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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

As raizes etnicas dos gaúchos

 CHARRUAS AINDA SOBREVIVEM NO SUL

Um estudo comprava a origem do gaúcho sendo o resultado da mistura do europeu e do índio, desmentindo a historiografia luso-brasileira, de que o gaúcho é brasileiro. Foi examinado o material genético de 150 homens de Alegrete e Bagé, interior do Rio Grande do Sul, já próximo à fronteira com o Uruguai e a Argentina, onde se acredita que tenha surgido o gaúcho. E constataram que o gaúcho é produto de uma intensa miscigenação entre índios, negros e europeus, porém, com peculiaridades importantes.


Diferentemente do que se observa em regiões brasileiras, as características genéticas do gaúcho são mais semelhantes às dos espanhóis do que às dos portugueses. Mais de um fator histórico explica o que a genética registra. Durante dois séculos e meio, o que hoje é o Rio Grande do Sul pertenceu à Coroa Espanhola por determinação do Tratado de Tordesilhas, que dividiu o Novo Mundo entre Espanha e Portugal em 1494.
Área de constantes disputas entre portugas e castelhanos, essa região só seria integrada ao Brasil em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri. Outra característica dos habitantes dessa região era o nomadismo. Ou seja, se deslocavam pelos Pampas sem se confinar às demarcações políticas do território, transitando livremente entre todas as colônias do Rio da Prata.
Além do lado europeu que representa 90% dos genes dos gaúchos, não podemos esquecer da genética materna, pelo lado ameríndio, que é de 52%. Sendo maior do que a linhagem materna africana, que tem percentual apenas de 11%. Desta forma, os gaúchos são fruto sobretudo da miscigenação entre homens espanhóis com mulheres indígenas e, em menor medida, com mulheres africanas.
Ao comparar com o material genético de 5 mil grupos nativos das Américas, verificaram que a porção indígena pode ter duas origens: os guaranis, grupo original do norte da América do Sul que migrou para região do Cone Sul; e os charruas, povo que habitou parte do Rio Grande do Sul e do Uruguai.
Enquanto os charruas não se deixaram subjugar pelos colonizadores, e sendo quase todos exterminados por causa disso, os guaranis buscaram uma conciliação com os colonizadores espanhóis. Sobretudo nas Missões de Jesuítas, onde toda a tribo se converteria ao cristianismo, uma vez que a figura do padre espanhol substituía a do xamã na liturgia guarani, podendo ter sua autonomia enquanto povo livre de forma intacta. Surgindo assim uma nação guarani nas missões orientais, entre as colônias do Rio Grande de São Pedro (Rio Grande do Sul), a leste do Rio Uruguai e abrangendo regiões da Argentina até o Paraguai.
Embora tenham sido extintos no Uruguai, foi recuperado material genético do último grande chefe charrua, Vaimacá Perú, confirmando, de acordo com os pesquisadores, que nem mesmos os genes e a herança cultural dos charruas foram apagadas. Tendo sido deles que o gaúcho herdou a destreza para lidar com cavalos e boleadeiras, usadas para encilhar o gado e os animais no campo.
Mas a trajetória deste grupo étnico não acabou ali, pois parte da etnia conseguiu cruzar a fronteira com a República Rio-grandense e se instalar na região das Missões, no noroeste gaúcho. No fim da década de 1960, o conjunto indígena chegou a Porto Alegre, onde se fixou em moradias precárias na região pobre do Morro da Cruz. Permaneceu no local durante 40 anos, apesar dos frequentes tiroteios associados a disputas do tráfico de drogas. Depois, foram transferidos provisoriamente pelo poder municipal para um galpão da prefeitura e, mais tarde para uma reserva indígena municipal, nascendo ali a aldeia Polidoro, onde vivem hoje nove famílias.
Em 2007, essa narrativa também teve um recomeço, com a reconstrução oficial da história dos charrua. Na genealogia do grupo, o arqueólogo Sérgio Leite relata a surpresa que teve ao ser apresentado por Acuab - primeira mulher cacica-geral do povo charrua em solo rio-grandense e a principal liderança da aldeia Polidoro - a um conjunto de peças (três pedaços de rocha e duas boleadeiras) que só poderia pertencer aos charrua. O laudo dele abriu caminho para o reconhecimento do grupo pela Fundação Nacional do Índio (Funai). No entanto, umas das principais heranças culturais charruas, a língua, acabou se perdendo ao longo do tempo.
Autor: Guilherme Fernandes

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