Controle de preços sempre será algo estúpido, independente da época,
mas é necessário um enorme grau de imbecilidade para se praticá-lo
quando sua região está sitiada.
Em 1584, as forças controladas
por Alessandro Farnese, Duque de Parma e Piacenza, estavam cercando a
maior cidade da Holanda, Antuérpia, durante a Revolta Holandesa (Guerra
dos oitenta anos). De início, o cerco foi em vão, pois as formações em
linha do exército do duque eram porosas, e a Antuérpia conseguia receber
suprimentos por via marítima.
Mas o duque era sortudo, pois a
cidade decidiu voluntariamente se bloquear a si própria. Os magistrados
da cidade decretaram um limite de preços para os cereais.
Como
consequência, os contrabandistas, que até então vinham furando o
bloqueio, se tornaram consideravelmente menos entusiasmados para fazer
entregas de alimentos. Em meio à fome geral que se seguiu, a cidade
teve de se render no ano seguinte.
________________
Em
1984, o fracasso da colheita na Etiópia apresentou um novo conjunto de
problemas para a junta marxista, chamada "Derga", que controlava o
governo. Os programas de estatização e de controle de preços, que eles
haviam implantado há anos, pareciam mais ineficazes que nunca.
Obviamente, o problema todo estava nos vestígios de capitalismo que
ainda infectavam a economia. Portanto, a junta resolveu adotar medidas
ainda mais vigorosas, como a proibição do comércio de cereais. Por mais
estranho que pareça, tal medida não acabou com a fome.
O
ditador Mengistu Haile Mariam, inspirado pelo brilhante sucesso agrícola
do camarada Stálin na década de 1930, imediatamente promulgou um novo
conjunto de ideias batizado de "vilagização". Sob esse plano, os
dispersos habitantes rurais da Etiópia seriam aglomerados em vilas
modernizadas com infraestrutura de ponta.
Como era de se
esperar, nem todos os beneficiários desse plano compreendiam o charme
utópico dessas vilas, o que fazia com que eles tivessem de ser levados à
força para o local — para o bem deles próprios. Infelizmente, o
esperado aumento na produção agrícola nunca se materializou, e milhões
morreram de fome.
O país sucumbiu a um permanente estado de
guerra civil, que só acabou em 1990, após a União Soviética ter parado
de subsidiar a Derga. Mengistu fugiu para o Zimbábue, onde se tornou um
proeminente conselheiro dos governantes daquela nação.
__________________________
Na ânsia de inovar, o presidente brasileiro José Sarney achou-se capaz
de dar uma lição em Diocleciano. Em 1986, após anos de crescente
inflação, Sua Excelência baixou um decreto congelando os preços de todos
os bens e serviços da economia brasileira. Já que era impossível
atacar as causas da febre — isto é, reduzir a expansão monetária
praticada pelo Banco Central —, então que se quebrasse o termômetro: o
simples congelamento de preços bastaria para acabar com os efeitos dessa
inflação monetária.
O resultado foi maravilhoso. Carros
usados tornaram-se mais caros que carros novos, as carnes desapareceram
dos açougues (mas prontamente reapareciam tão logo o comprador ofertasse
uma quantia extra por baixo do balcão) e o governo acabou tendo de
literalmente prender bois no pasto para impedir suas exportações, que
eram bem mais vantajosas.
Após noves meses de desabastecimento e
escassez, o governo abandonou seu decreto. Como a expansão monetária
jamais houvesse sido interrompida, os preços dispararam imediatamente e o
presidente chegou a ser apedrejado dentro de um ônibus. Saiu do
governo com 6% de aprovação.
_________________________
Após quase uma década de crescimento econômico impulsionado por
políticas macroeconômicas sensatas, a presidente do Brasil Dilma
Rousseff decide inovar. No caso, "inovar" significa "regressar" a
políticas econômicas que já haviam sido amplamente desacreditadas nas
décadas de 1970 e 1980.
Adotando políticas econômicas que se
resumem a estimular o consumo sem estimular a oferta, aumentar os gastos
públicos, maquiar as contas do governo, aumentar as tarifas de
importação, aumentar o crédito concedido por bancos estatais, tabelar o
lucro de empresas, congelar o preço da gasolina e baixar os preços da
energia elétrica na caneta, a mandatária fez com que um país que até
então apresentava bons indicadores econômicos passasse a apresentar dois
anos seguidos contração econômica, taxa de inflação de preços próxima a
dois dígitos, desemprego crescente e sem perspectiva de melhora, taxa
de câmbio em forte desvalorização, custo de vida em forte ascensão,
gasolina e tarifas de utilidade pública em disparada, endividamento
recorde da população, e investimentos há quase dois anos em contração.
Sua taxa de aprovação despenca a níveis próximos aos do Diocleciano
brasileiro da década de 1980. Os apoiadores do seu partido, outrora os
mais fanáticos do país, batem em retirada, envergonhados. Apenas os
militantes pagos ainda se arriscam a fazer defesas pontuais da
presidente e do partido, mas sempre enfatizando que se opõem
vigorosamente à política econômica. Gera-se o movimento dos "contrários
a favor".
Após implantar o seu museu de grandes novidades, a mandatária corre o risco de nem sequer completar seu mandato.
Leia mais casos curiosos (e muitas vezes tragicamente engraçados) em:
Nenhum comentário:
Postar um comentário