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sexta-feira, 26 de julho de 2013

RESENHA DO LIVRO "DIRCEU", POR GUILHERME MACALOSSI

UMA BIOGRAFIA PARA REMEMORAR A ERA DA MEDIOCRIDADE

Em Dirceu, Otávio Cabral conta como o menino crescido em Passa Quatro se tornou um dos quadros mais importantes da política nacional. De sua ascensão na militância estudantil até sua decadência quando condenado no Julgamento do Mensalão. 

Quando falamos de José Dirceu de Oliveira e Silva, imediatamente nos vem a mente o episódio do mensalão. Talvez, para a posteridade, tal fato venha a ser aquele pelo qual nos lembraremos do personagem título desta biografia. A prostituição do Congresso, promovida pelo Governo Lula por meio do seu “capitão do time”, diretamente do Ministério da Casa Civil, é, sem sombra de dúvida, o momento culminante na história de vida de José Dirceu. Sua biografia, entretanto, conta muito mais do que isso.

Escrito por Otávio Cabral, tarimbado jornalista que hoje é editor de VEJA, Dirceu – A Biografia, ao mesmo tempo que rememora parte da história do país, narra também a vida do menino de Passa Quatro que, em seus sonhos áureos, esperava a faixa presidencial, mas que, por meio de sua ação direta, ao longo da carreira política, teve que se contentar em esperar o camburão da polícia.

A primeira parte do livro mostra como Dirceu, um jovem ambicioso e idealista, integrante de uma família conservadora, acabou no ativismo político do movimento estudantil. Na faculdade um tenaz contrariador dos regimentos, tornou-se elemento aglutinador de um séquito de seguidores os quais, por causa do comportamento rebelde e pouco afeito a regras, acabou batizado de “os canalhas”. Rui Falcão, hoje presidente do PT, era um desses colegas.

Garoto ambicioso, estudante rebelde, revolucionário e guerrilheiro. O livro de Otávio Cabral também se detém nas desventuras de Dirceu no combate a ditadura militar. Da arruaça promovida no Prédio da Faculdade de Filosofia da USP, transformado em bunker pelos revolucionários de esquerda que o mantinham invadido, até seu treinamento militar em Cuba onde, sob instruções e ordens do Regime Ditatorial de Fidel Castro, foi destacado para comandar movimentos terroristas no interior do Brasil, a biografia de Dirceu conta como esse senhor mudou tantas vezes de nome sem nunca mudar de objetivo: estar no poder.

Se a primeira parte do livro se debruça em cima de um Dirceu como ativo militante de esquerda, a segunda mostra o arguto estrategista político que, nos bastidores, trocou a rebeldia ineficiente pelo pragmatismo de resultado. Pragmatismo que o fez varrer do PT os elementos mais radicais do partido e resultados que, por meio de alianças e amplos poderes internos, o projetaram, junto com Lula, ao Planalto. E ai a biografia de Dirceu também funciona como bom remédio de memória. Nos bastidores do Governo Lula somos, a todo momento, lembrados de episódios, acontecimentos e figuras que, por causa da profusão de escândalos na época, acabaram sendo soterrados em nossas lembranças.

Otávio Cabral narra todos os fatos com absoluta sobriedade, da infância ao julgamento do mensalão, medindo a importância de cada acontecimento e dando a ele o devido destaque na narrativa. O autor se vale de depoimentos e entrevistas feitas com personagens que presenciaram em primeira pessoa muitos aquilo que é narrado. Há também fartura de informações vindas de documentos públicos e de notícias que foram retiradas dos arquivos dos grandes jornais.

Por certo que José Dirceu é uma figura importante de nosso cenário político, ainda mais quando examinado o período que vai de 1989 até 2012. Sua biografia se faz, desta forma, item obrigatório não só para o entendimento das motivações e origem do personagem, mas também para sabermos os procedimentos usados por ele para criar o tipo de política que faz co quem parte do país dê errado.

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