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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

FABRICA DE MILITANTES

 


Era noite. Depois de um dia exaustivo de trabalho, João se sentou no sofá para assistir ao noticiário. Na tela, era apresentada mais uma manchete de corrupção no governo federal: esquemas milionários e obras inacabadas. Revoltado, balançou a cabeça e murmurou:

— Esses políticos são todos ladrões e bandidos… não dá pra confiar em nenhum! Esse país nunca vai pra frente desse jeito!

Sua esposa, que arrumava a mesa para o jantar, respondeu com um olhar cansado. João, então, completou quase sem perceber a contradição:

— Tomara que o governo libere logo o vale-gás, senão a gente não consegue cozinhar nem o feijão da semana. E, se não aumentarem o Bolsa Família, a Eloísa vai continuar usando a calça velha mais um ano.

No mesmo fôlego em que amaldiçoava os políticos, João depositava neles sua esperança. Rejeitava-os como corruptos e ineficazes, mas seguia esperando que a solução viesse justamente deles.

O brasileiro amaldiçoa os políticos como parasitas, mas continua a tratá-los como salvadores.

“embora também não confiemos nas instituições públicas, nos políticos e no próprio governo, esperamos e pedimos que o governo resolva os principais problemas do país”.

Eis a nossa esquizofrenia coletiva: denunciamos a corrupção com indignação teatral, mas continuamos a pedir aos mesmos corruptos que controlem cada aspecto da nossa vida.

Posso afirmar sem receio: é entre os jovens que esse paradoxo se revela de maneira mais clara. Em geral, eles chegam à vida adulta com impaciência e expectativas grandiosas. Desejam transformar o mundo, mas não aceitam que o progresso real é fruto de esforço, poupança, disciplina e longo prazo — elementos que não seduzem corações ansiosos. O socialismo, nesse sentido, oferece um atalho sedutor: a promessa de justiça imediata, igualdade instantânea e uma sociedade sem conflitos. É uma narrativa atraente, principalmente para quem ainda não enfrentou os desafios de produzir, poupar e competir no mercado.

a hostilidade ao capitalismo não nasce de uma análise fria e racional, mas de ressentimentos profundos e frustrações pessoais. O indivíduo que não alcança o sucesso que deseja encontra no capitalismo um bode expiatório conveniente: se não prospera, é porque o capitalismo é injusto; se não é reconhecido, é porque a sociedade é opressora; se não conquista prestígio, é porque os ricos monopolizam todas as oportunidades. Em vez de assumir a responsabilidade por suas escolhas ou aceitar a necessidade de disciplina e mérito, prefere culpar um inimigo invisível e coletivo.

Os intelectuais, professores, artistas e aristocratas desempenham papel central nesse processo. Muitos deles, incapazes de brilhar no mercado livre de ideias ou de alcançar reconhecimento em áreas produtivas, encontram no socialismo uma explicação conveniente para o próprio fracasso. Em vez de admitir limitações pessoais, projetam a culpa no “sistema capitalista”, que supostamente privilegia apenas os ricos e poderosos. Assim, tornam-se propagandistas do ressentimento, cultivando entre os jovens a ilusão de que o mundo lhes deve sucesso e prestígio sem a contrapartida do mérito.

É nesse ponto que a mentalidade anticapitalista se consolida: o jovem, alimentado por intelectuais (e professores) frustrados, aprende a ver a sociedade livre não como um campo de oportunidades, mas como uma conspiração contra si. O capitalismo passa a ser descrito não como o sistema que elevou padrões de vida e criou prosperidade, mas como um inimigo a ser combatido. A adesão ao socialismo, portanto, não nasce da análise fria dos fatos, mas da combinação entre desejos juvenis de transformação rápida e a retórica amarga de intelectuais ressentidos.

Quando esses jovens ingressam na universidade, a situação não melhora — ao contrário, piora. Ali, o ambiente que deveria ser o espaço por excelência do livre questionamento tornou-se o centro de reprodução mais intenso da ortodoxia estatista.

Não existe debate acadêmico. O que há é um monopólio ideológico: o progressismo circula livremente, enquanto toda ideia libertária ou conservadora é silenciada antes mesmo de ser ouvida.

Ouvimos a mesma cantilena, repetida até a exaustão: a sacralização da democracia majoritária, a suposta inevitabilidade do estado, a exaltação da redistribuição, o culto irracional à “igualdade” e, como consequência natural, a demonização de qualquer alternativa que aponte para a propriedade privada, o livre mercado ou a responsabilidade individual.

a ideia de que alguns grupos sociais tendem a gastar mais no presente, enquanto outros planejam mais o futuro, poupando e investindo. Para ilustrar, Hoppe mencionou que, em média, sociedades compostas majoritariamente por homossexuais poderiam apresentar maior orientação para o consumo imediato, já que, estatisticamente, não tinham filhos nem preocupações ligadas à herança familiar.

A observação, puramente teórica, foi suficiente para gerar uma denúncia formal de um aluno que se declarou ofendido. A universidade abriu um processo contra Hoppe, acusando-o de intolerância. Rapidamente, a questão deixou de ser acadêmica e virou política: não importava se o exemplo era parte de uma teoria econômica, o que contava era que havia violado um dogma cultural sensível. Hoppe só não perdeu o cargo porque seu contrato de tenure o protegia.

Nos Estados Unidos, tenure é a estabilidade acadêmica conquistada após um rigoroso processo de avaliação. Um professor com tenure não pode ser demitido por pressões políticas ou ideológicas, a não ser em casos extremos de crime ou má conduta grave. O objetivo é justamente proteger a liberdade acadêmica contra modismos ou perseguições.

No entanto, no caso de Hoppe, a proteção do tenure mostrou-se insuficiente. Embora não tenha perdido o cargo, foi hostilizado, vigiado e tratado como “professor tóxico”. Sua presença tornou-se insustentável dentro da universidade.

A universidade brasileira já não é um espaço de descobertas, mas de slogans. A teoria crítica da raça se espalha em cursos de direito e história; o feminismo se tornou pauta obrigatória nas faculdades de educação; a ideologia de gênero aparece nos livros de biologia; e programas “antifascistas” servem de rótulo para censurar qualquer discordância. Não importa a disciplina: sempre há uma cartilha ideológica esperando para ser aplicada.

Os exemplos se multiplicam. Em faculdades de arquitetura, discute-se “desconstrução do urbanismo patriarcal”; em cursos de medicina, fala-se de “epistemologias feministas do corpo”; na pedagogia, estudantes são treinados para “descolonizar o currículo”; até nas engenharias surgem disciplinas sobre “impactos sociais do capitalismo tardio”.

E o resultado disso é previsível. Pesquisas sérias ficam em segundo plano, laboratórios se tornam arenas de militância e professores transformam a sala de aula em púlpito ideológico. Quem questiona é acusado de “intolerância” ou “negacionismo”. O ambiente que deveria ser o centro do livre questionamento virou uma fábrica de dogmas. Chamam isso de educação superior, mas na prática é apenas doutrinação superior — a catequese secular do estado.

À primeira vista, é como se estivéssemos cercados por um deserto árido. As ideias de liberdade parecem definhar, derrotadas antes mesmo de entrar em campo. A militância socialista é brutal, barulhenta e escandalosa — ocupa todos os espaços e dá a impressão de ter vencido em todas as frentes.

Esta não é uma batalha perdida, mas uma batalha longa. A maré estatista e socialista pode, por enquanto, lotar auditórios e dominar manchetes, mas vive de barulho e intimidação. O futuro, no entanto, pertence às ideias corretas. E, enquanto houver quem as sustente sem medo e sem pedir desculpas, a liberdade não apenas sobreviverá — ela vencerá.

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