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terça-feira, 26 de setembro de 2023

Os “especialistas” e o efeito Dunning-Kruger

 Estamos profundamente mergulhados na era do rápido, do instantâneo e do ilusionismo do imediato. Nesse contexto, a primazia é quase sempre de “especialistas de araque” em quase tudo – e de ungidos de uma “elite intelectual e moral”.

A imensa maioria das pessoas crê que entende de tudo, quando na verdade eles sabem de quase nada. Nosso cérebro é uma máquina extremamente complexa, que busca minimizar energia e esforços e maximizar resultados. Alojamos na mente determinados padrões de comportamento e histórias, e estímulos externos e necessidades internas nos fazem associar informações, dando-nos a sensação de que sabemos de quase tudo.

Nesse “novo mundo da extrapolação dos ID’s”, muitas das decisões sobre política, economia e negócios, por exemplo, são tomadas com base no piloto automático dos instintos, desprovidas de grandes reflexões e análises, notadamente com o foco curto-prazista.

Decide-se tal qual se deseja, renunciando-se à lógica e aos valores virtuosos. O que conta mesmo é o impulso instintivo que mascara o real, impedindo o funcionamento do ego que opera na racionalidade. Em suma, um mundo dos prazeres imediatos.

Evidente que a ascensão das redes sociais trouxe como efeito colateral os holofotes e as vozes de legiões de idiotas em uma série de temáticas. Esses são os que nunca leram sequer a orelha de um livro importante sobre, por exemplo, política, economia e/ou negócios, e que estão por aí a opinar e a aconselhar sobre o “correto” a ser executado. Ignorantes se transformaram em notáveis especialistas – de araque.

Esses dias me encontrava em uma reunião, numa discussão sobre estratégia empresarial, quando surgiu a recomendação de um executivo, do alto de seus 35 anos, crendo ser um especialista no tema, apontando como solução a única coisa que, pelo comprovado conhecimento, não poderia ser realizada. Felizmente, o sujeito só opinou…

Tal fato aparenta estar naturalizado hoje. Quanto menos um indivíduo sabe sobre algum tema, mais ele acredita que o conhece. Não critico o rapaz, há uma lógica por detrás disso. Quanto menos se estuda e se conhece sobre algo, mas fácil se torna cair na armadilha de que se conhece tudo sobre o assunto. Quanto mais estudamos e temos experiência na questão, mais se conhece a complexidade das temáticas envolvidas. Há estudos que comprovam esse conhecido efeito, denominado de Dunning-Kruger.

Nas mais diversas situações prosaicas, como também em nível de nossas autoridades, há transparentes e grosseiras manifestações desses tipos especialistas de araque e de ungidos. Eles acham que entendem de tudo sem saberem de nada. Nunca estudaram profundamente uma temática e/ou vivenciaram a realidade objetiva em uma respectiva área. São como artistas que proclamam a solução terrena para os problemas econômicos e sociais.

São, tal qual o grande Thomas Sowell classifica, ungidos, uma especial de “elite intelectual” – e moral – que promove uma particular visão de mundo forjada em ambientes impermeáveis à realidade fática. São “especialistas” superdotados intelectual e moralmente, que se acham superiores a nós, meros mortais, ignorantes. Eles possuem um chamado divino e, assim, devem decidir pelo povaréu. Mesmo os membros especialistas, de fato, na população, não sabem de sua especialidade, uma vez que o que vale é a ilusão ideológica dos ungidos.

É isso. A cognição racional e o conhecimento comprovado estão fora de moda. Surfe-se a onda ideológica do prazer e do inverossímil. Até mesmo porque a realidade, por meio dos fatos e das evidências, já atestou o desastre dos sonhos impossíveis.

Os genuínos especialistas, atualmente, são taxados de incautos e, para utilizar um termo da moda, de negacionistas. Aqueles dotados de real conhecimento, e que realizam uma análise racional de custo-benefício, e dos respectivos “trade-offs” em temas políticos, econômicos e em negócios, são aqueles que não entendem de nada… Conhecimento, lógica e criatividade foram inquestionavelmente superadas pelo puro desejo e pelo nobre bom-mocismo.

Nelson Rodrigues já dizia que “os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”. Estão por toda parte, e a parte midiática os auxilia enormemente na impregnação da cultura do imediatismo e do desastre.

A era é, mais do que nunca, da supremacia dos instintos sobre a racionalidade. Quando a racionalidade desaparece, na política, na economia e nos negócios, o povaréu tem que acreditar nos especialistas de araque e nos velhos e novos ungidos. Os verdadeiros especialistas que se danem! Eles não sabem de nada, são negacionistas, e por aí afora. É desse jeito que, nesse “novo mundo”, destituído de conhecimento e de razão, repleto de prazer, reiteradas decisões irrefletidas vão acumulando consequências negativas no presente e hipotecando, sempre, o futuro das novas gerações.


 Alex Pipkin

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