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sexta-feira, 25 de outubro de 2024

O que diz o 'Evangelho do Irmão de Jesus'?

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O que diz o 'Evangelho do Irmão de Jesus'?

Historia de Lucifer


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Historia de Lucifer 

O conflito de ideologias - o marxismo contra as massas

 


Segundo Marx, o que determina a conduta dos indivíduos é a consciência dos interesses de sua classe. Os indivíduos dariam aos interesses de sua classe preferência em relação aos seus próprios interesses.

Como exatamente o indivíduo saberia quais são os genuínos interesses de sua classe é algo que não foi respondido. O próprio Marx não pôde deixar de admitir que existe um conflito entre os interesses de um indivíduo e os interesses da classe a que ele pertence.  

No Manifesto Comunista ele diz que: "Essa organização dos proletários em classe e, portanto, em um partido político é incessantemente abalada pela competição entre os próprios trabalhadores."

Marx apenas faz uma distinção entre aqueles proletários que possuem consciência de classe -- isto é, que colocam as preocupações de sua classe acima de suas preocupações individuais -- e aqueles que não possuem. Ele considera ser um dos objetivos de um partido socialista despertar a consciência de classe daqueles proletários que não possuem espontaneamente uma consciência de classe.

A consciência de classe, segundo Marx, produz ideologias de classe.

A ideologia de classe fornece a uma determinada classe uma interpretação da realidade e, ao mesmo tempo, ensina a seus membros como agir de modo a beneficiar esta classe. O conteúdo da ideologia de classe é determinado exclusivamente pelo estágio histórico do desenvolvimento das forças materiais produtivas e pelo papel que a classe em questão desempenha neste estágio da história.

Para o marxismo, a ideologia não é uma invenção arbitrária do cérebro; ela é o reflexo da condição material da classe do pensador, a qual já está enraizada em sua mente. Não é, portanto, um fenômeno individual que depende dos caprichos do pensador. Ela é imposta à mente pela realidade, isto é, pela situação de classe do homem que pensa.

Por consequência, a consciência de classe de um indivíduo é idêntica à de todos os outros membros da mesma classe. Obviamente, nem todo companheiro de classe é um escritor e publica aquilo que pensa. Mas todos os escritores que pertencem à mesma classe pensam as mesmas ideias e todos os outros membros da classe as aprovam.

Não há espaço no marxismo para a presunção de que os diversos membros de uma mesma classe possam ter sérias discordâncias ideológicas; para todos os membros de uma mesma classe existe apenas uma ideologia.

Se um homem exprimir opiniões discordantes com a ideologia de uma classe específica, isto significa que ele não pertence a esta determinada classe. Não é necessário refutar suas ideias por meio do raciocínio discursivo; basta desmascarar sua origem e sua afiliação de classe. Isto resolve a questão.

No entanto, caso um indivíduo de inquestionáveis origens proletárias e de impecáveis credenciais trabalhistas porventura se distancie do credo marxista correto, ele é um traidor. É impossível presumir que ele seja sincero em sua rejeição ao marxismo. Como proletário, ele deve necessariamente pensar como um proletário. Uma voz interna lhe diz, de maneira inequívoca, qual é a ideologia proletária correta. Ele está sendo desonesto se ignorar esta voz e professar publicamente opiniões heterodoxas. Ele estará sendo um tratante, um Judas, uma serpente na relva. No combate a um traidor como esse, tudo é permitido.

Marx e Engels, dois homens de inquestionável origem burguesa, criaram a ideologia de classe da classe proletária. Nunca se aventuraram a discutir sua doutrina com dissidentes, como fazem, por exemplo, os cientistas, que discutem os prós e contras das doutrinas de Lamarck, Darwin, Mendel e Weismann. Em seu ponto de vista, seus adversários só poderiam ser idiotas burgueses ou traidores proletários. Assim que um socialista se afastasse um centímetro sequer do credo ortodoxo, Marx e Engels o atacavam furiosamente, ridicularizando-o e insultando-o, representando-o como um patife e um monstro perverso e corrupto.

Depois da morte de Engels, o cargo de árbitro supremo do que é e o que não é o marxismo correto passou a ser ocupado por Karl Kautsky. Em 1917, ele passou para as mãos de Lenin e se tornou uma função do chefe do governo soviético.

Ao passo que Marx, Engels e Kautsky tinham de se contentar em assassinar a reputação de seus oponentes, Lenin e Stalin podiam agora assassiná-los fisicamente. Passo a passo, eles excomungaram todos aqueles que outrora haviam sido considerados por todos os marxistas -- mesmo Lenin e Stalin -- os grandes defensores da causa proletária: Kautsky, Max Adler, Otto Bauer, Plechanoff, Bukharin, Trotsky, Riasanov, Radek, Sinoviev e muitos outros. Aqueles que os "verdadeiros marxistas" conseguiram capturar foram presos, torturados e, por fim, assassinados. Apenas aqueles que tiveram a felicidade de morar em países dominados por "reacionários plutodemocráticos" sobreviveram e puderam morrer em suas camas.

"Ditadura democrática"

Do ponto de vista marxista, há bons argumentos a favor de uma decisão pela maioria. Se surgir uma dúvida a respeito do conteúdo correto da ideologia proletária, as ideias sustentadas pela maioria dos proletários são consideradas as que melhor refletem a ideologia proletária genuína. Como o marxismo pressupõe que a imensa maioria das pessoas seja formada por proletários, então não haveria, em tese, qualquer dificuldade para os marxistas em atribuir as decisões finais em conflitos de opiniões a uma votação popular. 

No entanto, embora recusar-se a fazê-lo equivaleria a destruir por completo a doutrina de ideologia, nem Marx nem seus sucessores estiveram preparados para submeter suas opiniões ao voto da maioria. Afinal, mesmo se, pelo bem da argumentação, admitíssemos que os trabalhadores são induzidos à rebelião, por que seu motim revolucionário almejaria apenas o estabelecimento do socialismo?  

A verdade é que o conceito de socialismo não se originou da "mente proletária". Nenhum proletário ou filho de proletário contribuiu com qualquer ideia substantiva para a ideologia socialista. 

Os pais intelectuais do socialismo eram membros da intelligentsia, descendentes da "burguesia". O próprio Marx era filho de um advogado abastado. Ele estudou no Gymnasium alemão, a escola que todos os marxistas e outros socialistas denunciavam como sendo o principal braço do sistema burguês de educação, e sua família o sustentou ao longo de todos os anos de seus estudos; ele não teve de trabalhar para chegar à universidade. Ele se casou com a filha de um membro da nobreza alemã; seu cunhado era Ministro do Interior prussiano e, como tal, líder da polícia da Prússia. Em sua casa trabalhava uma governanta, Helene Demuth, que nunca se casou e que seguia a família Marx em todas as suas trocas de residência, o modelo perfeito da empregada doméstica explorada cuja frustração e atrofiada vida sexual já foram repetidamente retratadas nas ficções realistas "sociais" da Alemanha.  

Friedrich Engels era filho de um industrial rico, e ele próprio era um industrial; ele se recusou a se casar com sua amante Mary porque ela era inculta e de origem "baixa"[1] e ele apreciava as diversões propiciadas pela alta classe britânica, como, por exemplo, caçar a cavalo junto com cães de caça.

Os trabalhadores nunca foram entusiastas do socialismo. Eles apoiavam o movimento sindical cuja luta por maiores salários Marx desprezava como inútil.[2] Eles pediam por todas aquelas medidas de interferência do governo nas empresas, medidas essas que Marx rotulava como tolices pequeno-burguesas. Eles se opunham ao progresso tecnológico -- nos primórdios, destruindo as novas máquinas; mais tarde, utilizando os sindicatos para, por meio da coerção, forçar o empregador a contratar mais operários do que o necessário.

O sindicalismo -- apropriação das empresas pelos trabalhadores que nela trabalham -- é um programa que os trabalhadores desenvolveram espontaneamente. Já o socialismo foi trazido para as massas por intelectuais de procedência burguesa. Jantando e tomando vinhos conjuntamente nas luxuosas mansões londrinas e nas mansões rurais da "sociedade" vitoriana, damas e cavalheiros com trajes elegantes planejavam esquemas para converter o proletariado britânico ao credo socialista.

Ao longo de sua carreira, Marx jamais confiou no povo e jamais acreditou que este pudesse espontaneamente exigir alterações no "arranjo burguês" e implantar o arranjo que Marx defendia. Ele foi um grande entusiasta da revolução ocorrida em Paris, em junho de 1848, na qual uma pequena minoria de parisienses se rebelou contra o governo, que tinha o apoio de um parlamento eleito por meio do sufrágio universal masculino. 

Comuna de Paris, da primavera de 1871, na qual os socialistas parisienses novamente combateram o regime devidamente estabelecido pela imensa maioria dos representantes do povo francês, foi ainda mais de seu agrado. Nela, ele viu realizado o seu ideal de ditadura do proletariado, a ditadura de um grupo de líderes autonomeados. Tentou então convencer os partidos marxistas de todos os países da Europa Central e Ocidental a depositar suas esperanças nos métodos revolucionários. Neste ponto, os comunistas russos foram seus discípulos fiéis.

Menos de 25% dos integrantes do parlamento russo, eleito em 1917 sob os auspícios do governo de Lenin -- apesar da violência imposta sobre os eleitores pelo partido governista --, eram comunistas. Três quartos da população havia votado contra os comunistas. Lenin, no entanto, dissolveu à força o parlamento e estabeleceu firmemente o governo ditatorial de uma minoria. O chefe de estado soviético tornou-se o sumo pontífice da seita marxista; seu título para este cargo derivou a partir da derrota de seus rivais numa sangrenta guerra civil.

Como os marxistas não admitem que diferenças de opinião possam ser resolvidas por meio da discussão e da persuasão, nenhuma solução pode existir além da guerra civil. O traço característico da "boa ideologia" -- isto é, da ideologia adequada aos genuínos interesses de classe dos proletários -- é o fato de que seus defensores foram bem-sucedidos em subjugar e liquidar seus oponentes.

 


[1] Após a morte de Mary, Engels pegou a irmã dela, Lizzy, para ser sua amante.  Ele se casou com ela em seu leito de morte "para poder lhe propiciar seu último prazer".  Gustav Mayer, Frederick Engels (The Hague, Martinus Nijhoff, 1934), 2, 329.

[2] Marx, Value, Price and Profit, ed. E. Marx Aveling (Chicago, Charles H. Kerr & Co. Cooperative), pp. 125-6.

Ensino ou imposição ideológica?

 


“’Denegrir’ é uma palavra que o movimento negro e as pessoas que têm letramento racial não usam de forma nenhuma. Ou, por exemplo: ‘Saímos desse buraco negro’”, disse a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em novembro de 2023, no programa ‘Bom Dia Ministro’, da emissora estatal EBC. 

Dias depois, Marina Silva, chefe da pasta do Meio Ambiente, repreendeu o senador Plínio Valério (PSDB-AM), presidente da CPI das ONGS, por ele ter falado o termo “caixa-preta”. “Essa é uma forma pejorativa de se dirigir às pessoas pretas. Preta sou eu, que estou aqui do seu lado.” 

Surgido no meio acadêmico americano, e divulgado no Brasil por meio de cursos e cartilhas, o conceito de letramento racial vem ganhando força entre governos, universidades, empresas e outras instituições. 

Até o Tribunal Superior Eleitoral tem um livreto próprio sobre o assunto, intitulado “Expressões racistas: por que evitá-las” e lançado em 2022, quando o ministro Alexandre de Moraes ainda presidia aquela corte. 

Mas essas iniciativas nem sempre se limitam a recomendar o banimento de determinados vocábulos. Seu conteúdo costuma incluir afirmações consideradas problemáticas, que simplificam uma questão complexa – além de servir como instrumento de imposição ideológica. 

Para a socióloga Geisiane Freitas, pesquisadora das relações raciais e de gênero no país, a ideia de letramento racial faz parte do que chama de “guerra semântica”. 

“É o domínio da esquerda na linguagem. Porque a guerra cultural também acontece nesse campo”, afirma a coautora (com Patrícia Silva) do livro ‘O que Não te Contaram Sobre o Movimento Antirracista’. 

Na opinião do historiador Higor Ferreira, esses cursos e cartilhas deveriam, em tese, ajudar o público a “avaliar criticamente as experiências raciais no decurso do tempo”. No entanto, seus conteúdos passam distante desse objetivo. 

“O que se entende por letramento racional muitas vezes acaba tangenciando uma análise que está muito mais comprometida em afirmar a presença do racismo do que avaliar por que aquelas palavras ou expressões são racistas”, diz o criador da conta do Instagram Questão de História. 

Ferreira também ministra o curso ‘Analisando expressões raciais’, em que desmistifica termos considerados preconceituosos – como “criado-mudo”, “disputar a nega”, “fazer nas coxas”, “boçal” e “meia-tigela”, entre outros. 

Um exemplo é a palavra “cecê”, que seria uma sigla para “cheiro de crioulo”. 

“Isso é objetivamente falso. Cecê, ou C.C., é ‘cheiro de corpo’, uma tradução do inglês B.O., body odour. A sigla era usada na propaganda de uma marca de sabonete americana que fez muito sucesso no Brasil nas décadas de 40 e 50”, afirma. 

Outro erro das cartilhas é associar a expressão “encher o bucho” aos escravos mineradores do século XVIII, obrigados a preencher os buracos nas paredes das minas, supostamente chamados de “buchos”, com o resultado de seu trabalho diário. 

O professor explica que já havia um uso histórico para o termo “bucho”, inclusive anterior ao contexto da mineração brasileira – e que se refere ao “estômago ou ventrículo dos animais”.

De acordo com Higor Ferreira, mesmo se “cecê” e “encher o bucho” realmente correspondessem ao sentido apresentado nos livretos de letramento racial, seria compreensível que seus significados mudassem com o passar dos anos. 

“Faz parte da dinâmica da língua. Além disso, se uma ofensa precisa de legenda para ser compreendida, é porque se trata de uma ofensa fraca”, diz Ferreira, que é visto como “não aliado” pelos esquerdistas por questionar e investigar esse tipo de expressão. 

Ele acredita que o foco em vocábulos classificados como ofensivos reduz o problema racial brasileiro a uma questão de linguagem.

“Você começa a perceber que a luta antirracial vira um fetiche para essas pessoas. Por não falarem essas palavras, elas se sentem esclarecidas, virtuosas e não se movimentam politicamente mais para nada. Não se preocupam mais com saneamento básico, educação, saúde, mas se tem alguém dizendo ‘encher o bucho’.”

Marina Silva: "'Caixa-preta' é uma forma pejorativa de se dirigir às pessoas pretas. Preta sou eu".

Historiador questiona o que é "combater o racismo" 

Grande parte das cartilhas de letramento racial lançadas no país também traz enunciados que, no mínimo, deveriam ser explicados – e, no entanto, são apresentados como verdades incontestáveis. 

Uma frase quase sempre presente no encerramento dos livretos diz: “Uma pessoa não é racista somente quando ofende pessoalmente outra pessoa, mas também quando não reconhece seus privilégios e não faz nada para combater o racismo e mudar a estrutura da sociedade”. 

Para Geisiane Freitas, essa afirmação simplesmente não se sustenta, pois parte de premissas questionáveis como a da dívida histórica e do racismo estrutural.

“O processo de escravidão no nosso país foi tão complexo que até mesmos negros tinham escravos negros. Privilégios existem? Sim. E é evidente que, se alguém parte de uma posição social melhor, tem mais suporte para os percalços da vida. Mas algo que aconteceu há mais de cem anos já foi bastante diluído pelo próprio tempo”, diz. 

No entendimento de Higor Ferreira, o problema dessa afirmação está numa pergunta simples: o que é combater o racismo? 

“Já ouvi gente dizendo que não é obrigada a explicar, porque todos têm meios de aprender. Quem levanta esse debate deve pautar o que deve ser feito. Do contrário, vão achar que a solução é pedir desculpas por ser branco.” 

O professor cita o movimento abolicionista do século XIX, segundo ele o maior de nossa História – e que trazia propostas bem claras. “O que é ser antiescravista? A pessoas daquela época sabiam dizer.” 

No fim das contas, tanto a socióloga quanto o historiador concordam em um ponto: a questão racial é mais uma das várias pautas sequestradas pela esquerda.  

“Não entendo por que a direita se abstém de discutir temas raciais num país como o Brasil. Vale a pena falar sobre isso”, diz Geisiane. 

Higor concorda, e percebe que determinados setores mais alinhados ao campo conservador – especialmente grupos cristãos – estão começando a entender que esse não é um “debate revolucionário de classe”.


quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Quem é e o que é o Centrão?

 


O “Centrão” surgiu durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Preocupados com o avanço de pautas progressistas e de esquerda no novo texto constitucional, parlamentares de setores do PMDB e de outros partidos, como o PFL, se uniram para bloquear ou moderar essas pautas antes que se consagrassem na Carta Magna. O grupo obteve sucesso considerável, influenciando fortemente a legislação fundamental do país.

Desde então, todos os governos – da esquerda (Lula, Dilma) à direita (Bolsonaro) – tiveram que lidar com o Centrão, que detém a maioria no Congresso, especialmente na Câmara dos Deputados. Tornou-se comum a troca de apoio político por cargos e favores, em um processo de negociação constante com esse importante grupo.

O que leva o Centrão a apoiar tanto governos de direita quanto de esquerda? Qual é o pensamento que norteia esse grupo? Como lidar com esse poder, muitas vezes discreto, em Brasília? Refletir sobre essas questões abre espaço para considerar se é possível dialogar ou se é necessário travar uma batalha mais direta e franca contra essa força política.

Tentar situar o Centrão no espectro político é uma tarefa árdua e ingrata. O fato de apoiar governos de diferentes matizes ideológicos ao longo dos anos sugere que o grupo não possui uma ideologia clara. Torres faz a distinção entre conservadorismo e imobilismo.

Porém, com a carga semântica da palavra “conservar”, deve-se tomar cuidado para não enxergar nesta palavra a ideia de “imobilismo” ou “reacionarismo”. Para o propósito de análise do papel do Centrão na política do Brasil, o conceito de imobilismo é de extrema importância.

A política imobilista, tal como definida por Oliveira Torres, nega peremptoriamente a possibilidade de qualquer mudança. Inclusive, quando uma mudança se insurge, o imobilismo reage contra essa mudança. Em outras palavras, desde o momento em que retirou o carro na concessionária, o imobilista dirige esse carro até que, literalmente, as rodas se separam da carroceria. Problemas não atingem esse motorista. Luzes podem se acender no painel e este continua impassível. Sente o cheiro de fumaça e não se importa. O que é importante é continuar dirigindo. Um dia, porém, o carro se recusa a dar mais um passo, e o imobilista fica a pedir por carona na estrada.

O Centrão se assemelha a essa política imobilista. Embora tenha se institucionalizado na Assembleia Constituinte de 1988, seus integrantes, em grande parte, já ocupavam cargos no Congresso, nas Assembleias Legislativas e nas
Câmaras Municipais desde o início da República. Muitas vezes, o poder dentro do Centrão é quase hereditário, com famílias como os Barbalho, no Pará; os Calheiros, em Alagoas; os Dias, no Paraná; os Gomes, no Ceará; e os Sarney, no Maranhão, dominando a política local por gerações.

A caracterização do Centrão como imobilista não deve surpreender. De forma quase cômica, esse grupo funciona como um “freio de mão” para governos mais decididos em suas ideias. Foi o Centrão que impediu o terceiro mandato de Lula e a continuidade da CPMF. Também barrou a privatização dos Correios, a reforma administrativa e o voto impresso no governo Bolsonaro. Impediu que Dilma Rousseff continuasse na presidência quando a economia colapsou e protegeu Michel Temer durante a crise dos irmãos Batista. Sempre que uma mudança ameaçava seu poder, o Centrão agia para freá-la.

Aqui chegamos ao ponto central desta análise. O Centrão merece elogios ou lamentos? Os elogios vêm da sua atuação durante os governos petistas. Sem o Centrão, é possível que a CPMF tivesse sido mantida, Lula tivesse conseguido um terceiro mandato e o governo de Dilma tivesse continuado, o que poderia ter levado a consequências políticas, econômicas e morais desastrosas. A direita conservadora e liberal era politicamente irrelevante nesses momentos, incapaz de impedir o avanço dessas pautas.

Por outro lado, temos de lamentar a ação do Centrão em diversas oportunidades. Muitas reformas importantes, como a reforma administrativa e várias privatizações, foram bloqueadas por esse grupo no governo Bolsonaro. Ele também permitiu o avanço da reforma tributária no atual governo e ignorou violações de direitos fundamentais por parte do Supremo Tribunal Federal. Mais uma vez, a direita foi incapaz de influenciar significativamente as ações do Centrão.

Eis o Centrão. De um lado, impediu a venezuelização do Brasil. De outro, trava o avanço de maior liberdade econômica e política no país. Quer se opte por rejeitá-lo ou por tentar formar alianças com ele, é necessário refletir sobre o poder e a influência desse grupo. Qual é o melhor caminho a seguir? Qualquer resposta envolverá vantagens e desvantagens, e caberá à direita liberal e conservadora encontrar a melhor solução para o futuro do Brasil.

O Centrão é mais um engodo fisiologista da politica brasileira, que engana os incautos com discursos  romanticos e promessas que só irão beneficiar o politico com mandato, o eleitor? Que eleitor?

Ou o povo estuda a politica ou será o eterno palhaço no circo politico nacional.

Marxismo: a máquina assassina

 Com a queda da União Soviética e dos governos comunistas do Leste Europeu, muitas pessoas passaram a crer que o marxismo, a religião do comunismo, está morto.  Ledo engano.  O marxismo está vivo e vigoroso ainda em muitos países, como Coréia do Norte, Cuba, Vietnã, Laos, em vários países africanos e, principalmente, na mente de muitos líderes políticos da América do Sul.  



No entanto, de extrema importância para o futuro da humanidade é o fato de que o comunismo ainda segue poluindo o pensamento e as ideias de uma vasta multidão de acadêmicos e intelectuais do Ocidente.

De todas as religiões, seculares ou não, o marxismo é de longe a mais sangrenta -- muito mais sangrenta do que a Inquisição Católica, do que as várias cruzadas e do que a Guerra dos Trinta Anos entre católicos e protestantes. Na prática, o marxismo foi sinônimo de terrorismo sanguinário, de expurgos seguidos de morte, de campos de prisioneiros e de trabalhos forçados, de deportações, de inanição dantesca, de execuções extrajudiciais, de julgamentos "teatrais", e de genocídio e assassinatos em massa.

No total, os regimes marxistas assassinaram aproximadamente 110 milhões de pessoas de 1917 a 1987.  Para se ter uma perspectiva deste número de vidas humanas exterminadas, vale observar que todas as guerras domésticas e estrangeiras durante o século XX mataram aproximadamente 85 milhões de civis.   Ou seja, quando marxistas controlam estados, o marxismo é mais letal do que todas as guerras do século XX combinadas, inclusive a Primeira e a Segunda Guerra Mundial e as Guerras da Coréia e do Vietnã.

E o que o marxismo, o maior de todos os experimentos sociais humanos, realizou para seus cidadãos pobres à custa deste sangrento número de vidas humanas? Nada de positivo.  Ele deixou em seu rastro apenas desastres econômicos, ambientais, sociais e culturais.

O Khmer Vermelho -- comunistas cambojanos que governaram o Camboja por quatro anos -- fornece algumas constatações quanto ao motivo de os marxistas acreditarem ser necessário e moralmente correto massacrar vários de seus semelhantes.  O marxismo deles estava em conjunção com o poder absoluto.  Eles acreditavam, sem nenhuma hesitação, que eles e apenas eles sabiam a verdade; que eles de fato construiriam a plena felicidade humana e o mais completo bem-estar social; e que, para alcançar essa utopia, eles tinham impiedosamente de demolir a velha ordem feudal ou capitalista, bem como a cultura budista, para então reconstruir uma sociedade totalmente comunista.  

Nada deveria se interpor a esta realização humanitária.  O governo -- o Partido Comunista -- estava acima das leis. Todas as outras instituições, normas culturais, tradições e sentimentos eram descartáveis.

Os marxistas viam a construção dessa utopia como uma guerra contra a pobreza, contra a exploração, contra o imperialismo e contra a desigualdade -- e, como em uma guerra real, não-combatentes também sofreriam baixas. Haveria um necessariamente alto número de perdas humanas entre os inimigos: o clero, a burguesia, os capitalistas, os "sabotadores", os intelectuais, os contra-revolucionários, os direitistas, os tiranos, os ricos e os proprietários de terras.  Assim como em uma guerra, milhões poderiam morrer, mas essas mortes seriam justificadas pelos fins, como na derrota de Hitler na Segunda Guerra Mundial.  Para os marxistas no governo, o objetivo de uma utopia comunista era suficiente para justificar todas as mortes.

A ironia é que, na prática, mesmo após décadas de controle total, o marxismo não apenas não melhorou a situação do cidadão comum, como tornou as condições de vida piores do que antes da revolução.  Não é por acaso que as maiores fomes do mundo aconteceram dentro da União Soviética (aproximadamente 5 milhões de mortos entre 1921-23 e 7 milhões de 1932-33, inclusive 2 milhões fora da Ucrânia) e da China (aproximadamente 30 milhões de mortos em 1959-61).  No total, no século XX, quase 55 milhões de pessoas morreram em vários surtos de inanição e epidemias provocadas por marxistas -- dentre estas, mais de 10 milhões foram intencionalmente esfaimadas até a morte, e o resto morreu como consequência não-premeditada da coletivização e das políticas agrícolas marxistas.

O que é espantoso é que esse histórico fúnebre do marxismo não envolve milhares ou mesmo centenas de milhares, mas milhões de mortes.  Tal cifra é praticamente incompreensível -- é como se a população inteira do Leste Europeu fosse aniquilada.  O fato de que mais 35 milhões de pessoas fugiram de países marxistas como refugiados representa um inquestionável voto contra as pretensões da utopia marxista.  [Tal número equivale a todo mundo fugindo do estado de São Paulo, esvaziando-o de todos os seres humanos.]

Há uma lição supremamente importante para a vida humana e para o bem-estar da humanidade que deve ser aprendida com este horrendo sacrifício oferecido no altar de uma ideologia: ninguém jamais deve usufruir de poderes ilimitados.

Quanto mais poder um governo usufrui para impor as convicções de uma elite ideológica ou religiosa, ou para decretar os caprichos de um ditador, maior a probabilidade de que vidas humanas sejam sacrificadas e que o bem-estar de toda a humanidade seja destruído.  À medida que o poder do governo vai se tornando cada vez mais irrestrito e alcança todos os cantos da sociedade e de sua cultura, maior a probabilidade de que esse poder exterminará seus próprios cidadãos.

À medida que uma elite governante adquire o poder de fazer tudo o que quiser, seja para satisfazer suas próprias vontades pessoais ou, como é o caso dos marxistas de hoje, para implantar aquilo que acredita ser certo e verdadeiro, ela poderá impor seus desejos sem se importar com os custos em vidas humanas.  O poder é a condição necessária para os assassinatos em massa.  Quando uma elite obtém autoridade plena, várias causas e condições poderão se combinar para produzir o genocídio, o terrorismo, os massacres ou quaisquer assassinatos que os membros dessa elite sintam serem necessários.  No entanto, o que tem de estar claro é que é o poder -- irrestrito, ilimitado e desenfreado -- o verdadeiro assassino.

Nossos acadêmicos e intelectuais marxistas da atualidade usufruem um passe livre.  Eles não devem explicações a ninguém e não são questionados por sua defesa de uma ideologia homicida.  Eles gozam de um certo respeito porque estão continuamente falando sobre melhorar as condições de vida dos pobres e dos trabalhadores, suas pretensões utópicas.  Porém, sempre que adquiriu poder, o marxismo fracassou miserável e horrendamente, assim como o fascismo.  Portanto, em vez de serem tratados com respeito e tolerância, marxistas deveriam ser tratados como indivíduos que desejam criar uma pestilência mortal sobre todos nós.

Da próxima vez que você se deparar com marxistas ou com seus quase equivalentes, os fanáticos esquerdistas, pergunte como eles conseguem justificar o assassinato dos mais de cento e dez milhões de seres humanos que sua fé absolutista provocou, bem como o sofrimento que o marxismo criou para as outras centenas de milhões de pessoas que conseguiram escapar e sobreviver.


R.J. Rummel


segunda-feira, 21 de outubro de 2024

A "Revolução de Outubro" foi um golpe, não uma revolução


 Uma função fundamental da propaganda sempre foi desmoralizar a oposição. Do ponto de vista dos propagandistas, é importante sempre dar a impressão de que o lado deles é o lado da maioria e o mais popular. Testemunhamos isso em ação nos últimos anos com o aumento da censura destinada a "combater a desinformação". Ao suprimir pontos de vista dissidentes, o regime diminui o acesso a ideias "não ortodoxas", mas há uma função secundária importante: suprimir o discurso dissidente também dá a impressão de que os dissidentes são menos numerosos e mais isolados do que realmente são. Ao garantir que certas vozes dominem a praça pública, os propagandistas ajudam a criar um senso de inevitabilidade do programa do regime. Isso facilita uma maior aceitação pública da vitória inevitável dos propagandistas. Afinal, por que se preocupar em resistir se o outro lado é tão popular e o seu lado é apenas uma pequena minoria?

Os socialistas e seus aliados há muito tempo são muito hábeis em usar esses métodos, e poucos tinham um domínio maior deles do que V.I. Lenin. Durante a maior parte do século XX, os sucessores de Lenin empregaram seus métodos, retratando com sucesso a disseminação de regimes socialistas como o resultado inevitável de enormes movimentos de massa comunistas. A esquerda pós-soviética moderna ainda emprega táticas semelhantes, retratando-se como estando do "lado certo da história" e como a posição majoritária legítima.

No entanto, até que ponto muitas dessas "revoluções" do século XX foram verdadeiramente revoluções sempre esteve em questão. Muitas dessas mudanças de regime socialista poderiam ser descritas com muito mais precisão como um golpe de Estado no qual uma pequena minoria assumiu o controle do Estado sem o apoio da maioria ou quaisquer movimentos revolucionários de massa de baixo para cima.

Por exemplo, a chamada "Revolução de Outubro" na Rússia não foi uma revolução, mas um golpe realizado por uma pequena minoria. Na versão socialista da história, a Revolução de Outubro foi um "movimento popular" de baixo para cima dedicado a ajudar Lenin e os bolcheviques a derrubar o governo provisório social-democrata. Essa narrativa foi fundamental para estabelecer a legitimidade do regime de Lenin. Nessa visão, Lenin estava apenas dando ao "povo" o que ele queria. O retrato do golpe de outubro como uma revolução das massas também dá a impressão de que a virada para o comunismo foi o resultado inevitável e desejado do desdobramento das tendências históricas. Naturalmente, essa visão da história encoraja os socialistas enquanto desmoraliza seus oponentes.

No entanto, os fatos históricos nos dizem que a maior vitória política do socialismo – a criação da União Soviética – não foi inevitável nem uma resposta às demandas de uma maioria revolucionária.

 

Golpe ou revolução?

Durante décadas após a instalação do regime soviético de Lenin, historiadores e especialistas em geral obedientemente empregaram o termo "Revolução de Outubro" para descrever a mudança de regime. Nas décadas mais recentes, no entanto, muitos historiadores adotaram uma abordagem menos crédula em relação à terminologia escolhida.

Na década de 1970, até mesmo muitos historiadores soviéticos negaram que a Revolução Russa fosse uma manifestação legítima de um movimento de massa. Em sua historiografia do debate sobre o uso do termo "revolução", Nina Bogdan observa que vários historiadores exilados e dissidentes neste período começaram a contradizer o "mito simplista da Revolução de 1917" que era a visão geralmente aceita. Ela escreve que esses historiadores duvidaram da história oficial e, posteriormente, chegaram à conclusão de que os bolcheviques tomaram o poder por meios ilegítimos, referindo-se ao evento de outubro de 1917 como uma "tomada do poder", "golpe de Estado" ou "motim".

O historiador Orlando Figes - autor de A Tragédia do Povo: A Revolução Russa, 1891-1924 - refere-se ao evento como um "golpe". Além disso, de acordo com Figes, um golpe era a tática preferida de Lenin, pois permitia que ele fizesse uma corrida final em torno do novo Congresso Soviético. Na época, o Congresso desfrutava de algum grau de verdadeiro apoio popular, mas estava sob a influência de uma variedade de facções concorrentes não leais a Lenin.

Da mesma forma, Richard Pipes, em seu livro A Revolução Russa, emprega consistentemente os termos "golpe de outubro" ou "golpe bolchevique" para descrever o evento e observa como os quadros de Lenin trabalharam ativamente contra as coalizões mais amplas e populares para tomar o poder por meio de uma pequena, mas bem organizada e bem armada, milícia pessoal. Como diz Ralph Raico, "a chamada Revolução de Outubro - o que os comunistas por décadas chamaram de Grande Outubro ou Outubro Vermelho - foi simplesmente um golpe de estado de alguns milhares de Guardas Vermelhos".

 

Uma "revolução" de uma pequena minoria

Se Lenin não tinha o apoio da maioria, como ele realizou essa "revolução"? A resposta está em como Lenin usou uma combinação de propaganda, sigilo e organização política em um ambiente onde nenhum regime havia estabelecido legitimidade com segurança.

Para entender isso, precisamos ter em mente que, no final de 1917, a monarquia já havia sido derrubada durante a Revolução de Fevereiro. Isso foi seguido pela proclamação oficial de uma república em setembro. A monarquia já havia se tornado extremamente impopular ao prolongar o envolvimento da Rússia na Primeira Guerra Mundial. A população - de aproximadamente 125 milhões na época - sofreu mais de 1,2 milhão de mortes na guerra e mais de 7 milhões de vítimas no total. Infelizmente, o governo provisório - que poderia ter obtido aclamação popular ao encerrar o envolvimento russo na guerra - recusou-se a sair da guerra. Isso permitiu que os bolcheviques ganhassem mais tarde algum grau de apoio de grande parte da população, prometendo pedir a paz.

Foi nesse ambiente que Lenin e os bolcheviques projetaram seu golpe.

Há pouca evidência de que o público em geral em São Petersburgo ou Moscou estivesse clamando por uma tomada violenta do poder pelos leninistas. Em vez disso, como Pipes coloca, foi o tenente de Lenin, Leon Trotsky, que "[com] o domínio supremo das técnicas do golpe de estado moderno, do qual ele foi indiscutivelmente o inventor, ... levou os bolcheviques à vitória".

A maior dessas técnicas era a propaganda da principal fonte de poder coercitivo do regime, as guarnições militares:

os bolcheviques fizeram grandes esforços para fazer propaganda dos soldados nas guarnições de Petrogrado assim que ocorreu a Revolução de Fevereiro, e os desencorajaram de retornar ao front, de modo que, em outubro, eram os soldados que estavam na vanguarda para liderar qualquer ação militar em apoio aos bolcheviques, não os trabalhadores.

Em contraste, "os trabalhadores" e a população em geral foram mantidos no escuro quanto aos planos dos bolcheviques. Lenin até escondeu seus planos de golpe do Congresso Soviético. Simultaneamente, Lenin alegou estar trabalhando com ordens do Congresso em um esforço para obter o apoio de socialistas de todos os partidos.

Em vez disso, de acordo com Pipes, "como o golpe não foi autorizado [pelo Segundo Congresso dos Sovietes] e tão silenciosamente realizado, a população de Petrogrado não tinha motivos" para suspeitar que algo importante havia acontecido.

Ninguém, exceto um punhado de princípios, sabia o que havia acontecido: que a capital estava nas mãos de ferro dos bolcheviques armados e que nada seria o mesmo novamente. Lenin disse mais tarde que começar a revolução mundial na Rússia era tão fácil quanto "pegar uma pena".

Mesmo entre as guarnições militares propagandeadas, a participação em favor dos bolcheviques era muito limitada. Nikolai Sukhanov estima que, "da guarnição de 200.000, apenas um décimo entrou em ação, provavelmente muito menos". Por outro lado, como o governo provisório era tão impopular, muitos dentro da guarnição não estavam interessados em fazer muito para deter os bolcheviques.

A verdadeira história da "revolução" de outubro não é a de uma revolta popular, mas a aquiescência resignada de uma população desesperada pelo fim da guerra devastadora. Os bolcheviques prometeram paz tanto para os militares importantes quanto para o público em geral.

Uma vez que os bolcheviques assumiram o controle da máquina burocrática do Estado, o partido foi capaz de empregar toda a panóplia de empregos públicos e esmolas "gratuitas" para apoiadores dispostos a lutar contra os remanescentes dos antigos regimes.

 

A batalha de ideias

Mesmo com esse poder - e com o poder de expandir amplamente os esforços de propaganda - o novo regime de Lenin foi forçado a passar cinco anos lutando contra dissidentes na Guerra Civil russa. Isso ocorre porque, como observou Ludwig von Mises, "em uma batalha entre a força e uma ideia, esta última sempre prevalece". Assim, nem mesmo as táticas brilhantes de Lenin e Trotsky foram suficientes para anular a necessidade de vitórias bolcheviques na batalha de ideias.

Mesmo com uma vitória tática inicial por meio do golpe, os bolcheviques ainda precisavam garantir um apoio político mais amplo para reprimir definitivamente a resistência. Isso foi possível graças aos esforços agressivos de "educação" apoiados pelo regime. Essa "educação" - mais precisamente descrita como propaganda - foi financiada e promulgada por uma vasta gama de instituições governamentais, incluindo a mídia controlada pelo Estado.  A propaganda serviu tanto para criar verdadeiros crentes quanto para pacificar os céticos. A propaganda reduziu as massas de oponentes ativos a números que poderiam ser mais facilmente "liquidados" no Gulag. 

A propaganda leninista também foi ajudada pela natureza das inclinações ideológicas de longa data entre a própria população russa. Como a industrialização era relativamente limitada no Império Russo no início do século XX, o Império carecia de uma população considerável de liberais burgueses com os meios e a inclinação para se opor aos bolcheviques em números substanciais. Além disso, na Rússia de 1917, o público em geral havia sido treinado para simplesmente suportar o despotismo e os golpes palacianos. Com os golpes de 1907 e fevereiro de 1917 ainda frescos em suas mentes, muitos russos comuns podem ter assumido (erroneamente) que o golpe de outubro foi simplesmente mais do mesmo.

A indiferença e a ambivalência públicas, no entanto, estão muito longe do "levante popular" que a esquerda socialista há muito afirma ter impulsionado a tomada do poder pelos bolcheviques. Tal como acontece com os partidos governantes e conspiradores de nosso próprio tempo, a tomada e aplicação do poder político em outubro de 1917 foi impulsionada em grande parte pelo uso efetivo do sigilo, da propaganda e do poder coercitivo de uma pequena minoria.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

A face oculta dos criminosos de guerra

 

Pelo menos desde há sessenta anos, vivemos em plena falsificação histórica, falsificação que começa por atiçar e arrastar as imaginações populares, para logo a seguir se apoiar na conspiração dessas imaginações.

E ninguém sabe por que o mundo está assim…

Em artigos publicados anteriormente neste jornal, comentamos alguns dos principais crimes de guerra cometidos no último conflito mundial pelos seus vencedores militares, capatazes e comparsas do sistema político que diz defender a liberdade e os direitos dos homens e dos povos…

Churchill dizia: “Lutamos pela liberdade”…

Roosevelt dizia: “Lutamos pela civilização ocidental”…

Stalin dizia: “Lutamos contra o imperialismo e contra a opressão dos povos”…

Todos mentiam. Mentiam com quantos dentes tinham na boca, não inocentemente ou porque acreditassem no que diziam e proclamavam, mas deliberadamente e com frieza, sabendo perfeitamente — ou adivinhando, o que não era difícil — que preparavam a mais hedionda catástrofe da Europa.

Para ocultar, dissimular ou apagar os seus próprios crimes, violências e atrocidades, os vencedores recorreram ao magnífico processo de classificar os vencidos na categoria de criminosos de guerra e de outorgarem a si mesmos o estatuto de libertadores e juízes sem pecado e sem mancha. Enquanto a propaganda dava força ao enunciado, o “tribunal” de Nuremberg elevava-o à categoria de dogma. Criado o modelo e o estereótipo, ficou estabelecido o que podia e o que não podia ser dito, o que devia e o que não devia ser dito. Pelo menos desde há sessenta anos, vivemos em plena falsificação histórica, falsificação que começa por atiçar e arrastar as imaginações populares, para logo a seguir se apoiar na conspiração dessas imaginações. Começou por dizer-se: eis como eram bárbaros os vencidos da última guerra mundial que, além disso, foi desencadeada por sua culpa exclusiva. A seguir acrescentou-se: recordai os sofrimentos dos que padeceram sob a sua ocupação e o que podiam ter sofrido todos os outros se os nobres aliados não tivessem defendido e preservado a sua neutralidade…

Algumas pessoas acham que o que passou, passou; e não veem a relação entre a situação mundial da atualidade e a herança hipócrita que recebemos desde o final da Segunda Guerra – NR.

Inventou-se também uma filosofia dessa falsificação e explicaram-nos que o que eram uns e outros não tem importância, que só conta a imagem criada e que essa é a única realidade. Ao mesmo tempo, duas ou três centenas de usufrutuários da imprensa, da rádio e da televisão, fabricantes da chamada opinião pública mundial, foram promovidos à existência metafísica.

Aos bombardeamentos terroristas contra as populações civis de Hiroshima e Nagasaki, Dresden, Hamburgo, Stuttgart, Freiburg, Colônia ou Berlim, ações que só podem ser consideradas na categoria dos mais execráveis crimes de guerra, somaram-se centenas de outros igualmente infames levados a cabo pelos aliados, americanos, ingleses e russos, juntamente ou à vez. Que dizer das mulheres alemãs violadas trinta, quarenta, cinquenta vezes e abandonadas depois para morrerem de hemorragias e de frio? Que dizer das crianças e bebês crucificados em portas ou enforcados em árvores? Que culpa podiam ter esses pobres inocentes? Que dizer, enfim, das torturas, assassinatos e atrocidades de todo o gênero perpetrados contra centenas de milhares de homens, mulheres e crianças?

As convenções de Genebra e de Haya elevaram a lei de direito internacional o velho costume das nações civilizadas de limitarem as ações bélicas a exércitos regulares. Com exceção da URSS, as potências aliadas que unilateralmente se proclamavam defensoras do direito, foram signatárias dessas convenções. Não obstante, não hesitaram em utilizar desde o início da guerra partisanos, guerrilheiros e sabotadores.

Apesar da iconografia posta à solta pelos pseudo-historiadores democráticos e popularizada pelos fabricantes de filmes de Hollywood, os efeitos militares da ação subversiva foram negligenciáveis. O próprio comandante supremo das tropas aliadas na Europa, general Eisenhower, afirmava que as atividades da tão celebrada “Resistência” francesa, por exemplo, nem encurtaram a guerra nem deram uma ajuda digna de menção às tropas anglo-saxônicas que desembarcaram na Normandia. Em resposta ao detestável chauvinismo francês, definiu a “Resistência” como a wet kitchen cloth (pano de cozinha molhado)…

No plano político, porém, as ações da guerra subversiva tiveram forte relevo. O historiador inglês Russell Grenfell diz o seguinte: “…na França e na Bélgica, os alemães comportaram-se irrepreensivelmente. Os jornais ingleses de 1940 informaram a respeito da excelência desse comportamento na França, onde os soldados alemães que viajavam em comboios ou autocarros se levantavam para dar o lugar às mulheres, etc.”

Churchill, porém, sabotou com êxito essa conduta, encorajando e animando os movimentos de resistência na França e na Bélgica, primeiro, e no resto da Europa ocupada, depois. “Esses movimentos eram constituídos em grande parte por elementos comunistas disfarçados”.

A partir de Maio de 1940, quando a França é derrotada, e até 21 de Junho de 1941, data do ataque alemão à URSS, não há, praticamente, atividade guerrilheira francesa. As ações praticadas pela “Resistência” só começaram quando a Alemanha atacou a União Soviética e depois de Stalin dar ordem aos cipaios franceses do partido comunista para hostilizarem os alemães e os franceses que colaboravam com a Alemanha ou que, no mínimo, respeitavam os termos do Armistício subscrito pelo governo legal do país. Com o seu núcleo de comunistas especialmente treinados nesses misteres, a “Resistência” dedicou-se a assassinar a elite nacional francesa (os sobreviventes foram “julgados” depois da “Libertação”), a pôr bombas em cafés e bares frequentados por oficiais e soldados alemães, ações de que só podiam resultar represálias do ocupante alemão. Uma vez que não há represália que não cause vítimas inocentes, foi-se cavando um abismo cada vez maior entre ocupantes e ocupados. Por outro lado, dada a finalidade do terrorismo em provocar represálias, a paz autêntica tornou-se impossível.

Se é certo que o soldado uniformizado de um exército regular — de qualquer exército regular — tem direito a alojamento, comida e cuidados médicos ao ser feito prisioneiro no campo de batalha, o sabotador, espião ou guerrilheiro vestido de civil priva-se automaticamente desse direito e torna-se credor de execução sumária.

A execução de guerrilheiros e sabotadores faz parte dos códigos de justiça militar de todos os países do mundo. Ainda hoje, no Ocidente, onde em quase toda a parte foi suprimida a pena de morte para assassinos, violadores, infanticidas e outros delinquentes, continua vigente o princípio de que os guerrilheiros capturados em combate devem ser fuzilados imediatamente (e não falemos da URSS, onde esse princípio foi aplicado com especial “generosidade”). A execução de guerrilheiros é tão velho como o mundo e, como tal, foi sancionado em Haya e Genebra como lei de direito internacional.

Onde a ação dos partisanos teve efeitos reais, foi na Iugoslávia. Favorecidos pela geografia acidentada do país, surgiram dois movimentos a praticar a guerrilha. Um, à frente do qual se encontrava o general Draza Mihailovitch, de tendência monárquica, foi apoiado inicialmente pelos ingleses e americanos. O outro, dirigido pelo comunista Iosif Broz, aliás Tito, era apoiado pela URSS. Em meados de 1943, as democracias ocidentais decidiram abandonar Mihailovitch e passaram a apoiar Tito.

Alguns autores sustentam que Tito era judeu e que o seu nome verdadeiro era Iosif Walter Weiss. Durante a guerra civil de Espanha foi membro de uma brigada internacional e, ao morrer Iosif Broz Tito, um amigo seu de origem croata, Weiss decidiu tomar o seu nome “…a fim de aperfeiçoar a sua aparência de iugoslavo”.

Se há dúvidas em relação a Tito, não as há em relação ao talmúdico conselheiro Moises Pijade. Foi ele que captou para Tito as boas graças de Bernard M. Baruch, “pró-cônsul de Judá na América”, o conhecido mentor dos presidentes americanos, incluindo Roosevelt, no sentido do Ocidente apoiar Tito e abandonar Mihailovitch. O escritor norte-americano Hanson Baldwin, afirma ainda: “…Mihailovitch sublevou-se por iniciativa do governo iugoslavo exilado em Londres, mas, em 26 de Novembro de 1943, na conferência de Teerã, Churchill, Roosevelt e Stalin combinaram o seu abandono”…

O extermínio dos alemães residentes na Iugoslávia começou com uma série de matanças sem ordem nem método, mas logo a seguir foi levado a cabo com o apoio jurídico de uma infame legislação decretada pelo chamado Comitê Antifascista de Libertação da Iugoslávia, tornada pública em Novembro de 1944. O comitê era presidido pelo próprio marechal Tito e os seus secretários eram Moises Pijade e Jakob Rankowitz.

As liquidações maciças foram quase todas levadas a cabo no período de anarquia que antecedeu as leis de Novembro de 1944 e os autores foram os partisanos, que chegaram a liquidar aldeias e povoações inteiras. Depois de 21 de Novembro, foram substituídas por liquidações individuais permitidas pela lei, liquidações que “…exprimiam tendências de sadismo, a que a nova legislação dava livre curso”. Em 1948, terminaram as liquidações individuais; uma das últimas vítimas foi o padre beneditino Adalberto Schmidt, que passou doze anos a opor-se ao nacional-socialismo por razões alegadamente teológicas. O padre Adalbert acreditava cegamente na igualdade dos homens… Pois bem, morreu às mãos dos seus “iguais” iugoslavos, que o espancaram durante horas seguidas.

Em 1948, poucos alemães havia vivos na Iugoslávia: apenas 42.000 que, finalmente, foram enviados para a União Soviética como mão de obra, isto é, como escravos. E foram enviados no inverno, a pé, o que faz supor que muitos morreram pelo caminho. Seja como for, nunca mais se soube do seu destino final. Do total da colônia alemã da Iugoslávia no começo da guerra, cerca de 250.000 pessoas, só cerca de dez mil conseguiram escapar, precisamente as que fugiram para a Áustria ou se entregaram às tropas norte-americanas e inglesas. Mas só escaparam momentaneamente…

Nos últimos dias da guerra, em Maio de 1945, 80.000 soldados alemães renderam-se aos ingleses na Áustria e foram internados num campo de concentração de Karntern. Quase ao mesmo tempo, chegavam ao mesmo campo os restos do exército croata (290.000 oficiais e soldados que se tinham rendido aos ingleses e americanos). Em 17 de Maio, foram todos entregues a Tito.

Prisioneiros de guerra e membros de exércitos regulares, esses soldados estavam amparados pelas convenções de Genebra e de Haya e, por conseguinte, tinham direito a serem tratados corretamente, mas não foi o que sucedeu: nos três meses que se seguiram ao final da guerra, foram liquidados sem acusação e sem julgamento por meio de matanças sistemáticas nos arredores de Bleiburg e nas marchas da morte de Maribor a Ursac. Com efeito, observou-se durante a guerra que os comunistas praticavam uma técnica especial de extermínio que consistia em fazer marchar em estradas ou através dos campos as grandes massas de população que queriam abater.

O massacre horrendo dos prisioneiros croatas e alemães em Bleiburg ficou conhecido como a “tragédia de Bleiburg”. Os cadáveres dos 370.000 soldados entregues a Tito pelos ingleses e americanos vieram a ser encontrados em enormes valas comuns abertas em Maribor, Kcevje, Bleiburg, Kranj, Bezigrad, Reichelburg, Zagreb, Sosice, etc.

Eis-nos perante um super-Katyn que, pela sua crueldade e aterradora extensão, é absolutamente único. As fossas coletivas estendem-se sem interrupção da fronteira austro-iugoslava à fronteira iugoslavo-romena. O governo iugoslavo não conseguiu negar a veracidade dos fatos. Quando o Comitê de investigações sobre a tragédia de Bleiburg, presidido pelos professores universitários norte-americanos John Porcela e Joseph Hesimovic, denunciou o caso à ONU, o delegado iugoslavo respondeu cinicamente que havia que enterrar os mortos e que, por isso, se tinham encontrado em território iugoslavo tantas fossas com cadáveres…

Resta acrescentar que os principais acusados pelo Comitê de investigações sobre a tragédia de Bleiburg foram Koca Popovic e Dusan Kvedr, a parte, naturalmente, o marechal Tito. Pois bem: Popovic foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros da Iugoslávia e Kvedr, embaixador da Iugoslávia em Bona. O “general” Holjevac, especialista no extermínio de soldados e civis italianos na zona de Trieste, foi nomeado governador civil de Zagreb!…

Não há dúvida: para gente desta, o crime compensa!…

Maio de 1945. A guerra tinha acabado e a Tchecoslováquia estava libertada. O país dos Sudetos, onde há séculos vivia uma imensa maioria alemã (em 1945, contava com três milhões e meio de alemães), foi submetido à lei marcial e a administração civil assumida por comitês tchecos…

O presidente da república, Edouard Benes, proclamou num decreto: “Os alemães e magiares não são seguros. É necessário retirar-lhes a administração do país e os bens pessoais”. Assim, as propriedades e alfaias agrícolas dos alemães foram confiscadas e, ao mesmo tempo, tomaram-se medidas de ordem policial: emblema-distintivo obrigatório para os alemães, limitação nas horas de saída de casa, proibição de assistirem a cultos religiosos, de andarem nos passeios das ruas e de receberem cuidados médicos nos hospitais. Benes declarava num discurso: “Aos alemães, deixa-se o lenço para enxugarem as lágrimas”. Rádio Praga, por sua vez, difundia incitações iníquas como “Morte aos alemães!”

Em todas as cidades foi criado um campo de concentração, nas cidades maiores criaram-se vários e instauram-se oficialmente as penas corporais. Faltar ao respeito a um polícia ou a um partisano checo custava dez chicotadas se a falta fosse “leve”. Sendo considerada grave, era o fuzilamento.

Eis o que conta Manfred Lutgenhort, testemunha ocular dos fatos: “Tenho aqui o caso de Helena Burger. O prof. Zelenka entregou à turba vinte mulheres, algumas com 60 e 70 anos: ‘Trago-vos estas porcas alemãs!’. Foram selvagemente agredidas. Helena Burger ouviu uma ordem: ‘De joelhos, putas alemãs!’ As mulheres ajoelharam-se. Começaram a cortar-lhes o cabelo com baionetas. Helena Burger desmaiou, mas reanimaram-na com um balde de água gelada e aplicaram-lhe um pontapé que lhe partiu as costelas. A seguir, cortaram-lhe do pé um pedaço de carne com quatro centímetros de profundidade. Quando regressou a casa, os filhos nem a reconheceram. Várias das suas companheiras de infortúnio morreram em conseqüência dos golpes. Duas suicidaram-se, outra, enlouqueceu. Três semanas depois, Helena Burger foi transferida para o campo de concentração de Hagibor, onde havia mil e duzentos detidos acomodados em quatro barracões. Uma irmã da Cruz Vermelha checa tomava nota das mulheres jovens e bonitas e, pela noite, conduzia os soldados russos aos barracões. Algumas mulheres foram violadas quarenta e cinco vezes numa só noite”.

Agora, o testemunho do engenheiro Franz Resch: “Vi milhares de alemães, homens e mulheres, civis e soldados, e até crianças de dez anos, serem selvagemente assassinados em Bokowitz. A turba espancava aqueles seres indefesos e regava os corpos dilacerados com ácido clorídrico para lhes aumentar o sofrimento. Alguns ainda estavam vivos quando lhes cortaram os dedos para roubar anéis e alianças. Também vi verterem alcatrão a ferver nas costas nuas de internados do campo de Kladnow e, a seguir, espancarem-nos com bastões. Em consequência de golpes recebidos, perdi o rim direito. Em 10 de Maio, no dia seguinte ao fim oficial da guerra — apesar da Tchecoslováquia ter sido libertada há mais de um mês — chegou ao campo de Kladnow um comboio de mercadorias cheio de soldados alemães feridos. Depois de os concentrarem num descampado, lançaram-lhes em cima granadas de mão. A maioria morreu”.

As cenas de horror iriam repetir-se em toda a parte. Foram registradas no Livro Branco dos Alemães dos Sudetos.

Eis alguns exemplos…

Em Iglau, o governador civil, alemão, foi julgado e, sem sequer lhe permitirem falar, foi condenado a ser escalpelado no próprio tribunal. Os gritos foram tão terríveis, que o infeliz rebentou as cordas vocais; trezentos e cinquenta habitantes de Iglau foram obrigados a marchar de noite completamente nus em passo de corrida; o que parasse ou caísse, era abatido à coronhada. Ao fim de trinta e três quilômetros dessa marcha da morte, não havia sobreviventes. Ao verem o que sucedia, mil e duzentos alemães de Iglau preferiram suicidar-se. No campo de concentração de Freudenthal, os detidos eram espancados até os guardas não agüentarem mais. Alguns detidos foram enterrados vivos. No campo de Moravska-Ostrava, a mulher de um camponês, grávida de oito meses, foi espancada no ventre até abortar. Já agonizante e às portas da morte, cortaram-lhe os seios. Em 15 de Maio, seis dias depois do fim da guerra, os habitantes da cidade de Saaz (cerca de três mil alemães) foram alvejados pelo exército checo com rajadas de metralhadora.

A apoteose, porém, teve lugar em Praga, onde vivia mais de meio milhão de alemães. Em 13 de Maio de 1945, vindo de Londres, entrava em Praga Edouard Benes, grão-mestre da franco-maçonaria tcheca. Benes era o bel esprit, o menino mimado do progressismo europeu liberalóide e bem-pensante. Com Benes chegava também Masarik, outro apóstolo do liberalismo ortodoxo. A recepção que lhe prepararam os sequazes, à frente dos quais estava o judeu Slansky, foi espetacular. Muitos alemães foram pendurados pelos pés nos grandes painéis de anúncios da praça de S. Wenceslau e regados com gasolina. À chegada dos grandes humanitários, os corpos foram incendiados.

Livro de mais de mil páginas, o Livro Branco dos Sudetos Alemães descreve horrores sem precedentes na história da humanidade. Mulheres checas e judias armadas de paus e bastões golpeavam os ventres das mulheres grávidas até as fazerem abortar. Num dos campos de concentração, morriam diariamente dez mulheres em consequência de torturas. Noutro campo, os prisioneiros foram obrigados a lamber os cérebros esmagados dos companheiros espancados até à morte, outros, obrigados a comer excrementos de detidos atacados de desinteria.

Os médicos tchecos e judeus recusavam ajuda às mulheres alemãs violadas pelos soldados russos. Milhares morreram ou suicidaram-se. Em Brno, por exemplo, suicidaram-se num só dia 275 mulheres. Em 18 de Maio, nove dias depois de terminada a guerra, cinco mil prisioneiros SS foram alvejados com rajadas de metralhadora e crivados de balas no estádio municipal de Praga.

Segundo o mesmo Livro Branco dos Alemães dos Sudetos, o número total de mortos nos Sudetos e na Tchecoslováquia, não incluindo os que morreram nas deportações que se seguiram a esses horrores e os que agonizaram lentamente nos campos de trabalhos forçados, ascende a 250.000. É difícil avaliar o número de mortos nas deportações e, mais ainda, os que pereceram em campos de trabalhos forçados, em todo o caso, aos 250.000 massacrados constantes no Livro Branco dos Sudetos Alemães, há que somar mais 175.000, que, segundo fontes oficiais alemãs, morreram nos meses seguintes em campos de trabalho em consequência de maus tratos e de fome.

E dizia Churchill: “Lutamos pela liberdade”…

E dizia Roosevelt: “Lutamos pela civilização ocidental”…

E dizia Stalin: “Lutamos contra o imperialismo e contra a opressão dos povos”…

Odioso e grotesco!…

António Carlos Rangel