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terça-feira, 15 de março de 2011

A energia nuclear, o apocalipse e a banalização da tragédia

O acidente nuclear do Japão já desperta paixões extremas. Os que se opõem à exploração da energia nuclear acreditam que estão se cumprindo, mais uma vez, as suas piores predições. Os que são favoráveis acusam o obscurantismo dos adversários e preferem o conforto das metáforas: “A Lei da Gravidade não é culpada pela queda de aviões”. Ou ainda: “O arsênico, que é venero, bem-administrado pela ciência, é remédio”. Com informações da Reuters e da BBC, o G1 fez um apanhado do que disseram autoridades sobre o desastre no Japão. Leiam. Volto em seguida.
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A Comissão Européia qualificou nesta terça-feira (15) o acidente nuclear do Japão de “apocalipse”, por considerar que as autoridades locais perderam praticamente o controle da situação na central de Fukushima. “Fala-se de apocalipse e acredito que é um termo particularmente bem escolhido”, declarou o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, ante uma comissão do Parlamento Europeu em Bruxelas. “Praticamente tudo está fora de controle”, acrescentou o comissário, que não descartou o pior nas próximas horas e dias no Japão.
A Autoridade de Segurança Nuclear da França (ASN) informou nesta terça-feira (15) que as explosões ocorridas na central japonesa de Fukushima Daiichi atingiram o nível seis de gravidade em uma escala internacional que vai até sete. O Japão, até o momento, classificou os acidentes em nível quatro. O nível sete da chamada escala INES, de classificação de eventos nucleares, utilizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), só ocorreu uma vez no mundo, na catástrofe de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
“Estamos em uma situação diferente da observada ontem. É evidente que estamos em um nível seis, que é um nível intermediário entre o que ocorreu na central americana de Three Mile Island (em 1979) e em Chernobyl”, afirmou o presidente da Autoridade de Segurança Nuclear francesa, André-Claude Lacoste.
“Estamos em uma catástrofe evidente”, disse Lacoste  A França possui o segundo maior parque nuclear do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com 19 usinas e 58 reatores que produzem 80% da energia elétrica do país. O nível seis da escala INES significa “acidente grave, com liberação importante de material radioativo que exige a aplicação integral das medidas previstas (como cuidados sanitários e afastamento da população da área atingida)”.
Apocalipse? O adjetivo “apocalíptico” costuma ser empregado para desqualificar uma avaliação considerada despropositada, exagerada, fora da realidade. É preocupante que Günther Oettinger, que responde pelo setor de energia na União Européia, recorra a ela. Ele não é, assim, um Verde radial. É membro da CDU, a União Democrata-Cristã, da Alemanha e integra a base do governo de Angela Merkel, que reviu uma decisão tomada em 2001 pelos sociais-democratas em favor da extinção do uso da energia nuclear na Alemanha.
O que assusta no Japão em particular e remete a um temor mais geral no que diz respeito à energia nuclear? Oettinger responde, mais uma vez, de modo que parece realista, não apocalíptico: “Praticamente tudo está fora do controle”. Aí, meus caros, não há metáfora que resolva. E notem que estamos nos referindo a um país em cuja disciplina e apuro técnico o mundo aprendeu a confiar — e por bons motivos.
Claro! Pode-se perguntar: “E se o vazamento de petróleo no Golfo do México não tivesse sido controlado? A catástrofe não seria maior? Vamos parar de usar petróleo por isso?” Uma competição de catástrofes não resolve o problema nem da exploração de petróleo em águas profundas nem da segurança da energia nuclear. Os aviões não serão extintos porque caem de vez em quando. Lamenta-se a queda, buscam-se as causas, mas é fato que o episódio é um evento fechado, que não gera uma cadeia de desastres que se estende história afora. Não é assim com eventuais acidentes com as usinas nucleares.
Não creio que a humanidade possa prescindir da energia nuclear. Nada menos de 60% da energia elétrica da França, por exemplo, vem dessas usinas. Mas é evidente que se impõe uma rigorosa revisão das condições de segurança.
Todo mundo sabe o que fazer quando cai um avião, além de lamentar. Os acidentes nucleares, até agora, provocam mais perplexidade do que respostas imediatas. E também não vale dizer que o caso do Japão é excepcional porque, afinal, houve um terremoto… Os terremotos estavam no Japão antes das usinas. De volta à prancheta!
Por Reinaldo Azevedo

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