de opinião: governos cantonais, partidos políticos, ONGs, associações da sociedade civil podem comentar sobre o projeto de lei e propor mudanças.

c. O resultado é apresentado a comissões parlamentares dedicadas ao assunto nas duas câmaras do parlamento federal, é discutido em detalhes a portas fechadas e finalmente é debatido em sessões públicos em ambas as câmaras do parlamento.

d. O eleitorado possui o poder final de veto sobre o projeto de lei. Se qualquer pessoa conseguir encontrar, em três meses, 50.000 cidadãos dispostos a assinar uma petição pedindo um referendo sobre esse projeto de lei, um referendo será marcado. Para que um referendo seja aprovado, o projeto de lei precisa ser apoiado apenas pela maioria do eleitorado nacional, e não pela maioria dos cantões. É comum a Suíça fazer mais de dez referendos em um determinado ano.

Entre 1893 e 2014, apenas 22 de 192 iniciativas populares foram aprovadas pelos eleitores. A reticência com que essas iniciativas são recebidas pelos suíços indica prudência da parte dos eleitores e aversão a leis criadas centralizadamente.

E foi esse sistema de pesos e contrapesos, representado tanto pelos cantões agressivamente localistas quanto pela ferramenta da democracia direta, que tornou a Suíça particularmente resistente ao crescimento do poder do governo.

4) Livre comércio

Praticamente não há debate sobre a importância do livre comércio na Suíça. Ele é uma realidade imperativa. Trata-se de um país fortemente dependente da importação de produtos básicos: energia, comida, matéria-prima, commodities. Consequentemente, o país desenvolveu uma estratégica indústria exportadora: produtos e serviços de alto valor agregado, sempre aptos a satisfazer as mais exigentes demandas globais.

Relógios sempre foram o mais famoso exemplo. Atualmente, produtos biotecnológicos e maquinários ultramodernos compõem a pauta exportadora. O livre comércio sempre foi a condição vinculante para a prosperidade da Suíça. As tarifas de importação do país estão em zero por cento.

5) Neutralidade

Na política externa e na diplomacia, a Suíça é famosa por sua neutralidade e política externa de não-agressão. Este, aliás, é um pré-requisito para a prática do livre comércio global: criar inimigos seria totalmente contra-producente.

A Suíça possui um exército e o serviço militar é compulsório, mas é voltado exclusivamente para a defesa contra invasores externos. Guerras sempre foram a principal barreira ao progresso econômico, e a reconstrução política após uma guerra quase sempre é um desastre pior do que a própria destruição física da guerra. A Suíça conseguiu evitar tudo isso.

6) Inovação empreendedorial

A Suíça sempre ocupa as primeiras posições na lista de países com a maior facilidade para se empreender, embora sua posição tenha se deteriorado no século XXI. É fácil abrir uma empresa no país, a tributação é relativamente baixa, as leis são transparentes e o arcabouço jurídico é totalmente previsível. Várias empresas internacionais escolheram a Suíça como sede de suas matrizes.

A inovação está enraizada na cultura, no sistema educacional do país e em toda uma rede de centros de pesquisa, o que se traduz em investimentos nas pessoas e no conhecimento. Sem exageros, a inovação está na mente e na alma de praticamente todo suíço, bem como nas instituições do país.

Não é perfeito, mas é o que há

De modo algum a Suíça é perfeita; afinal, trata-se de um estado-nação, e todo conceito de estado-nação é deletério para cada vida individual das pessoas que vivem neles e que os formam. Com efeito, o próprio conceito de estado-nação clama por “inovações disruptivas”.

Talvez, quem sabe?, serão os próprios suíços, com sua tradição de descentralização, subsidiariedade, iniciativa individual, e livre comércio de idéias, que irão implantar essas inovações — isso, é claro, se eles não forem sobrepujados por instituições globalistas como União Europeia, ONU, FMI, Banco Mundial etc.

É a economia contra a política. O nosso desejo, é claro, sempre foi o de “economia por todos os lados, e a política em lugar nenhum”. Mas isso tem se comprovado impossível de ser mantido.

O fato de que houve uma época em que a economia prevaleceu na Suíça — e suas consequências benéficas perduram até hoje — serve como uma tênue esperança de que tal arranjo possa, um dia, voltar a vigorar

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

INDUSTRIA DA INDENIZAÇÃO SIONISTA


João Barcellos

“A perseguição indenizatória dos sionistas
só pode ser comparada ao holocausto
gerado contra eles mesmos…”

(OLIVEIRA, Tereza de

– in O Sionismo Contra o Estado Israelita, pal., Grupo Granja/Br., 1997)

Recordar as palavras da saudosa poeta e artista plástica galaico-brasileira Tereza de Oliveira, no que se refere à busca incontrolada de dinheiros nos bolsos da Humanidade por parte do Movimento Sionista, é recordar que todos os dias enfrentamos essa Verdade: o Sionismo alimenta-se de fraudes históricas e, com elas, abastece a Imprensa mundial (que controla parcialmente) e a Indústria Política da Indenização.

Depois do fiasco de um livro sobre a hipotética participação ativa da IBM na estratégia política anti-sionista do Nacional-Socialismo alemão, eis que, em Abril de 2001, os brasileiros obrigam-se a receber em São Paulo a bestialidade sociopata na pessoa de Edgar Bronfman, atual presidente do Congresso Mundial Judaico, que aqui reúne os simpatizantes eternos da Indústria Política da Indenização, com direito, é claro, a notas personalizadas em jornais como O Estado de S. Paulo e outros veículos amigos. Diz Bronfman que existem “novas possibilidades de indenizações aos sobreviventes do Holocausto, que foram submetidos a trabalhos forçados ou escravos” (in OESP, persona, 19.04.2001). Será que dentro de mil anos a Humanidade ainda terá de ouvir o choro ganancioso e estupidamente orquestrado pela política sionista?…

Enquando o Estado israelita massacra o Povo palestino e ocupa a terra da Palestina com apoio e financiamento dos EUA, o Movimento Sionista ataca social e politicamente na frente da Indústria Política da Indenização. Até parece o bloqueio mundial definido e executado pelos sionistas, a partir de 1933, contra a Alemanha que Hitler tinha começado a tirar da miséria econômica…!

“A obtenção do Poder
sobre a carcaça dos povos indefesos pela submissão econômica
é o que sustenta a estratégia do Movimento Sionista,
causa que deve ser combatida
energicamente pelas pessoas
conscientes da Verdade histórica em relação
à Morte que o Sionismo engendrou para si mesmo,
e no qual condena a própria etnia judaica”

(BARCELLOS, João

    1. O Holocausto Como Morte Anunciada Pelos Próprios Sionistas,

Ou As Vítimas Da Farsa, pal., Rio de Janeiro/Br., 1988)

Se por um lado impressiona a agressividade sionista em torno da demanda indenizatória, por outro, impressiona mais (pela coragem assumida publicamente) a atitude consciente, porque de autenticidade, das ainda poucas pessoas que combatem a ânsia sociopata sionista – essa bestialidade política que, repito, deve ser combatida antes que acabe com a Humanidade (no que Hitler – e reconheço que houve militarmente atrocidades que deveriam ter sido evitadas – tinha razão)!

Obviamente, os sionistas da Indústria Política da Indenização não se reúnem em cervejarias, como os nazis autênticos, sim, em luxuosos restaurantes nas grandes metrópoles. Quem paga a conta? Perguntem a Edgar Bronfman, porque do meu bolso ele não leva nada!

terça-feira, 13 de setembro de 2022

O SURGIMENTO DOS SALARIOS

 Imagine um criador de ovelhas, autônomo, em algum lugar das estepes do Cazaquistão, cem anos atrás. 

Suponha que esse criador de ovelhas não seja autossuficiente, de modo que ele precisa adquirir roupas, pães e uma variedade de outras coisas que ele pode comprar no mercado da cidade mais próxima. Ademais, suponha que a economia do Cazaquistão é desenvolvida o suficiente a ponto de utilizar moedas de ouro como dinheiro.

Quando precisa adquirir bens, esse criador de ovelhas vai ao mercado e vende algumas de suas ovelhas por, digamos, dez moedas de ouro. 

Aqui vem a pergunta crucial: podemos dizer que essas dez moedas de ouro que ele recebe pela venda de suas ovelhas representam seu salário? Não, não podemos.  

Por definição, um assalariado é alguém que não é o proprietário de nenhum meio de produção exceto seu próprio corpo e quaisquer outras habilidades excepcionais que ele porventura possua. Logo, as dez moedas de ouro não podem ser consideradas seu salário porque, para receber um salário, um indivíduo precisa antes de tudo ser o empregado de alguém. 

Esse criador de ovelhas é o seu próprio patrão e pode decidir o que fazer com sua propriedade (o rebanho de ovelhas). O dinheiro que ele recebe após vender algumas ovelhas é apenas a receita das vendas de seu produto

Se ele considera que o propósito de sua atividade produtora — criação de ovelhas — é o de lhe propiciar receitas de venda, então ele é um empreendedor. Da perspectiva dele, a receita das vendas de seu produto é um meio em potencial para sua sobrevivência — ou, alternativamente, é a sua renda.

Desta renda, se ele subtrair todos os custos incorridos na produção e no transporte do produto, ele terá o lucro.

Supondo que não há custos de produção para este criador de ovelhas, temos que toda a sua receita já é o seu lucro.

Portanto, temos que este empreendedor não aufere um salário, mas sim um lucro.

Agora, se ele decidir investir uma parte deste lucro empregando um trabalhador e pagando a ele uma quantia definida de dinheiro — em termos mensais, por exemplo —, então ele estará agora tendo novos custos empresariais.  

Esse seu investimento na forma de salários mensalmente pagos diminui regularmente a fração da receita que antes era considerada lucro — ou seja, o salário pago diminui a diferença entre a receita da venda de produtos (que continua a mesma) e os custos (que aumentam).

Observe que, quando o agricultor não está incorrendo em custos na forma de pagamentos salariais mensais, a receita total obtida com a venda de seus produtos é o seu lucro. Já quando os salários passam a ser pagos, estes advêm do lucro. 

Esta análise abstrata mostra que os lucros, e não os salários, são a forma original de renda.

O salário é uma forma de pagamento que surge apenas  quando um capitalista entra em cena. 

Surge o assalariado

Para compreender a questão mais claramente, vamos ampliar nosso exemplo inicial e supor que nosso criador de ovelhas contrata seu vizinho de nome Murat, que não é proprietário de nada, para ajudá-lo a cuidar de suas ovelhas, protegendo-as contra eventuais ataques de lobos famintos.  

Eles voluntariamente acordam que Murat receba uma moeda de ouro por mês de serviços. 

Agora, o cenário ficou totalmente diferente. Há um assalariado e um empreendedor/capitalista.

Será que podemos dizer que, nesse caso, Murat tem o direito de ser o dono de todas as ovelhas apenas porque ele cuidadosamente as protege contra o ataque de lobos? É evidente que não.  

É verdade que a produtividade marginal do rebanho aumentou desde que Murat foi contratado, mas esse fato por si só não significa que Murat tem agora o direito de reivindicar o produto marginal (ovelhas salvas dos lobos) para si próprio só porque ele foi contratado.

O que ele recebe como salário não é o produto marginal de seus serviços de vigília, mas apenas uma moeda de ouro. 

Observe o papel crucial desempenhado aqui pelo proprietário do rebanho: o salário de Murat — a moeda de ouro que ele recebe — existe unicamente porque o dono das ovelhas é sábio e prudente o bastante para poupar uma moeda de ouro de sua receita de vendas e utilizá-la para pagar Murat.

Ao empregar Murat, o criador de ovelhas espera, naturalmente, ganhar mais moedas de ouro do que ele gasta como salário de Murat. Entretanto, ainda assim, a verdade é incontestável: Murat só ganha a moeda e só contribui para uma maior produtividade marginal — o que justifica seu salário — por causa da poupança e das sábias decisões empresariais do criador de ovelhas.  

Não há aí nenhuma exploração. Não há aí nenhuma mais-valia.

Tivesse o criador de ovelhas consumido essa moeda — digamos, comprando frutas deliciosas para sua esposa —, Murat teria permanecido desempregado e em pior situação. E, como consequência, haveria menos ovelhas para os humanos consumirem.

O erro que se perpetua

No mundo primitivo, portanto, as receitas de venda representavam o lucro total. Não havia custos com terceiros a serem deduzidos das receitas.

Foi posteriormente, com o surgimento do capitalismo, que surgiram os salários dos trabalhadores, os quais são deduzidos dos lucros dos capitalistas.

Adam Smith errou sobejamente quando chamou de salários aquilo que empreendedores obtêm quando comercializam bens nas cidades. E Marx errou quando construiu toda a sua teoria tendo por base essa tese de que o ganho original de qualquer indivíduo é o salário, e que os lucros só passam a existir quando são deduzidos deste salário.  

A realidade é que um salário só passa a existir quando uma pessoa contrata uma outra, pagando-lhe regularmente uma quantia fixa. E este salário, por definição, será deduzido das receitas desta pessoa.

E isso altera toda a análise econômica.

O surgimento de assalariados ocorre somente porque existem, e continuam existindo, empreendedores/capitalistas que estão dispostos a pagar salários com recursos retirados de suas poupanças.

Empregados assalariados não têm possibilidade de auferir lucros, porém — e ainda mais importante — estão livres de prejuízos. Com efeito, os empregados têm mais chance de receber renda do que o capitalista. O fazendeiro, por exemplo, deve pagar os salários de seus empregados mesmo que tenha havido uma geada no dia anterior à colheita. Os empregados, por sua vez, estão isentos do ônus do prejuízo. Tampouco pode o fazendeiro, para sermos justos, compartilhar com eles seus lucros.  

Uma empresa farmacêutica irá vender seus produtos somente quatro ou cinco anos após a ideia inicial de se criar esses novos produtos. Nesse meio tempo, ela terá de pagar salários para centenas, talvez milhares, de pessoas. O salário é pago hoje independentemente de como serão as vendas futuras.

De maneira geral, pode-se dizer que os salários auferidos pelos trabalhadores representam uma antecipação das receitas futuras esperadas pelo capitalista com a eventual venda dos produtos finais. Para que um operário de uma fábrica possa fabricar mercadorias, o capitalista investiu uma montanha de dinheiro na fábrica. Ele investiu, digamos, $ 100 milhões (construiu a fábrica, comprou maquinários e paga os salários) para recuperar, na forma de fluxo de caixa anual, aproximadamente $ 10 milhões. Serão necessários 10 anos apenas para recuperar todo o capital adiantado. (Fora a inflação do período).

Ou seja, o capitalista abriu mão de $ 100 milhões em consumo presente para receber, anualmente, uma receita de $ 10 milhões. Tudo dando certo, daqui a uma década o principal será recuperado (e desvalorizado pela inflação).

Já os trabalhadores que este capitalista emprega não precisam esperar até que os bens sejam produzidos e realmente vendidos para receberem seus salários. O capitalista adianta um bem presente e garantido aos trabalhadores (salário) em troca da expectativa de receber um bem futuro (o retorno do investimento). 

Por tudo isso, os lucros dos capitalistas não representam uma dedução daquele valor que, segundo Marx, pertence por direito aos trabalhadores na forma de salários. Os lucros representam aquilo que o capitalista ganhou em decorrência principalmente de seu trabalho intelectual, de seu planejamento e de suas decisões. O capitalista produz um produto próprio, feito com seus investimentos e com seus bens de capital, embora utilize a ajuda de terceiros cuja mão-de-obra ele emprega com o propósito de implementar seus planos e consequentemente produzir seus produtos.

Salários são deduzidos dos lucros, e não ao contrário

Lucros (ou prejuízos), portanto, são a forma original de receita; são obtidos apenas por empreendedores. Já o salário é uma forma de pagamento que surge apenas quando um capitalista entra em cena. 

O erro compartilhado por Smith e Marx gerou a ideia de que, para obter lucros — a famosa "mais-valia" exploradora —, os capitalistas tinham de manter para si parte do salário de cada empregado. Mas a realidade é outra: a riqueza é criada por aquele indivíduo que sabe como transmitir suas visões, arriscar recursos e reconhecer oportunidades — tudo isso ao mesmo tempo em que ele cria uma renda regular para terceiros durante esse processo.

O surgimento do capitalismo, portanto, não foi o responsável nem pela dedução dos salários e nem pelo surgimento do lucro. Ele foi o responsável pela criação dos salários.  

O lucro do capitalista não ocorre à custa dos salários dos empregados. Ao contrário: os salários dos empregados são deduzidos do lucro do capitalista. 

Primeiro surgiu o lucro; só depois é que surgiu o salário. É o salário que é deduzido do lucro dos capitalistas, e não o lucro que é deduzido do salário dos trabalhadores.

Concluindo com uma provocação

No que concerne à relação entre capitalistas e assalariados, a verdade é exatamente o inverso daquilo que é alegado pela teoria da exploração. 

Os capitalistas não deduzem seus lucros dos salários dos trabalhadores; os capitalistas são os responsáveis pelo surgimento dos salários. Sendo um custo de produção, os salários são deduzidos das receitas, as quais, na ausência de capitalistas, representariam o lucro total.

Antes dos capitalistas, todos tinham de assumir por completo todo o risco de uma dada atividade. Já hoje, podemos delegar os riscos para aqueles que são mais ambiciosos e mais capacitados para atividades empreendedoras, já sabendo que, no final do mês, receberemos nossos contracheques.  

Tal arranjo é infinitamente mais produtivo e eficaz. Em última instância, é ele quem elimina a pobreza.

O que nos leva à pergunta derradeira: quem de fato "explora" quem? Os empreendedores e capitalistas exploram os trabalhadores, ou os trabalhadores basicamente vivem da inteligência, produtividade e prudência dos empreendedores e capitalistas?