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domingo, 3 de abril de 2016

O NACIONAL SOCIALISMO NO BRASIL

Por: André Marques

Um assunto ainda muito pouco estudado nas nossas aulas de história, mesmo hoje em dia (e porque "não se encaixaria?") é a história do Partido Nacional-Socialista no Brasil. Isso porque se pararmos para observar, é de uma relevância histórica tremenda essa sincronia única das relações Brasil e Alemanha em um período onde a realidade política e internacional era bem diferente do que é hoje em dia. O que nos faz automaticamente refletir sobre o assunto de forma curiosa.


O inicio da criação do partido Nacional-Socialista Alemão no Brasil tem inicio mesmo antes da ascensão do NSDAP na Alemanha com Adolf Hitler como Chanceler e está obviamente ligada a influencia da imigração alemã a América portuguesa dos anos 20-30, onde ganhara voz e espaço.
Assim como em todos os países onde se fincou, fora da Alemanha, o partido assumiu sempre um caráter de "célula internacional". E a célula brasileira foi, como mostram recentes documentos revelados por pesquisadores do Brasil, a maior fora do território alemão, contando com aproximadamente 2.822 membros filiados (pelas estatísticas da AO, para o ano de 1937) mas isso não conta de forma alguma os simpatizantes e membros não filiados, visto que o partido ainda contava em diversas cidades do sul-sudeste com jornais de grande circulação periódica e encontros e celebrações organizados. A aproximadamente 4.500 (se considerarmos o total de membros que foram registrados no Partido durante toda sua atuação). A região Sudeste abarcava a maioria dos militantes seguida pela região Sul; os três círculos que possuíam maior número de filiados eram os de São Paulo (sede do partido)





O tema foi novamente redescoberto graças ao trabalho inédito de tese de doutorado da historiadora e pesquisadora da USP (Universidade de São paulo), Ana Maria Dietrich, feito na década passada, desde 2002. O trabalho, sendo considerado o mais abrangente sobre o tema da história do nacional-socialismo no Brasil, emergiu relatórios, fotos e ilustrações guardados no Ministério das Relações Exteriores e no Arquivo Federal da Alemanha, em Berlim, e no Instituto de Relações Exteriores, em Stuttgart. O que emerge dessa papelada é o retrato inédito desse período da história. O esforço da pesquisadora, que passou seis anos escarafunchando uma montanha de dossiês e prontuários, resultou a tese de mestrado com 300 páginas. É o primeiro estudo a revelar, de maneira pormenorizada, sobre como estavam estruturados no Brasil."Trata-se de um trabalho inédito, não só pelas novas informações sobre o tema, mas pelos documentos que vieram a público", diz a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, uma das maiores especialistas no período e orientadora da tese de Ana Maria Dietrich.

1 - A IMIGRAÇÃO ALEMÃ AO BRASIL




A vinda de populações alemãs para o Brasil como processo migratório ocorreu nos séculos XIX e XX para várias regiões do Brasil. As causas deste processo podem ser encontradas nos frequentes problemas sociais que ocorriam na Europa e a fartura de terras no Brasil. Inicialmente foi uma pratica oficial do governo imperial iniciada por D. João VI e que recebeu continuidade por D. Pedro I e D. Pedro II, o incentivo a imigração teutônica ao Brasil, desde meados de 1820. Inicialmente no Rio de Janeiro e depois para os estados do Sul e São Paulo majoritariamente.



Inicialmente os colonos provinham em maior número do campo, devido ao frequente processo de evasão ocorrido por conta do processo de industrialização do século XIX ocorrido na Europa. Mas logo, com a superpopulação das cidades, populações urbanas também aderiram a partida para países como o Brasil e outros da América. Assim milhares de alemães das mais diversas partes aqui se estabeleceram vindos não como os italianos e portugueses, em grandes levas mas num lento processo gradativo porém quase colonizador das áreas mais despovoadas do país na época como o interior sulista, fundando várias cidades importantes da região. Pelo menos até 1940, 22,34% da população catarinense e 19,3% da população gaúcha descendia de alemães. Somente entre 1920 e 1930, 75.801 alemães imigraram para o Brasil. E esse processo de migração só foi terminar na década de 60.


Imigrantes alemães no Sul do Brasil

O Sul do Brasil recebeu a esmagadora maioria dos imigrantes alemães, porém, a presença germânica no Sudeste do Brasil é notável. Em Minas Gerais, a maior colônia alemã estabeleceu-se em Juiz de Fora, onde em 1858 chegaram aproximadamente 1.200 colonos, o que representava cerca de 20% da população da cidade na época.

Mais foi no século XX que chegou a maior parte dos imigrantes alemães ao Brasil. A maior parte desses imigrantes não mais iam para as colônias rurais, no processo de substituição da mão-de-obra escrava pela do colono assalariado que se fazia desde o fim do século XIX, pois rumavam para os centros urbanos: eram operários, artífices e outros trabalhadores urbanos, professores, refugiados políticos. A cidade de São Paulo recebeu a maior parte dessa nova onda de emigração alemã: em 1918 viviam na cidade cerca de 20 mil alemães. Outros rumaram para Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro.




Também houve grupos de alemães na década de 1940 que emigraram para o Brasil por conta da Segunda Guerra Mundial.

2 - OS INÍCIOS DO PARTIDO

Já por meados da década de 1920, quando o NSDAP sob o comando de Adolf Hitler estava ganhado força na Alemanha da República de Weimar, começam a se propagar entre colonos e imigrantes recém-chegados, nos jornais e nos rádios, os ideais da Nova Alemanha e o renascimento do seu povo então assolado pela guerra e a miséria imposta pelos inimigos. Então, começasse a se formar os primeiros e modestos grêmios e associações nacional-socialistas dentre as comunidades. Em 1928, foi fundado em Timbó, Santa Catarina, a seção brasileira do Partido Nacional-Socialista. Após a ascensão doFührer ao poder, em 1933, criou-se a política necessária para que esses grupos fossem associados ao que se chamou de Auslandorganisation der NSDAP - Organização para os Negócios Estrangeiros do NSDAP (A.O). No ano seguinte, o governo alemão organizou um sistema de infiltração e de propaganda com os alemães radicados no estrangeiro, criando as células partidárias em diversos países onde houvessem colônias alemãs. Em 1937, Ernest Wilhelm Bohle, responsável pela AO, assumiu também funções diplomáticas na Embaixada Alemã no Brasil, permitindo que o Partido cumprisse ostensivamente a missão de salvaguardar os alemães do exterior.




Em pouquíssimo tempo, várias dessas instituições foram criadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba. A maior concentração de partidários deu-se no Estado de São Paulo, com 785 filiados ao Partido Nacional-Socialista. Entre eles havia operários, comerciantes, agricultores e industriais. Mas nem todo simpatizante precisava filiar-se ao partido.

3 - O GOVERNO GETULISTA E O NACIONAL-SOCIALISMO

Com certeza, um fato que ajudara bastante a todas as organizações Nacional-Socialistas e Fascistas da época era o fato de o governo brasileiro, sobre o comando de Getúlio Vargas sempre se mostrara favorável aos fascistas e NS´s da Europa, e muitas das reformas de seu regime condizerem com essa simpatia e adoção de forma de governo. favorecidos com as relações amistosas entre os governos, e por segmentos conservadores da Igreja Católica e da imprensa, as células poderiam se desenvolver em diferentes partes do país com especial atenção para o Sul e São Paulo.

Várias pessoas importantes do governo de Getúlio Vargas de 1930 a 1945 nutriram admiração pelo governo da Nova Alemanha. Entre estas, estavam comandantes militares que apoiaram Getúlio Vargas na implantação da ditadura do Estado Novo como o general Eurico Gaspar Dutra (ministro da guerra de 1936 a 1945, e futuro presidente da República), o general Góis Monteiro (ministro da guerra em 1934) e Filinto Müller (chefe de polícia do Distrito Federal, futuro senador e líder do partido ARENA).




Porém, essa relação era mais que simpatia ideológica. A Alemanha da época como parceira econômica, tornou-se de longe a maior importadora dos gêneros fabricados e exportados no país, desde o alimentício (café, leite, laranja) a matéria prima para diversos tipos industriais necessários ao desenvolvimento da crescente economia germânica, criando uma nova rota comercial rica e paralela aos monopólios de mercado internacional. Até mesmo o Banco Alemão Transatlântico tornou-se local de circulação dos adeptos Nacional-Socialista no Brasil e de muitos da comunidade alemã.

No âmbito da política internacional, os dois governos, tanto de Vargas quanto de Hitler, trabalharam conjuntamente no combate ao comunismo internacional. Não era segredo pra ninguém que a polícia política do Estado Novo e seus órgãos de censura receberam o devido treinamento da Gestapo (Policia Secreta Política) alemã, para combater tanto Integralistas, quanto as tentativas comunistas de golpe, como a de Prestes e Olga Benário financiadas pelo próprio Kommitern soviético.

3.1 - PROPAGANDA DIFAMATÓRIA ALIADA

Logo de início, muito se especulava (a mídia inimiga alarmada) a respeito das condições de vida dos alemães em terras "tupiniquins". Tanto a mídia nacional quanto internacional evidenciava propositadamente sobre o calor das terras ingrimes de um país tropical e a impossibilidade do colono europeu em se estabelecer e fincar raízes.


O que já por si só evidenciava uma grande mentira, pois, de fato, os europeus em geral preferiam "descer" o país em busca de climas mais confortáveis. Como prova disso, citemos as fracassadas tentativas de colonização europeia no nordeste que pouco lograram. Porém, o sul do país sempre apresentou condições mais parecidas possíveis a sua terra natal e não é atoa que até hoje é visível nessa parte do país 

Este mapa da época (colorido artificialmente) ao lado direito, mostra uma esquematização da colonização alemã no sul do país. Escrito em alemão, mostra as áreas rosadas, que representam as povoações germânicas nas terras brasileiras.

4 - ORGANIZAÇÃO DO PARTIDO

O jornal Deutscher Morgen (Aurora Alemã) – publicado em São Paulo desde 1932 – funcionou como um dos principais veículos da propaganda de Hitler no seio da comunidade alemã. A partir de 1934, passou a ser o órgão oficial da seção que coordenava as atividades do Partido Nacional-Socialista em todo o Brasil (NSDAP - Landesgruppe Brasilien), sob o comando do seu chefe Hans Henning von Cossel. A mesma empresa publicava também o almanaque Volk und Heimat(Povo e Terra Natal), que circulou entre 1935 e 1939.



Publicado entre 16 de março de 1932 (um ano antes da ascensão de Hitler ao poder) e dezembro de 1941, Auto-proclamado "folha oficial do Partido NS no Brasil", foi o periódico do gênero de maior periodicidade do país. O jornal, cuja redação estava instalada no bairro da Mooca, em São Paulo, durante seus primeiros anos. Comandado por Hans Henning von Cossel, noticiava fatos ligados ao III Reich, divulgando pronunciamentos de Adolf Hitler e de outros expoentes do governo alemão. O "Aurora"  também relatava o que acontecia na filial do partido no Brasil e publicava anúncios convidando os leitores a contribuírem financeiramente com o Auxílio de Inverno Alemão, um programa de ajuda aos setores mais pobres da sociedade germânica.

Outros grandes jornais da época, eram o Der Deutschen Rio Zeitung (Jornal Alemão do Rio) Blumenauer Zeitung (Jornal de Blumenau), Urwaldsbote (Correio da Mata)


Até então, embora exista registro das atividades partidárias no Brasil desde 1928, somente em 1934 foi oficialmente fundada a Seção, na tentativa de centralizar a ação de grupos autônomos que surgiram espalhados pelo país até aquela data. As aspirações principais da organização eram levar a doutrina nacional-socialista aos alemães residentes fora da pátria-mãe e, onde fosse possível, encabeçar organizações de caráter germânico no Brasil, como clubes e consulados.

4.1 - HANS HENNING VON COSSEL



O homem que viera a se tornar líder do partido e de seus negócios no Brasil, chefe do jornal de língua alemã, von Cossel era adido cultural da Embaixada da Alemanha no Rio de Janeiro e líder -Landesgruppenleiter - da célula do NSDAP no Brasil, mantinha boa relação com o presidente do Brasil, Getúlio Vargas e Já se encontrou com Adolf Hitler (segundo registros, o encontro com Hitler, que foi para apresentação de relatórios, teria ocorrido em 1936).



Em 1935, o então comerciante alemão Hans Henning von Cossel descrevia a então bucólica Blumenau, em Santa Catarina: "Quem pode compreender a sensação que se tem ao encontrar no coração da América do Sul uma cidade em que é difícil ouvir uma palavra em português, em que as casas lembram uma pequena cidade da Alemanha central? Vêem-se aqui e ali palmeiras, mas elas parecem deslocadas num lugar onde até os poucos negros existentes falam alemão e se sentem como bons "alemães". Cossel, definitivamente não era apenas um entre os 230.000 imigrantes de origem alemã que habitavam o Brasil na década de 30. Oficialmente, tendo, como já dito, o cargo de adido cultural da Embaixada da Alemanha, no Rio de Janeiro, na verdade, exercia uma função estratégica: instalar e comandar, no Brasil, a célula do Partido NS. Foi eficientíssimo em sua missão. Documentos que hoje se encontram nos arquivos de órgãos federais alemães mostram que a seção brasileira teve o maior número de filiados (2.822) entre as 83 células espalhadas por todo o mundo, superando países que sofreram influência direta do III Reich, como Áustria e Polônia.

Dentro dessa estratégia, Von Cossel, radicado no Brasil desde 1931, como adido cultural na embaixada tinha um papel de destaque. Segundo o Ministério das Relações Exteriores alemão, era "um dos mais afortunados e confiáveis chefes dos Landesgruppe", como ficaram conhecidas as células do Partido Nazista em outros países. 

Mas seria um erro encaixá-lo como uma espécie de Füher brasileiro. Uma vez comandando como Landesgruppenleiter,com sede em SP, da qual as outras estavam submetidas, por sua vez, respondia ao AO - Ausland organisation der NSDAP(Organização para os Negócios Estrangeiros do NSDAP), de Ernest Wilhelm Bohle, em Berlim, que por sua vez respondia ao Ministro das Relações Exteriores, Joachim von Ribbentrop, que respondia a Hitler.


Ao que se sabe amais da vida deste homem é que Hans Henning von Cossel teve duas filhas: Jutta e Gisela e que morreu em 1997. Ana Maria conseguiu entrevistar duas filhas do comerciante. "Elas têm a lembrança de um homem que fazia muitas viagens pelo Brasil e para a Alemanha, mantinha uma boa relação com o então presidente Getúlio Vargas e chegou a ser recebido pelo próprio Hitler", conta a historiadora, que em 2001 escreveu a tese de mestrado "A caça às suásticas – o Partido Nazista em São Paulo sob a mira da polícia política".

Ele era muito bem visto por Vargas, que lhe deu de presente uma pintura sua com uma bela moldura. Ao deixar o Brasil, em 1942, após o rompimento do Estado Novo com o Eixo, Cossel, convidado a trabalhar no Ministério das Relações Exteriores, declinou e foi servir na Marinha. "Nisso não colaboro!", disse ele, segundo uma das filhas.

O partido nazista no Brasil foi algo diferente. A relação de Cossel com Hitler e Vargas (que, em carta ao Führer, o chamava de ‘grande e bom amigo’) tem um caráter especial que mostra a amplitude do movimento nazista no Brasil. Não era apenas um movimento de colonos "saudosistas", e sim algo que interferiu nos grandes escalões de poder da sociedade.

4.2 - MEMBROS E CÉLULAS DO PARTIDO

Calcula-se que até cerca de 5% dos imigrantes alemães então residentes no Brasil estiveram, em alguma época, associados ao Partido Nazi alemão, e a organização chegou a contar com membros filiados em 17 Estados brasileiros, cuja maioria residia em São Paulo. Porém, de início, somente alemães natos poderiam aderir ao Partido como sócios. Aqueles que não fossem mais que quisessem aderir ao partido deveriam atestar posteriormente sua comprovação como caucasiano (ariano) e aceitar a cultura germânica como cultura mãe.




Porém, deve-se lembrar que a grande maioria dos imigrantes alemães não se filiou de fato as células presentes nos Estados. Por exemplo, atrás de São Paulo, com 785 filiados, exista Santa Catarina (Estado de Fundação) com 528. No Paraná, o partido foi o quinto maior (com metade dos filiados em Curitiba). Segundo o Censo da época, havia 12 mil alemães natos no estado, dos quais menos de 2% eram filiados. 

Lá, em geral, os militantes eram jovens (entre 25 e 35 anos); pertenciam à classe média, ou média alta, e trabalhavam como empregados em empresas alemãs, às quais mantinham constantes ligações com a pátria-mãe. Liderava-os, desde a fundação do núcleo em 1933, um funcionário do Consulado da Alemanha de Curitiba, Werner Hoffmann. 


Enérgico e impositivo, Hoffmann usou de múltiplos artifícios para introduzir o Nacional-Socialismo nos clubes, sociedades e outras entidades germânicas; em seus depoimentos à polícia, descaradamente falava em “tomar de assalto” os clubes germânicos e mesmo o Consulado da Alemanha. Nesse último, a troca de um embaixador, transferido para a África, por pressão dos nazis, significou uma espécie de fusão entre o partido e o órgão governamental alemão.



Em algumas deliberações, que cabiam tradicionalmente à entidade consular, as questões eram antes remetidas ao líder da NSDAP, para ouvir-lhe um parecer. No Paraná, a resistência encontrada à pressão dos nazis não foi pequena, mesmo que ela não significasse, de imediato, uma recusa ao Nazismo como ideologia. Conta, Rafael Athaides, mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá.

4.3 - ANTI-SIONISMO/COMUNISMO E INTERIORIZAÇÃO

A convivência de alemães com judeus era rara, só há poucos registros. Nos anos 1930, a comunidade judia no país consistia de no mínimo 40 mil integrantes. O anti-semitismo local tornou-se um "discurso importado", ou seja, na prática ele quase inexistia(embora tenha existido, principalmente nas grandes cidades, como no Paraná, onde o embate o integralismo, judeus e alemães mais se deu, assim como em São Paulo) e, na teoria, ele existia na publicação de artigos contra judeus. Mas o tom era de luta entre os "judeus de lá" contra os "alemães de lá". Embora o mais grave seja que o lobby judaico até no Brasil rodeava de mentiras e inverdades o partido, o que o colocava sobre campo minado real no que diz respeito aos "nativos".



Apesar de não ter representatividade política, o partido nazista promoveu diversas atividades no Brasil. Os documentos reunidos comprovam. São fotos de partidários, convites para reuniões, cartões postais com imagens de Hitler, passeatas e outras manifestações públicas, revistas e jornais. As próprias crianças eram chamadas para participar da propaganda Hitlerista desde cedo.


Por isso, longe dos grandes centros urbanos, que por si só já ofereciam uma atmosfera bastante cosmopolita, a ideologia partidária se desenvolvera mais "ao pé da letra", se comparado ao fato da questão da tropicalização do elemento "germanizador" das comunidades. A esse processo, os historiadores chamam, "Nazismo rural".

Como pequeno exemplo disso, citemos o Nacional-Socialismo em Blumenau (SC), onde 70% da população no final dos anos 30 era composta por alemães ou descendentes, e destes, apenas 10% falavam português; 30% compreendiam a língua nacional, mas não se consideravam brasileiros.



O restante só compreendia o alemão e em Santa Cruz do Sul (RS), da década de 1930 tem pouco mais de 50 mil habitantes e nenhuma rua calçada. Apenas cinco mil viviam na parte mais desenvolvida da cidade. Dois jornais eram responsáveis por trazer notícias diretamente da Alemanha: o Volksstimme e o Kolonie. Pelo rádio também era possível acompanhar os discursos dos líderes alemães. Em 1933, mesmo ano que Hitler assume o poder, nasce uma célula do Partido Nazista na cidade.




Em um prédio na Rua Tenente Coronel Brito, entre a Júlio de Castilhos e 28 de Setembro, ficava a Deutsh Haus - em português,Casa Alemã - um ponto de encontro dos filiados do Partido Nazista e simpatizantes. Os encontros eram públicos e abertos a quem compartilhasse da ideologia. Na Deutsh Haus, os visitantes reuniam-se para conferenciar, escutar as lideranças pelo rádio, assistir a filmes e entoar cânticos.

4.4 - HITLERJUGEND BRASILEIRA



O distanciamento das comunidades alemãs com os centros urbanos, fez com que o Estado Brasileiro omitisse durante gerações o dever de ofertar serviços básicos como: escolas, hospitais, instituições culturais e de lazer. Em conseqüência disso, os colonos alemães financiaram com seu próprio capital, instituições criadas por alemães para atender exclusivamente alemães.

Entre 1850 e 1930, o número de escolas mantidas pelas comunidades de origem alemã cresceu continuamente. No Rio Grande do Sul, por exemplo, elas passaram de 24 para 937 estabelecimentos de ensino. Em Santa Catarina não foi diferente. O caso de Blumenau é típico dessa tendência. Em 1928, das 200 escolas daquele município, nada menos de 132 eram alemãs.

Com tamanha população sendo alfabetizada exclusivamente em alemão, é natural que a imprensa publicada naquela língua tenha conhecido um crescimento igualmente expressivo. Dentre os vários jornais que eram impressos em alemão no Brasil desde o século XIX, destacava-se a Deutsche Zeitung (Jornal Alemão). Sua tiragem passou de cerca de 4 mil exemplares em 1882 para 55 mil em 1928.



Estima-se que, por volta de 1940, a ampla maioria dos membros da colônia alemã (70%) dispensava o uso do português em suas vidas públicas e privada. Isso significa que existiam 640 mil indivíduos que, mesmo tendo nascido no Brasil, falavam apenas o alemão.

Como organização ligada diretamente a esse partido, a Hitlerjugend no Brasil teve a adesão de 550 meninos e meninas alemãs e descendentes. Aqui os preceitos nazistas eram passados às crianças e jovens por meio da família e, principalmente, pela educação nas escolas. Estima-se que na década de 30 existiam cerca de 1.260 escolas alemãs no país, com mais de 50 mil alunos. Em muitas das escolas em comunidades alemãs utilizavam hinos e poemas nacional-socialistas para ensinar a língua e a cultura germânicas.



Todas elas contavam com subsídio do governo alemão e algumas haviam sido fundadas ainda no século XIX. Desde a ascensão de Hitler ao poder, as escolas passaram a ser vistas como importantes centros de difusão dos ideais nacional-socialistas.

Até o começo do Estado Novo (1937-1945), tais escolas funcionaram normalmente, sem preocupar o governo, já que ajudavam na educação dos jovens, desonerando as escolas públicas. Porém, a partir de 1938, com a campanha desencadeada por Vargas, que obrigou todas as instituições estrangeiras a se nacionalizar, as escolas alemãs passaram a ser vigiadas.

5 - O GOVERNO ALEMÃO E A EXPEDIÇÃO AO BRASIL (relações mais que comerciais)

Segundo o historiador René Gertz, no livro "O Fascismo no Sul do Brasil", muitos pesquisadores da área da História afirmam em suas teses que não existem evidências empíricas que indiquem que, efetivamente, haveria intenções de Hitler e do alto escalão da Alemanha nazista de planejar um ataque ou conquista em regiões na América Latina.

Existem diversas especulações de que os nazistas pretendiam criar uma área alemã no Brasil, mas historiadores descartam a hipótese porque esta intenção política nunca foi documentada. Na verdade, segundo historiadores, isso não passa de confusão.

Primeiro porque existiu uma expedição de alemães, patrocinada por nazistas, de 1935 a 1937, à Amazônia. “Na verdade, estas expedições de reconhecimento de território eram comuns à época. A questão é que um dos integrantes morreu durante o caminho e o enterram lá com uma cruz que existe até hoje”, afirma a historiadora Ana Maria Dietrich. A cruz, que tem uma suástica, é explorada como atração turística no Amapá.



O historiador Rafael Athaides lembra que a ideia de que os nazistas “agiam sorrateiramente para conquistar o Sul do Brasil é uma falácia veiculada pela mídia durante a Segunda Guerra Mundial.”

“Esse mito de ‘perigo alemão’ serviu durante o Estado Novo (1937–1945) por dois motivos”, diz Athaides. Um deles, o projeto nacionalista varguista, que via nos alemães uma ameaça nacional; outra, a aproximação do Brasil com os Estados Unidos durante a Segunda Guerra, que resultou em benefícios econômicos ao país, mas criou a necessidade de rompimento com a Alemanha.



No ano de 1935, um grupo de alemães, vindo de Belém, aportou em Santo Antônio da Cachoeira. Era uma expedição alemã científica. Os expedicionários subiram o curso do rio Jari além da cachoeira de Santo Antônio, montado a base de seu acampamento no local conhecido cachoeira de Macaquara.


Hermann Göring, ministro da Aeronáutica de Hitler, foi quem patrocinou toda a expedição, Faziam parte da expedição: Gerd Kahle, chefiando o grupo; Joseph Greiner, responsável pela ordem interna da expedição; Otto Schulz-Kampfhenkel, aviador, amigo de Hermann Göring. Participava também da expedição Gerhard Krause, mecânico de avião e operador de som e o experiente explorador Ernst Schaffer. A expedição foi conduzida, na prática, no meio da floresta pelos indígenas aparais, nativos da bacia  do rio Jari, que colaboraram alegremente carregando bandeiras nazistas e outros apetrechos. Vale ressaltar que esses índios, naquela época eram absolutamente ignorados pelo estado brasileiro. Quanto a expedição, terminara em 1937 e ficara conhecida como, Expedição Jari.



Entre a foz do Rio Jari, no Amazonas, e sua deslumbrante Cachoeira de Santo Antônio, há uma cruz de madeira, medindo três metros de altura por dois metros de largura, que há alguns anos é explorada como atração turística no Amapá. Debaixo dela jaz o teuto-brasileiro Joseph Greiner, ali sepultado em janeiro de 1936, vitimado pela selva. Feita sacrário, hoje a cruz é protegida por um telhado e encabeçada pelo entalhe de uma suástica.



Dentro do espírito do Lebensraum(a busca do “espaço vital” via expansionismo militar), o Brasil tinha potencial, A Amazônia igualmente interessava ao Reich por algum motivo, entre 1935 e 1937, outra expedição percorreu o rio Jari até a fronteira com a Guiana Francesa, resultando num documentário sobre o “enigma do inferno da mata”, feito pela UFA, o célebre estúdio cinematográfico alemão. 

Houve a “tentativa de fazer amizade entre alemães e índios”, sem falar nas caixas de peles de animais, esqueletos, fósseis e milhares de artefatos arqueológicos levados para a Vaterland, em sigilo, para análise posterior.


Por André Marques

Muito comum hoje em dia os profissionais da história colocarem o Integralismo e Nacional-Socialismo como "a mesma coisa". Porém, engana-se. Apesar de haver mais pontos em comum do que divergências, essas poucas diferenças eram suficientemente gritantes para manter dois movimentos concordantes, porém separados.


ALEMÃES x INTEGRALISTAS 


A relação entre Nacional-Socialistas e a Ação Integralista Brasileira (AIB), de Plínio Salgado, com suas camisas verdes e seu "anauê!" foi tal que: o integralismo pode ser visto como importante característica do "fascismo tropical" por ser algo extraordinário que não estava nos planos originais da organização do partido no Brasil. O canto de sereia integralista era doce: "Se tu fosses alemão serias Nacional-Socialista. És brasileiro, inscreve-te, portanto, nas Legiões Integralistas e vem vestir a camisa verde dos que se batem pelo bem do Brasil". 

Só que, enquanto a AIB, como movimento nacionalista, não concordava com o nacionalismo alemão (embora, com fins de propaganda, se apresentasse como a solução viável para a materialização do "Deutschtum tropical"), o partido não queria a assimilação da comunidade alemã no Brasil. Caracterizando-o pejorativamente como nativista, o NSDAP era totalmente contrário a que os alemães e seus descendentes se filiassem à AIB, pois se achava que isso iria afetar a germanização do Brasil.

Sob a visão do III Reich, o integralismo destacava principalmente a questão racial e cultural. O governo nazista chamava isso de "lusitanização", encarada como ameaça ao Deutschtum





Visto com desprezo pelos alemães de Berlim, o integralismo tornou-se um anátema após a patética tentativa de golpe contra Vargas, em 1938, com a suspeita de participação de nazistas brasileiros. Além de desobediência aos ditames da Alemanha, o putsch tupiniquim também deixava o Estado alemão numa saia-justa indesejável com o governo brasileiro, ao qual procurava, sem sucesso, agradar, mesmo ciente de que Oswaldo Aranha era o chanceler de Getúlio. 

Nos tempos "mais altos", a década de 1930, as associações e grêmios que promoviam variados tipos de aglomeração dentro das comunidades germânicas no Brasil era comum e livre. Isso durou até a passagem de lado do Brasil de Vargas para o lado estadunidense.

Este preferia virar o jogo em favor dos Estados Unidos, que considerava parceiros mais valiosos do que a Alemanha, embora, nos anos 1930, o comércio entre alemães e brasileiros fosse o dobro do feito com os ianques. Plínio Salgado, de pedra no sapato do ditador brasileiro, virou pedregulho nas botas de Hitler por um erro de cálculo de Berlim. Por conta da obrigatoriedade da aceitação da cultura germânica como "mãe" para aqueles descendentes de europeus que quisessem aderir ao partido (o que não podia ser mais coerente, vendo de uma forma externa) ,este perdeu uma de suas maiores forças no Sul, onde a comunidade alemã mais expressiva era de teuto-brasileiros porém, junto a várias outras nacionalidades além dos brasileiros.





Assim, houve uma reação ao nazismo segregacionista, líderes não foram aceitos e o integralismo se tornou a "opção viável". O movimento conservador, direitista e nacionalista de Salgado atendia ao que os alemães nascidos no Brasil até em parte se "dividiam", mas eram aliados pela Vaterland.

Diante do imbróglio que envolvia nazistas e integralistas, Vargas pôde, sem problemas, colocar várias organizações na clandestinidade, inclusive a célula do NSDAP no país. Afinal, entre 1938 e 1942, dentro do projeto de nacionalização do Brasil almejado por Vargas, o alemão passa de perigo ideológico, pela divulgação do ideário nazista, para perigo étnico, como alienígena ao "Homem Novo" que se desejava construir. Com a entrada do Brasil, na Segunda Guerra Mundial, em 1942, ao lado dos Aliados, o perigo vira "militar e ideológico". 





Vargas estava com o melhor dos mundos políticos graças à inabilidade de nazistas e integralistas frente a essa situação. Dessa forma, não precisava mais se preocupar com indivíduos que apoiassem Hitler, e não a ele. Ao mesmo tempo, pôde canalizar a seu favor toda a demanda autoritária, xenófoba e nacionalista desses grupos. Bastava fazer com que se sentissem vinculados ao Estado Novo, e não ao III Reich. Lá estava, para todos, um chefe “pai da nação”, anticomunista, adepto da ordem, do progresso e das massas.

O mesmo ocorreu entre a Itália de Mussolini e a AIB. “A ação fascista, que de início apoiou Salgado, foi muito útil à direita nacional ao popularizar as idéias autoritárias e estimular muitas pessoas a uma maior simpatia em relação ao Estado Novo.

Os fascistas, melhores políticos do que os germânicos, por um longo tempo fizeram um jogo duplo com Vargas e seus inimigos, os integralistas, apostando em ganhar em quem vencesse no futuro. Como o que houve com os nazistas brasileiros, foram os filhos de imigrantes italianos que optaram pelo apoio total à AIB, ao contrário de seus pais ou avós, italianos natos, que eram fascistas à Mussolini. Também, como no caso alemão, havia uma preocupação étnica implicada no apoio ao movimento de Salgado e, após 1938, um total descrédito na capacidade revolucionária dos integralistas. A italianidade falava mais alto, como a germanidade. Aqui Salgado deu-se melhor, pois antes de ser esquecido recebeu grandes somas de dinheiro vindas de Roma. Curiosamente, a poderosa burguesia paulistana, fervorosa apoiadora do fascismo italiano, fechou seus cofres ao integralismo.


O PARTIDO EM SANTA CRUZ DO SUL



A Santa Cruz da década de 1930 tinha pouco mais de 50 mil habitantes e nenhuma rua calçada. Apenas cinco mil viviam na parte mais desenvolvida da cidade. Dois jornais eram responsáveis por trazer notícias diretamente da Alemanha: oVolksstimme e o Kolonie. Pelo rádio também era possível acompanhar os discursos dos líderes alemães. Em 1933, mesmo ano que Hitler assume o poder, nasce uma célula do Partido Nazista na cidade.

Em um prédio na Rua Tenente Coronel Brito, entre a Júlio de Castilhos e 28 de Setembro, ficava a Deutsh Haus - em português, Casa Alemã - um ponto de encontro dos filiados do Partido Nazi e simpatizantes. De acordo com a numeração da época, a Casa Alemã ficava onde hoje funciona a padaria Jamaica, ou em um dos prédios ao lado. Os encontros eram públicos e abertos a quem compartilhasse da ideologia. Na Deutsh Haus, os visitantes reuniam-se para conferenciar, escutar as lideranças pelo rádio, assistir a filmes e entoar cânticos. 

Dentre os membros do Partido na cidade estavam: Oskar Agte, nascido em 1897 na Alemanha, chefe da célula nacional socialista de Santa Cruz; Paulo Ellwanger, alemão, técnico em eletricidade da Usina Elétrica de Santa Cruz, chefiava a Frente Alemã do Trabalho; Walter Schreiner, nascido em 1909 em Santa Cruz do Sul, graduado em engenharia mecânica na Alemanha; Ernesto Germano Becker, comerciante natural de Porto Alegre, vice-cônsul honorário da Alemanha em Santa Cruz; e Paulo Erath, alemão que trabalhava no setor moveleiro. 

Na década de 1990, Walter Schreiner concedeu uma entrevista para a revista Agora, na qual negou veementemente sua ligação com o Partido. Entretanto, há registros e textos assinados por ele no antigo jornal Kolonie que comprovam sua participação como membro do partido. 

Em frente ao que hoje é o Restaurante Centenário existia, na época, uma loja de cristais. Ela pertencia ao primo de Germano Becker, integrante do grupo nazi e também nomeado, na década de 1930, como vice-cônsul do vice-consulado da Alemanha instalado em Santa Cruz do Sul.


A propaganda Nazi foi pioneira na história da política com a forma pela qual enfatizava o ideal do partido. Grande parte do sucesso da política hitlerista devia-se à forma como eram utilizados o rádio, o cinema e as agências de notícia. Para além dos alemães residentes na Alemanha, a propaganda direcionava-se aos descendentes espalhados pelo mundo. Assim, filmes com temática eram exibidos, inclusive em Santa Cruz do Sul.

Para reforçar a ideologia; nos jornais também vinham convites ao povo para ouvirem a rádio alemã em determinados horários e acompanharem os discursos de Hitler e dos demais líderes.

O movimento recebe um golpe mortal em 1938, quando o Governo Federal emite um Decreto-Lei que proíbe atos de simpatia a partidos estrangeiros. A partir de então, é proibido usar uniformes de partidos como o Nazi. Após esse período não se vê mais nenhuma repercussão da célula em Santa Cruz do Sul. Apenas em 1941 se apreende algum material, na época em que o Brasil também entra na guerra contra a Alemanha. 

Após o término da II Guerra Mundial e com o fim do Terceiro Reich, a campanha nazista passou a ser severamente proibida no mundo inteiro, e em Santa Cruz não foi diferente. A onda "antinazista" tomou conta da cidade e até mesmo a loja de cristais do primo de Becker foi apedrejada por cidadãos santa-cruzenses.


O FIM DO NACIONAL-SOCIALISMO NO BRASIL




O governo do Estado Novo promoveu a integração forçada dos alemães e de seus descendentes que viviam em colônias isoladas no sul do Brasil e também em todo o país, expulsando todos os "suspeitos" (quando na verdade entenda-se por qualquer um de sangue alemão) e aprisionando outros, após a saída neutralidade do Brasil e alinhamento com os Norte-americanos. Em muitas ocasiões agiu com brutalidade contra imigrantes humildes que não mantinham quaisquer relações com a Alemanha nazista, o fascismo italiano ou o imperialismo japonês. Muitos outros, indignados com a mudança de lado do Brasil, regressaram a Alemanha. principalmente jovens. Esse foi caso de Egon Albrecht.

Em 1940, durante uma visita a Blumenau, cidade de colonização alemã no estado de Santa Catarina, Vargas declarou: "O Brasil não é inglês nem alemão. É um país soberano, que faz respeitar as suas leis e defende os seus interesses. O Brasil é brasileiro. (...) Porém, ser brasileiro, não é somente respeitar as leis do Brasil e acatar as autoridades. Ser brasileiro é amar o Brasil. É possuir o sentimento que permite dizer: o Brasil nos deu pão; nós lhe daremos o sangue".

Os imigrantes japoneses e italianos também foram perseguidos e forçados a se "abrasileirar". Campos de concentração foram criados em quase todo país para "abrigar" e deter essas populações sobre regime de inimigos de guerra. Escolas, hospitais, salões, grêmios, templos (igrejas), foram destruídos e perseguidos no Estado Novo e quem mais sofreu essa intente foi a população comum dos colonos não só de alemães, mas de japoneses e italianos. A perseguição da mídia exaltou uma verdadeira guerra civil contra essas populações tanto no interior quanto nas cidades. Foram tempos difíceis. (Foto: mapa indicando os campos de concentração criados para imigrantes e suspeitos do Estado Novo espalhados pelo país no ano de 1942 a 1945).



A partir da declaração de guerra do Brasil aos países do Eixo, em 1942, o governo brasileiro criou uma série de campos de concentração para alemães, italianos e japoneses suspeitos de atividades antibrasileiras e ainda de prisioneiros feitos entre tripulantes de embarcações alemãs capturadas ou avariadas nas costas brasileiras. Em número de doze, os campos oficiais eram Estrela (RS), Florianópolis (SC), Curitiba (PR), Guaratinguetá (SP), Pindamonhangaba (SP), Bauru (SP), Pirassununga (SP), Ribeirão Preto (SP), Pouso Alegre (MG), Niterói (RJ), Igarassu (PE) e Tomé-Açu (PA).

Houveram muitas torturas, muitos membros conseguiram fugir para a Alemanha, ou Argentina e outros países aonde ainda conseguiam achar esconderijo. A polícia política fez uma completa varredura de desarticulação do Partido e suas células desde o Nordeste até o Sul, o que seria chamado hoje de "força tarefa".

Porém, Após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, muitos condenados como criminosos de guerra fugiram para o Brasil e/ou América do Sul e se esconderam entre as comunidades teuto-brasileiras. O caso mais famoso foi do médico condecorado, Josef Mengele. 
TROPICALIZAÇÃO

Mesmo o Nacional-Socialismo foi passível de "tropicalização" quando abaixo do Equador. Essa tropicalização ocorreu de acordo com as nuances que a realidade brasileira impôs. Assim foi possível aos alemães e descendentes ao mesmo tempo comemorar o aniversário de Hitler e uma Festa de São João, tomar cerveja alemã e comer canjica. Há quatro variáveis que demonstram a "tropicalização do nazismo" no Brasil: o racismo tropical, ou seja, além dos judeus, houve divergência contra outros grupos, como os negros e mestiços, embates dos quais as populações alemãs estavam mais sujeitas nas cidades, que costumam insistir numa forma cosmopolita de convivência e que estavam mais em contato com o partido; a possibilidade de casamentos interétnicos e certa resistência da população local ao germanismo, já que até o diretor da célula paulista, Roland Braun, era casado com uma brasileira e muitos alemães diziam se “sentir em casa” na Gastlandnacional; a presença do integralismo que distorceu a lógica do modelo; e a mistura de hábitos, já que, ao contrário do preconizado, não houve a formação de guetos teutônicos, mas uma interação com a sociedade local, em que os alemães absorviam hábitos e costumes. 

A PERSEGUIÇÃO E O BRASIL NA GUERRA.  O FIM DE UMA ERA


A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial deu início a uma onda de violência contra imigrantes germânicos por todo o país.

Os aliados, insuflando um suposto ataque a 6 navios na costa brasileira em 18 de agosto de 1942, deu justificativa suficiente para isso (tal como a mesma desculpa da Primeira Guerra, cerca de 30 anos antes). A população saiu às ruas e destruiu estabelecimentos que tinham alguma ligação com os países considerados inimigos, como a Alemanha. No Rio Grande do Sul, casas, lojas e igrejas foram os principais alvos da revolta.

Os imigrantes alemães foram perseguidos e muitos acabaram sendo torturados. Famílias inteiras precisaram fugir e se refugiar em comunidades próprias, conhecidas como colônias e que até hoje mantêm a cultura germânica. A língua alemã e os cultos luteranos foram proibidos. A torre de uma igreja em Cerrito, que na época pertencia a Pelotas, na Região Sul do estado, foi derrubara com dinamites. Tudo isso foi propagado pela polícia do Estado Novo, instaurado em 1937.

Em Pelotas, o clima de medo se espalhou pela cidade. Muitas famílias deixaram suas casas, que foram invadidas. Os moradores pegaram poucos alimentos, alguns cobertores e fugiram para o mato. Era inverno, fazia frio, e algumas pessoas permaneceram escondidas em matagais por até duas semanas.

Os assentamentos construídos pelos imigrantes alemães perseguidos transformaram-se em colônias penitenciárias. Qualquer descendente que quisesse se deslocar para outro local precisava comparecer na delegacia e pegar um salvo-conduto. "O direito de ir e vir dessas pessoas foram confinados e aprisionados pela polícia. Houve uma criminalização dos alemães", comenta José Plínio Fachel, historiador autor de uma tese de doutorado sobre a época.

Depois da guerra, o governo brasileiro reconheceu e indenizou algumas famílias, porém nada substitui a proibição de uma cultura.


As forças brasileiras, ao retornarem (FEB/FAB) marcaram também o fim do governo  nacionalistas de Vargas em 1945, após ajudarem a derrubar seus maiores aliados na Europa. O mesmo governo que teve que derrubar também a AIB em seu decurso. Abria-se então a luta pelo poder no Brasil que culminaria na resistência do governo de Vargas anti a imperialização no país mas que logo cairia sobre a tutela governamental norte-americana com o governo militar que procurava a escanção desde 1946.

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