Formado nas fileiras tucanas do PSDB e sua social democracia, após disputar varias eleições sendo derrotado, Alckimin, para cumprir o desejo de chegar ao poder se filiou ao PSB, partido de apoio do PT e virou super amigo do Lula, contudo chegou onde queria, na presidencia da republica.
quinta-feira, 31 de julho de 2025
SOCIALISMO DEMOCRATICO DO PT É IGUAL SOCIAL DEMOCRACIA
quarta-feira, 30 de julho de 2025
O SOCIALISTA DE BOUTIQUE NO BRASIL
Eles proclamam o socialismo e criticam ferozmente o capitalismo. Porém, não abrem mão das vantagens e privilégios que o mercado gera para poucos. Querem ser socialistas para os outros e capitalistas para si mesmos. Condenam os empresários, mas desejam usufruir das oportunidades e do conforto criados por eles. Repudiam a lógica do lucro, mas querem se beneficiar do sistema que o produz.
O problema não está na defesa de ideais generosos de justiça, igualdade, empatia. O problema está em quem os defende. Quando o ideal vira performance, quando a moral se transforma em estética de grupo, quando o compromisso vira apenas um post. A etiqueta vale mais que o conteúdo da garrafa. O que importa é parecer do bem, jamais sê-lo.
Essa esquerda do TikTok, das redações militantes e dos podcasts cheios de afetação se acostumou a viver de palavras e afetos calculados. Não quer mudar o mundo, mas quer o prestígio de parecer revolucionária. Sua militância cabe num feed. Sua consciência social se limita a vídeos com filtro e camisetas com frases prontas, como aos costumes.
Médicos, psicanalistas e especialistas que lidam diariamente com a degradação moral e humana alertam que, quanto mais o indivíduo se afasta da realidade, mais ele tende a odiar. O progressismo virou um refúgio contra o real. Um palco onde se pode acusar, gritar, lacrar, entretanto, jamais construir, entender, dialogar.
Criticam o mercado, mas não largam o iPhone. Denunciam o lucro, mas querem salários generosos. Odeiam o empreendedorismo, mas sonham em ser influencers ou abrir uma cafeteria hipster. Não querem risco elevado, querem reconhecimento. Só o aplauso fácil por parecerem engajados.
Nas cátedras digitais e nas redações catequizadoras, qualquer um que aponta essa contradição é logo tachado de extrema-direita, de conservador retrógrado, ou acusado de defender o “autoritarismo do lucro”. Enquanto isso, quase nunca se ouve o termo que nomeia a origem dessa verdadeira seita contemporânea, ou seja, a extrema esquerda. A devoção ao Estado-pai, o ódio à liberdade do indivíduo, o desprezo pela excelência como valor. Tudo isso raramente é chamado pelo nome. Porque essa esquerda pós-moderna se tornou uma religião. Uma religião sem Deus, mas com santos, tabus, pecados e, claro, hereges.
Como toda religião degenerada, ela persegue os infiéis, os inimigos da boca para fora. São os liberais, os que ousam empreender, os que não pedem desculpas por prosperar, os que não usam a culpa como norte existencial. Mas talvez o maior problema dessa nova fé seja o fato de que ela não pretende ajudar os pobres. Evidente que não. Querem apenas usá-los como cenário moral para justificar sua superioridade simbólica.
A verdade, que grita por trás dos discursos afetados e das análises sociológicas de bar de esquina, é que esse progressismo é a fantasia do ressentimento. Uma fantasia com estética de revolução e essência de privilégio. Seu maior sonho não é transformar a realidade, mas ser aplaudido por parecer do bem.
São contra o sistema, desde que possam gozar das benesses do sistema. Contra o lucro, desde que não lhes falte conforto. Contra a opressão, desde que nunca precisem renunciar ao palco. Querem que os outros façam sacrifícios em nome da justiça — eles, apenas likes.
Socialistas de boutique, revolucionários de tela retina. Pior, bem pior. Acima de tudo, inimigos da liberdade, da responsabilidade e da verdade.
Alex Pipkin
O individuo e a sociedade
“Se se assume a existência de um ente que, por definição, é superior, mais nobre e mais perfeito do que os indivíduos — fazendo-os parecer inferiores ou meras sombras —, então não se pode evitar as consequências do coletivismo: os fins do ser superior (a sociedade) têm prioridade, o indivíduo só existe por causa do todo, a sociedade é tudo, o indivíduo é nada, e todo meio se justifica para subjugar quem ousar resistir”
“A convivência e cooperação sociais só são concebíveis dentro de um estado, isto é, de uma organização com capacidade de reprimir ações antissociais de indivíduos ou grupos”
“O universalismo e o coletivismo conduzem inevitavelmente à luta, que se estende até a destruição ou submissão do adversário” (p. 118).
“Só porque algo tem um nome, não significa que haja, na realidade, um objeto ou sujeito que o represente” (Tiedtke, p. 42).
Por meio de antropomorfismos e hipostatizações, constroem-se falsos antagonismos e invocam-se conflitos que não existem na realidade. Para a praxeologia, há harmonia entre sociedade e indivíduo, pois ambos se fundamentam na cooperação por meio da divisão do trabalho. Os conflitos surgem apenas quando se atribui à sociedade uma entidade autônoma. Assim, o indivíduo é colocado em oposição à sociedade, tanto como agressor quanto como vítima.
Universalistas e coletivistas representam a sociedade como algo separado do indivíduo. Com isso, criam um suposto conflito entre os interesses sociais e os do indivíduo. Se a sociedade for imaginada como um ente independente com vida e fins próprios, os coletivistas passam a exigir que o indivíduo se submeta a ela, reconhecendo sua primazia e subordinando seus próprios fins à “ordem social”.
Essa linguagem metafórica — como se a sociedade tivesse existência própria, vida e vontade — representa um risco imenso. Quem se opõe a essa “ordem” imaginária é rotulado como maligno. A exigência coletivista de submissão do indivíduo assume dimensões religiosas e raízes ancestrais.
“O coletivismo retoma visões de mundo primitivas, nas quais se crê que o ser humano deve obedecer a leis impostas por forças superiores, cuja execução é delegada a autoridades sagradas”
“A ação, cujo efeito constituiu e constitui diariamente a sociedade, não visa nada além da ação conjunta e da cooperação com outros para alcançar determinados fins individuais” (p. 115).
Em comparação com o isolamento, a participação na sociedade traz vantagens ao indivíduo, com base na divisão do trabalho. Nesse sentido, sociedade significa a colaboração de muitos indivíduos. O ser humano prefere a sociedade ao isolamento porque sua produtividade aumenta ao atuar em conjunto com outros. Não é difícil imaginar as dificuldades de uma existência solitária — ou até que a sobrevivência talvez nem fosse possível assim.
Desde o nascimento, o ser humano está inserido na sociedade. A vida humana é sempre vida em sociedade. Do ponto de vista praxeológico, a sociedade não é um ente autônomo com capacidade própria de agir. Ela existe por meio da ação de indivíduos; não está acima deles, mas resulta do fato de que as pessoas se reúnem para alcançar com mais facilidade e eficiência seus objetivos individuais.
Somente indivíduos podem agir. O que aparece como um coletivo é, na verdade, composto por ações individuais. O coletivo em si não age, nem pode agir, pois é apenas uma construção conceitual.
Do ponto de vista da praxeologia, a política atual apresenta falhas graves. Em vez de facilitar a divisão do trabalho reduzindo os custos de transação, ela impõe impostos e regulações que atrapalham a cooperação econômica. O pensamento coletivista domina a política. O sistema representativo é substituído pelo estado partidário. Fala-se em “razão de estado” e em “nossa democracia” — caindo assim na armadilha do antropomorfismo, e agravando os conflitos por meio da hipostasia de estado e sociedade.
A origem da sociedade na divisão do trabalho revela sua essência: cooperação voluntária. A produção em divisão de tarefas rende mais do que o trabalho isolado. Não é necessário um “instinto social” nem um “contrato social” para que as pessoas se unam — basta a percepção prática de que é mais eficiente trabalhar em conjunto. A força que cria e fortalece o vínculo social é a ação humana. A sociedade nasce do reconhecimento racional da produtividade do trabalho cooperativo — esse é o verdadeiro fundamento da vida em sociedade.
A praxeologia não é “inimiga da sociedade” — muito pelo contrário. Para ela, indivíduo e sociedade não são opostos, mas interagem de forma frutífera. O ponto crucial é que, ao contrário do indivíduo, a sociedade não possui existência própria. Ela não age, não tem vontade, nem poder próprio. “Sociedade” é uma construção conceitual. Na prática, o que existe é cooperação entre indivíduos. O ser humano vive em sociedade porque a divisão do trabalho traz benefícios que superam de longe os da vida isolada.
O vírus órfão
A origem que não se buscou
Em qualquer surto infeccioso, uma das primeiras etapas da resposta epidemiológica é localizar o case one — o primeiro paciente infectado, também chamado de index case ou paciente zero. Esse ponto de partida não é uma curiosidade clínica: é a base para toda reconstrução da cadeia de transmissão.
A epidemiologia contemporânea considera esse rastreio uma prioridade técnica. Como registra o Dictionary of Epidemiology da International Epidemiological Association, identificar o paciente zero é fundamental para compreender os padrões de disseminação e estabelecer estratégias de controle eficazes.
Entretanto, no caso do SARS-CoV-2, a pandemia global iniciada entre o fim de 2019 e o início de 2020 jamais contou com uma investigação internacional independente e transparente que identificasse com clareza onde, como e com quem tudo começou. A cidade de Wuhan, na China, é amplamente reconhecida como epicentro dos primeiros casos, mas nenhuma autoridade sanitária internacional teve acesso livre a registros clínicos, bancos de amostras ou dados laboratoriais.
Essa recusa em aplicar os fundamentos da investigação epidemiológica levanta uma questão tão técnica quanto política: por que a origem do vírus não foi investigada com o mesmo rigor aplicado a outras pandemias?
Wuhan, o laboratório e o que não se sabe
A cidade de Wuhan, capital da província chinesa de Hubei, abriga o Instituto de Virologia de Wuhan (WIV), um dos principais centros mundiais de pesquisa sobre coronavírus de origem animal. Desde antes da pandemia, o WIV realizava experimentos com vírus de morcego, inclusive com técnicas de ganho de função — manipulações genéticas que aumentam a infectividade viral em organismos-modelo, como camundongos humanizados ou culturas celulares.
Em 2015, um estudo internacional envolvendo o WIV e pesquisadores americanos, publicado na Nature Medicine, chamou atenção por criar um vírus quimérico de morcego com capacidade de infectar células humanas, levantando debates sobre riscos e ética.
Ao surgir o surto em dezembro de 2019, diversas anomalias chamaram atenção:
- A primeira linhagem do vírus já apresentava alta afinidade pelo receptor ACE2 humano;
- Nenhum animal intermediário foi identificado;
- Amostras biológicas e dados de pacientes desapareceram ou foram inacessíveis.
Ainda assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) organizou apenas em janeiro de 2021 uma visita supervisionada ao WIV. O relatório final, redigido em cooperação com as autoridades chinesas, descartou a hipótese de vazamento como "extremamente improvável" — embora o próprio Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, tenha reconhecido posteriormente que “todas as hipóteses permanecem sobre a mesa”.
Importa destacar que Adhanom não é médico, e sim biólogo. Ele foi ministro da Saúde e das Relações Exteriores da Etiópia durante o governo autoritário da Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope (EPRDF). Durante seu mandato como ministro, Tedros foi acusado por ONGs e veículos internacionais, como The New York Times e The Telegraph, de ter acobertado surtos de cólera, classificando-os oficialmente como “diarreia aguda” para não comprometer a imagem internacional do governo etíope — conforme denunciaram profissionais de saúde da região e especialistas da ONU. O jornal The Telegraph também relatou que os surtos foram deliberadamente subnotificados e renomeados durante sua gestão.
Além disso, o Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope, partido ao qual Tedros pertenceu, tem sido amplamente criticado por reprimir dissidentes, restringir liberdades civis e promover censura sistemática da oposição política e da imprensa independente.
Embora essas questões não invalidem tecnicamente sua atuação atual, acendem um alerta legítimo sobre o grau de confiança institucional que se pode depositar em autoridades internacionais oriundas de regimes pouco transparentes. Quando um diretor da OMS, com esse histórico, é colocado na posição de principal porta-voz global em meio a uma pandemia, torna-se ainda mais urgente exigir investigações abertas, verificáveis e conduzidas por equipes independentes — algo que, no caso da origem do SARS-CoV-2, jamais ocorreu de forma efetiva.
A medicina sem etiologia: o paradoxo clínico
A medicina moderna é, acima de tudo, uma ciência das causas. Desde Hipócrates, entende-se que tratar uma doença exige compreender sua origem — biológica, ambiental, epidemiológica. A prática clínica, a microbiologia, a infectologia e a saúde pública compartilham esse princípio: sem etiologia, não há diagnóstico completo; sem diagnóstico, não há prevenção ou cura duradoura.
No campo da epidemiologia, identificar o case one — o primeiro paciente infectado, também chamado de index case — é essencial para conter surtos e rastrear as rotas de transmissão. Casos como o Ebola na África Ocidental em 2014 ou a SARS-CoV-1 em 2002 mostraram como o rastreio da origem permitiu respostas sanitárias eficazes, fundamentadas em evidência.
No entanto, com o SARS-CoV-2, a lógica foi invertida. Em vez de buscar as causas do surto em Wuhan com rigor científico, instituições internacionais preferiram administrar a pandemia como se a origem fosse irrelevante. Não houve acesso aos dados brutos, nem às primeiras amostras clínicas, nem ao banco genético do Instituto de Virologia de Wuhan.
A medicina passou a tratar o sintoma global, mas ignorando a lesão local
Essa ruptura da lógica clínica criou um paradoxo desconcertante:
- Médicos e cientistas foram convocados a prescrever soluções massivas sem conhecer o agente etiológico em sua forma inicial;
- Protocolos globais foram aplicados sem compreender o ciclo primário de infecção;
- Políticas públicas foram baseadas em modelos estatísticos desconectados da origem real do fenômeno.
A ausência do case one privou a medicina de seu fundamento racional. A epidemiologia deixou de ser rastreamento causal e tornou-se contenção difusa, amparada por projeções abstratas e pela moral do medo. Nunca se aplicaram tantas medidas autoritárias com tão pouca informação sobre o início do surto. Nunca se exigiu tanta obediência com tão pouco conhecimento confiável sobre a origem do risco.
A medicina foi separada de sua etiologia — e, ao ser instrumentalizada por decisões políticas, correu o risco de perder também sua autonomia, sua ética e sua confiança pública.
A lógica do medo e a moral da ignorância
A pandemia do SARS-CoV-2 revelou um fenômeno inquietante: a transformação do medo em critério de verdade. Diante da incerteza, do colapso de respostas institucionais e da fragilidade dos sistemas de saúde, formou-se um consenso silencioso — não era hora de fazer perguntas, mas de obedecer.
Interrogações legítimas sobre a origem do vírus passaram a ser malvistas. Questionar a conduta da Organização Mundial da Saúde ou sugerir que o surto poderia ter começado num laboratório em Wuhan era prontamente classificado como “teoria da conspiração”. O que antes era ceticismo saudável passou a ser tratado como desvio moral.
Esse processo se assemelha ao que o economista e filósofo Thomas Sowell chamou de “moralidade das intenções”: em tempos de crise, os indivíduos tendem a julgar ações pelo medo que enfrentam, e não pelas evidências disponíveis. Assim, a ignorância deixou de ser uma limitação a ser superada e passou a ser um estado institucionalmente aceito — até mesmo desejado.
Esse novo modelo de moralidade da ignorância se estruturou em três níveis:
1. Governamental: governos evitaram aprofundar investigações que pudessem comprometer aliados estratégicos ou expor falhas internas;
2. Científico: pesquisadores autocensuraram hipóteses por temor de retaliação institucional ou perda de financiamentos;
3. Social: a população, assustada, passou a preferir certezas oficiais — ainda que vazias — à complexidade do desconhecido.
Essa atitude é filosoficamente análoga ao que Martin Heidegger chamou de inautenticidade: a fuga da responsabilidade diante da angústia do real, substituída por uma adesão acrítica ao discurso dominante. Curiosamente, o próprio Heidegger apoiou o nazismo em seu momento inicial, o que nos lembra que a negação do pensamento crítico frequentemente acompanha projetos autoritários travestidos de bem comum.
Durante a pandemia, vimos emergir uma nova epistemologia: a epistemologia da obediência. Segundo o escritor Jeffrey Tucker, essa obediência é vendida como virtude — “confie na ciência”, “siga a autoridade”, “não questione a OMS”. Mas ciência sem dúvida não é ciência. E autoridade que se recusa a ser questionada deixa de ser legítima — passa a ser dogma.
O economista Jesús Huerta de Soto vai além: alerta que o monopólio estatal da ciência não é apenas ineficaz — é anticientífico por natureza. Quando o conhecimento é submetido a comandos políticos, ele se torna instrumento de poder, não de descoberta.
desde o início da crise denunciou a erosão das liberdades civis e o uso da autoridade científica como ferramenta de controle estatal disfarçada de cuidado sanitário. Como afirmou Helio Beltrão, presidente do IMB, em artigo de 2021:
“O problema não é o vírus em si, mas a resposta política ao vírus. A histeria, alimentada por autoridades e pela mídia, abriu as portas para um autoritarismo disfarçado de compaixão”.
O silêncio sobre o case one do SARS-CoV-2, então, não foi apenas um erro técnico ou uma omissão política. Foi uma escolha ética e epistemológica: aceitar não saber, para não ter que assumir responsabilidades.
Conclusão: O vírus que nasceu órfão
O SARS-CoV-2, ao contrário do que preconiza a lógica epidemiológica, não teve pai, nem mãe, nem berço oficialmente reconhecido. Surgiu, matou, foi combatido com todos os recursos técnicos e políticos — mas jamais teve sua origem investigada de forma aberta, independente e responsável.
Essa omissão não decorre de ignorância, mas de uma arquitetura institucional que privilegia o controle à verdade. Quando o conhecimento é subordinado ao poder, , o estado deixa de ser um protetor para se tornar o maior dos agressores.
A pandemia não foi apenas um desafio biológico ou técnico. Foi uma crise epistemológica, na qual o medo foi promovido como virtude, a ignorância como blindagem, e a autoridade como dogma. A busca pelo case one foi abandonada não porque fosse irrelevante, mas porque ameaçava responsabilizar aqueles que não podiam ser responsabilizados.
A verdade não pertence ao estado, nem à maioria, nem aos especialistas. Ela pertence à razão. E se ela foi silenciada durante a maior crise sanitária do século, a tarefa de reconstituí-la cabe agora àqueles que recusam o conforto da obediência em favor do dever da lucidez.
A liberdade, afinal, não começa onde tudo se sabe — mas onde tudo pode ser perguntado.
Marcos H. Giansante
É médico cirurgião do aparelho digestivo e escritor, com atuação em São Paulo.
domingo, 27 de julho de 2025
O individuo (individual) morre, a ditadura se fortalece.
Teoricamente, o ápice de uma ordem autoritária é o extermínio literal, isto é, físico, do indivíduo, por meio de sua execução, seja ela formalizada, ou não. Tirar a vida, cessar a existência, é a última de uma longa lista de medidas arbitrárias que o Estado é capaz de impor aos indivíduos. Enquanto vivo, o “inimigo público” pode ser alvo das mais sórdidas sevícias, mas mesmo essas só podem durar enquanto sua composição física permitir, e a morte vem para cessar definidamente o controle estatal sobre o corpo seviciado. Claro que isso não impede que, mesmo após a morte, a violência estatal possa ser posta a serviço da destruição daquilo que resta: a memória e a honra do inimigo caído.
Se, em ordens autoritárias mais escancaradas e francas, o aniquilamento físico é um fim rotineiramente atingido, não podemos afirmar que o mesmo se passe na atual juristocracia brasileira: não temos notícias de torturas físicas ou execuções por parte do Estado brasileiro. Isso não significa que o fim a que se presta o extermínio literal, isto é, apagar a existência daqueles que de alguma forma incomodam o poder estabelecido (mesmo o poder usurpado), não possa ser atingido de outra forma. De fato, Alexandre de Moraes inaugurou no Brasil o que chamarei aqui de “extermínio da existência pública”, ou “aniquilamento imaterial”, em contraposição ao aniquilamento físico, em que, embora o corpo do alvo reste preservado (mas não necessariamente sua mente, já que tornar-se vítima do arbítrio é sempre capaz de produzir danos psicológicos), a existência pública da pessoa é completamente anulada.
Não é que Moraes tenha inventando a coisa: na experiência totalitária soviética, o stalinismo se especializou em fazer desaparecer a memória daqueles que se convertiam em suas vítimas. Com base em relatos de agentes da NKVD (Ministério do Interior na União Soviética), Hannah Arendt nos conta que a polícia soviética possuía dossiês secretos sobre cada habitante, incluindo desde parentes, amigos até mesmo conhecidos fortuitos de cada um; de fato, mesmo diante de “crimes” já determinados, o acusado era interrogado rigorosamente, visando justamente a estabelecer essas relações, que, em tese, permitiriam ao regime obliterar a memória da existência dessa pessoa. “Verifica-se a importância desse completo desaparecimento das vítimas para o mecanismo do domínio total naqueles casos em que, por um motivo ou outro, o regime se defrontou com a memória dos sobreviventes”.
Se, em regimes totalitários — o que nunca foi o caso do Brasil, que nunca teve realmente um regime totalitário, se seguirmos a definição de Arendt —, a obliteração da memória vem no bojo do extermínio, na nossa juristocracia contemporânea, resta apenas o apagamento público, desacompanhado do perecimento do indivíduo. Não é à toa que o regime inaugurado em 2019, com a irônica desculpa de se combater a desinformação, se voltando, na realidade, contra o estado de coisas da política moderna, onde a internet ganhou relevância ímpar e a existência do indivíduo na esfera virtual tornou-se conditio sine qua non para participar efetivamente do debate público, possibilitou o alijamento de indivíduos da esfera pública pela simples operação de alijá-los da esfera virtual. É assim que uma das principais ferramentas de Moraes, logo referendada pela maioria de seus pares, tem sido o bloqueio das redes sociais, bem como a vedação de seu uso, daqueles que entram em seu radar.
É importante dizer que tal medida é flagrantemente abusiva e ilegal. Simplesmente, não há no ordenamento jurídico brasileiro, dentre o rol de medidas restritivas de direitos, a possibilidade de se impedir alguém de ter redes sociais ou de se manifestar, seja em caso de condenação e, ainda mais, em se tratando de alvos de investigação. A categoria do impedimento de se usar redes é produto da “cachola” de Moraes, vergonhosamente referendada em múltiplas ocasiões pelo STF, criando uma jurisprudência ilegal, posto que nunca o legislador estabeleceu tal tipo de restrição. Trata-se, outrossim, de medida claramente inconstitucional. Ora, posto que o banimento das redes tem sido justificado com o argumento de se impedir a disseminação de conteúdos ditos ilícitos, isto é, não apenas os já existentes, mas futuros, é muito claro para qualquer ser pensante que se está impedindo a expressão de forma antecipada, configurando censura prévia, violando, como qualquer bom estudante de Direito reconheceria, a Constituição. Ainda que estivéssemos falando realmente de conteúdos ilícitos — desinformação, fake news e quejandos não são tipificados como ilegais no Brasil —, o banimento de perfis presume que todo conteúdo futuro publicado será ilícito e acaba por penalizar mesmo conteúdos perfeitamente lícitos.
Os exemplos de aplicação dessa medida e medidas congêneres se avolumam no âmbito dos intermináveis inquéritos sigilosos.
motivação política por trás das decisões supracitadas e de todas as outras do mesmo teor que têm se avolumado nos últimos anos é clara. O tratamento é seletivo, os alvos são preferenciais e vale tudo, até mesmo censurar a imprensa, para atingir o desiderato: alijar personagens tidos como “indesejáveis” do debate público. Nesse regime, sua existência corpórea ainda permanece intacta, mas tudo o mais que lhe permita integrar a tribuna pública é suprimido. Para tal, o Estado se apropria de sua voz, mas também de sua imagem, buscando mitigar sua influência e ofuscar a memória da sua existência como ente público.
É difícil conceber sistema mais cruel dentre as possibilidades dentro de um regime autoritário que se reputa democrático. O objetivo não é que você seja apenas esquecido, mas que antes seja associado a tudo de negativo que sairá na imprensa por força de intermináveis inquéritos e processos, mesmo quando sigilosos, que sua imagem seja pervertida e sua honra arruinada, sem que possa se defender, pois você já não existe na arena onde é defenestrado: a esfera pública. Associemos a este último ponto também o fato de que, mesmo na arena onde teoricamente você ainda pode se defender, o devido processo legal é tolhido pelo não compartilhamento integral dos autos à defesa, bem como pela possibilidade de condenações em definitivo, sem chance de recurso, de indivíduos sem prerrogativa de foro. Nem aos piores tipos de criminosos que podem existir na face da Terra deve ser devotado tratamento tão desumano. Mesmo em países democráticos onde — lamentavelmente — ainda vigora a pena capital, o desiderato da punição, embora seja anular a existência física, não é o aniquilamento imaterial, a obliteração da memória pública do sujeito.
O extermínio da existência pública não é compatível com uma ordem democrática, e o fato de que isso é feito aqui com a desculpa de se defender a democracia torna-se ainda mais risível quando estamos diante de decisões que depõem contra a lógica e a inteligência. Que isso não se confunda com a perda de direitos políticos em uma condenação legítima, possibilidade que existe em nosso ordenamento jurídico e é temporária. Mesmo perdendo os direitos políticos, o indivíduo ainda pode existir publicamente. O que foi inaugurado no país vai muito além disso: o Brasil se converteu em um grande laboratório para experiências autoritárias, digno de fazer inveja mesmo aos ditadores mais nefandos.
sábado, 19 de julho de 2025
"Lula: um desastre anunciado."
"O atual Presidente do Brasil, o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, acaba de ser alvo de uma crítica devastadora no respeitado WALL STREET JOURNAL, um dos jornais mais influentes do mundo !
A publicação, conhecida por sua isenção, desmascarou Lula como o símbolo do declínio econômico e democrático do Brasil e da América Latina. Essa matéria não deixa dúvidas: o “ex- metalúrgico” é uma ameaça à estabilidade da região.
O artigo, assinado por uma integrante do Conselho Editorial do jornal, faz uma análise profunda e implacável da gestão petista, apontando para um cenário de desordem econômica, incompetência administrativa e autoritarismo disfarçado de democracia.
Enquanto Lula tenta vender ao mundo a narrativa de que seu governo é voltado para os pobres, os números não mentem: o Brasil está mergulhado em uma crise fiscal, inflação alta e fuga de investimentos, tudo consequência direta das políticas desastrosas do seu governo."
Título do Editorial.
"Lula: um desastre anunciado."
A autora do artigo "não poupa palavras ao descrever Lula como um dos principais responsáveis pelo colapso das economias da América Latina. Sob sua liderança, o Brasil, que já foi visto como uma potência emergente, está hoje à beira do abismo econômico, com um governo que privilegia aliados ideológicos e ignora as demandas do mercado.
Para o Wall Street Journal, Lula não é apenas um problema para o Brasil, mas uma ameaça global, pois sua influência corrosiva se espalha como uma doença pela América Latina.
E o que Lula faz enquanto o Brasil afunda? Dá prioridade a relações com ditadores, como Nicolás Maduro, da Venezuela, e Daniel Ortega, da Nicarágua."
O artigo critica duramente a aproximação de Lula com regimes autoritários, afirmando que sua postura mina os valores democráticos e envia um péssimo recado ao mundo: o Brasil sob o PT não é confiável.
O preço das políticas populistas...
As promessas populistas de Lula têm um custo alto – e quem paga a conta é o povo brasileiro. O artigo "destaca como as políticas econômicas do governo petista estão levando o Brasil para um cenário de desindustrialização, aumento da pobreza e estagnação econômica."
Enquanto isso, o presidente continua distribuindo benesses para aliados políticos, ampliando privilégios para sindicatos e expandindo um estado inchado e ineficiente.
A crítica também recai sobre o tratamento dado aos empresários e investidores, tratados como inimigos pelo governo petista. “Lula está construindo um ambiente hostil para negócios, desestimulando o empreendedorismo e espantando capitais estrangeiros”, afirma o artigo.
Resultado:
O Brasil, "que deveria estar crescendo e se consolidando como uma potência global, caminha a passos largos rumo ao declínio."
Declínio moral e democrático !
O WALL STREET JOURNAL "vai além da questão econômica e expõe o autoritarismo disfarçado do governo Lula."
A perseguição a opositores, o controle sobre a mídia e a tentativa de enfraquecer instituições democráticas são apontados como práticas comuns do petismo.
O jornal menciona "que Lula está mais interessado em consolidar seu poder e garantir a perpetuação de seu projeto de poder do que em resolver os problemas reais da população."
Os ataques à liberdade de expressão, como as tentativas de censura nas redes sociais, são apresentados como evidências de que o governo atual não tolera críticas e busca transformar o Brasil em um estado controlado pelo PT.
É um retrato sombrio de um país que já foi sinônimo de democracia vibrante e que hoje está refém de um partido obcecado pelo controle absoluto.
Um alerta ao mundo !
O texto termina com "um alerta claro: Lula não é apenas uma ameaça ao Brasil, mas ao mundo. Sua visão de um estado centralizador e aliado de regimes autoritários é um modelo falido que pode levar toda a América Latina ao colapso."
O artigo conclui que, "enquanto Lula continuar no poder, o Brasil estará destinado ao fracasso, e a região, ao retrocesso."
Enquanto isso, o povo brasileiro enfrenta as consequências desse governo desastroso: inflação, desemprego, aumento da criminalidade e a perda de confiança nas instituições. Lula, que se apresenta como “o pai dos pobres”, é, na verdade, o pai do caos – e o WALL STREET JOURNAL deixou isso muito claro.
A crítica contundente do jornal norte-americano não é apenas um golpe na imagem internacional de Lula, mas um reflexo do que todos já sabemos: sua gestão é uma tragédia anunciada. O Brasil merece mais. O Brasil merece líderes que coloquem o país no caminho do progresso, e não no fundo do poço.
https://republicanoticias.com.br/2024/11/19/maior-jornal-do-mundo-desmascara-lula-e-expoe-graves-crimes/
Podem os Estados Unidos superar o bipartidarismo?
O sistema político dos Estados Unidos, embora adornado com a retórica da liberdade e da pluralidade, é estruturado de modo a restringir a competição real por poder. A alternância entre Democratas e Republicanos não é fruto de um duopólio cultural espontâneo, mas consequência direta do modelo eleitoral distrital majoritário simples, o conhecido first-past-the-post (FPTP).
Com o anúncio da criação do America Party pelo empresário Elon Musk, a pergunta que se impõe neste cenário é teórica, mas urgente: os EUA estão estruturalmente condenados ao bipartidarismo ou estamos diante do início de um novo ciclo de reorganização partidária, como já ocorreu em momentos críticos da história norte-americana?
O mecanismo do FPTP: a armadilha do voto útil
No sistema FPTP, cada distrito elege um único representante, e vence quem tiver mais votos, ainda que com minoria absoluta. Não há segundo turno. Essa simplicidade tem um efeito profundo: o voto útil se impõe. O eleitor tende a votar não em quem prefere, mas naquele que tem chances reais de derrotar o candidato que mais teme.
Esse comportamento estratégico consolida o que Maurice Duverger chamou de “lei sociológica” dos sistemas eleitorais: o FPTP naturalmente gera bipartidarismo. Minorias políticas são punidas com a invisibilidade e a geografia eleitoral substitui a vontade nacional.
Essa percepção não é irracional: ela é moldada pela própria mecânica do sistema. O FPTP favorece partidos com concentração distrital, e não com apoio nacional pulverizado. A consequência é um eleitorado majoritariamente independente, mas pragmaticamente prisioneiro dos dois polos dominantes.
Com isso, partidos norte-americanos como os Libertários, os Verdes ou qualquer força emergente sofrem com:
- barreiras legais de acesso às urnas;
- ausência de representação proporcional;
- falta de financiamento e exclusão dos debates nacionais; e
- acima de tudo, a percepção de que votar neles é desperdiçar o voto.
Como romper a barreira do bipartidarismo
Superar o bipartidarismo num sistema como o norte-americano requer mais do que vontade. Requer estratégia. Há cinco caminhos plausíveis, cada um com sua própria lógica e riscos.
O primeiro é a infiltração de uma nova força dentro de um dos partidos existentes. O presidente dos EUA, Donald Trump, já percorreu esse caminho com sucesso. Em vez de fundar um novo partido, infiltrou-se no Partido Republicano e o transformou radicalmente. A lógica populista rompeu o consenso conservador tradicional. O partido não colapsou, sendo, na verdade, reconstruído sob nova direção. Bernie Sanders tentou com os Democratas recentemente, mas perdeu a tentativa de radicalização à esquerda do partido com a vitória de Hillary Clinton nas prévias de 2016, quando todo o establishment democrata cerrou fileiras para impedir a tomada partidária.
O segundo é o regionalismo estratégico. Em sistemas FPTP, o segredo não é ter votos, mas tê-los bem concentrados. Partidos regionais como o Bloc Québécois (Canadá) ou o SNP (Escócia) conseguem ser relevantes mesmo com pouca expressão nacional. Um partido novo nos EUA pode mirar distritos com maior densidade de eleitores independentes, libertários moderados ou rejeição bipartidária em vez de buscar amplitude imediata, mas teria de ter discurso localizado e com foco em características étnicas, raciais ou com algum outro traço sociológico muito distinto, o que não é o caso do America Party.
O terceiro é a reforma eleitoral. O voto preferencial (ranked-choice), já em vigor no Maine e no Alasca, permite que o eleitor ordene suas preferências, reduzindo o “efeito spoiler”. Esse modelo não destrói o bipartidarismo, mas liberta o voto, tornando viáveis candidaturas de fora. A adoção nacional seria um divisor de águas, mas enfrenta forte resistência institucional. É o que os Liberal-Democratas tentam fazer há anos na Inglaterra, propondo a substituição do FPTP pelo voto proporcional de lista, mas nunca encontraram votos suficientes no Parlamento, pois os partidos mais poderosos bloqueiam essa mudança legislativa.
O quarto caminho é a tentativa clássica de construção de uma “terceira via equidistante”, que se coloca deliberadamente fora do eixo esquerda-direita tradicional, buscando capturar eleitores moderados, independentes e politicamente cansados da polarização. Trata-se de uma estratégia já testada e frequentemente frustrada em democracias com sistema FPTP. Os Liberal-Democratas no Reino Unido, o Partido Libertário nos EUA e o New Democratic Party no Canadá investiram por décadas nesse modelo. No entanto, a estrutura do sistema os empurra para a irrelevância institucional. Como não se apresentam como substitutos diretos de nenhum dos grandes partidos, sofrem duplamente com o voto útil: são vistos como fracos demais para vencer e ambíguos demais para gerar paixão política.
O próprio caso dos Liberal-Democratas ilustra bem esse dilema: mesmo com votações populares expressivas em algumas eleições nacionais (chegaram a obter 23% dos votos em 2010), raramente traduziram esse apoio em representação parlamentar proporcional, ficando restritos a poucos distritos onde conseguiram construir redutos históricos. Isso evidencia a inerente hostilidade do sistema majoritário ao projeto centrista genérico, que não mobiliza nichos intensos nem se beneficia da concentração geográfica do voto.
Pelo que se observa até aqui, o America Party de Elon Musk parece caminhar nessa direção, com uma proposta que busca se colocar “acima dos dois lados”. No entanto, se escolher esse posicionamento equidistante, sem disputar diretamente a base de um dos partidos existentes, tende a cair na mesma armadilha histórica que esvaziou outras iniciativas semelhantes. O modelo norte-americano exige confronto direto por espaço político definido. Ser “meio-termo” num sistema binário raramente gera tração e quase nunca poder real.
O quinto caminho é o mais subestimado e historicamente poderoso: a substituição direta de um dos grandes partidos. Ao contrário da criação de uma “terceira via” genérica, trata-se de disputar o mesmo nicho ideológico e a mesma base social de um dos partidos dominantes, com maior autenticidade, energia e clareza de projeto.
Esse fenômeno já ocorreu. No Reino Unido, o Partido Trabalhista substituiu o Partido Liberal no início do século 20 como representante das massas trabalhadoras, em resposta às transformações sociais da Revolução Industrial e à incapacidade liberal de lidar com o conflito de classes da época. O Partido Liberal entrou em colapso, e o Labour emergiu como um dos dois pilares do novo sistema.
Hoje, os Liberal-Democratas e o Reform UK tentam repetir esse processo: os primeiros disputando o eleitorado progressista frustrado com o Labour; os segundos, os eleitores nacionalistas decepcionados com os Tories. Ambos tentam ser o novo partido de confiança de um velho grupo social.
Nos EUA, o sistema bipartidário nunca foi imutável. Ao longo do tempo, os partidos dominantes mudaram e, em certos momentos, foram substituídos. Os Federalistas deram lugar aos Democratas-Republicanos. Mais tarde, os Whigs desapareceram e foram substituídos pelos Republicanos. Os Democratas também mudaram radicalmente: de defensores da escravidão, tornaram-se o partido do New Deal, dos direitos civis e da esquerda urbana moderna.
A teoria dos realinhamentos críticos, proposta por autores como Walter Dean Burnham, sustenta que o bipartidarismo americano se reorganiza ciclicamente, com base em grandes transformações econômicas, sociais ou tecnológicas. Cada ciclo produz novas coalizões e, às vezes, novos partidos. Talvez estejamos novamente no limiar de um desses momentos.
Nesse cenário, o America Party de Elon Musk pode representar uma tentativa de substituição. Se conseguir ocupar com clareza o espaço de centro-direita racional, hoje sem representação coesa, poderá atrair eleitores frustrados tanto com o progressismo identitário democrata quanto com o populismo nacionalista republicano. Se o America Party conseguir isso, provavelmente surgirá um novo partido antagônico e os tradicionais Republicanos e Democratas serão substituídos por completo.
A substituição partidária, portanto, não é um sonho utópico e sim um fenômeno histórico. É construída pela persistência em ocupar um vácuo com coerência, até que a estrutura ceda, o que é raro, mas acontece.
Conclusão: por um projeto claro e objetivo definido
O sistema eleitoral norte-americano foi projetado para garantir estabilidade e tem sido eficaz nisso. Mas estabilidade demais pode significar rigidez diante da mudança. Quando o sistema se torna impermeável à inovação política, ele perde legitimidade e gera frustração.
A superação do bipartidarismo nos EUA não acontecerá por acidente. Ela exigirá projeto e estratégia clara. Embora as barreiras sejam altas, os precedentes históricos mostram que, quando a sociedade muda profundamente, o sistema partidário também muda, mesmo quando tenta resistir.
Pode o America Party vir a se tornar um grande partido norte-americano? Sim, mas apenas se não for uma “terceira via” genérica e passar a disputar diretamente a base de um dos dois partidos dominantes. O sistema FPTP só permite a ascensão de novas forças quando elas ocupam com clareza um vácuo político real e se consolidam como substitutas, não como alternativas moderadas.
Se o America Party trilhar o caminho equidistante, tende a repetir os fracassos de experiências semelhantes. Mas, caso se posicione com identidade clara, base social definida e estratégia de longo prazo, pode marcar o início de um novo ciclo partidário nos EUA, tal como já ocorreu no passado.
Bernardo Santoro