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sábado, 22 de fevereiro de 2014

A Oposição e o Conservadorismo de Denise Abreu

Eric Carro

A pré-candidatura de Denise Abreu para a Presidência da República é uma manifestação de oposição ao governo federal, cuja base está estabelecida desde 2003. O caso da ex-diretora da Anac é mais um caso que pode ser enquadrado como assassinato de reputações. Trata-se de uma pré-candidata que conhece a agenda do governo petista e, por isso, é uma grande pedra no sapato para o governo Dilma Rousseff. Especula-se que Everaldo Pereira, do PSC, e Ronaldo Caiado, do DEM, possam ser candidatos à presidência. No entanto, o partido do pastor está com a imagem manchada devido ao deputado Marco Feliciano e dificilmente ganharia força. Ronaldo Caiado, deputado que mais se opõe ao governo Dilma, defensor dos direitos de propriedade e do agronégocio, que é o grande responsável pelo crescimento econômico do país na última década, não definiu qual cargo deseja disputar e encontraria dificuldades para lançar candidatura própria. Por outro lado, Denise Abreu é capaz de debater com Dilma Rousseff e realmente se opor à sua forma de governo. Sua oposição não se limitaria apenas em âmbito administrativo, mas no âmbito das ideias. Em entrevista para o músico e escritor Lobão, Denise se declarou defensora das “coisas permanentes” – expressão utilizada pela literato T.S. Eliot e pelo filósofo político Russell Kirk para designar tudo aquilo que merece ser preservado e passado para as próximas gerações -, demonstrando ser uma candidata conservadora. Os discursos liberal e conservador são praticamente nulos na política nacional. Ultimamente, apenas alguns deputados do antigo PFL – que mudou o nome para Democratas em 2007 para não ser identificado como partido liberal, demonstrando como esse nome se tornou obscuro em nossa nação “progressista” – discursaram em defesa do livre mercado no Congresso Nacional. 

O conservadorismo é, em tese, defendido por alguns membros do PSC e do PP. Porém, nota-se mais uma manifestação de “reacionarismo” que a postura reativa e prudente do conservador que encontramos mundo afora – principalmente no Reino Unido e nos Estados Unidos – por parte desses congressistas. Jair Bolsonaro é mais um defensor do controle de natalidade, do voto obrigatório e da reestatização de empresas que um defensor das “coisas permanentes” e da economia de mercado. 

Tendo em vista a situação em que a direita brasileira se encontra, totalmente obscurecido pelo meio acadêmico e pela grande mídia, qualquer candidato que defenda valores conservadores ou liberais é satisfatório. Nos Estados Unidos, até a década de 1950, os grupos que compõe o atual movimento conservador, representado majoritariamente pelo Partido Republicano, eram dispersos. Após a publicação de “The Conservative Mind”, por Russell Kirk, em 1953 e a criação da revista National Review, por William F. Buckley Jr., em 1955, facções adeptas às mais divergentes ideias se uniram com uma única finalidade: vencer o comunismo, uma doutrina armada. 

Dizer-se de direita é visto com péssimos olhos. Na era do relativismo moral, o bullying esquerdista nunca foi tão poderoso. Deste modo, poucos evitam tal rótulo. Às vezes, aceita-se o rótulo de liberal, posto que a palavra é ligada a liberdade, e todos esquerdistas gostam de “liberdade” – para realizar abortos, claro. Pois liberdade para portar armas de fogo e proteger sua família, educar os filhos, comer e beber o que deseja e se expressar sem censuras politicamente corretas é coisa de “extremista”. 

Porém, a partir do momento que você começa a defender a liberdade econômica, é visto com maus olhos. Ou você “abre sua mente” para as ideias do lado oposto, ou você é rotulado de neoliberal explorador dos fracos e oprimidos, ainda que demonstre como a economia de mercado reduziu a pobreza ao redor do mundo. Não importa se o Chile está em sétimo lugar no índice de liberdade econômica da Heritage Foundation e o Brasil em centésimo décimo quarto, sendo aquele país mais próspero que o nosso. Mostrar a verdade não basta. Afinal, verdade é um “conceito burguês”. 

Dizer-se conservador então? “Mas que palavra obscena! Lave essa língua, pois isso que você disse é muito feio.” A carga das palavras sempre foi enorme, e devemos tomar cuidado ao utilizá-las. No entanto, a censura politicamente correta tornou uma palavra que é utilizada normalmente em vários países do Ocidente em um palavrão. 

A grande incógnita é o partido da pré-candidata Denise: o PEN, Partido Ecológico Nacional, não seria um partido de esquerda? Já não há o PV? Não são as mesmas ideias? Conforme a própria Denise, em entrevista para Lobão, o partido visa defender a sustentabilidade do ser humano. É lugar-comum relacionar o conservadorismo e a direita com a negligência e a devastação ambiental. Afinal, foi através dessa bandeira que Al Gore lançou “Uma Verdade Inconveniente” – que já está sendo contestado, com fatos, há bastante tempo. O filósofo, escritor e jornalista Roger Scruton resume as características do atual movimento ambientalista: “Há uma classe de vítimas (as gerações futuras), uma vanguarda iluminada que luta por elas (os guerreiros ecológicos), burgueses poderosos que os exploram (os capitalistas) e oportunidades infindáveis de expressar ressentimento contra o sucesso, a riqueza e o Ocidente”. 

Porém, para Scruton, os ambientalistas deviam se opor mais ao socialismo que ao capitalismo: os projetos estatais dos países socialistas eram os que mais desrespeitavam o meio ambiente. Tais projetos foram uma característica marcante do Leste Europeu. O motivo é simples: o que o Estado determina é imposto de cima para baixo. 

O ambientalismo autêntico deveria defender o contrato entre os mortos, os vivos, e os que ainda não nasceram – a responsabilidade para com as gerações futuras. Tal parceria certamente é uma ideia conservadora, e pode muito bem ser defendida por conservadores e por defensores da economia de mercado. 

Grande parte dos problemas ambientais são causados pelo apoio estatal a projetos antiecológicos de planejamento urbano, que estimulam a poluição , o emprego de combustíveis fósseis e tornam as cidades esteticamente desagradáveis. Não se pode culpar o mercado por estímulos e decretos dados pelo Estado: o estímulo à compra de automóveis por parte do Estado, a iluminação pública com seu grande gasto de energia, e até mesmo conjuntos habitacionais construídos pelo governo podem ter consequências ambientais graves, se não forem avaliados da maneira adequada. Quem administra e empreende tais ações é o Estado. 

O pensamento conservador é um aliado natural da defesa do meio ambiente. Ter ciência de que o Estado é a parceria entre aqueles que já nos deixaram, vivem e ainda estão por nascer; da importância do princípio da prudência na administração pública; e de como é fundamental adequar as políticas públicas às circunstâncias materiais de cada região é fundamental para que políticas pró-meio ambiente sejam adotadas. 

Além disso, o meio ambiente e a estética urbana merecem lugares bem acima de dicotomias impostas por ideólogos de frases feitas e de agressividade intelectual sem freio. A técnica de “dividir para conquistar” deve ser rejeitada por qualquer pessoa civilizada. 

Portanto, Denise Abreu é uma candidata conservadora, pois é defensora de ideias conservasionistas, e se opõe verdadeiramente às ideias do governo atual. Religiosos, militares, caminhoneiros, produtores rurais, profissionais liberais, entre outros grupos menosprezados pelo atual governo devem ver essa candidatura com bons olhos. Ainda que as chances de vencer as eleições sejam pequenas, é um grande início para pôr fim no projeto de poder petista. 

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