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terça-feira, 14 de julho de 2020

Conservadores e o antissemitismo

Israel Shahak expões alguns aspectos da aliança entre Conservadores e Antissemitas no final do século XIX e início do século XX. Notem a subversão desta relação em nosso atual momento, onde os autointitulados Conservadores se aliaram ao sionismo como alternativa ao Socialismo Marxista.
Do Livro História Judaica, Religião Judaica
Deve ser apontado que alguns grupos importantes de conservadores Europeus estavam muito preparados para jogar com o anti-semitismo moderno e usá-lo para os seus próprios fins, e que os anti-semitas estavam igualmente prontos a usar os conservadores quando a ocasião surgia, embora no fundo houvesse pouca semelhança entre as duas partes. ‘As vítimas que eram tratadas mais asperamente [pela pena do supramencionado Drumont] não eram os Rothschüds mas os grandes nobres que os cortejam. Drumont não poupava a Família Real… ou os bispos, ou a propósito o Papa’24. Não obstante, muitos dos grandes nobres, bispos e conservadores em geral Franceses foram muito satisfeitos em usar Drumont e o anti-semitismo durante a crise do processo Dreyfus numa tentativa de derrubar o regime republicano.
Este tipo de aliança oportunista reapareceu muitas vezes nos vários países Europeus até à derrota do Nazismo. O ódio dos conservadores ao radicalismo e em particular a todas as formas de socialismo cegou muitos deles sobre a natureza dos seus companheiros de cama políticos. Em muitos casos estavam preparados literalmente para se aliarem com o diabo, esquecendo a velha máxima de que precisamos de uma colher muito comprida para comermos com ele.
A eficácia do anti-semitismo moderno, e da sua aliança com o conservadorismo, dependia de vários factores.
Primeiro, a tradição mais antiga de oposição religiosa Cristã aos Judeus, que existiu em muitos (embora de forma alguma em todos) países Europeus, podia, se apoiada ou pelo menos não contrariada pelo clero, atrelar-se ao carro do anti-semitismo. A resposta real do clero em cada país foi determinada largamente pelas circunstâncias locais históricas, e sociais específicas. Na Igreja Católica, a tendência para uma aliança oportunista com o anti-semitismo era forte em França, mas não em Itália; na Polônia e na Eslováquia, mas não na Boêmia. A Igreja Ortodoxa Grega tinha tendências notoriamente anti-semitas na Romênia, mas seguiu a linha oposta na Bulgária. Entre as Igrejas Protestantes, a Alemã estava dividida profundamente quanto a este assunto, outras (tais como a Letã e a Estônia) tendiam a ser anti-semitas, mas muitas (por exemplo a Holandesa, Suíça e Escandinavas) estiveram entre as primeiras a condenar o anti-semitismo.
Em segundo lugar, o anti-semitismo era amplamente uma expressão genérica de xenofobia, um desejo de uma sociedade homogênea ‘pura’. Mas em muitos países Europeus cerca de 1900 (e de facto até mais recentemente) o Judeu era virtualmente o único ‘estrangeiro’. Isto era particularmente verdadeiro na Alemanha. Em princípio, os racistas Alemães do início do século XX odiavam e desprezavam os Pretos tanto como os Judeus; mas então não existiam Pretos na Alemanha. Claro que o ódio pode ser focado muito mais facilmente no presente do que no ausente, particularmente sob as condições da época, quando as viagens em massa e o turismo não existiam e muitos nunca tinham saído do seu próprio país em tempo de paz.
Em terceiro lugar, os êxitos da aliança, tentada entre o conservadorismo e o anti-semitismo eram inversamente proporcionais ao poder e capacidades dos seus oponentes. E os oponentes consistentes e eficazes do anti-semitismo na Europa eram as forças políticas do liberalismo e do socialismo — historicamente as mesmas forças que continuaram de várias maneiras a tradição simbolizada pela Guerra da Independência Holandesa (1568-1648), a Revolução Inglesa e a Grande Revolução Francesa. No continente Europeu o principal divisor é a atitude para com a Grande Revolução Francesa — falando grosseiramente, todos que são a favor dela são contra o anti-semitismo; todos que a aceitam com desgosto serão pelo menos tendentes a uma aliança com os anti-semitas; os que a detestam e que gostariam de desfazer as suas realizações são o meio em que o antisemitismo se desenvolve.
Não obstante, deve ser feita uma distinção nítida entre conservadores e mesmo reaccionários de um lado e verdadeiros racistas e anti-semitas de outro. O racismo moderno (do qual o anti-semitismo faz parte) embora ajudado por condições sociais específicas, torna-se, quando se fortalece, em uma força que em meu entender só pode ser descrita como demoníaca. Depois de chegar ao poder, e durante a sua permanência, acredito que desafia a análise por qualquer teoria social ou conjunto de observações sociais actualmente compreendidas — e em particular por qualquer teoria conhecida que invoque interesses, sejam eles interesses de classe ou de estado, ou outros que não os ‘interesses’ puramente psicológicos de qualquer entidade que possa ser definida no estado actual do conhecimento humano. Mas com isto não quero dizer que tais forças não sejam conhecíveis em princípio; pelo contrário, devemos ter esperança de que com o crescimento do conhecimento humano venham a ser compreendidas. Mas actualmente não são nem compreendidas nem capazes de serem racionalmente predizíveis — e isto aplica-se ao racismo em todas as sociedades^. A propósito, nenhuma figura política ou grupo de qualquer cor política de qualquer país previu mesmo vagamente os horrores do Nazismo. Só artistas e poetas como Heine foram capazes de vislumbrar algo do que o futuro reservava. Não sabemos como o fizeram; e além disso, muitos dos seus palpites estavam errados.
Shahak, IsraelHistória Judaica, Religião Judaica – O peso de três mil anos (1994, p.89-91).

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