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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Fim dos motores de combustão



 A Comissão Europeia e os principais executivos da indústria automóvel europeia estão neste momento reunidos em Bruxelas para discutir o fim dos motores de combustão em 2035. A indústria pede flexibilidade, enquanto a Comissão Europeia insiste que o futuro a curto prazo da Europa deverá ser 100% elétrico.

É a terceira e última etapa do chamado “diálogo estratégico” entre a Comissão Europeia e a indústria automóvel. Durante três horas, executivos de topo e Ursula von der Leyen debatem se a meta de 2035 — que prevê apenas vendas de automóveis de zero emissões — continua realista.

As associações ACEA (construtores) e CLEPA (fornecedores) enviaram em agosto uma carta conjunta, assinada por Ola Källenius (Mercedes-Benz) e Matthias Zink (Schaeffler), na qual avisam que este pode ser o “último momento para salvar uma das indústrias mais bem-sucedidas e competitivas da Europa”.

Indústria automóvel pede realismo

A indústria automóvel não nega o destino do automóvel: zero emissões. Mas defende que “o caminho tem de ser recalibrado” e pede “mais pragmatismo e menos ideologia”. Na prática, isso significa dar mais espaço regulatório a híbridos plug-in, elétricos com extensor de autonomia e combustíveis alternativos, rever as metas de emissões para 2030 e 2035, apostar numa política de incentivos em vez de penalizações e, finalmente, viabilizar a produção de carros mais acessíveis através de requisitos de segurança simplificados.

No campo dos componentes e da cadeia de abastecimento para carros elétricos, quase todas as marcas exigem investimento europeu em baterias, semicondutores e matérias-primas. Isto, de forma a travar a vantagem da China, que consegue produzir EVs com custos inferiores em cerca de 25%.



Nem todos concordam com a estratégia

Também há dissonâncias no seio do setor automóvel. Michael Lohscheller, CEO da Polestar, defende que adiar o prazo coloca mais empregos em risco e penaliza quem já investiu na eletrificação. “A vida não é linear, mas o futuro da mobilidade é sem emissões”, afirmou em Munique.

Já Ola Källenius, enquanto presidente da ACEA, reconheceu que o destino é claro: zero emissões. Mas pediu para “abrir o espaço de soluções” e aprender com o que funcionou, ou não, até agora. Christophe Périllat, CEO da Valeo, propôs manter 2035, mas com flexibilidade tecnológica, permitindo PHEVs capazes de percorrer mais quilómetros em modo elétrico e EVs com extensor de autonomia.

Sigrid de Vries, diretora-geral da ACEA, resumiu aquela que é a posição mais consensual na indústria: “Os carros estão aqui, a tecnologia existe, mas não é suficiente para cumprir os prazos. É altura de passar das declarações políticas às soluções concretas.”

O chanceler alemão Friedrich Merz concorda: “Estamos comprometidos com a mobilidade elétrica, mas precisamos de mais flexibilidade nas regras. Compromissos cegos com tecnologias específicas são o caminho errado.”

O que sair desta reunião hoje, em Bruxelas, poderá ditar não só o destino do motor de combustão, mas também a capacidade da Europa de reagir à ofensiva dos EUA e da China. Em causa, estão mais de 13 milhões de postos de trabalho e um dos principais pilares da economia europeia. Segundo a Comissão Europeia, mais do que um calendário, o que está em jogo é a própria soberania industrial da Europa.

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