Primeira parte
Petró Vasylovych Volvach - Simferopol-Ua
Na União Soviética as estruturas autoritárias e os ideólogos do Partido Comunista gostavam criar lendas e mitos. Em um sexto do globo terrestre, talvez seja difícil de encontrar um ramo de atividade humana em que durante o domínio bolchevique não foi construído um belo mito. Esta mitologia tornou-se objeto de trabalho meticuloso e de ordem corporativa dos diplomados pseudo intelectuais, os quais concentravam-se, principalmente, nos terrenos sociológicos e conhecimentos históricos. Se calcularmos a quantidade de tratados "científicos" e teses defendidas, revela-se que justamente nesta esfera criou-se a maioria dos mitos. São de amplo conhecimento os mitos cor-de-rosa sobre o internacionalismo soviético, papel messiânico de "irmão maior", a fusão voluntária das nações e criação de uma nova, "excepcional e histórica comunidade-nação soviética", isto é, "população de língua russa".
O apogeu da criminalidade mito-criadora deu-se no período da tirania de Stalin e Brezhnev. No entanto, o que se refere à época da destruição nacional e russificação da nação ukrainiana as primeiras iniciativas ocorreram na época dos monarcas russos. Os bolcheviques, neste assunto, revelaram-se dignos sucessores dos avanços czaristas. Se acreditar na propaganda oficial comunista, o movimento dos povos ao império soviético e impreciso amorfismo da "população da língua russa" ou "nação soviética" reflete a objetividade dos processos de integração que ocorreram na sociedade. Tramitavam eles, aparentemente, sem pressão das estruturas governamentais e sem influência "da administração orientadora".
Em frenética histeria chauvinista de grande Estado esqueceu-se até a destruidora característica essencial do império czarista, dada pelo próprio pai do socialismo russo, exemplo e líder do proletariado mundial. É conhecido o episódio em que, entusiasmado com a conquista do poder pelos bolcheviques, Lenin, muito acertadamente, chamouRússia Imperial, cárcere das nações. Os historiadores pós-revolucionários que em ritmos acelerados vieram, originaram-se do resplandecer dos operários vermelhos e cresceram sob o capote militar de Stalin, esqueceram que, ainda nos tempos de Ivan, o Terrível, a agressividade e a expansão militar tornaram-se dominantes na política exterior do então jovem império. Como professavam os pastores espirituais de Ivan, o Terrível: "Rússia deve, continuamente, ampliar suas fronteiras à custa de seus vizinhos". Portanto, não é de estranhar, que no transcorrer de 525 anos, do século XV até o presente momento, o império conduziu 329 anos em guerras, quase dois terços de sua história. Ele lutou com 26 países e regiões vizinhas. Graças às suas ações militares o império russo aumentou, nesta época, seu território quase em 1.000 vezes.
Ainda em 1462, a área de Moscovia (antigo nome da Rússia - O.K.) era de, aproximadamente 24 mil quilômetros quadrados. Mas, já em 1914 o Império Russo ocupava um sexto das terras secas do nosso planeta (23,8 milhões de km²). O território da Rússia, a partir do século XV, aumentava, em média, 80 quilômetros quadrados por dia. Para este crescimento territorial despendeu-se enorme potencial econômico e sacrificou-se milhões de vidas humanas.
Hoje cada pessoa, não contaminada com chauvinismo de grande potência e despojada de ambições imperiais, compreende perfeitamente, que após a queda do despotismo czarista em fevereiro de 1917, a maior parte das terras que compunham o despótico império novamente foram anexadas pela nova pressão bolchevique, a assim chamada União Soviética, somente graças a traição de Lenin e ajuda das baionetas.
Em relação a Ukraina, o primeiro comandante do Exército Vermelho Leon Trotskyi, ainda em 1920, sem excessiva diplomacia declarou abertamente: "O governo soviético manteve-se na Ukraina até agora (e manteve-se com dificuldade), basicamente com a força de Moscou, comunistas notáveis e Exército Vermelho". A independência puderam conseguir apenas aquelas colônias (Finlândia e Polônia), para as quais faltou força militar. No entanto, o inesquecível Ilich não pôde aceitar a perda da Polônia e já em 1920 recomendava aos seus falcões vermelhos rever a revolução polonesa com baionetas. E seu fiel discípulo e companheiro Stalin, em 1939, tentou absorver Finlândia, mas não obteve sucesso.
Somente graças à resistência e aliados da coalisão anti-hitlerista na Segunda Guerra Mundial não houve anexação direta ao império, de muitos países do Leste Europeu. Mas, com intervenção do império soviético, na maioria deles predominou regime comunista fantoche. Todos eles terminaram sua existência inglória quase simultaneamente com o colapso da antiga União Imperial.
Como nos tempos do czarismo, também durante o período soviético, o germe de nosso Estado e raízes da cultura ukrainiana o governo soviético destruía frenética e sistematicamente. Para aqueles que ainda acreditam cegamente nos mitos de criação pacífica do império, nos processos "naturais" de fusão das nações, em uma aversão patológica dos ukrainianos em relação ao seu idioma e cultura, em sua autofagia e seu desejo nostálgico de "confluência ao mar russo", recordamos os marcos mais significativos no caminho da destruição da genealogia ukrainiana, demolição da cultura e espiritualidade da nação ukrainiana e sua russificação. Sem esses conhecimentos não se alcança a profundidade do abismo, ao qual Ukraina foi conduzida durante 340 anos.
1708-1709 - repressão brutal da nação ukrainiana pelo verdugo Pedro I, ao movimento de libertação nacional e a destruição total do restante da Ukraina como estado.
1720 - decreto de Pedro I sobre proibição de edições de livros ou jornais em língua ukrainiana.
17-01-1721 - extermínio maciço dos cossacos ukrainianos na guerra russa do Norte, na conquista litorânea do Mar Báltico e sua dominação, na construção do Canal Ladoha e São Petersburgo.
1729 - decreto do Sínodo sobre exclusão das cartilhas e textos de livros religiosos ukrainianos em posse da população.
1768 - conspiração criminosa de Catarina II com a nobreza polaca para em conjunto reprimir o movimento de libertação do povo ukrainiano, na região do lado direito do rio Dnipró "Pravoberezhna Ukraina" (que estava sob o domínio polonês - O.K.), e que entrou para história sob o nome de "Koliivchena"; primeira deportação em massa dos ukrainianos para Sibéria.
1768-1775 - aniquilação dos cossacos ukrainianos na guerra russo-turca.
1775 - insidiosa destruição pelos esbirros da Catarina II da Sich Zaporozhka (região da Ukraina onde viviam os cossacos, sua base militar - O.K.), fechamento de escolas ukrainianas adjuntas às chancelarias cossacas, prosseguimento na escravização da nação ukrainiana.
1771-1783 - liquidação definitiva da autonomia ukrainiana representada pela "Hetmanchena" (de Hetman - lider cossaco O.K.) do exército cossaco.
1811 - fechamento, durante o governo de Alexandre I, da Kyivo-Mohylianska Academia - centro espiritual de cultura ukrainiana.
1816 - 1821 - ocupação militar da Ukraina com a força de 500 mil soldados, sob a forma de unidades do exército nas terras ukrainianas.
1847 - destroçamento da Irmandade Kyrylo Myfodiivska (organização que pretendia uma sociedade com base em moral cristã, criar uma federação democrática de nações, com direitos iguais e independentes, destruição do czarismo, fim da escravidão, direito à língua, ensino e cultura nacional -O.K); terror político sob o czar Mykola I.
1917-1920 - invasão da Ukraina pelos exércitos de Denikin, destruição do Estado ukrainiano. Guerra fratricida provocada entre os bolcheviques e as forças de Deniken, derrocada do movimento nacionalista ukrainiano.
1921-1922 - anos de política comunista de guerra e fome na Ukraina, que ceifou a vida de centenas de milhares de pessoas, brutal sufocamento de aldeões insurgentes e derramamento de sangue no combate aos operários grevistas.
1928-1932 - coletivização da agricultura na Ukraina que conduziu ao destroçamento das aldeias, aniquilação das camadas melhor posicionadas e deportação de milhões de aldeões para além das fronteiras ukrainianas.
1929-1930 - início do grande terror político na Ukraina, destruição da Igreja Autocefálica Ukrainiana.
1932-1933 - fome artificial na Ukraina [Holodomor], provocada pelo governo bolchevique com a finalidade de destruir os insubmissos aldeões. Pela avaliação dos especialistas internacionais, na Ukraina morreram de fome mais de 10 milhões de pessoas.
1933 - telegrama de Stalin mandando parar a ukrainização, liquidação da assim chamada tendência nacionalista.
1933-1938 - genocídio em massa contra nação ukrainiana, com destruição total do ensino e cultura.
1938 - resolução de Stalin sobre a obrigatoriedade do aprendizado da língua russa.
1939 - guerra contra Finlândia com a meta de conquista. Prejuízos econômicos e consideráveis perdas humanas ukrainianas.
1939-1940 - anexação da Ukraina Ocidental (anterior domínio polonês, austro-húngaro e novamente polonês - O.K.). Repressão em grande escala contra população, deportações para longínquo Oriente e Sibéria de quase 500 mil ukrainianos ocidentais.
1941-1945 - segunda guerra mundial, iniciada pelos regimes nazistas e bolcheviques, que conduziu à completa ruína da economia ukrainiana e morte de cada sexto habitante da Ukraina (aproximadamente seis milhões de pessoas).
1944-1945 - elaboração do plano de Stalin-Beria sobre deportações de ukrainianos, ordem nº 78/42 da NKVD e "Narcomat" (Comissariado Popular da Defesa da URSS) de 22.06.1944: "Evacuar para outros países da URSS todos os ukrainianos".
1946-1947 - fome na Ukraina, na qual morreram dezenas de milhares de pessoas.
1947 - em grande escala, a ação comum soviético-polonesa Visla, que destruiu centenas de milhares de ukrainianos que viviam na Polônia.
1944-1949 - destruição do exército insurgente ukrainiano (que agia na clandestinidade - O.K.) e deportação em massa da população da Ukraina Ocidental para o norte siberiano.
1954-1959 - assimilação de 10 milhões de hectares de terras virgens no Cazaquistão e Sibéria, fato que retirou da Ukraina recursos materiais e humanos (da Ukraina saíram perto de três milhões de jovens trabalhadores).
1064-1983 - reações do partido comunista e luta com o novo renascimento ukrainiano.
1978 - deliberação do Comitê Central do PCUS para fortalecimento do estudo e ensino da língua e literatura russa (circular Brezhnew).
1983 - resolução do Comitê Central do PCUS para fortalecimento do estudo da língua russa nas escolas (decreto de Andropov).
1986 - Catástrofe de Chernobyl, a qual é consequência do partido comunista totalitário e irresponsabilidade perante a nação. Em consequência foram excluídos 5 milhões de hectares de terras agricultáveis, sofreram consequências três milhões de pessoas, a população tem seus genes ofendidos para séculos. O antigo império deixou Ukraina sozinha com a tragédia de Chornobyl.
1989 - resolução do plenário do Comitê Central do PCUS sobre único idioma oficial, o russo, em URSS (circular de Horbachov).
Quanto à Criméia, esta triste lista de ações antiukrainianas podem prolongar a Constituição e Leis aprovadas em 1992 sobre o ensino na República, as quais, nesta região, realmente colocam o idioma ukrainiano fora da lei. Portanto, a fuga da situação em que hoje se encontram a economia e a vida espiritual na Ukraina necessita procurar, não em breve independência, mas na permanência do suficientemente longo jugo colonial.
O seu alcance e nascimento é também a nossa baixa consciência nacional, a ausência de orgulho nacional, traições, negação de tradições nacionais, perda de orientação moral, muito comuns, especialmente nas regiões sudeste e central.
A situação demográfica em qualquer país - um dos mais sólidos indicadores de sua prosperidade. Ela reflete não só a estabilidade econômica e política da sociedade, é também indicador da saúde da nação. Uma nação privada do crescimento natural de sua população, não tem futuro, e é condenada à extinção.
A análise da situação demográfica da Ukraina, em sua longa permanência na composição do império russo argumenta convincentemente, que são os ukrainianos, o povo mais próximo de uma catástrofe étnica. Infelizmente a tragédia de Chornobyl em 1986 agrava esse problema ainda por centenas de anos. Todavia, a mortalidade na Ukraina já supera os nascimentos. É o primeiro sinal que a nação começa extinguir-se. Ukrainianos - uma das mais populosas nações européias, que nos últimos anos está sobre o precipício.
Pelos dados estatísticos, na Ukraina, desde o final do século XIX até o final do século XX registraram-se as mais baixas taxas de crescimento natural da população. Assim, enquanto em 1913 a população da Ukraina (sem as províncias ocidentais e Bukovyna), que era de 35,2 milhões de pessoas, em 1939, depois da adesão à União Soviética destas regiões, contavam-se 40,5 milhões, ou seja, em 25 anos a população aumentou apenas cinco milhões de pessoas. E, nos próximos 20 anos (1939-1959) o aumento da população constituía somente 1,4 milhões de pessoas (população em 1959 - 41,7 milhões.
Primeiramente na Ukraina começou a extinção da aldeia. Como informa o membro-correspondente da Academia de Ciências da Ukraina Liubomyr Perih, "O processo da perda dos índices da nação teve início nas aldeias em 1979 e, um pouco mais tarde nas cidades - em 1990. Ainda em 1920 o crescimento normal da população ukrainiana constituía mais de 300 mil pessoas. Ao cabo de dez anos este número diminuiu para 174 mil. Sendo que durante este período o acréscimo verificava-se somente na população citadina.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
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