E os posts sobre capoeira pra turista continuam a render. Sou refratário à idéia de que determinadas manifestações são expressões da “identidade nacional”. Eu não sei que diabo isso quer dizer. O curioso é que essa abordagem já foi, um dia, “de direita”. Vejam o Integralismo, de Plínio Salgado, por exemplo. As esquerdas, ao contrário, diziam-se internacionalistas. A sua grande irmandade seria o “proletariado”. Hoje em dia, quem investe nessa bobagem de traços formadores da identidade nacional, que teriam virtudes ainda hoje, são exatamente os esquerdistas.
Qual é o meu ponto? Eu não acho que nada disso caracteriza o “Brasil”. A identidade do país não está na capoeira, no berimbau, no pão de queijo, no catira ou no fogo de chão. Todas essas coisas, na verdade, se fossem levadas a sério, nos dividiriam. O que a música de viola do interior de São Paulo diz a um baiano? O mesmo que a capoeira diz a um caipira como eu: nada! Aliás, a maioria dos baianos não sabe dançar capoeira — imaginem o nosso Weimar com as palmas da mão plantadas no chão e as pernas pro ar… Gostamos dele porque tem os pés no chão e a cabeça nas nuvens, hehe… Ah, sim: a maioria dos paulistas ignora a moda de viola.
Assim como não acho que “o” brasileiro se defina por isso ou aquilo, tenho um tédio mortal com as peroração regionalistas: “Ah, mineiro é assim; gaúcho é assado; cariocas, então…” Acho, sim, que se podem criar estereótipos e clichês a respeito das regiões. Como toda generalização, é uma bobagem, geralmente manipulada pela pilantragem política.
O que nos une, aí sim, é o mundo moderno, são as leis, são as exigências contemporâneas. O resto é bobagem. Por que o garoto que dança capoeira nos representa mais do que aquele que estuda matemática pura? Eu não sei! “Porque a matemática pura não ajudou a formar o Brasil!” É mesmo??? O saber acumulado nessa ciência da natureza está ausente do solo pátrio? A geometria, por exemplo, é uma importação? O Teorema de Pitágoras, por acaso, não resiste ao nosso remelexo?
Atenção! A astronomia, a matemática e a literatura aportaram no Brasil antes da capoeira! Chegaram com a primeira caravela. A rigor, vieram dar nestas terras antes de chegarem ao que hoje são os Estados Unidos!
Então está decidido: quando chegar um novo chefe de estado ao Brasil, vamos fazer uma demonstração dos nossos meninos e meninas dedicados à astronomia e à matemática pura. Talvez seja um tanto aborrecido. Não mais do que a capoeira, paranauê, paranauê, paraná… A astronomia e a matemática têm prioridade histórica! Vamos exibir ao estrangeiro as nossas crianças que não sambam, não dão piruetas, mas calculam!
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