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quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Cruzando o Rubicão

 

Ao final de sua declaração, o professor estava atônito. Nunca havia recebido uma objeção deste tipo. Então apelou para acusar o estudante de racista, anti-semita e outros porretes lingüísticos. Mas de nada adiantou, já que Júlio se manteve como um colosso, inflexível em sua postura. Vendo-se sem saída, o comunista saiu de sala ameaçando que não toleraria tal afronta e que informaria o fato à reitoria. Os colegas de turma olhavam perplexos. Uma minoria de alma lavada, pois nunca tiveram tal coragem e desenvoltura.

“Seus ouvidos doíam com as besteiras marxistóides…

Júlio era um rapaz como tantos outros no Brasil. Era o filho mais novo de uma família de origem portuguesa. Estava no auge de seus 25 anos de idade e era um jovem dedicado aos pais e aos estudos. Havia alguns anos, trabalhava em um escritório de administração para ajudar nas despesas domésticas e estudava à noite. Cursava universidade de história em busca de seu sonho: tornar-se um renomado historiador, autor de livros reconhecidos no meio acadêmico.

Na faculdade, Júlio era tido como um dos mais aplicados e inteligentes da turma. Com uma perspicácia afiada, muitas vezes conseguia inquirir e encurralar seus professores em vários temas. Diversas foram as vezes em que ele os havia deixado até mesmo em uma situação constrangedora perante os outros alunos. Dois assuntos estavam dentre os seus preferidos: história romana e a segunda grande guerra.

No ambiente acadêmico, ele era exposto às mais absurdas adversidades. Seus ouvidos doíam com as besteiras marxistóides que muitos de seus professores vociferavam. O sangue lhe fervia nas acaloradas discussões que ocorriam, quando, muito a contra gosto, era forçado a constatar os supostos mestres colocando seus controversos ideais a frente da verdade histórica.

Certa tarde, em um ensolarado sábado, Júlio atentamente degustava um livro sobre a vida de Júlio Cesar. Do grande ditador, ele herdara o segundo nome e a vontade de sempre ir além. O livro contava toda a trajetória do Cônsul romano, desde seu nascimento, passando por suas proezas militares até o episódio em que retornou a Roma e preparou o caminho para a glória imperial e a era dos Césares.

Dias depois, estava ele assistindo atentamente a uma aula sobre as guerras do século XX. Naquele dia, em particular, o tema seria o desenrolar da 2º Guerra Mundial. Sendo este um dos assuntos que mais lhe aguçavam a curiosidade, seus sentidos estavam totalmente concentrados nas palavras do mestre. Em dada altura da aula, iniciou-se um debate sobre o holocausto e as atrocidades cometidas pelos alemães. O professor, um notório comunista, era incisivo em suas afirmações de que o povo alemão era, como um todo, culpado pelas barbaridades perpetradas contra as minorias étnico/sociais e, particularmente, o povo judeu.

Um ou outro aluno tentava argumentar contra o acadêmico filo-comunista, mas de nada adiantava. Por mais que esses alunos falassem em um tom de voz normal e mesmo com uma fraca argumentação, o sujeito, furioso, esbravejava. Foi então que, segundo suas próprias palavras, “para silenciar e acabar com toda dúvida”, o mesmo apagou a luz da sala e iniciou uma exposição de slides. As cenas chocavam. Pilhas de corpos caídos no chão. Prisioneiros esqueleticamente debilitados. Fotos dos sapatos das supostas vítimas e etc. A tenebrosa exibição seguiu por quase 15 minutos. Quando as luzes acenderam, não houve ninguém a argumentar – fosse a dúvida ou a coragem havia se dissipado.

Quando argumentos racionais e lógicos desaparecem, entra em cena a emoção num claro exemplo de aplicação daquela “técnica infalível” – NR.

Já era tarde da noite quando Julio retornou para casa. Sentado à mesa, jantava. Seu olhar se dissipava no vazio. Ele sentia certa vergonha de ter ficado calado no debate, pois não possuía conhecimento suficiente, fosse para concordar com o professor ou para discordar dele. Refletindo, percebeu que tudo o que conhecia sobre o suposto extermínio de judeus era o que tinha lido em livretos de escola e revistas penduradas em bancas de jornal. Outra coisa que atormentava seu pensamento era se realmente todas aquelas atrocidades eram verdade ou não e, se fossem, que tipo de gente era capaz de algo assim.

Um novo dia amanheceu e ele estava decido: iria estudar por sua própria conta sobre os fatos que lhe perturbaram o sono na noite passada. No intervalo para almoço, foi diretamente a uma livraria e procurou livros sérios sobre o holocausto. Encontrou dois títulos consagrados mundialmente, impressos por grandes editoras. Questionando o idoso dono da loja se havia algum outro material disponível, este lhe apresentou uma edição simplória. A capa, de cor cinza, era bem modesta. O autor, assim como a editora, desconhecidos para Júlio. Porém, devido à recomendação do velho italiano, levou-o juntamente com os outros dois.

Era quase final do semestre e o período de recesso universitário encaixava-se perfeitamente com as férias no trabalho. Além do mais, seria uma ótima oportunidade para ler as três novas aquisições. Aproximadamente vinte dias depois, Júlio concluía a leitura de dois volumes. Os mais famosos, dos quais ele já havia ouvido falar antes. Apesar da imensa quantidade de páginas, parecia que algo não se encaixa perfeitamente.

Foi então que ele tomou o último e anônimo artefato. O livro parecia apresentar outra face das alegadas atrocidades nazistas. A argumentação era racional e lógica. O autor realizava o cruzamento de informações e apresentava os grosseiros absurdos contidos nos outros dois livros que Júlio havia lido. Erros grotescos que lhe passaram despercebido. Página após página, as palavras lhe soavam como relâmpagos iluminando a cortina de treva intelectual em que vivia.

Desde então, Júlio se tornou obcecado em buscar a verdade dos fatos. Ele sabia, devido a sua formação religiosa, que a verdade liberta. Mas, porém, se esta traz a liberdade, quem teria interesse em escravizar através da mentira? Que diabólica determinação moveria os discípulos da falsidade e do engano? E foi justamente em busca de tais respostas, e pela realidade histórica que ele se aprofundou nos estudos.

As férias terminaram e assim se dava o retorno à rotina diária. As atividades universitárias recomeçaram a todo vapor. Logo na primeira semana, ele assistiria novamente às aulas do bolchevique tupiniquim. O tema agora seria especificamente o holocausto. Apesar de apreensivo, Júlio não vacilou. Decidiu que ouviria atentamente e dessa vez contestaria com a luz do conhecimento e da razão.

A aula já se iniciaria com um pequeno vídeo e em seguida, a tradicional tortura com a sessão de fotos. O assecla de Lênin sabia muito bem o que estava fazendo. Esta era uma ótima tática para quebrar toda barreira racional e preparar o ânimo da audiência. Deixar a todos em um clima extremamente emocional, essa era a chave para o triunfo de suas idéias sobre o público presente.

Terminado o circo de horrores, perguntou se alguém tinha dúvida ou questionamento a fazer. Com acelerado batimento cardíaco, Júlio ergueu a mão. Era o único. Falou sobre o que aprendera nos livros. Denunciou as várias fotos falsificadas. Interrogou sobre a procedência do vídeo, da falta de proposições lógicas e sobre o estado de estupor que essas exibições macabras, porém desprovidas de evidências, causavam nas pessoas.

Ao final de sua declaração, o professor estava atônito. Nunca havia recebido uma objeção deste tipo. Então apelou para acusar o estudante de racista, anti-semita e outros porretes lingüísticos. Mas de nada adiantou, já que Júlio se manteve como um colosso, inflexível em sua postura. Vendo-se sem saída, o comunista saiu de sala ameaçando que não toleraria tal afronta e que informaria o fato à reitoria. Os colegas de turma olhavam perplexos. Uma minoria de alma lavada, pois nunca tiveram tal coragem e desenvoltura. Outros fitavam o estudante, com um tenso olhar de reprovação.

O temor de represálias rondava os pensamentos de Júlio, mas, naquele momento, ele tinha uma certeza – tal qual Cesar, há mais de dois mil anos atrás – acabara de cruzar o Rubicão e não havia mais retorno…

Viktor Weiß

Nota: Em 50 a.C., o senado liderado por Catão ordenou o regresso de César e a desmobilização de todas as suas legiões, ao mesmo tempo que o proibia de se candidatar ao segundo cargo de cônsul in absentia. César sabia que, sem o seu imperium de procônsul e o poder das suas legiões, seria processado e eliminado da vida política assim que regressasse a Roma. Por este motivo, César recusou obedecer e atravessou o rio Rubicão, no norte da península Itálica, a 10 de Janeiro de 49 a.C., dizendo, segundo a lenda, “alea jacta est” (“a sorte está lançada”). Era o primeiro ato da guerra civil que haveria de pôr fim ao normal funcionamento das instituições políticas da República. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Julio_cesar

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