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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

A Deformação Das Noções De Educação E Cultura No Pensamento Progressista

A mudança do significado das palavras e dos conceitos é uma das técnicas mais utilizadas pelos marxistas da velha guarda e pela nova esquerda foucaultiana. Termos como educação e cultura, por exemplo, foram deformados, perdendo quase que completamente seu sentido original. Busca-se com este tipo de manipulação semântica – intencional e calculada – mudar e manejar a percepção e o aparato cognitivo dos indivíduos e das coletividades, suscitando ambiguidades, confusões e sofismas. De uma maneira difusa e tênue, a mentalidade e a linguagem marxista e desconstrucionista propagam-se. O que se pretende, através da manipulação e controle da linguagem, é difundir e impor furtivamente determinadas posturas, valores e visão de mundo.
No pensamento progressista há uma politização total da educação e da cultura. Ambas são instrumentalizadas, sendo vistas como canais para a propagação e a irradiação de ideias e mensagens emancipadoras, e como ferramentas essenciais para o exercício da crítica social corrosiva. Educação e cultura deixam de ser formas de aprimoramento da inteligência, procura do conhecimento, busca da verdade e modos de contemplação do real; transformam-se em mera praxis a serviço da revolução libertadora, e instrumento para a remodelação da sociedade e construção do homem novo, desvinculado de preconceitos, crenças, hábitos e tradições. A finalidade primordial das atividades educacionais e culturais já não é mais a formação da personalidade e o cultivo do espírito, mas a luta contra todos os tipos de opressão e alienação social. Deste modo, associa-se o mundo do espírito e da cultura com a procura pressurosa pela libertação e conscientização das classes e grupos sociais oprimidos e marginalizados.
Lançar-se contras todas as estruturas de dominação da sociedade burguesa, contestar todos os valores e instituições tradicionais, disseminar e estimular por todos os meios e nos variados ambientes sociais os conflitos e tensões,  demolir todas as resistências “conservadoras” e obstáculos regressivos que impedem o surgimento de uma nova cultura igualitária e emancipada, transfiguram-se nos objetivos máximos da educação e cultura de orientação progressista e neomarxista.
A educação, na linguagem e na doutrina marxista e da esquerda desconstrucionista, é percebida como um mecanismo de revolução cultural no sentido gramsciano. Apresenta desta maneira, três fases ou processos, conforme explica o filósofo espanhol Rafael Gambra. Na primeira etapa ambiciona-se, sobretudo, a crítica do mundo mental do aluno principiante (espécie de lavagem cerebral prévia), na qual se desmitifica e se problematiza tudo que enraíza e vincula os indivíduos e coletividades ao universo dos valores, instituições e crenças. Uma vez implantado o espírito de indiferença e ceticismo nas mentes das novas gerações, passa-se a segunda etapa. Nesta, procura-se mostrar que todos os imperativos e laços morais e religiosos são no fundo discriminatórios e repressores. Sendo assim, a indiferença transforma-se rapidamente em aversão e ódio. Neste momento, os engenheiros sociais e agentes revolucionários colocam em ação a terceira e última fase do projeto da educação emancipadora. Esvaziadas as mentes de qualquer forma de crença, amor, respeito e devoção, mobilizadas emocionalmente e eriçadas em relação a tudo o que diga respeito às relações de dominação, discriminação e opressão, emerge a possibilidade de uma massificação dos espíritos que, transmutados em uma matéria plástica facilmente maleável, serão psicologicamente condicionados, galvanizados e dirigidos por meio de slogans e “palavras de ordem”. São, assim, irrefletidamente arrastados pela elite iluminada a realizar a meta final de aniquilação dos sistemas de exploração existentes na sociedade burguesa.
Neste sentido, cabe recordar que o educador marxista Paulo Freire, autor da famosa Pedagogia do Oprimido, defendia uma nova forma de “educação crítica e radical” voltada aos “esfarrapados do mundo” e aos oprimidos, que, em linhas gerais, pretendia apresentar uma orientação verdadeiramente liberadora e que, dentre outras finalidades, ambicionava a construção de um “homem novo”. Em síntese, no sistema pedagógico de Freire, cuja influência em nossa estrutura educacional é significativa, as atividades intelectuais e culturais deixam ser concebidas como meios do ser humano observar, interpretar e compreender com cuidado e amplitude a vida, a natureza, o mundo e a sociedade, pois são tomadas, especialmente, como mecanismos de intervenção e modificação da realidade. O educador e os educandos tornam-se agentes de transformação social, forças revolucionárias em luta contra as elites sociais e políticas dominantes. Sem qualquer tipo de receio e cautela, o teórico da pedagogia da autonomia, introduziu a categoria revolução no campo da educação. A modificação social que se almeja é evidentemente a instauração de uma sociedade marxista. O fim da educação deixa de ser a formação integral do ser humano. O desígnio primordial é a “conscientização” das condições de exploração e, portanto, a alteração das estruturas sociais fundadas na dominação. Nesta empreitada o homem é apenas um meio, uma ferramenta para concretizar esta mudança.
A “revolução das vítimas” do sistema e o estudo das forças repressoras que, dentre outras selvagerias, são responsáveis por manter as situações de injustiça e desigualdade social, são elevadas ao status de conhecimento sociológico e prática pedagógica. Neste curioso e inovador sistema de educação, figuras como Fidel Castro, Che Guevara, Mao Tsé-Tung e Lênin são erigidas em modelos de formação e plenitude humana, em razão de seu engajamento e comprometimento com as “classes populares despossuídas” e a causa redentora.
A educação e a cultura além de instrumentalizadas ideologicamente, e fortemente impregnadas pelo vocabulário marxista e foucaultiano, acabam por adquirir as características de uma espécie de arma psicopolítica. Vale sublinhar que a psicopolítica, conforme os estudos do investigador Kenneth Goff, é uma arte e uma ciência cujo propósito principal é modificar as convicções dos indivíduos por meio de técnicas sofisticadas de persuasão e sugestão mental.  É um modo de ação empregado na guerra cultural, psicológica e semântica que visa em última instância: a definição dos conceitos e a delimitação dos sentidos e significados dos termos e palavras. Intenciona-se transmitir certas ideias, criar uma determinada atmosfera cultural e modificar substancialmente atitudes, hábitos e comportamentos, não através do uso da força física e da violência, mas por meio da conquista das mentes. Busca-se controlar o que as pessoas dizem, pensam e acreditam. Controlar a linguagem e as ideias. O objetivo derradeiro é exercer um domínio sutil sobre os estratos subconscientes da psique humana.
Na atualidade, ideias e noções “progressistas” como a ideologia de gênero, o feminismo radical, o abortismo, o ambientalismo, a descriminalização das drogas, o garantismo penal, o animalismo e o multiculturalismo ganham cada vez mais força e influência nos ambientes culturais, educacionais e midiáticos, moldando o imaginário das novas gerações e configurando modos de pensar, perceber e, sobretudo, o vocabulário de boa parte dos indivíduos das sociedades contemporâneas. Forma-se por contágio e modismo um consenso artificial, um modo mecânico e uniforme de pensamento, inteiramente baseado em slogans e clichês. Com o apoio de poderosas fundações internacionais, organizações mundialistas e grandes corporações multinacionais, a agenda ideológica desconstrucionista e diversitária do progressismo radical chic penetra no tecido social, conquistando espaços e espíritos. Trata-se, utilizando o jargão esquerdista, de infundir nas mentes incautas a “consciência da opressão”, problematizando e desconstruindo as estruturas de dominação. Pretende-se, deste modo, suscitar os conflitos e lutas sociais, politizar todas as relações e esferas sociais, bem como a substituição do antigo ideal socialista da luta de classes, pela nova bandeira redentora da liberação sexual e do combate contra o fascista e regressivo sistema patriarcal heteronormativo. As políticas de identidade e de “desconstrução contracultural” assumem o lugar das políticas de combate ao sistema econômico capitalista. O “fetiche da diversidade” suplanta o messianismo da classe proletária. Ademais, tudo se torna uma questão de construção social e de discurso. A natureza, a realidade, os valores e a verdade são demolidos. Não existe mais nada que possua um caráter sagrado, eterno, imutável e perene. Ao implantar estas ideias e pensamentos desestabilizadores na mente das pessoas, o agente psicopolítico enfraquece e desmantela as crenças e “lealdades primitivas”, fazendo com que, com entusiasmo juvenil, os indivíduos aceitem e assumam novas lealdades grupais forjadas artificialmente.
Indubitavelmente, a mutação semântica é uma das armas mais eficazes na guerra psicológica pelo controle e o domínio da mente e da alma dos seres humanos. O pensamento de esquerda e seus agentes conseguiram sufocar na consciência das novas gerações as noções de verdade e falsidade, certo e errado, bem e mal; em seu lugar instauraram como novos critérios cognitivos e morais as noções de avançado ou retrógrado, progressista ou reacionário, tolerante ou fascista, preconceituoso ou aberto, discriminador ou inclusivo. Como consequência prática desta mudança das mentalidades e da cultura, ao invés da avaliação racional e prudente de uma ideia ou postura, se desqualifica e se demoniza o interlocutor por conta de suas crenças “fundamentalistas”, obscurantistas, conservadoras e autoritárias. As palavras, os termos, as noções e conceitos não são mais ferramentas para a captação do real e compressão das coisas, mas forças mágicas, “totens e tabus” que encantam emocionalmente ou então provocam um automático rechaço de fundo passional. Determinadas palavras e expressões são exaltadas, outras ocultadas, reprovadas e estigmatizadas. Como explica o cientista político Jean Ousset, para os progressistas as palavras não tem sentido real, não servem para expressar o pensamento, servem para a ação, para dirigir e mobilizar as pessoas. Ao desconstruir e deformar palavras e conceitos, destroem, também, determinadas possibilidades humanas e o acesso a certas realidades. Aniquila-se lentamente a capacidade da inteligência humana de estabelecer distinções, de diferenciar e hierarquizar valores, fatos e coisas.
Estes mecanismos de intoxicação mental somente podem ser combatidos e neutralizados através de uma dura e paciente empreitada de restauração do sentido original das palavras, e através de um longo e árduo trabalho de esclarecimento conceitual. Além disso, em antítese ao pensamento progressista, é fundamental recordar que para o pensamento clássico e cristão, a verdadeira educação fundamenta-se em uma ascese, em uma disciplina interior. Em uma tentativa de dar uma forma e uma ordem ao nosso espírito, em uma luta heroica no sentido de construir uma personalidade equilibrada e madura. Educação esta que não se confunde com a mera erudição e o intelectualismo abstrato, mas que têm como metas e objetivos principais: o fortalecimento do caráter, o exercício das virtudes e o domínio sobre si mesmo.
Cesar Alberto Ranquetat Júnior

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