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segunda-feira, 6 de junho de 2016

Resenha do livro “The Organizational Weapon: A Study of Bolshevik Strategy and Tactics”

Por Hebert Blumer [*]
51pUKMOyfuL._SX331_BO1,204,203,200_Este livro é uma obra de primordial importância. O professor universitário Selznick executou excelentemente sua tarefa de delinear as estratégias e táticas utilizadas pelos comunistas em sua missão revolucionária habitual. Ademais, este trabalho renderá ao leitor perspicaz uma compreensão muito clara a respeito da estrutura fundamental da sociedade moderna. Pois, ao retratar as maneiras por meio das quais os comunistas procuram ganhar controle sobre grupos e organizações cruciais, Selznick ressalta, semelhantemente ao que ocorre quando se aplica corante a um tecido vivo, as linhas básicas de controle na sociedade moderna. Nesse importante sentido, o livro acaba sendo uma análise muito mais penetrante na organização da vida moderna do que tudo que está contido nos inúmeros estudos, baseados tanto em teorias quanto em investigações, atualmente feitos por sociólogos no campo da organização social.
A descrição das estratégias e táticas bolcheviques feita pelo professor Selznick teve como base uma análise cuidadosa de escritos leninistas e stalinistas, comentários feitos por terceiros, registros de investigações e audiências que tratam das atividades comunistas e, aparentemente, um considerável acervo de materiais protegidos pelo governo federal. Ele se mostra incrivelmente à vontade com esses materiais, ao ser capaz de reconhecer o que há de essencial em meio ao vasto volume de materiais sobre o procedimento comunista, ao entender suas implicações e ao compreender suas inter-relações.
Um resumo dos pontos principais de sua análise pode ser apresentado, embora em detrimento da riqueza de se adentrar profundamente a questão. O objetivo dos comunistas, demonstra Selznick, não é tanto doutrinar as massas de pessoas com uma ideologia ou tomar o controle do governo no estilo revolucionário tradicional, mas, em vez disso, buscar a conquista das unidades funcionais estratégicas em uma sociedade – grupos como sindicatos, organizações de veteranos, grupos de jovens, desempregados, na verdade, qualquer grupo que ofereça uma base para operações expansionistas. Portanto o esforço dos comunistas tem como prioridade número um a procura por pontos de apoio iniciais em grupos e instituições que possam oferecer, por sua vez, meios de se moverem, progressivamente, em direção à usurpação cada vez maior do poder, até que o controle do aparato social de uma coletividade esteja garantido. O ponto de partida para que seja empregada essa forma de trabalho é a criação do partido comunista – um “partido de combate”, que consiste em uma elite de agentes de confiança completamente doutrinados, habilmente treinados e rigidamente disciplinados. A integridade do partido de combate é desenvolvida e preservada pelo isolamento psicológico de seus membros e pela proibição rígida de disputas internas a respeito de metas ou objetivos. Isso fornece uma membresia confiável e fortemente unida,que pode ser mobilizada, manipulada, posicionada e dirigida conforme seja necessário à política e à estratégia empregadas pelo líder que esteja na direção.
O partido de combate é o instrumento empregado para utilizar a energia potencial encontrada nas massas e dirigi-la aos objetivos do partido. A massa é concebida não como um agregado amorfo e difuso, mas como um conjunto de grupos e organizações especializados que estão vantajosamente posicionados e que são, ou podem ser, fontes de poder. Tais grupos e instituições tornaram-se os alvos para os esforços que os comunistas empregam na busca pelo poder. Existem quatro princípios ou demandas pelos quais o partido de combate é guiado nessa persistente busca pelo poder: (1) desenvolver meios de abordar seus grupos-alvo; (2) neutralizar elites concorrentes que possam estar se esforçando para controlar esses grupos-alvo; (3) legitimar quaisquer posições de poder que sejam conquistadas, de modo que tais posições de poder sejam reconhecidas e aceitas pelas pessoas como autoridades sancionadas; e (4) mobilizar os grupos capturados, de forma que possam ser postos em movimento em conformidade com as diretrizes desejadas pelo partido. O professor Selznick analisa de forma eficaz (a) o conjunto de estratégia desenvolvido pelos comunistas em relação a essas quatro demandas e (b) muitas das táticas operacionais utilizadas para implementar tais estratégias. Apenas algumas das estratégias precisam ser mencionadas aqui: a formação, nos grupos-alvo, de equipes clandestinamente treinadas[1];seus esforços mútuos para ganhar cargos decisórios; o descrédito de funcionários e grupos internos que estejam em seu caminho; a prontidão para cumprir rigorosamente as metas nas organizações-alvo como um meio de mover-se em direção ao poder; a participação em frentes unidas, fazendo exigências impossíveis e, depois, jogando em outros grupos a responsabilidade pela quebra da frente unida; o ato de levar a atividade conspiratória não só aos bastidores dos órgãos públicos, como também para além de seus muros. Em geral, como mostra o professor Selznick, a busca pelo poder por parte dos comunistas é marcada pela alta adaptabilidade e rapidez nas táticas. Em última instância, os comunistas procuram desenvolver, progressivamente, uma rede fluida de poder e controle dentro de grupos e instituições estabelecidos, e, desse modo, no momento propício, encontrar-se-ão em posição de deslocar a autoridade constitucional em uma dada sociedade.
Com base na sua profunda análise sobre tais estratégias e táticas, o professor Selznick apresenta um capítulo final intitulado “Problems of Counteroffense” (“Problemas da Contraofensiva”), no qual, sabiamente, comprova que a estratégia passo a passo dos comunistas fornece os mesmos itens de conhecimento que podem ser utilizados para bloquear e anular o esforço comunista. A forma como ele trata esse assunto revela, claramente, a estupidez dos esforços gerais hoje em voga na repressão do comunismo em âmbito nacional, particularmente as táticas, amplamente usadas, de minar e desacreditar os sujeitos que são exatamente os arquirrivais dos comunistas na luta pelo controle de grupos e instituições.
Para voltar a um pensamento expresso por este resenhista no parágrafo inicial, esta ponderada e penetrante análise da estratégia comunista de conquista do poder revela precisamente coisas muito importantes sobre a estrutura do nosso tipo moderno de sociedade – tais como os centros estratégicos de poder, o fato de se mudar o foco da liderança para a membresia, as formas fundamentais de funcionamento interno das instituições e organizações, a coordenação e manipulação de pessoas, as atividades conspiratórias encobertas sob a fachada de organizações notáveis e a captação e utilização de poder. Na verdade, é precisamente na identificação dos procedimentos por meio dos quais a organização é formada e por meio dos quais as unidades sociais operacionais são controladas que a estrutura de funcionamento da nossa sociedade moderna é descoberta. Esse tipo de enfoque, é de se notar, é bastante diferente do estabelecido pela discussão sociológica convencional sobre organização social. O professor Selznick tem procurado traçar um panorama geral da situação em suas discussões, especialmente no capítulo intitulado “Vulnerability of Institutional Targets” (“Vulnerabilidade de Alvos Institucionais”). O tratamento que ele dá à natureza da “sociedade de massas” parece a este resenhista ser, de longe, o melhor na literatura disponível. Ele certamente merece ser estudado em seus pormenores por sociólogos.
A discussão ora apresentada aponta para a fraqueza número um da análise extraordinariamente bem feita que o professor Selznick fez, qual seja a ausência de uma maior atenção aos muitos casos em que as estratégias e táticas comunistas provaram ser ineficazes. Esse é exatamente o exemplo do que significa organização recalcitrante. Esses casos tornam-se as pistas para a exumação da organização sólida de uma sociedade em funcionamento. É de se esperar que o professor Selznick prossiga nos seus estudos sobre tais assuntos, pois eles oferecem o que seja, talvez, a linha mais frutífera de desenvolvimento de uma análise realista e significativa de organização social.
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Tradução: Gleice Queiroz
Revisão: Rodrigo Carmo
[1] Equivale às células de base, aos núcleos de base ou às organizações de base previstas nos estatutos partidários da extrema esquerda. Para melhor compreensão da composição, finalidade e funcionamento da organização de base, recomenda-se a leitura dos artigos 34 – 37 do estatuto do PCdoB, bem como do artigo “Organizações de Base: os alicerces do PCdoB”.

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