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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Investidor paga para emprestar ao governo

Hoje, um título público alemão, com vencimento daqui a 10 anos, está pagando juros de -0,51% ao ano. Isso mesmo, juro negativo.
Já um título público suíço, também de 10 anos, está ainda mais negativo: paga -0,75% ao ano.
Ou seja, hoje, um investidor tem de *pagar para emprestar* dinheiro por dez anos para estes governos.
A título de ilustração, quem emprestar hoje 1.000 francos suíços para o governo da Suíça receberá de volta, daqui a 10 anos, 927 francos suíços.
Quem emprestar 1.000 euros para o governo da Alemanha receberá de volta, daqui a 10 anos, 950 euros.
E isso não vale só para estes dois governos. Um investidor também tem de *pagar* para emprestar dinheiro por dez anos para os governos da Dinamarca, da Holanda, da Áustria, da Finlândia, da França e da Bélgica.
Quem emprestar para o governo da Suécia não pagará nada, mas também não receberá nada a mais após 10 anos.
Já quem emprestar para os governos de Espanha e Portugal receberá juros de 0,41% e 0,48% ao ano, respectivamente. Ou seja, se você emprestar 1.000 euros para o governo espanhol, receberá daqui a 10 anos a impressionante soma de 1.041,76 euros. E isso desconsiderando o imposto de renda.
Para prazos menores que 10 anos, o número de países com juros negativos em seus títulos públicos passa a incluir Suécia, Irlanda, Espanha (!), Portugal (!!) e Itália (!!!). Portugal e Espanha pagam juros negativos até os títulos de 5 anos de prazo. A Itália, até os de 1 ano.
Já o governo da Alemanha, por outro lado, paga juros negativos até os títulos de 15 anos de prazo.
Mas ninguém supera o governo da Dinamarca, que está prestes a bater um recorde bizarro: falta 0,01 ponto percentual para ele se tornar o primeiro governo do mundo a usufruir juros negativos em todos os seus títulos públicos.
Sobre isso, eis uma estatística espantosa: o volume de dinheiro aplicado em títulos públicos com juros negativos atingiu um recorde histórico: há simplesmente 17 trilhões de dólares aplicados nestes títulos, segundo o jornal “Financial Times”.
Tal idéia seria completamente inconcebível no mundo anterior à crise financeira de 2008. Mas aquele era outro mundo. Hoje, como consequência de todos os programas de “afrouxamento quantitativo” realizado pelo Banco Central Europeu, a prática de pagar para emprestar dinheiro ao governo já se tornou norma na Europa.
O que leva à pergunta é inevitável: por que, afinal, alguém aceitaria *pagar* para que o governo pegasse seu dinheiro emprestado? Tal prática não vai contra toda a lógica financeira e, até mesmo, da preferência temporal?
A realidade espantosa, no entanto, é que tal prática faz total sentido no mundo atual.

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