Uma série de litografias de John Lennon, que continham cenas sexuais do músico e sua mulher, Yoko Ono, não foram proibidas pela justiça britânica por temor de que isso afetasse outras coleções de arte, como a da rainha Elizabeth II. Assim parecem sugerir documentos oficiais guardados nos Arquivos Nacionais de Kew (sudoeste de Londres) e divulgados em 2004. Os relatórios esclarecem o famoso caso de 1970, quando oito trabalhos originais do ex-Beatle foram exibidos numa galeria da rua New Bond, em Londres, foram apreendidos pela polícia em virtude das leis vigentes contra a obscenidade.
O galerista, Eugene Schuster, foi acusado ante a justiça de violar uma norma do século XIX, a chamada Lei da Polícia Metropolitana de 1839, o que facilitou que, no final, o caso fosse arquivado por razões técnicas. Outros documentos do mesmo caso divulgados há alguns anos mostraram que as obras de Lennon da exposição "Bag One" não eram grande coisa e simplesmente não foram exibidas devido à fama de seu autor, como reconheceu o próprio galerista.
Para o detetive Frederick Luff, então responsável da brigada de publicações obscenas na Scotland Yard, as obras que representavam a vida sexual de Lennon e Ono não eram mais que "o trabalho de uma mente doente". Os papéis oficiais trouxeram mais luz sobre o caso, pois incluem a carta de um artista, Fuller de Maidstone, às autoridades britânicas na qual são expressos os temores do mundo artístico. "Se o tema supõe a base de um processo, então será a primeira das muitas iniciativas que seu departamento terá que enfrentar: há milhares de gravuras de Rembrandt que mostram atos sexuais, nomeando apenas uma obra que figura em coleções do Estado e privadas", escreveu.
"O que ocorrer com as litografias de Lennon provocará que colecionadores de todo o mundo estudem o resultado com interesse; por isso sei, Vossa Majestade a rainha tem trabalhos bastante eróticos de Fragonard", apontou o artista.
A carta de Fuller foi levada em conta, pois recebeu uma resposta de um dos responsáveis da procuradoria, na qual se assinalava que seus temores estavam sendo considerados. Finalmente o caso foi arquivado, entre outras razões, pelo magistrado entender que uma galeria não era "um lugar público" e que não supunha nenhuma "moléstia" para os transeuntes, segundo os termos que estabelecia a lei do século XIX. Outro dos documentos divulgados demonstra o mal-estar que isso causou num dos responsáveis da procuradoria, Kenneth Horn, que considerou que o arquivamento deveu-se ao fato de o galerista ter sido processado com uma lei inadequada, algo decidido no último minuto. "Se o processo tivesse ocorrido de acordo com a Lei de Publicações Obscenas, teria havido mais oportunidades de sucesso", escreveu Horn.
John Lennon, desde 1966, vinha se destacando por seu experimentalismo artístico, inovando em músicas como "Tomorrow´s Never Knows" do álbum dos Beatles "Revolver", mas foi durante o ano de 68, que a vida de John Lennon mudou.
Em 18 de outubro, John foi processado por porte ilegal de haxixe, um mês antes do lançamento do primeiro álbum de John Lennon e Yoko Ono - "Unfinished Music No. 1 - Two Virgins", gravado na primeira noite que Yoko passou na mansão de John em Weybridge, Londres. O disco registra diálogos, gritos e sussurros do casal apaixonado. A capa do disco causou alvoroço ao registrar John e Yoko em nu frontal. Um filme homônimo, de 21 minutos, superpondo as faces de John e Yoko, e "Smile", uma seqüência rápida de 30.000 fotogramas por minuto de Lennon sorrindo, foram filmados no jardim da propriedade de Lennon, no verão de 68, e lançados no Festival de Filmes de Chicago em dezembro, iniciando a fase cinematográfica do casal.
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