Até o começo da década de 80, nenhum brasileiro, por mais esquerdista que fosse, ignorava que havia uma revolução comunista em curso no Brasil, que essa revolução sempre tivera respaldo estratégico e financeiro de Cuba e da URSS, que ela havia atravessado maus bocados em 1964 e tentara se rearticular mediante as guerrilhas, sendo novamente derrotada.
Mesmo o mais hipócrita dos comunistas, discursando em favor da "democracia", sabia perfeitamente a nuance discretamente subentendida nessa palavra, isto é, sabia que não lutava por democracia nenhuma, mas pelo comunismo cubano e soviético, segundo as diretrizes da Conferência Tricontinental de Havana.
Passada uma geração tudo isso se apagou.
A juventude, hoje, acredita piamente que não havia revolução comunista nenhuma, que o governo João Goulart era apenas um governo normal eleito constitucionalmente, que os terroristas da década de 70 eram patriotas brasileiros lutando pela liberdade e pela democracia.
No Brasil, a multidão não tem memória própria.
Sua vida é muito descontínua, cortada por súbitas mutações modernizadoras, não compensadas por nenhum daqueles fatores de continuidade que preservam a identidade histórica, melhor conhecida e cultivada no meio militar.
Não há cultura doméstica, tradições nacionais, símbolos de continuidade familiar.
A memória coletiva está inteiramente a mercê de duas forças estranhas: a mídia e o sistema nacional de ensino.
Quem dominar esses dois canais mudará o passado, falseará o presente e colocará o povo no rumo de um futuro fictício.
Olavo de Carvalho - Filósofo e Cientista Político
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