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quinta-feira, 31 de março de 2011

DESCONSTRUINDO MARX PART III

AS BASES DO PENSAMENTO DE MARX

“O Estado é o todo perfeito, e o indivíduo, ou cidadão, apenas uma peça dessa totalidade.” (Hegel)

Levando em consideração, o momento histórico de evolução no mundo do trabalho, na intelectualidade e no esforço de experimentar ou adaptar as teorias dos iluministas do século XVI, XVII e XVIII, Marx aparece no cenário econômico e político do século XIX como um visionário que observa o mundo ao seu redor e sua problemática e crê na possibilidade de modificar e criar uma sociedade justa e igualitária.
Temos conhecimento que Marx não estava sozinho, co-existiam no mesmo cenário, outros pensadores, filósofos, economistas buscando desenvolver e solucionar várias equações que surgiam na evolução da sociedade capitalista numa velocidade naquele momento tão rápida quanto nos dias atuais, respeitando as devidas proporções tecnológicas.
Para significativa corrente do pensar filosófico, o marxismo não passa de uma filodoxia, e o seu criador, não propriamente um filósofo em busca da verdade, mas mero filodoxo, na expressão de Kant (1724-1804), um sujeito que enfrenta os problemas de natureza filosófica sem nenhuma intenção real de resolvê-los.
Seu pensamento era nutrido de uma arrogância a ponto de querer substituir a filosofia pela critica materialista. Um exemplo típico da mistificação de Marx encontra-se na sua tese de nº 11 sobre Fauerbach (1804-1872), em que dá conta de que "os filósofos se limitaram a interpretar o mundo; trata-se, porém de transformá-lo" - afirmação que, encerrando a mística do processo revolucionário como agente transformador da realidade, só consolida a visão da história crítica como substituta da filosofia - o que significa, em última análise, decretar a morte da própria filosofia.
Marx, enquanto pensador ou ativista intelectual, pouco ou em nada se voltou para a investigação metódica do fundamento do ser e do espírito das coisas - objetivo primordial da indagação filosófica -, limitando-se a construir uma obra substancialmente crítica, de feição materialista, toda ela imbricada no questionamento às vezes confuso - mas sempre virulento - do pensamento alheio.
O pensar de Marx depende virtualmente do que ele leu, perverteu ou adaptou do pensamento dos outros, a começar por Demócrito (460-370 a.C.) e Epicuro (341-270 a.C.), na sua tese ateísta de doutoramento em Jena, em 1841, passando por Hegel (1770-1831) e o próprio Fauerbach, ainda no campo filosófico, além de Rousseau (1712-1778), Saint-Simon (1760-1825), Fourier (1772-1837) e Proudhon (1809-1865), entre os reformistas sociais franceses, até chegar aos economistas clássicos ingleses Adam Smith (1723-1790), Mill (1773-1836) e, sobretudo Ricardo (1772-1823), cuja concepção da teoria do valor-trabalho, mais tarde destroçada pelo austríaco Bohm-Bawerk (1851-1914), serviu de modelo para Marx - aqui também escorado no "erro de conta" de Proudhon - extrair sua célebre mais-valia e acirrar os ânimos da luta de classes, idéia, por sua vez, a ser creditada ao falangista Blanqui (1805-1881), francês considerado inventor da barricada e autor da expressão "ditadura do proletariado".
A apropriação indébita permanente de Marx tem como fonte básica Friedrich Hegel, filósofo especulativo alemão, autor da complexa "Fenomenologia do Espírito" (Nova Cultural, SP, 2000), que definiu, no dizer acadêmico de Merquior ("Marxismo Ocidental", Nova Fronteira, 1986), "o Absoluto como um Espírito ultra-histórico", associando a ontologia (teoria do ser) com filosofia da história (reflexão sobre o pensamento histórico), procurando, via intermediação dialética, a unidade entre o finito e o infinito para assim chegar ao eterno como fundamento do transitório - e vice-versa. Hegel enxergava no movimento pendular entre as forças da imediação e da mediação (que classifica de "negativas" ou de "auto-alienação") o caminho que conduz ao desenvolvimento do Espírito absoluto, este entendido como realidade única e total.
Neste momento, enquanto o filosofo alemão, Arthur Schopenhauer (1788-1860) considerava Hegel, um charlatão ordinário, Marx bebia avidamente na fonte hegeliana para formatar seu pensamento e formular suas teorias.
O sistema interpretativo do mundo na visão hegeliana, leva Marx nas suas teorias a substituir "povos" por "classes", matar a charada da progressividade da história. Na sua cabeça, se a história é um "processo" irreversível e ascendente, torna-se evidente a superação da burguesia pelo proletariado - do mesmo modo que a burguesia suplantara o feudalismo.
Uma observação importante na analise da formação do pensamento de Marx é que, tanto Hegel quanto Marx fazem uso da dialética em causa própria. Um e outro, no momento oportuno, congelam a dinâmica ascendente do sistema para fazer pontificar suas pessoais interpretações.
Assim como Marx, que congelaria o operariado como classe única entre as classes após o "devir" do banho de sangue revolucionário, Hegel, a despeito do movimento dialético, elegeu o seu próprio sistema filosófico como ponto final do desenvolvimento do pensamento e, o que é pior - conforme deixa entrevisto na "Filosofia da História" (Nova Cultural, SP, 2000) -, projetou na monarquia representativa prussiana o modelo acabado do desenvolvimento político-social – mistifório.
O que Marx entendia sobre economia era quando era cobrado pelos credores e de imediato solicitava dinheiro ao pai para quitação/protelamento dos mesmos. Foi Friedrich Engels (1820-1895), parceiro, provedor e filho de rico industrial alemão do ramo têxtil, que o induziu à leitura dos economistas clássicos ingleses, em especial de David Ricardo.
As várias contribuições de Ricardo à economia política dizem respeito, fundamentalmente, à criação das leis de associação e das vantagens comparativas e, na distinção entre custo e valor produzido pelo trabalho, à elaboração da célebre teoria do valor-trabalho, uma tentativa racional de se calcular o valor (preço) das mercadorias e dos salários.
Mas foi especialmente na teoria do valor-trabalho de Ricardo que Marx buscou fundamento para elaborar a sua insustentável mais-valia. O valor de uma mercadoria - diz Ricardo - é determinado pela quantidade de trabalho nela incorporado. Já o preço da mão-de-obra é determinado pela quantidade de capital disponível para o pagamento dos salários e pela dimensão da força de trabalho - o resíduo é o lucro. Não pode haver aumento no valor do trabalho sem uma queda nos lucros – afirmou o economista inglês.
O anarquista francês Joseph-Pierre Proudhon (com quem Marx travará mais tarde renhida polêmica), analisando em "O Que é a Propriedade?" (Paris, 1840) a relação entre capital e trabalho descobre "um erro de conta proposital e constante" na composição do salário do trabalhador, que, assegura, "nada mais é do que uma apropriação da força coletiva do trabalho" pelo capitalista. Em obra posterior, "Sistema de Contradições Econômicas" (Paris, 1846), Proudhon trata das questões dos valores econômicos e da divisão do trabalho e procura demonstrar as falhas, a um só tempo, da economia política clássica e da falsa visão econômica do coletivismo socialista. No tocante a Marx, que considera um reles plagiário, Proudhon entende que o ódio deste por ele nasce do fato de ter "dito tudo antes dele".
O pensamento transformador e revolucionário de Marx deixou na sua trajetória uma imagem raivosa e rancorosa diante de outros teóricos de sua época, que também pensavam em mudanças, mas analisavam e teorizavam de forma oposta a que Marx nos seus devaneios utópicos, radicais e totalitários pensava em como transformar o mundo para melhor.
Marx se propunha não só a exercer alguma influência sobre os destinos do mundo, mas transformá-lo - o que em sua linguagem revolucionária significava, antes, destruí-lo. Desse modo, tal como partiu anteriormente para liquidar com a filosofia, Marx atirou-se contra o mundo da economia burguesa, com ênfase na demolição da propriedade privada e do sistema capitalista de produção.
Para atuar na esfera diretamente política, o passo que deu a seguir - ou paralelamente - foi o de se instrumentalizar nas palavras de ordem do ideário político dos reformistas sociais franceses e, com mais empenho, nas cantilenas igualitaristas de Rousseau, Saint-Simon, Fourier e Proudhon. Foram muitas as idealizações dos reformistas sociais franceses do século 18 e 19, mas pelo menos duas delas ganham destaque e unem todos eles, a saber: 1) a predominância da igualdade completa entre os homens, e 2) a construção de uma sociedade modelar justa e livre.
É sabido que Marx, enquanto leitor e teórico estimava o apelo dessas idéias e que freqüentemente recorria a todas elas, em especial às projeções de Rousseau, Saint-Simon.
O "Contrato Social" de Rousseau é um somatório de regras administrativas para se chegar à sociedade civil perfeita. Com ele, o pensador iluminista pretende transformar a sociedade existente, considerada injusta, numa nova sociedade perfeitamente igualitária composta por "homens novos". Para construir a sociedade ideal, julgam necessário de início que se ame as leis criadas a partir de uma vontade coletiva; estas, por sua vez, coordenadas por elite política sábia, a quem todos se obrigam a obedecer por contrato.
Foi paradoxalmente no anarquista Proudhon - tanto o teórico socialista voltado para a crítica da economia quanto no ativista e organizador político - que Marx encontrou respaldo para suas formulações teóricas. Proudhon não era, simplesmente, um fabricante de sonhos ou um idealizador de sociedades fantásticas. Embora considerado um dos fundadores da sociologia, ele desempenhou, de fato, papel importante na organização de associações e movimentos operários franceses, sendo reconhecida sua atuação na revolução de 1848, além da influência, depois de morto, por força de suas idéias e ação dos seguidores, na Comuna de Paris de 1871 - desempenho este, por motivos óbvios, sonegado perversamente por Marx nas reportagens que formam "As Lutas de Classes na França" e "Guerra Civil na França" (ambos da Global, São Paulo, 1986).
Os métodos de Proudhon na atuação política contrastavam fundamentalmente com os de Marx, e ele soube, como nenhum outro, conduzir a classe operária francesa à posição de destaque no cenário internacional. A um só tempo, Proudhon reconhecia as vantagens da descentralização governamental, operava na criação de instituições financeiras de crédito popular (mutualismo), apontava para o imperativo da autogestão em face das organizações estatais e burocráticas de controle social e, a partir da aplicação da justiça à economia política, teorizava sobre a necessidade de uma democracia operária em oposição à ditadura do proletariado. Marx, para reiterar o óbvio, acompanhou todos os seus passos e tinha no confronto com ele e um seu aliado, Mikhail Bakunin (1814-1876), a razão de ser de sua existência política e teórica.
Marx tentou aliciar Proudhon, por carta, convidando-o a integrar a corriola do Comitê Comunista de Correspondência, base da futura Liga Comunista (sediada em Bruxelas). Mas na carta, em que pese elogiar Proudhon, o "Doutor do Terror Vermelho" não consegue disfarçar o caráter virulento e ataca um discípulo deste, Karl Grun (inventor de mais um tipo de socialismo - o "socialismo verdadeiro"), a quem considera um tipo suspeito. Proudhon não apenas recusa o convite, como defende Grun e adverte Marx quanto ao caráter violento e nocivo do seu dogma revolucionário.
A leitura anotada de vários livros, entre eles os de Marx, poderá levar o leitor a conclusões semelhantes ou parecidas. Na prática, a teoria que envolve o "socialismo científico" de Marx mostrou-se tão pouco científica como qualquer outra e - o que já é lugar comum afirmar - suas "leis", "tendências" ou "previsões" históricas jamais se cumpriram sequer remotamente. Superado o ciclo do historicismo determinista, e com ele as irrealistas projeções econômicas, os próprios membros da seita trataram de enfiar a viola no saco e partir para a institucionalização da "crítica cultural", elegendo o infinito conceito da "alienação" como novo objeto de culto. São, por assim dizer, as sanguessugas de Marx, repetindo em bloco o mesmo que o "mestre" fez com Hegel, Fauerbach, Proudhon e tantos outros

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