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domingo, 1 de julho de 2012

O discurso socialista


     O discurso socialista, afogado que é em abstrações e palavras de ordem, constitui-se, sem qualquer sobra de dúvidas, no que há de mais asqueroso, deprimente e alienante na atual circunstância decadente em que se encontra a sociedade moderna; decadência que, diga-se de passagem, é fruto sobretudo da degradação cultural e moral que o pensamento marxista vem lhe impondo obstinadamente nos últimos dois séculos. Uma visão de mundo que reduz todas as perspectivas possíveis e toda a gama complexa de relações sociais a apenas um entendimento estreito e mesquinho de que, no ambiente humano, tudo não passa de consequências da forma como o homem produz seus meios de subsistência e organiza-se nas relações de trabalho, além de enxergar o todo social como uma contínua e infindável luta de classes, não poderia, ao rastejar pelo mundo, deixar de imprimir as marcas de sua infâmia, irrealidade e loucura. Tal concepção de mundo não passa de preguiça mental e de arranjos montados as presas para servir de base para àqueles que intentam aparecer de intelectuais e para outros que desejam tão fanaticamente o comando para, com base em delírios e obsessões, colocar em prática as mais absurdas engenharias sociais e, por amor próprio, perpetuarem-se no poder.
    Querendo apresentar-se como salvador, não passa de um monstro que consome, à medida que aumenta, o pouco que já se conseguiu, ao longo de milênios, construir de liberdade, esperança e felicidade na terra. Ao se alimentar do que há de pior no sentimento humano - a inveja, o ressentimento, o ódio, as intenções de vingança, a hipocrisia, a vaidade, o desejo descontrolado pelo poder - consegue agrupar à sua volta uma multidão fanática, obediente e obstinada a destruir apenas para satisfazer seus mais vis sentimentos e constituir o monopólio do poder para, com ele, descarregar sobre os outros o que de pior escodem dentro de si. É justamente por isso que os regimes socialistas foram os mais assassinos da história, diante dos quais todos os outros são erigidos à mera brincadeira de criança.
      Não olhar para os exemplos de sua ação concreta para sempre renovadamente deixar-se enganar pelos discursos inchados, genéricos e superficiais do socialismo, mostra apenas que muitos dos que assim procedem não querem mesmo a verdade, porém apenas utilizar-se dele como máscara para camuflar os desejos mais ignóbeis e as ambições mais satânicas possíveis, uma vez que as mesmas, reconhecidas prontamente sem o disfarce ou simulação que as encobre, logo seriam desprezadas e levariam seus autores a serem vítimas do escárnio e do repúdio públicos. 
     Não se restringindo apenas aos Gulags, aos processos de Moscou, às coletivizações forçadas, à revolução cultural chinesa, aos tribunais revolucionários, e tantas outras atrocidades, o efeito da ação destrutiva do socialismo se estende a toda vivência humana, já que sua influência nociva é reconhecida até mesmo na área das letras, pois a humanidade esta sendo afetada pela pobreza do vocabulário e pela consequente estreiteza do pensamento que, preso em preconceitos violentos - impedido de atuar livremente - ver-se amarrado nas estruturas nefastas do politicamente correto.
    Dissociado de todo sentido espiritual, o socialismo busca realizar aqui mesmo na terra o tão sonhado céu de glória; não obstante, muito diferente do discurso religioso (sobretudo o cristão) - cuja fé se fundamenta em um Deus poderoso, bom e infalível - o socialista se baseia na fé cega no homem, entregando a este a missão de renovar a sociedade, transformando-a no paraíso terrestre. Fruto de uma ilusão tão infantilizada e elevada ao extremo, o que tem produzido, como não poderia deixar de ser, é não menos que fome, opressão, derramamento de sangue e pobreza extrema.
     Disfarçado de discurso científico, na prática é uma religião materialista que, reduzindo toda a vivência do homem ao âmbito do interesse político, termina por afogar o que há de mais nobre, livre, espontâneo e belo na natureza e no viver humano para criar, artificialmente, uma sociedade apodrecida por conceitos e práticas, respectivamente, desvinculados da realidade e inumanas que, como já amplamente é conhecido, favorecem apenas àqueles que estão dispostos e se erigirem como deuses à custa do sofrimento alheio. De homens assim a história está cheia: de Stalin a Mao Tsé Tung, o socialismo só tem servido mesmo para satisfazer as ambições e vaidades de tiranos e reproduzir, em proporções incomparáveis e jamais vistas, a degradação e o sofrimento humano.
     Mesmo pautado em um discurso estreito e pueril de lutas de classes, o alcance da flexibilidade do esquema pensante socialista é notável e sem precedentes, pois o mesmo hora fala que a classe oprimida e revolucionária é a operária, hora os camponeses, outra vez os dois e, logo depois, unindo-se a estes, as prostitutas, os homossexuais, os criminosos e todos aqueles que, de uma forma ou de outra, são tidos como marginalizados sociais. De Marx a Herbert Marcuse, o socialismo, longe de construir soluções para os problemas no mundo, tem sido sempre um discurso oco e sem sentido, mas que, como já dito, tem trago para suas fileiras o que há de pior no ser humano. 
   O discurso socialista, ao reduzir os inúmeros problemas humanos às necessidades puramente materiais, estreita-se propositalmente em uma solução teoricamente fácil e viável para assim salvar-se como alternativa, quando na verdade deixa por explicar e levar em consideração os mais inumeráveis conflitos ligados expressamente  a natureza imaterial do homem (seus sentimentos, suas emoções, sua parte espiritual), do qual a história está cheia - como no caso da disputa de poder entre os imperadores e papas na Idade Média, da Reforma Protestante, de Alexandre e suas conquistas, das Guerras Púnicas e os dois grandes conflitos mundiais - e a vida continuamente dá testemunho. 
     Seus adeptos acham mesmo, perdidos em um emaranhado de jargões e sem nenhuma manifestação de rigor lógico, que possuem a solução para todos os problemas da humanidade e que, se os deixarem agir, dando-os poder para tal, nos presentearão com uma sociedade justa, livre e igualitária. A pretensão é tão absurda que serve por si mesma como prova da insanidade mental de quem a profere.
     Preso na complexidade infinita da particularidade de sua própria existência, o homem não é capaz de apreender o todo em que está inserido, apenas compreendendo, como num reflexo de luz, algumas poucas coisas enquanto outras tantas não, o que o torna incapaz, perpetuamente, de apresentar-se como arquiteto e executor de um mundo perfeito. Exprimidos que é na complexa e intricada rede de relacionamentos sociais, cabe a ele apenas, na medida do possível, melhorar uma coisa aqui e outra acolá, na certeza que problemas sempre existirão, pois são consequências de sua temporalidade física, estreiteza ética e limitada natureza intelectual.
     O discurso socialista, por definição, é patológico; é a prova que o homem, tão capaz que é de alcançar grande avanços nas mais variadas áreas de sua atuação e contornar grandes problemas de sua existência, ainda comprimi-se, continuamente, em mediocridades inaceitáveis, em decadências do espírito e debate-se em deformidades intelectuais. É a obstinada continuação do homem que se ver auto-suficiente, que pretende, sem sucesso, realizar-se sem Deus.



César Oliveira

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