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sábado, 30 de março de 2019

A sinfonia olavética da destruição

“Você pega um homem mortal
E o coloca no comando
Veja-o se tornar um Deus
Veja a cabeça das pessoas rolar
Rolar
Rolar” (Megadeth- Symphony of Destruction)
No ano de 1992, o Megadeth lançou o álbum “Countdown to Extinction”, um dos maiores clássicos da história do Heavy Metal. Entre as canções, está aquela que viria a se tornar a sua canção mais famosa: “Symphony of Destruction” ou, na versão traduzida, “Sinfonia da Destruição”. É uma música que fala sobre como o poder pode corromper um homem. Em resumo, a história de um homem que ascende ao poder e, chegando lá, passa a controlar todos à sua volta.
“Symphony of Destruction” é o perfeito retrato do olavismo. E isso não é algo recente: há mais de 10 anos Olavo de Carvalho vem fomentando a criação de uma seita (embora ele frequentemente negue, o olavismo é uma seita) cujos alunos o tratam como se ele fosse a representação de Deus na Terra. Toda e qualquer declaração dele é considerada correta e caso você cometa o “crime” de questioná-lo, você sofre ataques, que podem ser simples xingamentos ou até mesmo sérias tentativas de assassinato de reputação através de informações falsas para desmoralizar opositores. Casos desse tipo aconteceram às pencas em anos anteriores e agora vêm se intensificando com o governo Bolsonaro.
Governo esse que tornou-se o cabide para que Olavo e seus asseclas, entre eles Filipe Garcia Martins, pudessem colocar em prática o seu plano sinfônico de destruição, minando a credibilidade de instituições democráticas, demonizando a imprensa tradicional e incentivando o “povo” (entenda-se militância bolsonarista) a começar uma Revolução, mas não uma revolução como a Gloriosa inglesa: a revolução que o olavismo almeja é uma revolução aos moldes da francesa e da russa, ou seja, uma revolução que mude toda a ordem social vigente no país para a construção de um “Brasil melhor”. E, considerando o fato de que as revoluções francesa e russa foram sanguinárias, com mortes de opositores e até mesmo de aliados pelos membros do “regime”, já se pode imaginar o que virá no futuro caso o plano se concretize.
“Agindo feito um robô
Seu cérebro de metal se corrói
Você tenta tomar o pulso dele
Antes que a cabeça exploda
Exploda”
Uma das facetas do olavismo é o fanatismo religioso de seus alunos. O que costuma acontecer no meio olavista é a perda do pensamento próprio em prol do “interesse coletivo”. Não é incomum ver dissidentes que ousem pensar com o próprio cérebro, questionando determinados atos de Olavo, serem escorraçados pela turba.
Esse fenômeno olavista assemelha-se com o toque de Midas, só que no sentido inverso: quase tudo que o olavismo toca se torna podre, como um metal corroído. Observemos o estado em que o Ministério da Educação se encontra: lotado de olavistas, o MEC encontra-se em situação deplorável, com nenhum plano educacional definido, polêmicas como a “carta do MEC”, além da falta de um ministro que saiba gerir. Ricardo Vélez-Rodrigues é um grande escritor, que já nos brindou com ótimos livros, mas que se mostra claramente perdido no cargo e incapaz de gerir um ministério. Lamentavelmente, Ricardo teve a reputação manchada pela máquina olavista.
“A terra começa a ressoar
As potências mundiais sucumbem
Agradecendo aos céus
Um homem pacífico permanece de pé
De pé”
O movimento olavista busca trazer o caos e o rompimento da ordem social vigente, pois através da “terra arrasada” será possível construir uma nova ordem, alinhada com os ideais olavéticos.
Por isso presenciamos, cada vez mais, pedidos para que o presidente Bolsonaro assuma poderes ditatoriais, como o fechamento do Congresso e do STF, a cassação da concessão de emissoras como a Rede Globo, além dos clamores de que ele tem de ouvir “as vozes do povo” (sempre no sentido mais vago e genérico do termo).
O objetivo é fazer com que Bolsonaro não tenha opção senão dar um autogolpe (aos moldes de Alberto Fujimori no Peru) e comandar o país com mão de ferro. Mas, para que isso ocorra, é crucial o papel das Forças Armadas no processo de autogolpe – o que pode explicar o porquê de Olavo e seus asseclas atacarem constantemente a ala militar do governo, especialmente o General Mourão, visto como uma ameaça aos planos autocráticos da seita.
“Assim como o Flautista de Hamelin
Conduzia os ratos pelas ruas
Nós dançamos como marionetes
Balançando para a Sinfonia
Da Destruição”
O Flautista de Hamelin é uma das histórias que mostram como o fascínio por algo pode nos levar a perdição. No conto, o Flautista utilizou a sua flauta para expulsar os ratos da cidade alemã de Hamelin. Revoltado pelo fato de a cidade não lhe ter pago pelos seus serviços, ele resolve se vingar retornando à cidade, semanas depois, e utilizando a sua flauta para enfeitiçar as crianças da cidade, levando-as para uma caverna, onde foram trancadas. E a cidade nunca mais viu uma criança.
O fascínio de muitas pessoas pelas ideias (ou pela pessoa) de Olavo de Carvalho traz o mesmo efeito do Flautista de Hamelin. Assim como o Flautista, Olavo foi rejeitado e escorraçado pelo establishment midiático, tendo que construir sua reputação através de meios alternativos como a internet. Foi através dela que ele construiu uma legião de seguidores fiéis, dispostos a fazer qualquer tipo de absurdo para satisfazer o “mestre”.
Isso nos leva a uma escalada perigosa para o caos no Brasil: influenciados pelas palavras de Olavo, seguidores buscam o enfraquecimento dos valores que fizeram com que o Brasil conseguisse construir uma democracia. Atacam a imprensa (criticar é uma coisa, demonizar é outra), tentam vender a ideia de que o Congresso é o inimigo do povo brasileiro (“esquecendo-se” do fato de que o mesmo povo brasileiro elegeu os representantes do Congresso) e sonham com o dia em que o STF for fechado.
A imprensa, o Congresso e o STF não são perfeitos, longe disso até. Os três possuem seríssimas falhas, tanto de conduta quanto de conceito. Mas são imprescindíveis em uma democracia. E, sem eles, as consequências serão terríveis. O fenômeno olavista enfeitiçou uma parcela da direita brasileira. Caso o ritmo atual seja mantido, o olavismo nos conduzirá como as crianças de Hamelin foram conduzidas pelo flautista. E nós dançaremos como marionetes, seguindo o rumo para a sinfonia da destruição.
Erick Silva

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