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domingo, 24 de agosto de 2014

RACIONALIDADE RELIGIOSA – POSSIBILIDADE OU UTOPIA?


O instinto gregário de todo ser humano lhe aflora o filosófico. Este, por sua vez, exige capacidade de compreensões e apreensões das realidades e dos fatos sociais que lhes rodeiam, sem o que o indivíduo será senão que simples marioneta, um eterno repetidor de pensamentos alheios e, assim, incapaz de compreender a si mesmo e, portanto, um ser absolutamente improdutivo e plenamente dispensável ao aprimoramento da vida social.
É sabido que toda ação gera uma reação e que entre ato e resultado há uma razão própria e específica que os interliga. Ocorre que, dentro desse inquestionável cenário, o instinto de sobrevivência de uma expressiva maioria de homens se satisfaz em apenas CONHECER a razão de ser dos atos humanos e pior que isso, sem questionar tudo que se lhes é “empurrado” por terceiros, não se ocupando em ENTENDER as “n” razões da vida.
Não obstante isso, como a integridade e a preservação da unidade de qualquer grupo social não subsistem se o convívio se inserir em contínuo e perene estado de beligerância, é imprescindível que os homens entendam os “porquês” dos seus atos e não atos, no entanto, o que se vê é uma grande quantidade de homens, individualmente considerados, limitando-se a apenas conhecer e aceitar esses “porquês” dos atos e não atos.
Essa simples aceitação de conhecimento, em princípio, poderia ser o suficiente para fazer o indivíduo respeitar aqueles que ajem de forma diferente de si próprio, já que todos os atos individuais interferem nas vidas dos demais.
Porém, o que se percebe nos dias de hoje é que o ideal seria, para um efetivo pacífico e produtivo convívio entre homens, que ninguém prescindisse das próprias capacidades individuais intelectivas de compreensões e entendimentos que lhes satisfaçam o instinto filosófico em aceitar os “porquês” se dever, ou não, agir desta e/ou daquela forma, quando externada determinada atitude.
Diz-se “ideal” porque há tempos, um sem-número de circunstâncias fáticas e as mais variadas, dentro do universo populacional desse planeta, tem levado um inexpressivo número de indivíduos a pensar por si próprios, agindo e reagindo segundo conhecimentos científicos específicos e momentaneamente impostos como verdades lógicas. Como somente pelas capacidades individuais próprias às compreensões e aos entendimentos das razões que interligam ações e reações é que se consegue agir e não agir, ESPONTANEAMENTE, de forma moralmente ética, o que se tem vivenciado há algumas décadas é a crassa dificuldade de adoções de comportamentos plenos de conteúdos axiológicos sólidos, necessários à preservação do grupo como um todo, já que uma grande maioria de indivíduos, preferindo apenas “aceitar” razões, ao invés de compreendê-las e assimilá-las, entrega sua própria sorte de vida a terceiros, que disso se aproveitam.
Observe-se que o homem, até hoje, não conseguiu demonstrar, pela ciência, a sequencia lógica e racional do nexo causal existente entre um ato/fato e o resultado que lhe é conexo, de TUDO que acontece na vida, o que atrai a FÉ, que é a mera aceitação do que se lhes diz. A fé leva o indivíduo a aceitar certas imposições sem questioná-las, mesmo que cientificamente já se tenha comprovado o contrário; aceita-se um dogma “historicamente” imposto e se o pratica sem questionamentos outros e pronto.
As religiões são formas de se praticar fé, daí o questionamento: é possível a existência de uma “racionalidade religiosa”, de uma “lógica racional religiosa”?

Escusas a entendimentos contrários, prelecionar-se a existência de alguma lógica religiosa é malversação cerebral que uns poucos praticam para manipular a grande massa populacional. Assim, esses alguns interessados no “aprisionamento” dos demais indivíduos, insistem em invocar “ a vontade de Deus” para impedir que os indivíduos ajam conforme suas próprias capacidades intelectivas ou então, utilizando o nome de Deus em vão, proclamar que, se Ele criou o homem à sua imagem e semelhança, logo, todo homem é uma divindade em si mesma, e assim, todos os atos individuais são permitidos porque frutos da “vontade” do Criador!

NENHUMA MORALIDADE RELIGIOSA (porque o cristianismo não é a única religião praticada no planeta), seja ela cristã ou não, PODE SER EXPLICADA CIENTIFICAMENTE. Logo, a fé religiosa não pode ser fundamento para justificar atos individuais contrários à organização da vida social.
Religião não se explica, é emoção, é sentimento e ainda assim mesmo dependente do lugar, cultura e tempo no qual o fato em exame está inserido.

A lógica científica não é emocional. Pela ciência, as reações a determinadas ações ocorrem independentemente da vontade anímica do ser humano e ocorrem da mesma forma SEMPRE. As suas explicações podem não ser absolutas e imutáveis, mas até que novas provas objetivas sejam apresentadas, o que se afirma até então é A VERDADE.
O fato de os cientistas aprimorarem seus conhecimentos, constante e continuamente, em busca das explicações racionais outras, sobre os “porquês” dos efeitos e consequencias de determinadas ações, não é sinônimo de esses estudos serem EMOCIONAIS.

O princípio da incerteza de Heisenberg, há muito tempo encampado pelos cientistas, elucida que os conhecimentos são constantemente aprimorados em termos de explicações científicas (= suas comprovações em sedes laboratoriais), daí a inexistência de verdades absolutas em termos objetivos. Exemplo: a física mecânica clássica e a atual quântica. As consequencias, as reações a determinadas ações são as mesmas, AS SUAS EXPLICAÇÕES É QUE CONTINUAM SENDO APRIMORADAS, não a consequencia do fato científico em si mesmo. Uma maçã lançada para cima sofrerá a mesma reação, desde que em determinada “dimensão”. Os “motivos determinantes” à queda é que poderão ser re-explicados, mas a queda em si mesma continuará existindo, na dimensão examinada.
De forma distinta, o convívio intersubjetivo resulta de reações DESEJÁVEIS, mas não necessariamente PREVISÍVEIS por serem MUTÁVEIS, à medida que todo ser humano é um ser cujo comportamento é um DEVER-SER. Logo, utilizar-se a fé religiosa, ou negá-la pura e simplesmente, para justificar a adoção desse ou daquele comportamento contrário à ordem moral, não pode, nem remotamente, ser aceito como resultante de qualquer racionalidade.

Como Deus nunca foi explicado em sede laboratorial (e acredita-se não o será), impossível utilizar-se a razão científica, a lógica racional para comprovar razões “divinas” e/ou “não divinas” e dentro desse mesmo contexto, razões morais também não.

Não é possível explicar-se reações morais por razões científicas exatamente porque as próprias reações humanas não o são; as reações humanas dependem do conteúdo moral do próprio indivíduo, porque todo ser humano, repita-se, é um DEVER-SER, enigmático e imprevisível, até mesmo em face da maior das garantias que se lhe concede: a LIBERDADE.
Liberdade é um estado de espírito diretamente proporcional à capacidade do indivíduo em sustentar, por si mesmo, suas ações e reações, dentro de um grupo social. Diante do instinto de sobrevivência e necessidade gregária do homem, ele próprio mitiga a SUA vontade para conseguir CONVIVER com terceiros, sem que isso possa ser entendido como ausência de liberdade. Aliás, a própria escolha em se manter em convívio já é um ato de liberdade em si mesmo.

A partir do que acima explanado, conclama-se o leitor a analisar a inversão de valores que o Estado nos tem imposto ao, ele próprio, vir criando “classes/minorias/categorias” e incrementar-lhes lutas entre si, a exemplo de homoafetivos, pobres, mulheres, negros, etc... .
Esses movimentos entre o que se tem denominado “minorias” são instrumentos de manipulações políticas, que nada tem a ver com “liberdade” efetiva e “garantida legalmente”. Assim é que, as manipulações daqueles que não conseguem ser livres por si mesmos é primordial às sustentações desses movimentos intitulados “sociais”, daí a postura do Estado atualmente.
As crescentes discussões sobre opções “homo”, por exemplo, estão sendo utilizadas como ganchos oportunistas que os atuais agentes políticos viram como mais um dos sustentáculos que lhes permitem continuar se perpetuando no Poder, porque sabem poder contar com o apoio desses que, por não conseguirem ser efetivamente LIVRES, se aliam ao Estado para impor SUAS (A)MORALIDADES.
Os homens, conforme a ciência são: machos e fêmeas. A procriação, imprescindível para a perpetuação dessa espécie, depende da cópula de um com o outro. Essa realidade científica não pode ser alterada por mera fé, nem mediante o argumento de todos serem iguais perante Deus, conforme argumentos lançados por alguns.

É fato que, segundo a lógica biológica só uma relação sexual entre um homem e uma mulher poderá gerar novos seres. Isso é CIÊNCIA. Agora, um homem e uma mulher descobrem, após o casamento, que um dos dois é estéril. Não poderão mais copular porque, segundo entendimentos religiosos de alguns, o casamento visa tão somente a procriação? Essa seria uma questão de moralidade, pura e simplesmente? Se tiverem relações sexuais, sabendo da impossibilidade da procriação, estarão violando alguma regra biológica e/ou moral, estabelecendo uma relação emocional meramente patrimonial?
Como se vê, liberdade é a capacidade efetiva de determinado indivíduo ser ele próprio, segundo suas próprias e exatas convicções, dentro dos limites que ele próprio se impõe para conviver em sociedade, assumindo, assim, as responsabilidades dos próprios atos, não havendo nenhuma possibilidade de a fé ser explicada cientificamente para se impor moralidades heterogêneas.

Regilene Santos do Nascimento
Advogada e Professora em Direito Trabalhista e Ambiental
Graduada em Direito pela UnB - Brasilia

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