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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Mídia globalista BBC e o jornal Folha de São Paulo fomentam fanatismo judaico-cristão-bíblico distorcendo a história

O jornal Folha de São Paulo, que possui predominante pauta globalista, publicou em 27/10/2019 [1] uma matéria procedente da mídia global BBC intitulada “Os naufrágios milenares que dão pistas sobre o mistério do dilúvio da Arca de Noé.”
A manipulação é evidente para qualquer pessoa que possui o básico de instrução da história universal. Vejamos:
A matéria inicia mencionando achados arqueológicos no litoral da cidade búlgara Nessebar, costa do Mar Negro. Tal cidade é muito antiga, e em sua estrutura se sobrepõem construções bizantinas sobre as precedentes construções romanas, que por sua vez são sobrepostas sobre construções gregas. No entanto, o achado da vez se encontra dentro do mar.
As condições peculiares do Mar Negro permitiram que artefatos fossem conservados pelos séculos e milênios com muito menos deterioração do que normalmente ocorre, de modo que expedições oceanográficas recentes descobriram o que a matéria afirma ser o naufrágio intacto mais antigo do mundo, estimado ser de 400 a.C., cujos destroços permitiriam obter informações da região até 7000 anos atrás.
Não obstante, subitamente, a matéria afirma:
“Amostras geológicas obtidas do fundo do mar poderiam, finalmente, resolver o mistério de se foi por ali que as águas adentraram, acabando com civilizações e criando uma história que conhecemos hoje como a saga de Noé e do grande dilúvio bíblico.”
A descoberta é promissora para a arqueologia, especialmente porque além do mencionado navio descoberto, há mais de 60 naufrágios encontrados em águas profundas.
Mas o desdobramento da matéria em certa parte é bem mais honesto que o título dela:
  1. a) A tradição mesopotâmica é mencionada, especificamente os poemas Enuma ElishGilgamesh, como exemplo de versões não bíblicas do dilúvio, de modo que a narrativa do dilúvio não seria uma exclusividade bíblica.
  1. b) Tais achados, não só dos mencionados náufragos, mas também as conclusões até agora baseadas na geologia e paleontologia, não configuram uma abrupta inundação, o que vale dizer um dilúvio, mas sim um gradual aumento do nível do mar, “metro a metro, ao longo de séculos ou mesmo milênios.” O que não preenche a busca por evidência histórica e arqueológica do dilúvio de Noé.
Então, sutilmente, a matéria é finalizada com uma depreciação implícita de outras tradições em relação à tradição bíblica, uma vez que o conteúdo dos achados:
“[…] tem mais a oferecer aos arqueólogos e fãs de lendas do que com a conexão com o dilúvio de Noé.”
Vamos começar por essa frase final a desvelar o que está implícito na matéria em questão. Segundo esta, os achados teriam conexão com arqueologia e lendas, mas não com o dilúvio de Noé, de modo que as lendas, como as mencionadas Enuma Elish e Gilgamesh, ambas da tradição mesopotâmica, seriam apenas lendas enquanto o dilúvio de Noé não? E o alegado dilúvio de Noé possui mais consistência histórica e arqueológica que as de Enuma Elish e Gilgamesh?
Se o dilúvio de Noé não se refere à arqueologia nem às lendas, refere-se ao que então? Refere-se então a uma história que tem que ser aceita cegamente, porém sem mais bases e evidências que as que possuem as demais tradições sobre um suposto dilúvio? O que a narrativa em questão – a do dilúvio – contida na Bíblia, possui de consistência que as demais não possuem?
Esta última declaração da matéria sugere que o dilúvio de Noé não é, como as outras tradições, apenas uma lenda, mas se partirmos da premissa que é necessário para ser história ter comprovação histórica e/ou arqueológica, o que então tem a mais que as outras o dilúvio de Noé?
Mas eis a manipulação da matéria: esta própria parte da premissa de poder se apoiar na mentalidade inconsciente do Ocidente, pautada no judaico-cristianismo, que uma busca por provas históricas ou arqueológicas que confirmem definitivamente a verdade é a que prove definitivamente o dilúvio de Noé.
O que se pode concluir é que a BBC tem como ponto de partida que o dilúvio de Noé, sem prova alguma que o confirme, é mais que uma lenda, enquanto aos demais relatos de dilúvios das diversas tradições, também sem provas em várias teorias, limitam-se estes sim apenas a serem lendas.
De fato, contrariando as expectativas de fanáticos abraâmicos – sejam judeus, cristãos ou islâmicos – a narrativa de um dilúvio é universal, encontrada nas mais diversas tradições. Num manual básico, como The Oxford Companion to World Mythology, no vocábulo Flood (inundação / dilúvio) afirma-se:
“Mitos da inundação [dilúvio] são encontradas em todas partes do mundo, usualmente aspectos de histórias da criação. Geralmente a inundação [dilúvio], marca um novo começo, uma segunda chance para uma humanidade pecadora, ou para a própria criação […] Usualmente existe um herói do dilúvio – o hebreu Noé, o sumério / babilônio Ziuasudra / Utnapishtim, o grego Deucalião, o hindu Manu, ou um de muitos outros – que representam o anseio humano pela vida. [2]
Por ser citado acima, no The Oxford Companion to World Mythology, relatos do dilúvio na região da Eurásia, isto é, Mesopotâmia, Índia, Ásia Menor, e Grécia, poderia sugerir a algum judeu, cristão ou islâmico alegar que tal mitologia do dilúvio irradiou de um centro da Eurásia, limitando-se a essa, região, e então sumérios, hindus e gregos teriam absorvido da tradição bíblica primordial, a abraâmica, o tema do dilúvio, porém, é preciso insistir,  é um símbolo universal, presente também nas tradições da América, de norte à sul, Extremo Oriente, povos oceânicos. O romeno Mircea Eliade (1907-1986), talvez o principal historiador das religiões, é categórico:
“Os mitos do Dilúvio são os mais numerosos e quase universalmente conhecidos (embora extremamente raros na África. [3]
Pelo fato do cristianismo haver surgido em ambiente judaico na antiguidade, e de toda sua base histórica anterior a Jesus ter sido construída sobre literatura judaica, a mentalidade cristã ofereceu muita resistência aos estudos que desmentiam as escrituras bíblicas [4], fossem tais estudos arqueológicos, filológicos ou históricos.
É justamente nos dois primeiros livros da Bíblia, ao menos na ordem que foi editada pelos judeus de Alexandria sob o nome de Septuaginta durante os séculos III e II a.C., que foram desveladas interpolações e distorções históricas, conforme expõe o trabalho Berossus and Genesis, Manetho and Exodus: Hellenistic Histories and the Date of the Pentateuch (2006, editora T&T Clark, Nova Iorque) de Rusell Gmirkin, e as quais foram passadas à frente pelo cristianismo [5]. Vale dizer que escritura bíblica já parte de distorções e interpolações em seus dois primeiros livros por ordem narrativa, Gênesis Êxodo, e no Gênesis está contido o episódio do dilúvio.
Isto não quer dizer que o dilúvio não possa ter ocorrido. As descobertas da geologia, arqueologia e história encontram várias possibilidades de dilúvios, ocorrendo em várias regiões do planeta, por causas variadas, mas menos possibilidade de um dilúvio global.
Há questões também que relacionam o dilúvio com símbolos cósmicos, psicológicos e da água, que não excluem o fenômeno do dilúvio em termos geológicos, mas devem ser considerados também, uma vez que na interpretação dos povos todos estes componentes eram considerados, e, portanto, também se deve buscar onde acaba o fenômeno do dilúvio como fato geológico e onde começa o dilúvio como representação simbólica, a qual ultrapassa a estrita narrativa geológica. O próprio Eliade aborda esse tema em seu Tratado da História das Religiões.
Mas o problema central é que as mencionadas distorções e interpolações pretendem colocar a narrativa judaica como a única verdadeira, porém uma história que é montada com encaixes artificiais e falsificações gradualmente vai apresentando deus pontos frágeis, e nesse caso ao tentar colocar um símbolo universal como narrativa verdadeira exclusiva, na qual Deus teria salvo apenas um casal de homens, no Caso Noé e sua esposa, se esbarra que praticamente todas as versões do dilúvio encontradas no mundo contam também com um protagonista, de feitos semelhantes ao de Noé, e que foi ponto de partida para as grandes culturas e civilizações da humanidade.
As grandes civilizações tradicionais sempre tenderam a conjugar ciência e espiritualidade, razão e símbolo, mas o abraamismo, isto é, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo têm seu domínio no fanatismo e nos contorcionismos para tentar sustentar de pé seus dogmas centrais. E mesmo contestando tal afirmação, a própria história comprova que a fé, conceito abraâmico, é o recurso principal usado pelas lideranças e exegeses judaicas, cristãs e islâmicas para se evadirem para uma confortável zona de argumentações que não precisam atender minimamente a lógica, ao contrário, por exemplo, das grandes correntes hindus ou greco-romanas, em que a lógica, a metafísica, a ciência e a simbologia estão interconectadas, em sinergia, complementando-se mutuamente num todo coerente.
A história também mostra que judeus, cristãos e islâmicos disputam entre si o conceito de povo ou comunidade eleita por Deus, um alegando aos outros dois que a aliança de seu messias é a única que vale. Mas parece valer tudo mesmo, não só na luta do abraamismo contra as outras tradições, mas também na luta de um abraâmico contra outro abraâmico, e para isso basta relembrar o esforço do judaísmo internacional durante a Revolução Francesa e depois para desacreditar a Igreja Católica valendo-se da razão e também do materialismo [6], uma vez que as massas eram fanáticas por um cristianismo que tinha sede física no Vaticano, e algum prestígio em Israel (bíblica). Mas agora que o fanatismo das massas é pela religião com sede física em Israel e algum prestígio no Vaticano, o judaísmo internacional e o sionismo podem e apelam ao fanatismo e evitam ao máximo a razão e as ciências, pois estas lhe são obstáculos para as próximas etapas que pretendem em seus anseios geopolíticos, já que as violações de Israel no Direito Internacional não podem ser superadas no tribunal, daí recorrerem ao fanatismo, fanatismo que o judaísmo internacional tanto reprovou quando era usado pelo cristianismo do Vaticano durante os séculos XVIII e XIX.
A rede BBC possui linha tendenciosa para favorecer o judaísmo [7] e, portanto, também o fomento para a formação de uma mentalidade que acredite na narrativa bíblica, especialmente a do Antigo Testamento, a qual é escrita com todo judaico-centrismo possível, configurando a concepção do judeu como o “povo eleito” de Deus, e isto é uma pauta que aos poucos vai ganhando contornos, especialmente com o advento do movimento cristão-sionista.

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