“Se se assume a existência de um ente que, por definição, é superior, mais nobre e mais perfeito do que os indivíduos — fazendo-os parecer inferiores ou meras sombras —, então não se pode evitar as consequências do coletivismo: os fins do ser superior (a sociedade) têm prioridade, o indivíduo só existe por causa do todo, a sociedade é tudo, o indivíduo é nada, e todo meio se justifica para subjugar quem ousar resistir”
“A convivência e cooperação sociais só são concebíveis dentro de um estado, isto é, de uma organização com capacidade de reprimir ações antissociais de indivíduos ou grupos”
“O universalismo e o coletivismo conduzem inevitavelmente à luta, que se estende até a destruição ou submissão do adversário” (p. 118).
“Só porque algo tem um nome, não significa que haja, na realidade, um objeto ou sujeito que o represente” (Tiedtke, p. 42).
Por meio de antropomorfismos e hipostatizações, constroem-se falsos antagonismos e invocam-se conflitos que não existem na realidade. Para a praxeologia, há harmonia entre sociedade e indivíduo, pois ambos se fundamentam na cooperação por meio da divisão do trabalho. Os conflitos surgem apenas quando se atribui à sociedade uma entidade autônoma. Assim, o indivíduo é colocado em oposição à sociedade, tanto como agressor quanto como vítima.
Universalistas e coletivistas representam a sociedade como algo separado do indivíduo. Com isso, criam um suposto conflito entre os interesses sociais e os do indivíduo. Se a sociedade for imaginada como um ente independente com vida e fins próprios, os coletivistas passam a exigir que o indivíduo se submeta a ela, reconhecendo sua primazia e subordinando seus próprios fins à “ordem social”.
Essa linguagem metafórica — como se a sociedade tivesse existência própria, vida e vontade — representa um risco imenso. Quem se opõe a essa “ordem” imaginária é rotulado como maligno. A exigência coletivista de submissão do indivíduo assume dimensões religiosas e raízes ancestrais.
“O coletivismo retoma visões de mundo primitivas, nas quais se crê que o ser humano deve obedecer a leis impostas por forças superiores, cuja execução é delegada a autoridades sagradas”
“A ação, cujo efeito constituiu e constitui diariamente a sociedade, não visa nada além da ação conjunta e da cooperação com outros para alcançar determinados fins individuais” (p. 115).
Em comparação com o isolamento, a participação na sociedade traz vantagens ao indivíduo, com base na divisão do trabalho. Nesse sentido, sociedade significa a colaboração de muitos indivíduos. O ser humano prefere a sociedade ao isolamento porque sua produtividade aumenta ao atuar em conjunto com outros. Não é difícil imaginar as dificuldades de uma existência solitária — ou até que a sobrevivência talvez nem fosse possível assim.
Desde o nascimento, o ser humano está inserido na sociedade. A vida humana é sempre vida em sociedade. Do ponto de vista praxeológico, a sociedade não é um ente autônomo com capacidade própria de agir. Ela existe por meio da ação de indivíduos; não está acima deles, mas resulta do fato de que as pessoas se reúnem para alcançar com mais facilidade e eficiência seus objetivos individuais.
Somente indivíduos podem agir. O que aparece como um coletivo é, na verdade, composto por ações individuais. O coletivo em si não age, nem pode agir, pois é apenas uma construção conceitual.
Do ponto de vista da praxeologia, a política atual apresenta falhas graves. Em vez de facilitar a divisão do trabalho reduzindo os custos de transação, ela impõe impostos e regulações que atrapalham a cooperação econômica. O pensamento coletivista domina a política. O sistema representativo é substituído pelo estado partidário. Fala-se em “razão de estado” e em “nossa democracia” — caindo assim na armadilha do antropomorfismo, e agravando os conflitos por meio da hipostasia de estado e sociedade.
A origem da sociedade na divisão do trabalho revela sua essência: cooperação voluntária. A produção em divisão de tarefas rende mais do que o trabalho isolado. Não é necessário um “instinto social” nem um “contrato social” para que as pessoas se unam — basta a percepção prática de que é mais eficiente trabalhar em conjunto. A força que cria e fortalece o vínculo social é a ação humana. A sociedade nasce do reconhecimento racional da produtividade do trabalho cooperativo — esse é o verdadeiro fundamento da vida em sociedade.
A praxeologia não é “inimiga da sociedade” — muito pelo contrário. Para ela, indivíduo e sociedade não são opostos, mas interagem de forma frutífera. O ponto crucial é que, ao contrário do indivíduo, a sociedade não possui existência própria. Ela não age, não tem vontade, nem poder próprio. “Sociedade” é uma construção conceitual. Na prática, o que existe é cooperação entre indivíduos. O ser humano vive em sociedade porque a divisão do trabalho traz benefícios que superam de longe os da vida isolada.
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