Abaixo segue a introdução do próprio Oswald Spengler à sua célebre obra “Decadência do Ocidente”, publicada pela primeira vez em 1918 e corrigida em 1922:
Neste livro se acomete pela primeira vez o intento de predizer a história. Trata-se de vislumbrar o destino de uma cultura, a única da terra que se acha hoje a caminho da plenitude: a cultura da América e da Europa ocidental. Trata-se, digo, de persegui-la naqueles estágios de seu desenvolvimento que, todavia, não tem transcorrido.
Ninguém até agora tem parado enquanto à possibilidade de resolver um problema de tão enorme transcendência e, se alguma vez foi tentado, não se conheceram bem os meios próprios para tratá-lo ou se usou deles em forma deficiente.
Há uma lógica da história? Há mais além dos fatos singulares, que são contingentes e imprevisíveis, uma estrutura da humanidade histórica, por dizê-la assim metafisica, que seja no essencial independente das manifestações político-espirituais tão patentes e de todos conhecidas? Uma estrutura que é, em rigor, a geradora dessa outra menos profunda? Não ocorre que os grandes momentos da história universal se apresentam sempre ante a pupila inteligente com uma configuração que permite deduzir certas conclusões? E se isto é assim, quais são os limites de tais deduções? É possível descobrir na vida mesma – porque a história humana não é senão um conjunto de enormes ciclos vitais, cada qual com um eu e uma personalidade, que a mesma linguagem usual concebe indeliberadamente como indivíduos de ordem superior, ativos e pensantes e chama “a antiguidade”, “a cultura chinesa” ou “a civilização moderna” – é possível, digo, descobrir na vida mesma os estágios por que tem de passar e uma ordem neles que não admite exceção?
Os conceitos fundamentais de todo o orgânico: nascimento, morte, juventude, velhice, duração da vida, não teriam também nesta esfera um sentido rigoroso que ninguém ainda tem desentranhado? Não teria, em suma, à base de todo o histórico, certas protoformas biográficas universais?
A decadência do Ocidente, que por logo, não é senão um fenômeno imitado em lugar e tempo, como o é seu correspondente a decadência da “antiguidade”, resulta, pois um tema filosófico que, considerado em todo seu peso, implica todos os grandes problemas da realidade.
Se queremos saber em que forma se está verificando a extinção da cultura ocidental, haverá de averiguar primeiro o que seja cultura; em que relação se acha a cultura com a história visível, com a vida, com a alma, com a natureza, com o espírito; em que formas se manifesta, e até que ponto sejam essas formas – povos, idiomas e épocas, batalhas e ideias, Estados e deuses, artes e obras, ciências, direitos, organizações econômicas e concepções do universo, grandes homens e grandes acontecimentos –, símbolos e, portanto, qual deva ser sua interpretação legítima.
Tradução por Mykel Alexander
Da versão em espanhol de Editorial Mundo Nuevo, Chile, 1938.
Da versão em espanhol de Editorial Mundo Nuevo, Chile, 1938.
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