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sábado, 14 de março de 2020

REMODELANDO O ORIENTE MÉDIO

Cada intervenção estrangeira levou o Oriente Médio a se auto-reconfigurar contra as potências intervencionistas. Foi duramente contra-atacada, criando o efeito oposto ao que o desejavam as potências intervencionistas. Se se considera a história recente (os últimos 40 anos, desde que a Organização para Libertação da Palestina, OLP, foi expulsa do Líbano), a lista é cataclísmica. Tem-se a constituição do Hezbollah, do Hamas, da Al-Qaeda, do “Estado Islâmico” (ISIS), o fim do regime dos Talibã, Saddam Hussein, Moammar Ghadaffi, a tentativa de derrubar o presidente Bashar al-Assad da Síria, a tentativa de dividir o Iraque e a guerra contra o Iêmen.
A lista dá prova da quantidade inacreditável de recursos mobilizados por EUA, Israel, Europa e respectivos aliados no Oriente Médio, sempre tentando “mudar o regime”; e do fracasso retumbante do ‘plano’ para criar um “novo Oriente Médio”.
De fato, o que fizeram foi criar gerações de poderosos atores não estatais (ou atores quase estatais). Reforçaram a influência do Irã no Oriente Médio, trouxeram a Rússia de volta para a arena internacional depois da calmaria da Perestroika (reconstrução). Mas trouxeram descomunal destruição, tendo acabado com a infraestrutura básica de muitos países, devolvendo ao passado mais miserável essa parte do mundo, criando mais migrantes, mais miséria, falta de serviços, trauma – e fúria contra o Ocidente. Países do Oriente Médio pagaram quantias gigantescas de dinheiro, principalmente por exigência e com a concordância dos EUA, o que debilitou povos e governos no Oriente Médio, com um único resultado claro: uma região mais pobre, mais instável e mais furiosamente hostil ao Ocidente.
A invasão de Israel ao Líbano em 1982 (bem-sucedida no objetivo de remover a OLP, um estado dentro de outro) ajudou o parto de um exército irregular organizado, de nome Hezbollah, o “Partido de Deus”. O Líbano vivia sob controle dos cristãos maronitas, por um lado, e dos palestinos, por outro. A OLP e outros grupos palestinos menores atacaram Israel esporadicamente a partir do sul do Líbano, com foguetes cegos de fabricação soviética (Katyusha) ou mesmo com um contador temporal conectado a foguetes cegos de pequeno calibre abandonados numa cova num campo das oliveiras ou das laranjeiras no sul do Líbano, dirigidos e disparados na direção de Israel.
As avaliações sempre erradas, por Tel Aviv, indicavam que conseguiriam criar um “protetorado cordial, obediente, impotente (o Líbano)” na fronteira norte. Israel planejava pesar a mão sobre a liderança libanesa, para que assinasse um tratado de paz com Israel, com o qual o Líbano estaria submetido à vontade e aos planos expansionistas de Israel. A OLP era comandada por Yasser Arafat, homem de objetivos pragmáticos, que gozava de um buquê de contatos por todo o Oriente Médio e pelo planeta. Porque era financiado por vários países árabes, os líderes daqueles países tinham influência sobre suas decisões, e a organização era tão corrupta que, de fato, nunca representou real ameaça contra Israel.
Arafat estava pronto a assinar um tratado de paz com Israel (o que realmente fez anos depois) e era líder secular, muito distante de qualquer crença ideológica profunda.
A OLP foi expulsa do Líbano, o que abriu uma ampla estrada para que o Hezbollah florescesse e ganhasse força. Ao longo dos anos, o Hezbollah aprendeu a lidar com a política interna e conquistou os “corações e mentes” da população, porque nunca foi um corpo estranho, desligado da comunidade libanesa xiita, mas parte inseparável dela.
Combatentes do Hezbollah. Membros do movimento xiita Hezbollah do Líbano saúdam os caixões de três camaradas mortos em combate na Síria durante o funeral na cidade de Nabatieh, no sul do Líbano, em 8 de novembro de 2017. Foto: Reuters
Em 1992, mais uma vez interpretando erradamente a organização, Israel assassinou Sayyed Abbas al-Moussawi e membros de sua família, o líder do Hezbollah que operava como uma espécie de “guru” teológico, figura complexa e modesta de pai e comandante militar. Tel Aviv supôs que teria conseguido paralisar o Hezbollah, convencida de que a liderança do movimento fosse de tipo piramidal. Mas viu Sayyed Abbas ser substituído pelo inteligente e carismático, estrategista talentoso, estudioso da psicologia da guerra e pensador inovador, Sayyed Hassan Nasrallah. E Nasrallah levou o grupo a dimensões que jamais tivera antes, convertendo-o em organização muito poderosa.
Sob o comando de Sayyed Nasrallah, o Hezbollah cresceu para tornar-se mais forte que o Exército Libanês e todas as forças nacionais de segurança somadas. Hoje, a organização tem mísseis de precisão movidos a combustível sólido e mísseis antitanques guiados a laser, mísseis de precisão anti-navios, mísseis antimísseis e vários milhares de soldados de forças de elite disciplinados, organizados e muito bem treinados. O Hezbollah mantém infraestrutura social, um hospital, escolas, um banco, organização de apoio a órfãos, viúvas e demais familiares de seus mártires, geradores que fornecem eletricidade para o sul do Líbano, subúrbios de Beirute e vários municípios que o Partido de Deus administra.
Em 2005, depois do assassinato do deputado e ex-primeiro ministro Rafiq Hariri, os EUA supuseram que estariam retomando o controle sobre o Líbano e conseguiu forçar uma retirada síria do Líbano, o que pôs fim à chamada hegemonia militar e política da Síria. Porém, com os sírios fora de lá, o Líbano tornou-se canhão descontrolado, sem comandante capaz de pensar duas vezes antes de fazer Israel voar pelos ares ou deixando que um grupo como o Hezbollah assumisse a tarefa.
Sayyid Hassan Nasrallah (58), político libanês, secretário-geral do partido e organização armada xiita Hizbollah desde 1992. Admirado, pelos defensores da causa palestina, como um político moderno, habilidoso e carismático, Hassan Nasrallah é, no entanto, considerado como líder terrorista, por Israel, pelos Estados Unidos e por seus aliados árabes.
Mais que isso, sem o peso dos sírios no governo libanês, o Hezbollah rapidamente chegou ao Parlamento e hoje tem mais de 18 ministros no atual governo, todos eles apoiando os objetivos estratégicos do Hezbollah, de usar força militar contra Israel no caso de guerra; e de manter o próprio armamento avançado como “fator de equilíbrio”, que ativamente impede Israel de levianamente escolher a via da guerra.
A guerra de 2006 “para destruir o Hezbollah” criou uma linha de suprimento militar sem precedentes da Síria para o Hezbollah, operante durante toda a guerra. Em poucas horas o Hezbollah aprendeu a usar os letais “kornets” antitanques russos guiados a laser, conseguindo impedir que Israel alcançasse seus objetivos. O Hezbollah saiu desse confronto ainda mais forte, e reabasteceu o próprio arsenal com as armas adequadas à lição que aprendera da guerra dos israelenses contra o Líbano em 2006.
Apoiantes Xiitas do Hezbollah AFP
Depois, no dia 12 de fevereiro de 2008, Israel assassinou Haj Imad Mughnniyah, codinome Haj Radwan, que ocupava a vice-presidência do Conselho da Jihad. Naquele momento Haj Imad Mughnniyah comandava o “exército”, a inovação militar, o serviço de inteligência exterior, o apoio à resistência iraquiana, palestina e vários outros dossiês – tudo sob o comando de um só homem. O assassinato de Haj Imad Mughnniyah foi golpe gigante, que atingiu duramente o Hezbollah. Mas rapidamente Sayyed Nasrallah distribuiu as funções de Imad entre meia dúzia de comandantes que a organização já cuidara de formar. Esses novos comandantes cuidaram de aumentar a força e as capacidades de desempenho do Hezbollah, como logo se viu no Líbano, na Síria e no Iraque. A governança do Hezbollah é horizontal: ali ninguém é indispensável.
Apesar das objeções de muitos países, o Hezbollah impôs um “presidente da República” cristão, o general Michel Aoun. Defendeu o primeiro-ministro sunita Saad Hariri, no período em que permaneceu em Riad sequestrado pelo príncipe coroado Mohammad Bin Salman e insistiu em que Hariri fosse nomeado no atual governo. Aceitou um número inferior de ministros no novo governo (apesar de o regime vigente de quotas lhe permitir nomear maior número de ministros). Forçou a entrada de um ministro sunita no governo, representante das minorias sunitas, e aceitou que esse ministro indicasse o ministro da Saúde (além de outros).
O Hezbollah não esconde o fato de que seu orçamento de assistência à saúde da população é altíssimo. É efeito não só do envolvimento na guerra da Síria e do alto número de baixas e feridos do próprio grupo (na verdade, esse gasto não passa de pequena porcentagem do gasto total). O gasto do Hezbollah com assistência à saúde deve-se principalmente às dezenas de milhares de famílias que recebem atenção integral à saúde, beneficiárias da assistência integral às famílias dos militantes.
Os altos custos atingem de modo geral todos os cidadãos libaneses, sem exceção, porque o preço de medicamentos importados é ridiculamente alto, o que se deve principalmente a um sistema de monopólio e à corrupção: os mesmos medicamentos fabricados na Turquia, Síria ou Irã, custam uma fração do preço de mercado no Líbano.
Todas essas interferências ao longo dos anos nos assuntos do Líbano já não deixam dúvidas: foram fortemente prejudiciais para os intervencionistas, e muito beneficiaram o Hezbollah, seus aliados no Irã e todo o “Eixo da Resistência”.
Muito melhor teria sido para o Ocidente, se tivesse deixado que os países do Oriente Médio evoluíssem conforme o próprio ritmo, cada país determinando as características do próprio sistema de governo, sem intervenções.
Os EUA e seus aliados jamais terão sucesso em suas intervenções no Líbano ou em qualquer outro país no Oriente Médio, se não conseguirem apoio local e enquanto não conseguirem a adesão dos cidadãos. Mas nenhum apoio local jamais será estável, enquanto os EUA trabalharem exclusivamente para desgraçar o Oriente Médio, não para fazê-lo mais próspero e mais feliz. Porque isso, sim, as populações locais veem com clareza.
O projeto dos EUA para criar um “estado-selva” na Síria criou um poderoso movimento de Resistência
A intervenção estrangeira empurrou muitos em todo o Oriente Médio para a miséria, e ao mesmo tempo os tornou ainda mais determinados a enfrentar o projeto de dominação global no qual os EUA tanto investem. O número de países do Oriente Médio e atores não estatais que se opõem à coalizão norte-americana é relativamente pequeno e frágil, se comparado aos adversários, mas mesmo assim a resistência conseguiu fazer estremecer a superpotência mais rica e mais forte, e seus aliados no Oriente Médio senhores do petróleo, que em anos recentes tanto investiram na guerra e tanto a instigaram. Essa resistência cresceu e amadureceu e atraiu o apoio global, mesmo na contramão de guerra jamais vista de propaganda pelos veículos das mídia-empresas de massa. O soft power [1] da coalizão norte-americana foi minado domesticamente e em todo o mundo, a partir da flagrante mentira que é intrínseca ao projeto de garantir sobrevivência às gangues de jihadistas takfiri para que aterrorizassem, estuprassem e assassinassem cristãos, sunitas, seculares e outras populações civis, ao mesmo tempo em que fingem que combatem numa inexistente guerra global ao terrorismo dito islamista.
Os pequenos países que a coalizão dos EUA ataca são importantes teoricamente e estrategicamente porque, todos, são vizinhos de Israel. Mesmo assim, apesar da escassez de recursos e do número relativamente pequeno de aliados, se comparados ao campo inimigo, todos esses pequenos países rejeitaram qualquer ‘reconciliação’ nos termos que Israel ofereceu.
A própria Israel cada vez mais revela laços e medidas de reconciliação com os países árabes ricos em petróleo: vemos o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu passeando por Varsóvia [capital da Polônia], conversando e apertando mãos de líderes árabes. Claro que não é a primeira vez que se encontram: em anos recentes houve relações cada vez mais abertas e mais amistosas entre Israel e vários líderes árabes.
Esses países do Oriente Médio há muito tempo apoiam a agressão de Israel contra o Líbano e os libaneses. E na última década, esse apoio expandiu-se e já inclui uma conspiração contra palestinos, a Síria e o Iraque.
Os EUA exercem pressão monstro sobre a Síria desde 2003, a partir da invasão do Iraque. Durante a visita do secretário de Estado Colin Powell a Damasco, em março de 2003, o americano ofereceu ao presidente Bashar al-Assad garantias de que permaneceria no poder, se se submetesse. Colin pediu a cabeça do Hamas e do Hezbollah, em troca das quais ofereceu a Assad o “direito” de se incorporar ao “novo Oriente Médio”.
Nada conseguiu. Quanto à tentativa de Powell de intimidar o presidente da Síria, a Arábia Saudita e o Qatar, principais aliados árabes dos EUA e países responsáveis pelos desembolsos em dinheiro para ajudar o establishment norte-americano a alcançar suas metas (e as metas de Israel), prometeram injetar na Síria montanhas de ouro e riquezas.
Em 2003, Assad [esquerda] instou Powell [direita] a desempenhar um papel “eficaz e neutro” na região. Foto: AP
Nem assim Assad interessou-se por ceder à influência e às pressões de EUA-sauditas. A influência continuava privilégio dos EUA; Arábia Saudita e Qatar apenas seguiam, arrastando os sacos de dinheiro. Tornou-se essencial fazer guerra contra o estado sírio, dado que daí os EUA e aliados contavam extrair lucros imensos.
Em uns poucos parágrafos, eis a que se resumiram os sete anos de guerra dos EUA contra a in Síria:
– A causa palestina foi empurrada para a periferia, dado o crescimento exponencial do “Estado Islâmico” (ISIS), nada além de um grupo terrorista concebido para atormentar o Oriente Médio e acelerar a destruição da infraestrutura regional, matando milhares e drenando para longe dali toda a riqueza local. O mesmo grupo foi responsável por ataques terroristas em todo o planeta, do Oriente Médio até a Europa. Mas o ISIS jamais atacou Israel, apesar de manter bases junto às fronteiras israelenses, sob a denominação de “Jayesh Khaled Bin al-Waleed.” [Exército de Khaled entre Al-Walid] Nem a Al-Qaeda jamais atacou Israel, apesar de também ter vivido por anos junto às fronteiras de Israel, servindo-se do apoio que lhe garantia a inteligência israelense – e, até, dos hospitais, médicos e enfermeiros da entidade sionista!
Todos os passos seguintes são detalhes de um mesmo plano para destruir a Síria:
– Dividir o Estado em zonas de influência, um grande naco para a Turquia (Aleppo, Afrin, Idlib);
– Os curdos afinal decidirem tornar realidade o sonho de tomar terras árabes e assírias no nordeste, para criar uma terra de Rojava conectada com o Curdistão Iraquiano;
– Israel tomar para si, permanentemente, as colinas do Golan hoje ocupado, criar ali uma zona “neutra” e arrebanhando mais território em Quneitra;
– Criar na Síria um estado falhado no qual jihadistas e grupos mercenários se matariam incansavelmente uns os outros na disputa pelo poder;
– Reunir todos os jihadistas num só destino, o favorito e para eles o mais santificado (Bilad al-Sham – “O Levante”), e criar ali “Emirados Islâmicos”.
O “projeto” também envolveu, estrategicamente:
– Cortar o fluxo de armas do Irã, por Damasco, para o Hezbollah no Líbano;
– Enfraquecer o “Eixo da Resistência” Irã-Síria-Iraque-Líbano, arrancando daí a Síria;
– Preparar-se para outra guerra contra o Líbano, tão logo a Síria tivesse sido varrida do mapa;
– Roubar todos os recursos sírios em terra (petróleo e gás) e no Mediterrâneo;
– Construir um gasoduto do Qatar para a Europa, para ferir de morte a economia russa; e, por fim
– Varrer a Rússia, de vez, para bem longe do Levante, ela e sua base naval no litoral.
Em momento algum, ao longo de oito anos de guerra, alguém ouviu falar de algum líder de oposição que aspirasse a governar a Síria em substituição a Bashar al-Assad? Porque o plano sempre foi estabelecer uma zona de anarquia, sem governo. O plano consistia em fazer da Síria a selva do Oriente Médio.
Sempre foi plano maior que Assad e muito maior que os sírios. Países do Oriente Médio – Arábia Saudita e Qatar – queimaram centenas de bilhões de dólares em incontáveis planos para matar sírios, destruir a Síria e alcançar todos os objetivos acima listados. O que foi feito é crime contra uma população pacífica, sob o olhar cúmplice criminoso de todo o mundo dito moderno e “democrático”.
Ouviram-se incontáveis pretextos que “explicariam” a guerra contra a Síria. Claro que não se tratou só de “mudança de regime”. O projeto sempre foi criar um estado-selva. Think-tanks, jornalistas, acadêmicos, embaixadores, toda a coorte uniu-se na mesma orgia, colaborando para o massacre de sírios.
Rios de lágrimas de crocodilo correram sobre a “catástrofe humanitária” na Síria [e correm, hoje, também, sobre a inexistente “catástrofe humanitária” na Venezuela!]. Mas, enquanto isso, ninguém jamais viu que o Iêmen, o país mais pobre de todo o Oriente Médio estava e ainda está sendo massacrado, a população está sendo dizimada… e a mesma mídia-empresa dominante ensina a não olhar e, se alguém olhar, ensina a não ver a natureza do conflito no Iêmen.
Alguém que desse sinais de compreender o jogo ou parte dele, que fosse, era declarado “assadista” – palavra cunhada para ser usada como insulto. E a mais selvagem ironia? O adjetivo “assadista” foi distribuído gratuitamente pela classe tagarela dos EUA – gente que, evidentemente, jamais contou nem reconheceu os milhões de seres humanos assassinados pelo establishment político dos EUA ao longo dos séculos.

Assim sendo, o que essa intervenção global realmente conseguiu?

A Rússia está de volta ao Levante [2], depois de longa hibernação. Seu papel essencial é levantar-se contra a hegemonia mundial dos EUA sem provocar, sem sequer tentar provocar, qualquer guerra com Washington. Moscou expôs suas novas armas, abrindo os mercados para a própria indústria militar, e mostrou seus talentos e capacidades militares, sem se deixar prender em nenhuma das muitas armadilhas semeadas no Levante. A Rússia criou o acordo de Astana, para escapar aos esforços da ONU para controlar e manipular as negociações, e isolou a guerra por regiões e compartimentos, para lidar com cada parte separadamente. Putin expôs sua talentosa cabeça militar, e deu conta, com sucesso, da “guerra mãe de todas as guerras” na Síria. Enveredou com muito talento pelo território dos EUA e seus objetivos hegemonistas, e criou alianças estratégicas fortes e duradouras com a Turquia (membro da OTAN) e o Irã.
O Irã encontrou terra fértil na Síria para consolidar o “Eixo da Resistência”, quando habitantes do país (cristãos, sunitas, drusos, grupos seculares e outras minorias) aperceberam-se de que estava em jogo a sobrevivência das respectivas famílias e do próprio país deles. Deu jeito de recompor o arsenal sírio, e foi bem-sucedido na empreitada de abastecer o Hezbollah com os armamentos mais sofisticados indispensáveis para uma guerra de guerrilhas clássica – para impedir que Israel ataque o Líbano. O presidente Assad é muito grato pela lealdade desses parceiros, que abraçaram a causa da Síria, mesmo quando o mundo conspirava para destruir o país.
O Irã adotou nova ideologia: nem islâmica nem cristã, mas uma nova ideologia que emergiu dos últimos sete anos de guerra. É a “Ideologia da Resistência” – ideologia que vai além da religião. Essa nova ideologia se impôs-se, também no Irã dos clérigos e no Hezbollah, que abandonaram qualquer objetivo de exportar a República Islâmica: em vez disso, esses estados apoiam qualquer população disposta a se levantar contra a hegemonia destrutiva dos EUA que aspira a se espalhar pelo planeta.
Para o Irã, já não se trata de disseminar o xiismo ou de converter povos seculares, sunitas ou cristãos. O objetivo para todos é identificar com precisão o inimigo real e levantar-se em resistência contra ele.
Isso, afinal, é o que a intervenção do Ocidente no Oriente Médio está criando. Sem dúvida empobreceu a região: mas, ao mesmo tempo, fez surgiu, coeso, uma poderosa frente. Esse nova frente parece hoje mais forte e mais efetivo que as forças conjuradas pelas centenas de bilhões que a coalizão inimiga consumiu no serviço de semear destruição, para assim tentar ainda impor o fracassado jugo imperial norte-americano.
Fonte: Ejmagnier.com

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