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sexta-feira, 31 de julho de 2020

Cearenses possuem maior ascendência genética nórdica

A pesquisa genética pioneira “GPS-DNA Origins Ceará” analisou as amostras de saliva de 160 cearenses, de todas as regiões do Estado e de várias etnias, a fim de mapear os povos que formaram essa população. A pesquisa inédita de mapeamento genético no país revelou que os genes dos nórdicos que habitaram o norte gelado da Europa têm a maior predominância na origem de onde o cearense é descendente. A segunda maior predominância são os ameríndios.

Luís Sérgio Santos, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC – Universidade Federal do Ceará) e coordenador da pesquisa, explica que o resultado foi obtido a partir da metodologia GPS-DNA, criada pelo geneticista israelense-estadunidense Eran Elhaik, consultor no estudo cearense. As amostras de saliva foram cruzadas com um banco de dados em laboratório, nos Estados Unidos, e permitiram a identificação de 28 grandes agrupamentos genéticos, chamados de “bolsões”.

A pesquisa

Um dos objetivos era responder à pergunta-chave dos estudos de Parsifal Barroso no livro “O Cearense”, lançado em 1969. À época, o autor se valeu de documentos e outros registros para construir sua teoria, mas, 50 anos depois, a tecnologia permitiu uma análise mais profunda das hipóteses.

Ao longo de 10 meses, os pesquisadores coletaram 160 amostras incluindo de grupos étnicos, como indígenas e quilombolas, e algumas personalidades em todo o lugar do estado brasileiro.

A ferramenta Geographic Population Structure (GPS) escaneia o DNA e triangula coordenadas geográficas para descobrir onde ele foi forjado e a quais bolsões (agrupamentos) genéticos pertence. O método entende que os bolsões passaram por misturas ao longo da história e tenta combinar a informação genética a um banco de dados de mais de 100 mil assinaturas de DNA.

Segundo o geneticista israelense-estadunidense Eran Elhaik, criador do GPS, o método é preciso e consegue recolocar 83% das populações no mundo de volta a seu país de origem. Luís Sérgio Santos, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador da pesquisa, explica que os exames das amostras cearenses permitiram a identificação de 28 bolsões.

Os resultados: a predominância do gene nórdico europeu 

“A colonização do Brasil veio da Península Ibérica, mas a pesquisa, de certo modo, desconstrói essa tese. Ela mapeia até o ano 400, então é um tempo muito anterior à fundação de Portugal. Os resultados mostram que o branco europeu que colonizou o Brasil era escandinavo, viking, visigodo, e antes disso, alemão. Por serem predadores, destruidores e impassíveis, eles deram um banho genético na Europa”. – Explica o pesquisador.

As regiões que tiveram mais força na identidade cearense foram o sul da França e a chamada Fenoscândia – que abrange Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca. Na segunda posição do ranking da maior influência genética, fica o ameríndio, que provém da Sibéria e entra no novo continente por meio do Estreito de Bering, ponte natural entre a Rússia e os Estados Unidos.

Para o médico Evangelista Torquato, especialista em reprodução humana e responsável técnico da pesquisa, o levantamento pioneiro atende a dois pontos. O primeiro, da velha curiosidade sobre a pergunta “de onde eu vim?”. O segundo, do uso prático das informações pela Medicina. “Determinadas comunidades no mundo têm certos tipos de doenças, como judeus e negros. O próprio Nordeste cearense tem doenças genéticas mais específicas que estão na nossa ancestralidade”.

Raízes indígenas e nórdicas: a predominância entre ambas

O pesquisador Luís Sérgio Santos explicou o motivo de que, se o Ceará tem predominância de ancestrais europeus, por que não há tantos cabelos loiros e olhos mais claros. Isso se dá pois o “índio tem uma genética muito forte. Ele ‘dilui’ o branco e cria o pardo. Esse gene ameríndio está em todos nós, em maior ou menor quantidade”, afirmou. Mas também podemos pensar ou acrescentar aí os fatores de adaptação climática, uma vez que o estado do Ceará abrange uma área que vai do semi-árido ao tropical litorâneo.

Ele acrescenta que os dados genéticos só se sustentam se embasados em levantamentos históricos para explicar os fluxos migratórios ao longo dos séculos. Por exemplo: o estudo mostra que, apesar da contribuição histórica na formação do brasileiro, a presença do negro não teve tanta força no Ceará. As maiores influências do tipo são de povos bantos do Congo, na África subsaariana, e de outro povo que habitava a ilha de Madagascar. Ele faz um fluxo interno no continente africano e acaba chegando por meio da escravidão”.

Uma hipótese para a baixa influência do negro no Estado está na própria leitura de Parsifal Barroso. “O Ceará demorou muito a ser colonizado e é envolto por serras, o que o autor acha que retardou o processo de colonização. Além disso, nossa mão de obra era mais indígena. Quem cuidava da pecuária eram os índios, e praticamente não tinha agricultura por causa da seca”, conta Luís Sérgio.

Como salienta o médico Evangelista Torquato, embora a regressão do mapeamento tenha remontado mil anos atrás, pode-se avançar ainda mais. “É totalmente possível fazer um mapeamento do povo brasileiro. Podemos ter outras surpresas”, adianta, salientando que a Região Sul do País tem características bem distintas da amazônica, por exemplo.

Para Igor Queiroz Barroso, presidente do Conselho Administrativo do Grupo Edson Queiroz e neto de Parsifal Barroso, desvendar a origem do cearense por meio da ciência é uma forma de compreender não só o passado, mas o presente. “A origem vem para você poder revelar, se aproximar da verdade. Será que a Caatinga é que forma o cearense? Sou um judeu brasileiro por isso ou por aquilo? Tenho braquicefalia porque venho de determinada raça ou porque durmo na rede? Isso é ciência, trazer respostas através de testes”, diz Barroso.

Para o neto do escritor, além da contribuição científica, a conclusão do estudo é uma realização pessoal, pois expandiu os horizontes já indicados pelo avô. “A pesquisa retorna 40 mil anos antes dos nossos colonizadores. Vai muito além do que Parsifal imaginou que se poderia chegar. Estou trazendo a pesquisa do meu avô um pouco mais próxima da verdade, e me sinto feliz por isso”, disse animado.

Participaram da pesquisa doando amostras pessoas de diferentes origens e localidades como, por exemplo, Maria de Lourdes da Conceição Alves, a “Cacique Pequena”. Liderança dos índios Jenipapo-Kanindé e o ex-governador do Estado, Gonzaga Mota.


Fontes:

Nícolas Paulino e Alessandro Torres. Origem do cearense: nórdicos superam índios e negros na genética. Diário do Nordeste, 27 de Julho de 2020. Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/metro/origem-do-cearense-nordicos-superam-indios-e-negros-na-genetica-1.2970540

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