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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Beleza, Verdade e Seios de Silicone

Faz algum tempo um articulista britânico, falando genericamente em nome dos homens, afirmou que os seios de silicone não são nada sexy. Concordo com ele, muito embora imagine que alguns homens gostem, ou não haveria tantas mulheres se siliconando por aí.

O artigo em si não é grande coisa, mas as fotos que o acompanham são hilariantes. Nunca entendi bem essa opção estética, afinal é bastante fácil ver quais seios são reais e quais não. Demasiado arredondados, demasiado erguidos e demasiado afastados um do outro, são seios de desenho animado, não seios reais.

É também curioso que a estética dos seios de silicone se junte à estética da magreza anoréxica tão comum nas passarelas. Ora, os seios estão diretamente relacionados com o volume (para não dizer gordura) da pessoa, portanto seios enormes em uma pessoa magérrima chamam a atenção e parecem antinaturais.

Mas não estaremos vivendo uma época que valoriza justamente a estética antinatural? Piercings e tatuagens também são modificações corporais que são utilizadas por número cada vez maior de pessoas, para não falarmos em modificações mais extremas como a "troca de sexo" ou o implante de chifres. Eis a triste história de uma
garota que colocou dezenas de tatuagens no rosto, e eis o seu tatuador. Seios artificiais de silicone não deixam de ser outro tipo de modificação corporal que se soma à crescente tentativa de modificar a biologia humana, ou ao menos a sua estética natural.

(E, entanto, não há nada de novo sob o sol: o que hoje chamamos de piercings e tatoos ja eram utilizados de forma pouco diversa há milhares de anos atrás pelos indígenas, quem sabe até pelos cavernícolas, e tal retorno a esses adornos corporais poderia constituir, longe de ser uma modernidade, um retorno ao primitivismo. Hoje as mulheres ocidentais aumentam seus seios, mas não há uma tribo cujas mulheres
aumentam o tamanho do pescoço? As chinesas não diminuíam o tamanho de seus pés? É, não há nada de novo sob o sol.)

Tudo, no entanto, talvez faça parte de uma discussão mais ampla. O filósofo Roger Scruton, em recente artigo
que pode ser lido em português aqui, falou sobre a importância da beleza e como a estamos perdendo. Seu texto é principalmente sobre a feiúra da arte moderna, que devido, segundo ele, principalmente à perda da religião (ou mais bem do cristianismo), teria perdido a espiritualidade e portanto o ideal de beleza. Porém, tanto no artigo quanto no vídeo que acompanha, um dos argumentos mais interessantes do filósofo é que a própria vida moderna estaria perdendo a sua beleza. Não são apenas as artes plásticas: a horrenda arquitetura moderna de Niemeyers (o comunista plagiador) e Corbusiers, o modo de vestir e até o de se comportar, tudo estaria perdendo a sua elegância. 

Não é preciso ser cristão (e muito menos ter lido o artigo sobre os
quatro estágios do niilismo do Frei Serafim Rose) para observar que vivemos em um mundo cada vez mais dominado pelo niilismo, pela crença de nada importa, e de que a missão do artista é apenas a de chocar e confundir. Se acreditamos que existe uma Verdade, uma Ordem Natural, podemos então passar a acreditar que existe uma Beleza (Beauty is truth, truth beauty,—that is all ye know on earth, and all ye need to know); se não acreditamos, fica fácil pensarmos que nem mesmo a arte tenha qualquer objetivo. 

Poucos leitores deste blog parecem estar interessados na questão da arte moderna, e, no entanto, esta parece-me às vezes um dos sintomas mais claros da decadência do mundo ocidental. Às vezes fico imaginando que, daqui a milhares de anos, alguns arqueólogos desenterrarão os artefatos artísticos do século XXI, e ficarão perplexos ante a visão de uma sociedade que aparentemente odiava e desprezava a si mesma, e que não podia sequer conceber a Beleza, tanto que suas próprias mulheres já não sabiam mais o que esta era, e se enfeitavam inflando artificialmente os seios e lábios de forma grotesca e antinatural.

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