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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A substituição da indústria pelos serviços é ilusória


O Estado de S.Paulo - Editorial
A crise que atravessa a indústria brasileira é muito séria e quem acredita que o seu fraco desempenho pode ser compensado pela expansão dos serviços precisa levar em conta o que há de ilusório nisso.
Se examinamos a participação da indústria e dos serviços na formação do produto interno bruto (PIB), o que se vê é um forte recuo da primeira. No acumulado do ano e no terceiro trimestre de 2011 a indústria cresceu 2,3% em comparação com o mesmo período de 2010 e os serviços, 3,2%. O quadro é pior quando se olha para as categorias de indústrias: as de eletricidade e fornecimento de água aumentaram 4,1%; a construção civil, 3,8%; a extração mineral, 3,0% - mas a indústria de transformação cresceu apenas 1,2%, ante um crescimento do PIB de 3,2%.
Pensar que os serviços podem substituir a indústria de transformação é uma ilusão. O setor industrial conta com 11,2 milhões de empregados com carteira assinada, isto é, com proteção social, o que não é ocaso dos serviços, em que o trabalho esporádico e sem carteira é o mais comum.
O salário médio na indústria de transformação é de R$ 1.700 por mês, bem maior que nos serviços: R$ 1.366 na construção civil, R$ 1.300 no comércio e R$ 1.446 nos outros serviços. A queda do emprego na indústria terá, pois, repercussão negativa sobre a demanda.
O constante recuo, nos últimos meses, do desempenho da indústria de transformação tem consequências sérias: aumenta a dependência de produtos importados, podendo, a prazo médio, criar um desequilíbrio grave na balança comercial e, em certos casos, uma perigosa dependência em relação a países fornecedores de bens sensíveis de alta tecnologia, cujas vendas podem ser restringidas por razões diversas. Mas o maior inconveniente é que a fraqueza da indústria de transformação não permite desenvolver tecnologias novas, que fazem a força de uma nação.
Houve um a mudança, pouco notada, na distribuição dos investimentos estrangeiros no Brasil: cerca de 43 % deles se dirigiram para o setor de serviços, especialmente comércio, e apenas 37,7% para a indústria. Exigem-se 60% de bens produzidos no Brasil nos automóveis, mas se aceitam até 100% de capital estrangeiro no comércio varejista. Não devemos estranhar a alta participação de commodities em nossas exportações, pois o BNDES aumentou, no ano passado, em 75% os créditos para o setor de serviços, enquanto o Programa Brasil Maior para a indústria sofre grande atraso.

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