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terça-feira, 29 de setembro de 2020

Liberalismo é igual a Socialismo? Confira!

O liberalismo tende a destruir os laços familiares. Troca-se tradições por competição acirrada, aprendemos isso por osmose com o capital em primeiro lugar. O capital bebe na fonte da competição e destrói os valores tradicionais.
A família sempre foi inimiga do sistema liberal, sua forma cooperativa de se sustentar provou ser um empecilho ao “Deus Dinheiro”, esse que coloca todos os seus esforços para destruir a instituição mais sagrada que temos: a família. Aprende-se que a história humana é uma história de “guerra dos sexos” declarada, com a mulher sendo a vítima da opressão masculina, sendo que, na verdade, um complementa o outro.
A mulher detém a chave do lar. Ela é o coração da família, a responsável pela educação, pela continuidade da tradição e da religiosidade. Em contrapartida, o homem é a cabeça da família, pois é seu dever a tarefa do sustento e da proteção. Ele é o patriarca, o que dará sua vida para proteger sua prole. Contudo, o papel histórico da mulher é imaterial, ela não produz o material que é valorizado pelo capital, sua função primária é empecilho produtivo. Entretanto, surge para “libertar” a mulher de sua função primária, os movimentos feministas do século XX, baseados na podridão gerada pelo capitalismo. Observando que a mulher não trabalhava materialmente, as feministas decidiram lançar a verdade liberal para as mulheres – que sejam exploradas igualmente ao homem. O homem – explorado – já não conseguia exercer seu papel patriarcal, a partir deste cenário, a competição entre os sexos no mercado de trabalho é declarada, algo que os trabalhadores comuns desconheciam completamente, pois tanto o homem como a mulher trabalhavam. As funções femininas eram estabelecidas naturalmente/ biologicamente, não produziam nada para ele, e o feminismo abraçou esse pensamento (burguês) “libertador” de que as mulheres precisavam sair de seus lares, trabalhar e ser.
Muitas vezes, exploradas, sem exercer o direito de ter tempo para criar seus filhos. Vejam bem, não há maldade maior à família quanto a de que os dois cônjuges precisem trabalhar para sobreviver. Neste momento, a família está fadada ao fracasso, não pela ação feminina de entrar no mercado de trabalho, mas porque ela se sujeitou a mesma função do homem, criando maior competitividade entre os sexos. A princípio ela não teve escolha, era isso ou a fome, uma vez que o homem não conseguia mais prover ao seu lar, passou a competir não só com outro homem, mas a competir, também, com a mulher, que exercia o mesmo trabalho que ele, e em muitas vezes, com salários inferiores ao masculino, porque o capitalismo não daria o mesmo salário a um ser que ficasse nove meses parado.
Essa liberdade da mulher custou um preço aos trabalhadores, e aos patrões deu um tesouro. Portanto, deve-se garantir a mulher o livre direito de trabalhar e não a obrigação capitalista, pelos salários cada vez mais arroxados dos trabalhadores, e a mulher é um ser pensante, sua força produtiva equipara-se a do homem, por vezes, seu trabalho é digno, então não existe razão para negá-la esse direito, apenas existe o questionamento de o porquê inseri-la. A causa é muito mas vil do que a consequência.
Existia um aspecto importante da sociedade que a família se encarregava a garantir, que a prole cumprisse um papel social. Era esperado do homem, um trabalhador digno, que sustentaria o futuro da família, e que iria se encarregar de fazer uma prole com uma mulher digna, que era esperada ser uma grande mãe. Hoje em dia, o papel social é um conceito ignorado, todas as relações sociais são fadadas ao fracasso pela liberdade e competição, um tenta se sobressair ao outro, provar sua superioridade, ou até mesmo as relações são tão líquidas que convivem com a dissimulação. E quanto aos filhos? Bem, esses são criados sem o amor e sem a noção do significado da família. Aliás, a família é a instituição em que o cooperativismo é mais importante, mas a substituição de tradições locais e culturas regionais por visões globais e cosmopolitas, levam a uma diversidade cultural gigante, mesmo dentro de um espaço pequeno, gerando conflitos irredutíveis, a antiga visão tradicional do lar entra em conflito com o correto para o liberalismo.
Não há mais disciplina no lar, pais permitem que os filhos façam o que quiserem, horas no computador, celular e nos videogames. O entretenimento dá uma falsa sensação de serenidade, um escapismo; mas não é assim que se encara a sombria realidade, se encara ela com a luta, não com o isolamento e a procrastinação. E a culpa não é das crianças, é dos cônjuges, eles que devem garantir que o filho esteja preparado para enfrentar o futuro e a dura realidade. Vive-se em um mundo onde quem começa a trabalhar mais cedo tem um futuro melhor e menos chance de desemprego. Então deve-se, sim, ensinar filhos a viver e trabalhar, e que eles terão que pagar contas, trabalhar, sofrer, para sustentar não apenas a si mesmos, mas também seus parentes idosos, suas esposas e as novas gerações. Mas o maior culpado de todos está presente no nosso cotidiano: o liberalismo.
A família é a instituição humana mais sagrada. Sua destruição completa pela modernidade é uma consequência factual. O homem e a mulher devem repensar seu papel social, suas decisões, seu futuro. O caminho certo do indivíduo segue o caminho correto da sociedade, são intrínsecos, sociedades doentes criam indivíduos doentes, e a sua cura é uma decisão individual que pode mudar a história.

Texto: Lucas Carbonera / Karoline Martins 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Cinco fatos sobre a Suécia que os social-democratas não gostam de comentar

 Quando o assunto é política econômica, a Suécia se destaca.

De um lado, esquerdistas de todo o mundo citam o país nórdico como um exemplo de que um estado grande e assistencialista funciona. E dado que várias fontes de dados (como o enorme banco de dados do FMI) mostram que a Suécia é relativamente próspera ao mesmo tempo em que possui uma pesada carga tributária, o argumento parece ser plausível.

De outro, liberais, embora críticos ao atual estado de bem-estar sueco, dizem que o país primeiro enriqueceu por meio do livre mercado, e depois, só depois, adotou um estado de bem-estar social abrangente. E, após ter adotado este modelo, seu crescimento econômico estancou.

Esse ponto está em conflito direto com a visão da esquerda, que frequentemente chega a afirmar que a Suécia é rica por causa de seu estado assistencialista, e não apesar dele.

Tal afirmação não só é um atentado à lógica econômica (a qual não combina com sentimentalismos), como também, para piorar, nunca foi comprovada via fatos e evidências.

A seguir, cinco fatos a serem apresentados sobre a Suécia.

1. A Suécia enriqueceu quando seu governo era pequeno.

Sim, até 1960, o tamanho do governo sueco — mensurado pelo volume de seus gastos em relação ao PIB — era menor até que o do governo da Suíça.

No século entre 1850 e 1950, a população dobrou e a renda real dos suecos decuplicou. A mortalidade infantil caiu de 15% para 2%, e a expectativa de vida aumentou extraordinários 28 anos. Em 1950 a Suécia já era a quarta nação mais rica do mundo, não obstante a não-existência de um estado assistencialista ou de qualquer grande controle estatal sobre os setores da economia. 

Como em qualquer outro país, o impressionante estoque de capital da Suécia foi construído por empreendedores operando em um sistema de livre mercado.

(Tudo isso foi relatado em detalhes neste livro bem como neste excelente tratado).

2. Na Suécia, a tributação das empresas é das menores do mundo. E a tributação indireta sobre os pobres é alta.

Ao contrário do que grande parte da esquerda acredita, o estado de bem-estar social sueco é custeado de uma forma relativamente brutal: jogando o fardo majoritariamente sobre os pobres e sobre a classe média.

Os suecos sabem que é impossível financiar um governo generoso tomando dos ricos e das empresas — há muito poucos deles, e a economia depende deles enormemente. Consequentemente, o governo da Suécia aufere grande parte de suas receitas por meio dos altamente regressivos impostos sobre valor agregado (o ICMS deles), a uma alíquota de 25% que incide sobre cada bem ou serviço vendido — o único imposto que ricos e pobres pagam exatamente o mesmo valor em coroas suecas.

Por outro lado, a alíquota máxima do imposto de renda de pessoa jurídica é de apenas 22% na Suécia (nos EUA é de 35%; no Brasil chega a 34%).

Mais: ao mesmo tempo em que o imposto sobre a renda decresceu, o imposto sobre o consumo aumentou na Suécia.

Os ricos da Suécia usufruem várias vantagens econômicas não oferecidas a seus compatriotas das classes mais baixas. A Suécia sempre concedeu deduções fiscais bastante generosas para custos de capital. As empresas suecas podem deduzir 50% de seus lucros para reinvesti-los no futuro, o que os torna uma reserva isenta de impostos.

As regulamentações trabalhistas são modeladas para beneficiar as grandes empresas (não há a imposição de salário mínimo, por exemplo).

3. A Suécia contrabalança seu estado assistencialista implantando políticas extremamente pró-mercado em outras áreas da economia.

O ambiente empreendedorial da Suécia é extremamente desregulamentado e o país é um dos mais abertos do mundo para o livre comércio. Você demora no máximo 6 dias para abrir um negócio e as tarifas de importação estão na casa de 1,3%, na média.

A dívida pública é baixa, o que significa que o governo não estoura o orçamento.

O país adota um sistema nacional de vouchers escolares

Não há salário mínimo estipulado pelo governo.

Há uma robusta proteção dos direitos de propriedade.

Como já dito, as alíquotas de imposto de renda para pessoa jurídica são das mais baixas do mundo.

O país está implantando um programa de privatização no sistema de saúde, no sistema previdenciário, e na educação.

O IPTU é de 0,75% do valor da propriedade até um valor máximo de 764 euros.

Não há impostos sobre a herança.

Como consequência, quando desconsideramos os gastos do governo e se analisamos fatores como livre comércio, desregulamentação, política monetária e direitos de propriedade, a Suécia é o oitavo país mais liberal do mundo segundo Fraser Institute.

4. Após a adoção do estado assistencialista na década de 1970, a taxa de crescimento caiu. E muito.

Como dito, primeiro a Suécia enriqueceu e acumulou muito capital (e tal tarefa foi auxiliada por uma continuamente austera política monetária, que fez com que a Suécia jamais conhecesse um período prolongado de alta inflação de preços).  Depois, só depois de ter enriquecido, é que o país começou a implantar seu sistema de bem-estar social no final da década de 1960.

No entanto, o consumo deste capital acumulado está erodindo a riqueza da Suécia.

Para que uma economia que faz uso maciço de políticas assistencialistas continue crescendo, sua produtividade tem de ser muito alta.  E para a produtividade ser alta, seu capital acumulado já tem de ser muito alto.  Apenas um alto grau de capital acumulado pode permitir uma alta produtividade. Ou seja, o país tem de já ser muito rico para adotar uma social-democracia duradoura. (Por isso, a social-democracia no Brasil ainda é impossível.)

Apenas um país que já enriqueceu, que já acumulou o capital necessário, e que já alcançou a produtividade suficiente pode se dar ao luxo de adotar abrangentes políticas assistencialistas.

Mas, ainda assim, tais políticas cobram um preço. Por mais alta que seja sua produtividade, não dá para continuar crescendo como antes.  Mas, é tudo uma opção dos eleitores.

5. Há uma comparação que complica a situação da Suécia.

Americanos de ascendência sueca são 39% mais produtivos, em termos per capita, do que os suecos que permaneceram na Suécia (para os finlandeses em mesma situação, este valor chega a 47%; para os dinamarqueses, 37%).  Mais: entre os americanos de origem sueca, a taxa de pobreza é menor do que a taxa de pobreza de seus conterrâneos na Suécia.

Em termos mais abrangentes, renda dos escandinavos que vivem nos EUA é de cerca de 20% acima da média americana, e a taxa de pobreza, cerca de metade da média americana.

Aparentemente, pode-se tirar os escandinavos da Escandinávia, mas não a Escandinávia dos escandinavos. Há um legado cultural que explica parte desse sucesso: uma cultura de confiança social, de relativa ausência de corrupção, e uma ética de trabalho luterana.

Por fim, um gráfico que praticamente resume tudo. Ele está no trabalho acadêmico do professor Olle Krantz intitulado "Economic Growth and Economic Policy in Sweden in the 20th Century: A Comparative Perspective".

O gráfico mostra a evolução do PIB per capita da Suécia em relação à média dos países europeus no período de 1870 a 2000.  Perceba a brusca reversão a partir de 1950 e a acentuada queda a partir de 1970.

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Difícil constatação mais explícita do que essa sobre os efeitos do estado de bem-estar sobre o enriquecimento de um país.

Vale notar também que a economia sueca chegou ao ápice em relação às suas vizinhas européias no auge da Segunda Guerra Mundial. A Suécia, sempre é bom lembrar, não participou da guerra. Nenhuma lição aqui, apenas notar que talvez não seja uma boa ideia ter suas indústrias bombardeadas.

Conclusão

A principal lição, que já deve estar abundantemente clara, é que um estado de bem-estar social é uma receita garantida para o declínio. Sim, se o país adotá-lo quando já estiver rico, ele pode durar bastante tempo; mas ainda assim cobrará um preço claro em termos de crescimento econômico e renda per capita.

O que talvez explique por que os estrategistas políticos e econômicos da Suécia passaram os últimos 25 anos tentando reverter e abolir algumas de suas políticas sociais.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

A relações entre Hitler e Franco

 A questão da relação entre o general espanhol Franco e Hitler tem sido polêmica por muitos anos. A visão “conservadora”; é que as negociações de Franco com o ditador alemão foram pragmáticas, baseadas no que era melhor para a Espanha, e que ele habilmente manteve a Espanha neutra durante a Segunda Guerra Mundial. A visão da “esquerda” é que Franco estava muito mais próximo a Hitler, o admirava muito e teria entrado na guerra ao lado de Hitler se os termos estivessem certos.

As ligações entre Franco e Hitler começaram com a eclosão da Guerra Civil Espanhola. Em julho de 1936, após a eleição de um governo de esquerda, um grupo de oficiais do exército de direita lançou um golpe. No entanto, falhou, muitos oficiais permaneceram leais à República. Os insurgentes ficaram com o controle de pouco mais de um terço da Espanha e de nenhuma das cidades industriais. A colônia da Espanha no norte do Marrocos agora se tornou crucial. As forças coloniais marroquinas eram a única força militar séria na Espanha. Comandados por Franco, foram isolados do continente, pois a pequena marinha espanhola
estava do lado do governo.

Franco imediatamente enviou um pedido urgente de ajuda com transporte aéreo a Hitler. O ditador alemão enviou aviões de transporte para transportar o exército marroquino da Espanha sobre o Estreito de Gibraltar, onde consolidou o poder no sul da Espanha e começou a marchar sobre Madri. Sem as forças marroquinas, os insurgentes teriam uma posição muito mais fraca e o golpe poderia até ter sido derrotado. Para Hitler, a decisão marcou sua primeira aventura no exterior.

Seguiram-se três anos de guerra civil sangrenta, na qual Hitler e Mussolini forneceram ajuda substancial, tanto em equipamentos quanto em soldados, a Franco. O governo eleito, ao negar ajuda da França ou da Inglaterra, tornou a única potência que os ajudaria, a União Soviética. Stalin forneceu à República grande ajuda militar, enquanto seus “conselheiros” estabeleceram muitas das características de seu governo de terror na Rússia. Mas no final, em abril de 1939, a República foi derrotada.

Por que Hitler ajudou Franco? Em parte era geopolítica; ele esperava o estabelecimento de outro regime favorável na fronteira de seu grande inimigo, a França. Mas ele também usou a Espanha como um campo de testes para as forças militares alemãs, e particularmente sua força aérea, que em 1937 bombardeou Guernica – a primeira vez que uma cidade europeia foi arrasada por um bombardeio de área.

Franco passou a estabelecer seu regime em toda a Espanha. Ele presidiu uma coalizão de forças; o exército, muitos de cujos oficiais superiores remontam ao antigo regime monarquista, à Igreja Católica e ao partido falangista. Havia tensões entre a Falange e os monarquistas, mas inicialmente a Falange estava em ascensão.

A vitória de Franco veio enquanto as tensões cresciam na Europa – a eclosão da Segunda Guerra Mundial estava a meses de distância. Nesse ponto, a Espanha e a Alemanha estavam muito próximas. As forças alemãs receberam um lugar de destaque na marcha da vitória de Franco em Madri no verão. O próprio Franco, nesse ponto, admirava muito Hitler. Ele mantinha uma fotografia do Fuhrer, junto com Mussolini e o Papa, em sua mesa. Os conselheiros alemães eram proeminentes no exército, na polícia e na imprensa. Heinrich Himmler visitou a Espanha e até mesmo se surpreendeu com a violência contra os oponentes do regime de Franco.

Em setembro de 1939 começou a Segunda Guerra Mundial. Inicialmente, a Espanha, como a Itália, permaneceu neutra. Então, em junho de 1940, veio a vitória esmagadora e inesperada de Hitler sobre a França. A Grã-Bretanha foi deixada em paz e, ao que parecia, à beira da derrota. Nesse ponto, Mussolini declarou guerra, esperando participar do golpe e lucrar com o tratado de paz. Franco teve ideias semelhantes, mas não foi tão longe. A Espanha foi declarada “não beligerante” ao invés de neutra, e Franco aproveitou a oportunidade para invadir e anexar Tânger no Marrocos, anteriormente sob controle internacional. Ele também escreveu a Hitler expressando, em termos indiretos, o desejo de se juntar à vitória do fascismo. Franco sonhava em pegar o Marrocos francês e partes da Argélia em um tratado de paz. Mas neste estágio Hitler não estava interessado; ele sabia que a Espanha, devastada pela guerra civil, poderia fornecer pouca ajuda militar e acreditava que não precisava dela.

No outono de 1940, entretanto, a situação havia mudado 180°. A força aérea de Hitler havia sido derrotada na Batalha da Grã-Bretanha, e a Grã-Bretanha estava claramente longe do fim. Houve um fator crucial aqui para a Espanha; a poderosa Marinha britânica. A Grã-Bretanha usou seus navios para bloquear portos espanhóis e limitar a quantidade de material essencial, especialmente combustível, permitida. Os Estados Unidos seguiram sua liderança ao limitar as exportações para Franco. Franco era filho de um oficial da Marinha; ele conhecia o poder da Marinha britânica e que um bloqueio total em caso de guerra poderia levar a Espanha, já em perigo, à revolta. Hitler, entretanto, agora queria Franco na guerra para que ele pudesse tomar Gibraltar.

Os dois ditadores se encontraram na fronteira entre a Espanha e a França, em outubro de 1940. Hitler instou Franco a entrar na guerra; Franco disse que sim, mas em troca exigiu território colonial francês e uma grande quantidade de suprimentos para compensar o bloqueio britânico total. Hitler precisava manter amigável o regime de Vichy na França e não queria ceder parte do império francês. Além disso, ele não estava em posição de atender às enormes demandas de Franco por suprimentos de alimentos e combustível [1]. Hitler saiu da reunião apenas com compromissos vagos e insubstanciais de Franco, e disse que, em vez de passar por tal negociação novamente, ele preferia ter três dentes arrancados.

Hitler e Eberhard von Stohrer cumprimentando Franco em Hendaye, segundos depois de ele descer do trem, por volta das 15:15, 23/10/1940. Foto: Heinrich Hoffmann / Cracóvia-Varsóvia Press Publishing/ Wikimedia Commons

Parece-me que a questão dos suprimentos era crucial; Franco sabia que precisava deles se declarasse guerra. Ele pode não ter percebido que a Alemanha também tinha suprimentos limitados de combustível ou que nos territórios conquistados por Hitler, mesmo em países ricos em agricultura como a França, a produção de alimentos já estava despencando. Outra consideração que o tornava cauteloso era que muitos monarquistas eram pró-ingleses; A Grã-Bretanha ofereceu subornos substanciais a monarquistas seniores para se oporem à entrada da Espanha na guerra [2].

Esse foi o fim de qualquer perspectiva de a Espanha ficar do lado de Hitler. No entanto, Franco não apenas apoiou a invasão da Rússia por Hitler em 1941, mas organizou milhares de voluntários para servir na frente oriental. Mas no final de 1942, com a Rússia resistindo fortemente e os Estados Unidos na guerra, estava claro que a Alemanha iria perder. Franco agora mudou, de forma caracteristicamente caranguejeira, para uma posição diplomática onde viu “duas guerras” – uma cruzada contra o comunismo russo, que ele apoiou, e a guerra da Alemanha contra as potências democráticas, onde sua neutralidade se tornou cada vez mais pró-Aliada. Mas isso era pragmatismo, não uma posição de princípios. Quando as forças anglo-americanas invadiram o norte da África francesa na “Operação Tocha”, a Espanha não ofereceu oposição e pode ter ajudado os Aliados com inteligência.

Em 1944, quando os Aliados invadiram a Europa ocupada, Franco, com coragem de tirar o fôlego, escreveu a Churchill oferecendo ajuda às potências democráticas vitoriosas na luta futura contra o comunismo. Churchill, que nos primeiros anos da guerra havia pensado em derrubar Franco, mordeu a isca e argumentou, contra muitos estadunidenses importantes, que o regime de Franco deveria ser mantido. Isso foi o que aconteceu. As fotos de Hitler e Mussolini desapareceram da mesa de Franco, e embora a controlada imprensa espanhola tenha lamentado a morte de Hitler em 1945, a Espanha se alinhou com o Ocidente durante a Guerra Fria e permaneceu sob o governo autoritário de Franco pelos próximos trinta anos. A Falange continuou sendo uma parte importante do regime até o seu fim, embora com o passar dos anos sua importância tenha diminuído.

Uma questão relacionada, que tem causado debate ao longo dos anos, é a atitude de Franco em relação ao Holocausto. Como o de Mussolini, o “fascismo” de Franco não tinha o antissemitismo como uma parte importante de sua ideologia. No entanto, durante a Guerra Civil e nos anos da ascensão de Hitler – até 1942 – Franco como Mussolini adotou uma retórica antissemita perversa para agradar aos nazistas [3]. Na prática, no entanto, os judeus que fugiam da França ocupada foram autorizados a cruzar a Espanha para os portos portugueses, embora fossem tosquiados no caminho. Franco também interveio para dar asilo aos judeus sefarditas, originários da Espanha, que viviam na Grécia e, de outra forma, teriam sido perseguidos pelos nazistas. O Falangismo via a Espanha como uma”nação” em vez de uma raça. Mesmo assim as forças de oposição sofreram os mesmos destinos na Espanha quanto nos demais regimes fascistas da época.


Fonte: Positive Articles

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Protocolo Wannsee e sua fraude

 Com a falta de documentação por parte das forças aliadas durante o pós guerra, para sustentar as suas narrativas mentirosas a respeito do Holocausto e do regime nazista, tiveram que partir para o uso de fontes secundárias que de nada tinham associação com tais acusações, até mesmo distorcendo-as e criando falsas interpretações de trechos mal traduzidos de diversos documentos, atas, cartas e pronunciamentos, junto com suposições de caráter de oficiais alemães envolvidos no alto escalão do Reich. Este é o caso com o protocolo Wannsee.

O Protocolo é declarado como uma das poucas comprovações textuais a respeito do extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Se tratando de uma reunião que ocorreu em Janeiro de 1942, com diversos oficiais e membros importantes do Reich. Quem convocou a reunião foi Reinhard Heydrich junto com o seu superior Heinrich Himmler, Heydrich ficou encarregado de solucionar a “Questão Judaica” na Europa por Göring.

A solução para o problema judaico ou como também ficou conhecida como “Solução final” dado ao uso desse termo durante a reunião, seria o genocídio em massa de judeus em campos de concentração como muitos historiadores afirmam, mas o problema com essa narrativa é que nenhum momento o Protocolo Wannsee incita ou comenta sobre tais fins ou até mesmo tais práticas, e sim, sobre um plano de evacuação (Deportação) dos judeus europeus para a o Leste europeu. A reunião também tratava de assuntos sobre o que fazer com os judeus mistos ou até mesmos judeus de segundo grau (Filhos de um judeu misto) mas somente quais deveriam ser evacuados ou não.

Heydrich (direita) impressionou Himmler (esquerda) desde o início e os dois subiram a nos altos escalões de maneira conjunta

Vale-se lembrar dos fatores que motivaram essa ação de deportação das massas judias, que começaram a a ocorrer a partir de 1941 dada a uma pressão Polonesa e Francesa para com Hitler. Outro fator foi a campanha contra a Rússia que não iria acabar tão rapidamente como tivera sido planejado, em consequências os planos de evacuação foram acelerados, surgindo assim a ordem para que Heydrich ficasse encarregado do assunto. Foi nessa época decretada uma lei que obrigava os judeus de usarem identificações, as famosas “estrelas amarelas”, apenas em 1941 anos depois que a guerra já tinha estourado, diferente de como a informação Hollywoodiana se propaga de que desde 1933 os judeus eram perseguidos e desumanizados. As identificações e medidas de migração foram consequências de um clima de guerra totalmente sufocante para a Alemanha, que a partir daquele ano começou também a enfrentar os Estados Unidos.

O que historiadores afirmam é que a linguagem do documento “PROVAVELMENTE” mascara os reais motivos genocidas que os Nazistas possuem. A “prova” que eles tem são mera especulação. O livro “Os Nazistas e a Solução Final” de Mark Roseman se trata absolutamente disso. O livro além de não provar nada apenas especula sobre motivações, possuindo diversas vezes inconsistências a respeito de figuras centrais como a de Hitler, o autor constantemente escreve sobre a “mentalidade assassina e perturbada” de Hitler insinuando que desde sempre ele quis “matar” os judeus, e se contradiz quando demonstra que as ações de Hitler eram as mais diplomáticas e pacíficas possíveis. Comenta de passagem o Kristallnacht (Noite dos Cristais) durante novembro de 1938, que foi uma manifestação popular por parte dos alemães e algumas milícias nazistas contra os estabelecimentos judaicos em resposta ao assassinato de Ernst vom Rath um diplomata alemão em paris por um judeu. O evento não teve qualquer envolvimento do governo, porém forçam em criar uma suposta ligação com o regime de Hitler, sem comprovações nenhumas, que o ato foi incentivado pelo tal. Roseman admitindo em seu livro que há zero conexão com Hitler, então, passa a culpa para outros associados como Göring e Goebbels que estariam agindo a partir do que eles acreditavam que o führer desejava. Mais informações sem a menor comprovação. De acordo com Ingrid Weckert, Hitler ficou furioso ao saber de tais ocorridos e ordenou que nenhum estabelecimento judeu deveria sofrer tais ataques.

E esta é uma das questões mais delicadas utilizada por diversos revisionistas para desmoralizar as a estória que é contada em nosso sistema educacional atualmente. Não existe qualquer ligação de Hitler com as denominadas câmaras de gás ou até mesmo os chamados campos de extermínio, mas isso não impediu os aliados de puxarem tão forte sua narrativa que as pessoas passam a acreditar mesmo que nada seja provado para elas. Surgindo somente duas opções, 1- O Holocausto aconteceu sem o conhecimento de Hitler ou 2- O Holocausto não aconteceu da maneira que contam hoje em dia. Continuando no seu livro, Rosemann implica que devemos culpar Hitler indiretamente, graças ao seus discursos e escritos extremistas, porém como visto antes, se de fato ele era tão extremista como o autor e diversos outros autores descrevem, como eles explicam as condutas diplomáticas que ele sempre apresentava? Não era somente a autopreservação de sua imagem, e sim porque é visto como extremista todos no qual se colocam contra os vencedores. Em qualquer guerra na história o lado vencedor exalta o extremismo de seus inimigos derrotados com o intuito de justificar suas ações. Isso sempre aconteceu e sempre será assim. Porém ao estudar a perspectiva dos derrotados, é capaz de muitos se surpreenderam.

Procurando na Wikipédia, a definição da Conferência de Wannsee é a seguinte: “O objetivo da reunião, […], era assegurar a cooperação dos líderes de vários departamentos do governo na implementação da solução final para a questão judaica, pela qual grande parte dos judeus das regiões europeias ocupadas pela Alemanha seriam deportados para a Polônia e eliminados”. No edifício onde ocorreu a reunião, em frente do lago Großer Wannsee a partir da villa 56–58 Am Grossen Wannsee, local da conferência, é possível que os turistas observem os facsimiles das minutas da Conferência e a lista de Eichmann. Foto: Sala da reunião da Conferência Wannsee, 2006/ Wikimedia Commons
Sobra para nós então um documento que de nada comprova a ação genocida dos Nazistas nos campos de concentração, que inclusive está presente na integra no final do livro de Roseman, porém já como o leitor necessita ler o livro inteiro primeiro, quando ler o documento já terá sofrido as desinformações presentes no livro. Já o mais entendido do assunto consegue claramente perceber as incoerências e forçação da narrativa.

O Protocolo Wannsee não se trata de uma reunião de líderes do Reich para discutirem sobre a deportação judaica que deveria ser acelerada por necessidade em consequência do avanço da guerra. Nada indica ali a construção de campos de extermínio ou mesmo um plano de genocídio de judeus. E essa é a maior pulga atrás da orelha dos acadêmicos favoráveis a história do holocausto, já que eles não possuem sequer um documento ou prova física para comprovar a sua narrativa.

Nick Clark

domingo, 20 de setembro de 2020

Manoel Vargas: Paixão Côrtes e a sua importância para a cultura gaúcha

 Quem andava pilchado antigamente (nem tão antigamente até a década de 40) era motivo de deboche até mesmo pelos próprios gaúchos. João Carlos d´Ávila Paixão Cortes que havia nascido em Santana do Livramento que se mudou para Porto Alegre e foi estudar no colégio Júlio de Castilhos e teve a ideia de resgatar a cultura e a história do seu povo.



Quando foram trazidos para Porto Alegre os restos mortais de David Canabarro, herói farroupilha, Paixão Cortes com mais sete amigos fizeram uma escolta com todos montados a cavalo e pilchados, acompanharam a urna fúnebre do Canabarro.

Em setembro de 1947 eles organizaram a Ronda Criola, um piquete de cinco cavalarianos que recolheu a chama criola e levaram até o Candeeiro Criolo que ficou acesa até o 20 de setembro, tradição que todo ano acontece.

Paixão Côrtes, compositor, folclorista, radialista e pesquisador da cultura gaúcha faleceu em 2018 aos 91 anos. Ele está eternizado na memória dos gaúchos | Foto: José Ernesto / CP Memória

O movimento contou com a participação do poeta Glauco Saraiva que juntos com outros intelectuais foram resgatando e criando contos e poesias gaúchas.

Em 1948 foi criado o CTG (Centro de Tradições Gaúchas) 35 com Glauco Saraiva sendo escolhido como o primeiro patrão. Os Centro de Tradições Gaúchas espalharam-se pelo mundo todo, hoje existe mais de 1500 entidades tradicionalistas no Rio Grande do Sul, além de entidades em todo Brasil, na Europa e no Japão. Muitos consideram como o maior movimento associativo-cultural do mundo.

Os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) são sociedades civis sem fins lucrativos, que buscam divulgar as tradições e o folclore da cultura gaúcha tal como foi codificada e registrada por folcloristas reconhecidos pelo movimento. Este da imagem é o 35 CTG de Porto Alegre. Foto: TripAdvisor

Paixão Cotes foi a inspiração para a estátua do laçador (que fica em Porto Alegre bem na frente do aeroporto Salgado Filho) e merece ser lembrado eternamente por ser ele quem resgatou a história e o imaginário popular do Rio Grande do Sul. Teixeirinha e Gildo de Freitas foram uns dos grandes cantores da música nativista, junto com Érico Veríssimo que escreveu vários romances que mostravam a forma como que o gaúcho vivia (O Tempo e o Vento é a sua obra mais famosa).

O CTG serviu de exemplo para várias culturas brasileiras, sendo que hoje existe o Centro de Tradições Nordestinas e o Centro de Tradições Mineiras reforçando as identidades locais deste nosso imenso Brasil.

A loucura liberal terá consequências inesperadas

 As revoluções nunca alcançam seus fins. Eles destroem uma civilização. O resultado é o caos no qual o poder entra e se torna a base do governo.

Ao contrário das revoluções francesa e russa, a chamada revolução americana não derrubou uma ordem estabelecida. Os revolucionários americanos simplesmente expulsaram o coletor de impostos britânico e assumiram esse papel para si próprios. A mesma sociedade e lei prevaleceram. A vida continuou como de costume. Não foi uma verdadeira revolução. O domínio britânico acabou, mas a sociedade não foi derrubada.

Hoje os EUA estão suscetíveis à revolução. O offshoring de empregos destruiu a vitalidade econômica da América. Os padrões de vida estão caindo e o número de moradores de rua está aumentando. O serviço da dívida esgota os recursos restantes. O país tornou-se racialmente diverso e dividido pela Política de Identidade.

O segmento liberal branco de esquerda é alienado e crítico da história do país, que retrata da forma mais desfavorável. O resultado é uma perda de confiança por parte da população branca original e uma crescente assertividade das pessoas de cor “oprimidas”. Os estadunidenses brancos estão sendo marginalizados, assim como seus colegas na França e na Rússia. Hoje, nos Estados Unidos, há mais fraqueza do que força nos laços que tornam uma sociedade coesa. Hoje estamos experimentando o fracasso total da enculturação das elites ocidentais na cultura ocidental. Entre as elites, a marcha do marxismo cultural pelas instituições conseguiu destruir a estrutura de crença que sustenta a sociedade.

Quando Luís XVI chamou os Estados Gerais em 1789, ele não esperava ser decapitado. Quando os liberais russos pressionaram o czar durante a Primeira Guerra Mundial por uma república constitucional, eles não entenderam que estavam destruindo a estrutura de crença na sociedade, muito menos esperavam que Lênin fosse o resultado. Sempre há consequências indesejadas. A loucura dos liberais brancos dos EUA produzirá suas próprias consequências não intencionais.


Fonte: Free West Media

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

As raizes etnicas dos gaúchos

 CHARRUAS AINDA SOBREVIVEM NO SUL

Um estudo comprava a origem do gaúcho sendo o resultado da mistura do europeu e do índio, desmentindo a historiografia luso-brasileira, de que o gaúcho é brasileiro. Foi examinado o material genético de 150 homens de Alegrete e Bagé, interior do Rio Grande do Sul, já próximo à fronteira com o Uruguai e a Argentina, onde se acredita que tenha surgido o gaúcho. E constataram que o gaúcho é produto de uma intensa miscigenação entre índios, negros e europeus, porém, com peculiaridades importantes.


Diferentemente do que se observa em regiões brasileiras, as características genéticas do gaúcho são mais semelhantes às dos espanhóis do que às dos portugueses. Mais de um fator histórico explica o que a genética registra. Durante dois séculos e meio, o que hoje é o Rio Grande do Sul pertenceu à Coroa Espanhola por determinação do Tratado de Tordesilhas, que dividiu o Novo Mundo entre Espanha e Portugal em 1494.
Área de constantes disputas entre portugas e castelhanos, essa região só seria integrada ao Brasil em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri. Outra característica dos habitantes dessa região era o nomadismo. Ou seja, se deslocavam pelos Pampas sem se confinar às demarcações políticas do território, transitando livremente entre todas as colônias do Rio da Prata.
Além do lado europeu que representa 90% dos genes dos gaúchos, não podemos esquecer da genética materna, pelo lado ameríndio, que é de 52%. Sendo maior do que a linhagem materna africana, que tem percentual apenas de 11%. Desta forma, os gaúchos são fruto sobretudo da miscigenação entre homens espanhóis com mulheres indígenas e, em menor medida, com mulheres africanas.
Ao comparar com o material genético de 5 mil grupos nativos das Américas, verificaram que a porção indígena pode ter duas origens: os guaranis, grupo original do norte da América do Sul que migrou para região do Cone Sul; e os charruas, povo que habitou parte do Rio Grande do Sul e do Uruguai.
Enquanto os charruas não se deixaram subjugar pelos colonizadores, e sendo quase todos exterminados por causa disso, os guaranis buscaram uma conciliação com os colonizadores espanhóis. Sobretudo nas Missões de Jesuítas, onde toda a tribo se converteria ao cristianismo, uma vez que a figura do padre espanhol substituía a do xamã na liturgia guarani, podendo ter sua autonomia enquanto povo livre de forma intacta. Surgindo assim uma nação guarani nas missões orientais, entre as colônias do Rio Grande de São Pedro (Rio Grande do Sul), a leste do Rio Uruguai e abrangendo regiões da Argentina até o Paraguai.
Embora tenham sido extintos no Uruguai, foi recuperado material genético do último grande chefe charrua, Vaimacá Perú, confirmando, de acordo com os pesquisadores, que nem mesmos os genes e a herança cultural dos charruas foram apagadas. Tendo sido deles que o gaúcho herdou a destreza para lidar com cavalos e boleadeiras, usadas para encilhar o gado e os animais no campo.
Mas a trajetória deste grupo étnico não acabou ali, pois parte da etnia conseguiu cruzar a fronteira com a República Rio-grandense e se instalar na região das Missões, no noroeste gaúcho. No fim da década de 1960, o conjunto indígena chegou a Porto Alegre, onde se fixou em moradias precárias na região pobre do Morro da Cruz. Permaneceu no local durante 40 anos, apesar dos frequentes tiroteios associados a disputas do tráfico de drogas. Depois, foram transferidos provisoriamente pelo poder municipal para um galpão da prefeitura e, mais tarde para uma reserva indígena municipal, nascendo ali a aldeia Polidoro, onde vivem hoje nove famílias.
Em 2007, essa narrativa também teve um recomeço, com a reconstrução oficial da história dos charrua. Na genealogia do grupo, o arqueólogo Sérgio Leite relata a surpresa que teve ao ser apresentado por Acuab - primeira mulher cacica-geral do povo charrua em solo rio-grandense e a principal liderança da aldeia Polidoro - a um conjunto de peças (três pedaços de rocha e duas boleadeiras) que só poderia pertencer aos charrua. O laudo dele abriu caminho para o reconhecimento do grupo pela Fundação Nacional do Índio (Funai). No entanto, umas das principais heranças culturais charruas, a língua, acabou se perdendo ao longo do tempo.
Autor: Guilherme Fernandes

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Schmitt, Soberania e o Estado Profundo

 Em Teologia Política, seu pequeno livro sobre o conceito de soberania, Carl Schmitt afirma que “Soberano é aquele que decide sobre o Estado de Exceção” [1]. Soberania significa autoridade política suprema, por oposição à sujeição política. Em uma sociedade, o soberano é o governante, por oposição ao governado. Uma nação soberana se governa, por oposição a ser governada por outros.

Para Schmitt, a lei e a burocracia podem lidar com a vida normal e cotidiana. Mas, como Aristóteles apontou, generalizações sobre assuntos humanos são pertinentes apenas “na maioria dos casos”. Além das circunstâncias normais, existem circunstâncias excepcionais, nas quais funcionários não podem simplesmente aplicar as leis existentes.

Portanto o poder supremo não pode se basear em leis que são administradas por burocracias. O poder supremo repousa na pessoa que decide o que fazer em casos excepcionais, quando as codificações da experiência passada não são suficientes para nos guiar.

O conceito de soberania de Schmitt é aparentemente simples, mas quando refletimos sobre ele, as implicações para o projeto liberal são devastadoras.

Uma das principais palavras de ordem do liberalismo é “governo por leis, não por homens”, significando que a soberania em última instância reside nas leis, e não em homens enquanto indivíduos. A atratibilidade de um governo por leis pode ser medida ao imaginar uma utopia em que não existem leis, apenas um sábio e benevolente juiz que olha para as circunstâncias únicas de cada disputa e intui a decisão justa.

Ernst Jünger e Carl Schmitt no Lac de Rambouillet (1941). Carl Schmitt (1888 – 1985) foi um jurista alemão, filósofo da política e religião, teórico político e professor de direito. Schmitt renunciou ao cargo de Líder do Grupo Profissional do Reich, embora tenha mantido o cargo de professor em Berlim e o cargo de Conselho de Estado da Prússia. Em 1945,  capturado pelas forças norte-americanas; depois de passar mais de um ano em um campo de internamento, voltou para sua cidade natal, Plettenberg. Schmitt recusou todas as tentativas de desnazificação, o que o barrou de cargos na academia. Apesar de estar isolado da comunidade acadêmica e política, continuou seus estudos especialmente de direito internacional a partir da década de 1950 e recebeu um fluxo interminável de visitantes, tanto colegas quanto jovens intelectuais, até a velhice. Entre esses visitantes, destacam-se Ernst Jünger, Jacob Taubes e Alexandre Kojève.

Existem dois problemas básicos com essa utopia.

Em primeiro lugar, não existe garantia de que o juiz será sempre sábio e benevolente, e se ele falhar em promover a justiça, então nós precisaríamos de uma maneira de remediar a situação. Essa remediação não pode consistir simplesmente em um outro homem que é colocado no poder para arrumar o problema, porque, e se ele se tornar corrupto ou caprichoso? Obviamente, não podemos deixar decisões nas mãos de homens. É necessário haver princípios para avaliar decisões e regras para revê-las e corrigi-las, o que significa: assentar a soberania em princípios gerais ou leis.

Em segundo lugar, se cada disputa é tratada como uma situação única com um resultado único, isso torna a vida bem imprevisível. Mas a imprevisibilidade mina a cooperação social, ordem e progresso. Grandes empreendimentos comerciais, por exemplo, envolvem tremendos riscos financeiros. Mas as pessoas vão evitar assumir tais riscos se não existe uma estrutura legal concreta que os permita prever os prováveis resultados de certos conflitos. Portanto, nós precisamos de um código de leis gerais. E já que muitos conflitos são basicamente os mesmos, não existe dano algum em possuir regras gerais para os julgar.

O sonho liberal é garantir que todos sejam tratados justamente ao submeter todas decisões humanas a regras. Essas regras podem ser aplicadas de acordo com outras regras. Decisores individuais podem não apenas seguir regras, eles podem ser escolhidos de acordo com outras regras, e suas posições podem ser baseadas em qualificações objetivas, isso é, títulos educacionais e certificações profissionais. O objetivo é uma sociedade na qual a justiça é produzida por uma máquina bem lubrificada e governada por leis, livre de preconceitos humanos, arbitrariedade e corrupção.

Para garantir que a máquina funcione, ela deve ter embutidos mecanismos auto-monitoradores e auto-corretores. Ela não precisa depender de virtudes morais ou intelectuais de seus funcionários se ela pode observar todas as suas ações, conferir duas vezes todas suas decisões e recompensar ou punir eles de acordo com elas. Tal como os sacramentos católicos podem ser ministrados por um padre corrupto, a justiça pode ser produzida por burocratas entediados, cínicos e indiferentes contanto que a máquina funcione de acordo com suas regras.

SAIBA MAIS

Em suma:

O liberalismo deseja fazer a soberania repousar na lei, não nos homens, sendo que a lei máxima é a Constituição, a qual é o modelo de uma vasta máquina de gerar justiça-e-equidade.

O liberalismo acredita que a decisão humana é uma força corruptora no governo, e dessa forma as decisões precisam ser eliminadas onde possível e sujeitas a leis onde forem inevitáveis. O governo ideal é uma máquina, como o modelo mecânico de Universo de Newton, que não exige nenhum recurso à intervenção divina. Decisões no governo são como milagres na natureza: fantasmas “arbitrários” que devem ser exorcizados das máquinas.

O liberalismo acredita que a soberania pode ser dividida, isso é, que o maquinário do governo pode se auto-diagnosticar e se auto-corrigir. Isso inclui noções como revisão judicial e auditorias burocráticas, mas no mais alto nível constitucional isso corresponde à ideia de separação de poderes, que se contrapõe e contrabalanceiam.

O liberalismo acredita que se o governo é suficientemente governado por leis e autocorretivo, ele não precisa depender de uma virtude moral humana extraordinária. Homens honestos, sábios e desinteressados são raros, mas todas pessoas desejam gozar prazeres e evitar a dor. Portanto a mais estável fundação da ordem política são a ganância e o medo. Fornecer de forma otimizada tais prêmios e punições requer vigilância extensiva e controle através de auditorias, de forma que ninguém fica sem receber nada.

Da mesma forma que o inferno é um instrumento do amor divino, o moderno estado burocrático de vigilância é um instrumento da equidade liberal.

A fraqueza do modelo liberal é que as decisões humanas só podem ser reguladas por leis gerais quando lidam com circunstâncias normais, isso é, com circunstâncias previstas por legisladores e que dessa forma são contempladas por suas leis. Mas, e as circunstâncias excepcionais que não são contempladas por leis, circunstâncias que não foram previstas e que não tiveram medidas preparadas para si antecipadamente? Essas reclamam decisões. Agora, no caso de um juiz ou de um burocrata, essas decisões podem ser sujeitas a revisões de uma instância mais alta, a qual pode ser ela mesma governada por leis.

Mas o que acontece quando chegamos ao próprio topo da hierarquia legal, a própria Constituição? O que acontece quando a ordem constitucional se depara com uma situação que não foi antecipada pelos fundadores e que não pode ser subsidiada às suas leis? Então a preservação da ordem constitucional depende da decisão humana, ao invés de uma decisão dependente da ordem constitucional. Decisões podem ser guiadas pela Constituição somente em circunstâncias previstas pelos fundadores. Em situações excepcionais, decisões precisam ser guiadas por algo maior.

A soberania reside então nas mãos de homens que decidem em circunstâncias excepcionais.

Especificamente, eles decidem quando circunstâncias excepcionais têm lugar e o que fazer sobre elas. Nesse ponto, a única coisa que o sistema legal pode fazer é especificar quem tem poder para tomar tais decisões.

Se a soberania em última instância repousa em homens – e não em leis – isso é verdade mesmo em sistemas liberais que oficialmente negam tal coisa. Sociedades liberais são simplesmente governadas por soberanos secretos, homens que exercem decisão enquanto se escondem por trás de leis. Na sociedade liberal, existem dois tipos de soberanos secretos.

Em primeiro lugar, temos os fundadores, os artífices da ordem constitucional que decidiram qual seriam as leis fundamentais. As leis são em última análise criadas por decisões. Portanto, aqueles que decidem que as decisões devem sempre ser governadas por leis estão simplesmente abandonando sua própria liberdade e responsabilidade e escolhendo ser governados pelas livres decisões daqueles que vieram antes de si mesmos. Da mesma forma que o modelo deísta do universo depende da sabedoria divina para forjar suas leis e colocar a máquina em funcionamento, liberais dependem da sabedoria humana dos Fundadores que criaram a constituição.

Em segundo lugar, já que os fundadores de um sistema liberal não podem antecipar cada circunstância excepcional, a soberania deve ser exercida nos dias atuais também. De fato, algumas sociedades liberais criam medidas constitucionais fornecendo poder ditatorial ilimitado para um indivíduo em situações emergenciais, por exemplo, o artigo 48 da Constituição de Weimar, que Adolf Hitler invocou para tomar o poder ditatorial.

Mas se uma sociedade não cria medidas legais para decisões soberanas em situações emergenciais, tais decisões ainda precisam ser feitas. Dessa forma, elas serão feitas por fora da estrutura do Estado oficial. Tais decisões precisam ser feitas por importantes figuras políticas, mas não a partir de suas capacidades oficiais, que não permitem tais decisões.

Isso, é claro, é o que se entende através da ideia de “Estado profundo”, a qual, de maneira bem interessante, é uma contribuição turca para o discurso político contemporâneo. A ideia turca de um Estado profundo (“derin devlet”) se refere à rede concentrada em torno dos serviços militares e de segurança, mas que se espraia através da burocracia e do judiciário e que possui intersecções com o crime organizado. O Estado profundo trabalha para manter a Turquia como uma sociedade secular e nacionalista, trabalhando primariamente contra islamistas, radicais de esquerda e separatistas curdos. (O Estado profundo turco parece possuir intersecções com a comunidade cripto-judia Dönmeh).

Um Estado profundo similar viu a luz do dia no Egito, quando o Supremo Conselho das Forças Armadas, em resposta à Revolução Egípcia de 2011, removeu o Presidente Hosni Mubarak do poder. O Conselho então convocou eleições, cedeu o poder ao vencedor, Mohamed Morsi, e então se dissolveu em Junho de 2012. Em Julho de 2013, quando Morsi se provou incapaz de governar, foi removido em um golpe militar liderado pelo membro do Conselho Abdel Fattah el-Sisi, que é agora Presidente do Egito. Depois do golpe, o Conselho foi oficialmente reativado, apesar de seus membros terem certamente estado em contato próximo e constante entre si durante o hiato oficial, particularmente na preparação do golpe.

O conceito de um Estado profundo se sobrepõe a noções como um sistema, burocracia permanente, agências secretas, “lobbies”, quartos cheios de fumaça, “partidos internos” políticos, ONGs, “Quangos” e até mesmo sociedades secretas, todos elementos que moldam a política e negociam entre grupos de interesse, o que é apenas a política comum.

Mas, em termos schmittianos, isso não tem nada a ver com a soberania, que é aquilo que vem à luz quando a política ordinária entra em pane. E nos casos da Turquia e do Egito, quando o sistema político foi paralisado pela crise, o Estado profundo centrado nas forças militares interveio para preservar uma ordem política nacionalista e secular.

Já que os nacionalistas brancos buscam criar o próximo sistema político, e já que estamos contando que o presente sistema irá entrar em colapso sob o peso de choques externos e da corrupção interna, compete a nós entender onde a soberania reside no presente sistema. Se, por exemplo, os Estados Unidos entrassem em uma crise constitucional, quem exerceria o poder soberano para preservar o sistema? Onde reside o Estado profundo americano? Ou, melhor: onde ele emergiria? Qual é a última linha de defesa do sistema? Quem mataria e morreria para preservá-lo?

A judiaria organizada é a força mais poderosa nos Estados Unidos hoje. Em termos da política ordinária, os judeus conseguem o que querem em tudo que lhes diz respeito. Mas, apesar de ser certo que a judiaria organizada teria intersecções com um Estado profundo estadunidense soberano, se os Estados Unidos enfrentassem uma severa crise constitucional, eu não acho que os judeus se apresentariam para exercer as funções soberanas de tomada de decisão necessárias para preservar o sistema. Eles certamente tentariam afastar uma crise o máximo possível, para preservar sua riqueza e poder. Então eles tentariam explorar a crise em tudo que ela pode valer. Mas, em última instância, eu não acho que eles iriam arriscar seu próprio sangue e riquezas para preservar o sistema estadunidense, pela simples razão de que os judeus hoje não mostram nenhum sinal de se importar com a vitalidade dos Estados Unidos no longo prazo. Não é o país deles, eles agem em conformidade com isso. Eles estão apenas usando-o, e até o final. Eles não estão zelando por ele para as gerações futuras. Dessa maneira, eles não vão assumir a responsabilidade por sua preservação. Em uma crise real, eu acho que seu instinto mais profundo seria simplesmente levantar acampamento para climas mais amigáveis.

Emergiria o Estado profundo estadunidense em meio aos militares? Os militares são atualmente o ramo do governo que os estadunidenses têm em mais alta estima. Mas uma crise fatal poderia incluir um catastrófico fracasso militar. Ela pode envolver um impasse entre os militares e outras instituições que pode ser resolvido unicamente por partidos externos. Ela pode também envolver os militares massacrando civis. Nesse caso, os militares gozariam de uma estima muito baixa, e todo Bonapartismo estaria fora de questão.

Sociedades liberais podem ser especialmente frágeis quando encaram crises sistêmicas porque o liberalismo corrói a virtude e a excelência. O pensamento político moderno prometeu estabilidade ao basear a ordem política na generalização de vícios – covardia e ganância – ao invés de virtudes raras como moderação, coragem, sabedoria, justiça e honra. Mas quando a máquina liberal entra em parafuso – quando ela não pode mais fornecer recompensas e punições – quando ela depende das decisões de um soberano para a sua salvação, então a própria existência do liberalismo requer a virtude que ele negligencia, quando não abertamente desdenha e desencoraja.

Se você quer ver verdadeiro terror nos olhos de um estadunidense, simplesmente proponha uma nova convenção constitucional. A maioria dos estadunidenses nunca confiaria aos seus contemporâneos o forjar de um novo sistema porque eles acreditam, corretamente, que eles não são apenas tolos e ignorantes, mas também abertamente viciosos.

Onde quer que a soberania fosse residir em última instância em uma crise sistêmica – de onde quer que um Estado profundo emergisse, o que separa um verdadeiro nacionalista branco de um mero reacionário com consciência racial é o reconhecimento de que os guardiães finais do sistema são nossos piores inimigos.


Fonte: Counter Currents Publishing

Ph.D. em Filosofia