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domingo, 26 de fevereiro de 2012

ORIGEM DO ECOLOGISMO


O movimento ecologista nacional e internacional, em termos gerais, deve merecer a nossa atenção pelo extremo perigo que representa; e isso significa que a noção de “esquerda” e de “direita” deve ser equacionada e definida à luz da razão e não ao sabor de emoções mais ou menos fortes. Desde logo, surge uma pergunta: os movimentos ecologistas são de esquerda? E depois outra pergunta: o partido nacional-socialista (Nazi) da Alemanha era de esquerda ou de direita? E finalmente uma outra: o que é “ser de direita” ?

Se analisarmos a amálgama ideológica que deu corpo ao nacional-socialismo, não podemos chegar a uma conclusão senão a de que o nazismo era de esquerda. Aliás, a aliança entre o nazismo e o fascismo italiano era, de certa forma, contra-natura, porque este último era de facto um sistema (e o único) de extrema-direita: o corporativismo é antítese gnóstica da esquerda, também ela gnóstica.

A histórias do nacional-socialismo e do movimento ecologista estão intimamente ligadas. Neste sentido, podemos dizer que existe uma “coerência de esquerda” nessa interpenetração ideológica entre o nazismo e o ecologismo. Ao contrário, o fascismo italiano não só nunca deu grande importância à ecologia como até a combateu; e por outro lado, o fascismo nunca assumiu uma natureza “anti-humanista ecológica” que caracteriza o ecologismo e o nazismo eugénico: pelo contrário, sabemos que, por exemplo, a perseguição aos judeus em Itália foi imposta pela ideologia nazi depois da aliança do Eixo ― antes do estabelecimento da aliança, e depois da subida de Mussolini ao poder, os judeus italianos nunca foram incomodados ou perseguidos. Podemos, pois, dizer que uma das características da esquerda é o anti-semitismo, que pode ser explicito e público ― como aconteceu no nazismo ― ou envergonhado e/ou dissimulado ― como acontece com a esquerda actual.
A actual confusão entre esquerda e direita advém do facto de se considerar o marxismo como a única fonte ideológica de esquerda. Ora, esta ideia é recente; teve a sua origem depois do Manifesto de Karl Marx e só entrou em efectividade a partir do golpe-de-estado russo de 1917. Porém, antes de Lenine assumir o poder, já existia a esquerda na Europa, e desde a revolução francesa. Portanto, nem toda a esquerda é só marxista ― não só, mas também.
A ruptura ideológica entre esquerda e direita aconteceu realmente a partir da revolução inglesa de 1688, que criou duas mundividências: a de Locke e a de Hobbes. É a partir destes dois homens que resulta a actual dicotomia entre esquerda e direita, e as diferenças ideológicas entre estas duas personalidades foram evoluindo e assumindo novos contornos, incorporando novos conceitos ao longo do tempo até aos nossos dias. Hobbes influenciou directamente Rousseau, e por isso, podemos dizer que a revolução francesa é hobbeseana.
A partir de Rousseau, estabeleceram-se duas fileiras ideológicas: a primeira [A] é a continuação do romantismo de Rousseau que passou pelo romantismo alemão (Hölderlin, Schlegel, Novalis, Schleiermacher, Nietzsche), e depois o idealismo alemão (Fichte, Schelling, Hegel, Schopenhauer).
A outra fileira ideológica [B] a partir de Hobbes / Rousseau evoluiu através do Positivismo Social (Comte) e do Utilitarismo (Bentham, Stuart Mill).
A partir do momento em que ambas as fileiras absorveram o darwinismo (Charles Darwin) acentuaram-se as diferenças, e do romantismo darwinista de Nietzsche [A] chegamos ao Positivismo Evolucionista ― mais conhecido como o “Monismo” ― cuja figura mais característica é a do zoólogo Ernst Haeckel (1834 – 1919), e mais tarde a Martin Heidegger e ao nazismo (Hitler).
A outra fileira ideológica [B] evoluiu através da Esquerda Hegeliana e Feuerbach até Engels e Karl Marx, resultando no comunismo (Estaline). Ambas as fileiras ideológicas são de esquerda.
O sistema corporativista fascista, que institui uma estratificação compulsiva das classes sociais ― uma espécie de apartheid social interclassista ― que se unem em torno de um ideal de soberania, e sendo ele um movimento gnóstico na sua essência, pretendeu erradicar Rousseau da história das ideias e remontar directamente ao conceito de “soberano” de Hobbes e à ideia de Joaquim de Fiore do DVX (o “Duce” italiano). O fascismo é uma religião política hobbeseana por excelência que tentou recusar Rousseau (como se isso fosse totalmente possível), e por isso está, de certa forma, desfasado da evolução ideológica da esquerda até aos nossos dias. O fascismo corporativista é a expressão da extrema-direita.
Podemos dizer que o fascismo é uma expressão de uma extrema-direita gnóstica em contraponto a uma direita conservadora escorada numa visão de Ordem Universal de origem cristã, e em oposição a um outro tipo de direita social-darwinista e gnóstica que evoluiu não através das ideias de Locke, mas através dos seus sucessores ideológicos (liberalismo económico clássico) até ao Pragmatismo e Neo-pragmatismo, o Objectivismo individualista de Ayn Rand e finalmente o neoliberalismo social-darwinista de Hayek e Fukuyama.
A traço grosso fica aqui (na minha opinião) o quadro das esquerdas e das direitas. Naturalmente que existem outras “esquerdas”, como a do socialismo fabiano do nosso partido socialista. Porém, a diferença essencial entre a esquerda e a direita é a de que esta última ― em ambas as versões, neoliberal e conservadora ― parte do indivíduo para a sociedade (o ser humano, como indivíduo, assume uma primordial importância em ambas as direitas, embora de maneira diferente sob o ponto de vista ontológico e teleológico), enquanto que a esquerda dá a primazia à sociedade como uma “pessoa colectiva”, subalternizando o indivíduo e a sua expressão (e mesmo a sua liberdade).
É neste contexto que se desenvolve o ecologismo moderno, e as suas raízes mais profundas estão no anti-humanismo que o opõe ao humanismo universal dos conservadores cristãos, por um lado, e no anti-humanismo que o opõe ao humanismo antropocêntrico dos neoliberais, por outro. Como veremos no “episódio” seguinte, o ecologismo andou de mãos dadas com o nazismo, e apresenta-se hoje com vestes diferentes mas com a mesma essência.

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