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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Bruno Garschagen - ORDEM LIVRE. ORG

Enquanto a maioria dos estudantes universitários brasileiros foram apresentados ao liberalismo pelos seus críticos e tiveram um acesso de segunda mão às ideias liberais, atualmente noto que uma situação similar vem ocorrendo no acesso dos jovens liberais ao pensamento de Karl Marx e ao marxismo, apesar de as universidades ainda serem dominadas pela vulgata marxista. É difícil encontrar alguém que, mesmo orientado pelo professor, tenha estudado alguma de suas obras.
Ao terem contato direto apenas com as críticas elaboradas por grandes nomes do liberalismo, os liberais compreenderão apenas uma parte da refutação, muitas vezes descolada do seu devido enquadramento, e não conseguirão elaborar a própria crítica, uma vez que, por ignorância ou indiferença pelas fontes primárias, tenderão a repetir o que leram e assim continuarão despreparados na hipótese de pretenderem escrever sobre o assunto ou debater com marxistas. É o momento, então de se manterem estoicamente dentro da sala de aula ouvindo a vulgata marxista dos professores universitários, bem que seja para anotar as fontes bibliográficas ou, o que é melhor, questionar o professor sobre se o marxismo dele é de primeira ou de segunda mão (e lembrem-se sempre de que um mero por que pode ser um argumento infalível contra o marxismo).
Não estou sugerindo, obviamente, que todos leiam a obra completa de Karl Marx e tornem-se especialistas, mas o estudo do texto original, quando citado num argumento crítico num texto de seu interesse, é fundamental para compreender as dimensões da própria crítica com a qual se concorda ou simpatiza. Se o estudo do pensamento de Karl Marx não tivesse sua importância tantos intelectuais não teriam dedicado anos de estudo e desenvolvido uma refutação tão vigorosa.
Querem um exemplo para não se verem em apuros? Se um marxista disser que Karl Marx era contra o protecionismo, pode acreditar sem arregalar os olhos ou demonstrar uma surpresa que o prejudique no embate verbal.
Marx também era um defensor condicional do livre comércio, pois o via como instrumento de destruição da ordem burguesa, ao contrário dos liberais que o veem como instrumento para se alcançar a prosperidade. Marx incomodava-se menos com o liberalismo e com o capitalismo do que se supõe porque os via como elementos de uma fase intermediária da evolução social cuja função principal era criar uma classe proletária para depois empobrecê-la. Tal situação era benéfica ao seu argumento porque essa pobreza gerada pelo capitalismo incitaria os trabalhadores à revolução final, ou seja, ao estágio no qual as classes sociais seriam abolidas. Inexoravelmente como uma lei da natureza, acreditava Marx, o capitalismo seria destruído justamente pelos trabalhadores supostamente submetidos à exploração.
A afirmação de que o capitalismo tinha uma propensão a criar miséria entre a classe proletária foi desmentida pelos fatos nos 25 anos seguintes à publicação de O Capital. Em 1893, segundo mostra Jörg Guido Hülsmann em sua excelente biografia Mises – The Las Knight of Liberalism, o marxismo já havia perdido o respeito e seu poder de sedução em Viena, onde Mises morava e estudava. Os líderes intelectuais socialistas, em vez de rejeitarem a teoria diante da desconfortável evidência empírica, propuseram uma revisão da teoria do socialismo de forma a salvá-la do marxismo ao corrigir suas falhas mediante governos eleitos democraticamente. Vocês certamente sabem os resultados dessa estratégia, pois não?
Conhecer e estudar os aspectos de interesse individual do pensamento de Marx e dos subsequentes autores marxistas é também uma forma de colocar à prova suas certezas e concordâncias em relação ao pensamento liberal. Com o tempo, vocês verão que terão um conhecimento mais sólido dos argumentos liberais e terão ainda mais consciência da importância para o liberalismo da sua base falibilista, que considero sua principal virtude.
E no futuro, se considerarmos o nível dos marxistas brasileiros de hoje, os liberais e conservadores conhecerão e compreenderão Marx muito melhor do que seus defensores, o que abre uma extraordinária vereda de produção de uma massa crítica contra o pensamento ou contra a vulgata marxista, esta muitas vezes mais perigosa do que a sua fonte original. O título do artigo, claro, é uma brincadeira porque a defesa explícita neste breve artigo é pela leitura das obras porque ler Marx é fundamental para refutá-lo.

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