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sexta-feira, 19 de março de 2021

CHAUKE STEPHAN FILHO: BERTOLT BRECHT REATUALIZADO

No tempo em que Hitler levantava a Alemanha, um pastor luterano foi contra ele, contra o seu povo e contra seu próprio país, ainda quando os inimigos se preparavam para destruir a Alemanha.

Esse traidor chamava-se Martin Niemöller (1892-1984). Por sua traição, tal figura transformou-se em herói da esquerda.

Nos anos trintas, ele repisava certa parte de seus sermões, que ficou famosa e até hoje emociona toda a esquerdice. Dizia que ele não tinha feito nada quando prenderam comunistas, quando prenderam socialistas, quando, depois, prenderam sindicalistas e, finalmente, quando prenderam judeus. Então, ele continuava, quando os nazistas foram prender ele mesmo, não havia sobrado ninguém para protestar.

Outro opositor do Nacional-socialismo, o teatrólogo e também alemão Bertolt Brecht (1898-1956) autor do texto igualmente popular intitulado “O analfabeto político”, ele escreveu um poema que chamou de “Intertexto”. O Intertexto era isso mesmo, um intertexto, ou seja, cópia modificada de texto original, uma paráfrase. No caso, o texto original era aquele de Niemöller.

 Brecht começa assim: “Primeiro levaram os negros/Mas não me importei com isso./Eu não era negro”. Na continuação, foram levados operários, desempregados, miseráveis, ante a indiferença do narrador, que então conclui o texto da seguinte forma: “Agora estão me levando,/Mas já é tarde./Como não me importei com ninguém,/Ninguém se importa comigo”.

Um outro poema que encanta os “editores” do Supremo Tribunal Federal (STF), como também os censores do sindicato paraestatal dos advogados (OAB), é do poeta e escritor natural de Niterói Eduardo Alves da Costa (1936- ), autor também inspirado naqueles dizeres das prédicas de Niemöller. A segunda estrofe:

Na primeira noite eles se aproximam/e roubam uma flor/do nosso jardim./E não dizemos nada./Na segunda noite, já não se escondem:/pisam as flores,/matam nosso cão,/e não dizemos nada./Até que um dia,/o mais frágil deles/entra sozinho e nossa casa,/rouba-nos a luz e,/conhecendo nosso medo,/arranca-nos a voz da garganta./E já não podemos dizer nada.

Esse texto intitula-se “No caminho, com Maiakóviski” e na campanha do século passado (1984) pelas eleições diretas ganhou massiva divulgação entre esquerdistas, que então achavam-se os campeões da libertação nacional. Ironicamente, os ministros do “nosso” STF estão hoje entre os maiores ladrões que “arrancam a nossa voz da garganta”.

 Aliás, também não terão sido fascistas os que mataram Brecht. Logo depois da criticar a polícia secreta da Alemanha Oriental, o poeta morreu “do coração”. Terá sido mera coincidência?

A fonte que deu de beber aos autores citados está em Maiakóvski (1843-1930), poeta russo, cantor do comunismo, apologista de Lênin. Dado o campo ideológico em que brotaram esses textos como flores vermelhas, eles estão cobertos de bolor histórico, nestes nossos dias, quando o comunismo desmoralizou-se ao cair do Muro de Berlim. Sua comum mensagem política dirigida contra a direita antiliberal não mais corresponde a situação atual da política mundial. Inverter o sentido dessa mensagem é como esses textos podem ser atualizados. Este escrevinhador tenta fazer isso no poema abaixo. A esquerda deu ao texto de Niemöller o título de “E não sobrou ninguém”. O famoso intertexto de Brecht é aqui reatualizado, subvertido e estendido pela pena deste modesto autor. Confira:

E não sobrou alemão

Primeiro levaram os racistas,
Mas não me importei com isso
Eu achava que não era racista.

Em seguida levaram alguns machistas.
Não fiquei preocupado.
Eu até gostava de viado.

A seguir detiveram transfóbicos.
Pouco se me deu:
Antes eles do que eu.

Após, dos fascistas foi a vez.
Manifestantes antidemocráticos
Acabaram no xadrez.
Mas isso nem me estremecia,
Eu era pela democracia.

Depois prenderam jornalistas
Mas não me importei com isso
Porque eu não estava na lista.

Depois agarraram um deputado
Também não me importei,
Mesmo tendo mandato.

Aí chegou a minha hora.
Colocado na prisão,
Ninguém me deu a mão.
Fiquei desesperado,
Não me restava aliado.

Era tarde demais.
Eu gritava “Não!”,
E ninguém mais.

Começara todo o caso
Na guerra sem ocaso.
Meninos, é assim:
A guerra não tem fim.

Havendo o inimigo falado
Que a guerra tinha acabado,
Armou-se em Berlim
Da mentira o camarim.

Quando a Alemanha
A guerra perdeu,
Fê-la sua o judeu.
Então, a toga de ternura
Encobriu a ditadura.

Na cabeça dos juízes
O mal criou raízes.
Armou-se a magistratura
Com o poder da censura.

Cada magistrado, sem nenhum asco,
Tinha em si um carrasco.
Em Nuremberg, da morte no circo,
Sob a pele de um agno,
Ali reinou o hirco.

A dissimulada vingança no apogeu
Os maiores patriotas abateu.
Grandes generais e honrados
Foram todos enforcados.
Começavam assim, desumanos,
Os tais direitos humanos.

O invasor indecente
Simulou ser boa gente.
Mas a verdade nua e crua
É que a guerra continua.

O vencedor imundo
Para si tomou o mundo.
E o hebreu, à dourada nação,
Levou desolação.

O Führer foi demonizado.
O inimigo, na sua fabulação,
Da gordura do judeu,
Até fez sabão.

Câmaras de gás,
Em campos de concentração,
Foi outra invenção.

Da cabeça dos finórios
Também rebentaram
Fornos crematórios.

Na segunda invasão,
Afundou-se a Alemanha
No mar fundo e negro
Da imigração.

Do holocausto alemão,
Não se falou.
Esse segredo
A mídia guardou.

Depois que Hitler caiu,
O mal de bem se vestiu.
Derrubado o nacional-socialismo,
Abriu-se a era do cinismo.
E das ditaduras a mais abjeta
Chamou-se politicamente correta.

Do historiador no futuro,
Sobre toda essa história,
Terrível será a conclusão:
― E não sobrou alemão!

Chauke Stephan Filho 

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